Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 33
Amsterdam


Notas iniciais do capítulo

Depois de anos (mentira, foram só duas semanas, vai) sem escrever, estou de volta, amiguinhos. Desculpem, precisei de tempo pra pensar, porque estava sem ideia nenhuma, e algumas pessoas queridas me ajudaram com isso, e cá estou eu. Continuemos com o show (que de show não tem nada):



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/504683/chapter/33

— Dylan? Por que você está grit… Ah! — exclamou Colin, quando viu o garoto caído no chão.

Ele tinha cabelos ruivos que mais pareciam fogo em brasa, o que foi a única coisa que eu pude distinguir de sua aparência, porque, onde não estava melado de lama, sangrava.

Colin me ajudou a pegá-lo e encostá-lo na parede da caverna de onde saímos alguns minutos atrás fugindo de uma bruxa com um cajado na mão brincando de “Enterre o Dylan”.

— Ele está muito machucado! Abra minha mochila, pegue ambrosia e néctar — Colin pediu, enquanto colocava a mão na testa do garoto para verificar sua temperatura.

— Quê?! Mas isso pode matá-lo! E se ele for só um mortal? — discordei.

— Dylan, ele vai morrer! Não há tempo para chamar uma ambulância ou coisa assim!

Ele tinha razão. Virei pra pegar a mochila, mas antes sequer que eu pudesse ver, Gabriel a pegou, abriu, tirou um frasco com um líquido rosado e entregou-o para Colin, que imediatamente o despejou na boca do garoto. Fiquei esperando ele se debater loucamente e começar a espumar, o que não aconteceu. Os sangramentos estancaram e ele parou de gemer, adormecendo instantaneamente.

— Mais umas duas doses devem resolver — disse Colin, guardando o frasco na mochila novamente. Tirou uma camisa suja de lá, molhou-a e começou a limpar a lama do corpo do menino.

— Afinal, o que aconteceu? — Gabriel perguntou a mim.

— Eu não sei. Eu ouvi um som, mais parecido com um ganido, e me aproximei para ver o que era, então encontrei ele. Chamei Colin, que apareceu no mesmo instante e me ajudou a trazê-lo até aqui.

— O néctar não o matou, o que quer dizer que ele é um semideus — afirmou.

Colin assentiu.

— Mas o que é que outro semideus está fazendo aqui?

Eu e Gabriel demos de ombros, não fazíamos a menor ideia. Segundos depois, Anastasius chegou carregando Talassa, desacordada, nos ombros. Ele estava emburrado e parecia cansado.

— Nenhum de vocês ajuda com ela, não é? — ele emburrou mais a cara ao olhar pra nós depois de soltar ela de qualquer jeito no chão.

— Desculpe, estávamos com assuntos mais importantes pra tratar do que uma bruxa — disse Colin, sarcasticamente, sem olhar pra ele.

Anastasius percebeu o que Colin estava fazendo. Se aproximou para examinar melhor o garoto, com uma expressão carrancuda no rosto. Depois deu de ombros, como se não fizesse diferença quem ele era ou se estava todo coberto de sangue.

— Certo. Edward foi pegar algo para comermos. E o que fazemos com ela? Ainda não entendo por que você não a matou quando teve a chance — apontou para Talassa, que finalmente dera sinais de vida e estava começando a recobrar a consciência.

— Precisamos dela, você querendo ou não.

— Quando nos encontramos com ela pela primeira vez, quase implorou pra que não quebrássemos seu cajado — falei. — Então acho que seria uma boa chantagem.

— Ele tem razão — confirmou Colin. Terminou de limpar o garoto, pegou o cajado de Talassa, e foi até onde ela estava deitada. — Gabriel, pode fazer um nó nas mãos dela, só por precaução?

— Pensei que não ia pedir! — ele sorriu, pegou um pedaço de corda que levava na mochila e amarrou as mãos de Talassa em um nó que eu duvidava que qualquer um pudesse desatar. Fez o mesmo com os pés.

— Dylan, sua espada, por favor. — Colin pediu. Transformei meu MP3 em espada e entreguei a ele, que a posicionou para poder partir o cajado em dois a qualquer momento.

— E eu, não vou participar da festa? — perguntou Edward, deixando a mochila no chão e pegando seu arco e flecha.

— Fique em alguma árvore, caso ela passe por nós de alguma maneira. Anastasius, pode acordá-la, por favor? Seja gentil — Colin sorriu.

Anastasius deu um sorriso debochado. Levantou Talassa de modo que ela ficasse recostada na parede, se agachou e deu um tapão na cara dela, que ecoou por toda a caverna. Ela acordou com um grito, se debatendo incessantemente para achar o responsável. Mas como tinha as mãos e os pés atados, não podia fazer muita coisa. Focalizou seu olhar em Colin, e sua expressão mudou pra raiva. Nunca tinha visto ela assim. Na maioria das vezes estava rindo, se divertindo com nosso sofrimento. Agora era nossa vez.

— O mundo dá voltas, não é, Talassa? Epa, nem pense em mover um dedo sequer, se bem que eu duvide que você possa fazer isso — Colin balançou a espada, mostrando o que podia fazer com o cajado dela. — Um movimento suspeito e seu pedaço de madeira vira um toco. Não temos muito tempo pra achar o esconderijo de sua querida mestra, então você vai ser nossa guia particular.

— Seu garoto tolo! — ela gritou. A não ser que os monstros fossem surdos, eles poderiam ter escutado ela perfeitamente. — Não vê que é exatamente isso que ela quer? Ela quer vocês — e deu uma risadinha esganiçada.

— Acho que não temos muitas opções, não é? — falei. — Nosso amigo está com ela, e queremos ele.

— Vocês nunca vão sair vivos de lá.

— Nem você vai sair viva daqui, se não fizer o que estamos mandando — rosnou Anastasius.

— Ah, é? Vocês vão me matar de qualquer jeito.

— Não queremos matar ninguém — disse Colin.

Anastasius bufou. “Não queremos matar ninguém” não é uma frase muito usada pelos filhos do deus da morte.

— Certo, eu levo vocês, se prometerem me soltar e devolver meu cajado quando chegarmos lá.

— Juramos se você jurar também — disse Gabriel.

Talassa revirou os olhos. Como sempre, parecia achar graça naquilo tudo. E, com um sorriso confiante no rosto, disse:

— Juro pelo Rio Estige que vou levá-los até onde minha mestra se esconde.

Anastasius ficou olhando pra ele com expectativa, como se não aprovasse que ele fizesse aquilo. Colin ficou calando por um tempo, como se pensasse se devia ou não fazer o juramento. Por fim, murmurou:

— Juramos pelo Rio Estige que, quando chegarmos lá, vamos lhe soltar.

— E devolver meu cajado.

— E devolver seu cajado.

Talassa não era burra, queria tudo detalhado, para que Colin não tivesse chance de achar uma brecha no contrato.

— Alguém quer falar mais alguma coisa pra ela?

— Eu quero — disse Edward, que, vendo que não iria ter trabalho algum, saiu de sua árvore. — Vá se ferrar. Quebrar uma perna dói, sabe? — foi preciso duas barras de ambrosia e muitos gritos de dor para a perna dele voltar ao normal.

Antes que Talassa pudesse sequer abrir a boca pra argumentar, Colin golpeou-a com a espada, deixando-a inconsciente novamente.

— Vamos acordá-la de novo quando precisarmos dela — explicou, perante os olhares surpresos de todos.

— E por que não vamos pro tal lugar agora? — perguntou Gabriel.

Colin abriu a boca pra falar, mas uma voz atrás de nós falou primeiro, no que todos se assustaram.

— Vocês querem mesmo ir sozinhos? Que machistas! — Julieta estava indignada, ao lado de uma Louise carrancuda, falando por meio de uma mensagem de íris.

— Não fiquei duas horas com a bunda no assento de um trem para que vocês me deixassem à toa! — balbuciou Louise.

— Já estamos em Los Angeles, mas não temos ideia de onde vocês estão — completou Julieta. — Será que algum Resgate poderia vir nos pegar aqui?

— Eu vou — falei prontamente. Saber que Louise estava bem fora de longe a melhor notícia que eu tive em dias, não que ela precisasse de um guarda-costas, claro. Ela e Julieta se viravam muito bem sozinhas, pelo visto.

— Não, você achou o carinha lá, agora você fica de babá — Anastasius retrucou.

Fiquei com vontade de avançar em cima dele e dar-lhe um soco, mas me segurei.

— Não esquenta, Dylan, eu fico com você — Gabriel segurou meu ombro. Não fez diminuir minha vontade de ir ver Louise, mas pelo menos ajudou um pouco.

— Vocês já acabaram com a discussão aí? — Louise parecia mais carrancuda do que antes. — Não temos muito tempo, temos?

— Eu, Edward e Colin estamos indo agora.

Louise revirou os olhos e saiu pra fazer algo mais interessante. Será que ela ficou tão chateada assim porque…

— Vamos, Dylan! Cara, tem horas que você viaja — Gabriel me arrastou até o outro lado da caverna, onde o garoto ruivo estava roncando.

Fui abaixando, raspando na parede, até ficar sentado no chão. Peguei minha espada e apertei o botão na bainha que a transformava de novo em MP3. Eu sempre pensei nele como uma espada, a partir do dia que Louise tinha vindo me buscar, e não como um reprodutor de músicas. Até tinha me esquecido que meus sons favoritos estavam ali. Coloquei os fones de novo, mas não para transformá-lo em espada, mas para ver se ainda funcionavam como normalmente deveriam funcionar. Fui passando pela minha playlist, e uma música em especial chamou minha atenção. “Amsterdam - Coldplay”, lia-se no visor. Pus os fones nos ouvidos, dei play e fechei os olhos. Foi como se tudo tivesse evaporado, como se só existisse eu, meus fones e o MP3. Conforme a música ia passando, sentia as lágrimas molharem meu rosto. Sabia que Gabriel estava vendo, mas não ligava. Essa música me lembrava minha mãe como nenhuma outra coisa fazia.

“Venha aqui, minha estrela está desaparecendo…”

Eu sentia meu olho pesar.

“E o tempo está do seu lado, está do seu lado, agora, não está te puxando para baixo…”

Já estava caindo no sono, mas me forcei a ficar acordado até o final, para escutar a única parte da música que não lembrava minha mãe, mas sim outra pessoa:

“Mas ela veio e me libertou…”

Adormeci com um sorriso choroso.







Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aquele Que Veio do Mar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.