Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 17
Adeus




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/504683/chapter/17

Não eram só os olhos de Mirina que estavam brilhando.

Ela caiu com seu cabelo brilhando e a parte do chão onde ela caíra virara poeira. Ela começou a se debater, espalhando poeira para todos os lados. Ninguém conseguia fazer nada a não ser olhar abismados para ela.

— Alguém me ajude aqui, temos que lev… — mas eu parei de repente, porque o cabelo de Mirina começou a se desintegrar, virando poeira, que se misturava àquela que estava no chão. Só parou quando o cabelo estava mais ou menos da altura do queixo. Agora ela parecia uma punk loira.

Eu não falei mais nada, todos já sabiam o que deviam fazer. Louise e Julieta correram para cima, para abrir o que fosse necessário, e eu e Colin ficamos para pegar Mirina nos braços. Ela era magrela, mas não se engane, era bem pesada. Mas eu não liguei, a adrenalina corria solta por minhas veias. Eu falei pra Colin pegar de um lado, e eu pegava do outro. E assim saímos, subindo a escada com grande dificuldade. Julieta e Louise estavam nos esperando do lado de fora. Nossas mochilas estavam com a Sra. O’Leary, então fomos procurá-la.

— Dylan! Por aqui, tem um rastro de pegadas, e julgando pelo tamanho… — disse Julieta.

— Vamos, rápido. Mirina precisa de ambrosia — eu praticamente estava correndo, e Colin tentava acompanhar meu ritmo, mas ele não estava com a mesma dose de adrenalina que eu. Imaginei o que ela faria comigo se descobrisse que eu carregara ela, provavelmente me mataria de uma vez.

Seguimos o rastro, que passava por uma floresta e finalmente chegava na cidade. Podíamos ouvir o latido da Sra. O’Leary à distância, então não foi muito difícil achá-la. Saímos serpenteando entre as ruelas de Columbus, provavelmente estávamos na parte pobre da cidade.

Mirina começara a se debater novamente, e seus olhos a brilhar.

— Vamos, mais rápido! — eu gritava.

— Calma, Dylan, estamos procurando-a — Louise me tranquilizava.

Então nós identificamos ao longe: uma figura de um cachorro, só que com zoom. Decididamente era a Sra. O’Leary. Eu não esperei pelos outros, apenas corri.

Cheguei lá. A cadela estava brincando — o que mais parecia uma caçada — com dois garotos.

— Ei! Ajudem aqui, por favor! — supliquei para os garotos. A Sra. O’Leary, imediatamente reconhecendo minha voz, correu para me lamber, mas eu a censurei antes que chegasse perto. — Agora não.

Eles pararam o que estavam fazendo — jogando uma bola de frisbee, que mais parecia uma lata de lixo, para a cadela — e vieram me ajudar. Quando estávamos carregando ela para dentro, os outros chegaram, e Louise gritou.

— Dylan, o que está fazendo?

— Eles vão nos ajudar!

Ela assentiu, e nos ajudou a carregá-la. Pedi para Colin, Julieta e Louise esperarem na sala, enquanto a carregávamos para um quarto. Um dos meninos era moreno e usava óculos, tinha aspecto de nerd, enquanto o outro era baixinho e loiro, com os olhos verde-mar.

— Edward, ambrosia e néctar, rápido — disse o nerd.

O loiro, que devia se chamar Edward, assentiu e foi procurar os itens na cozinha. Eu olhei abismado para o nerd.

— Como vocês sabem que ela é uma semideusa?

— Não é todo dia que eu vejo alguém carregando uma espada de um metro e meio de comprimento pela rua, correndo com uma garota nos braços, você vê?

Claro. Eu não tinha desconectado o meu mp3, apenas carreguei-a junto com Mirina. Só agora percebi a burrada que fiz. Eu mesmo podia tê-la matado. Fiz o que era mais plausível: transformei a espada de volta em mp3.

Edward chegou momentos depois com a ambrosia e o néctar.

— Aqui, Gabriel — e entregou a ele. Depois foi pra sala, falar com os outros.

Gabriel pegou um medidor e deu a quantidade adequada de ambrosia e de néctar à Mirina, evitando qualquer acidente indesejado. Ela, agora, não se debatia mais, e seus olhos pararam de brilhar.

— Pronto. Agora é só esperar.

— Obrigado, cara. Eu… hum… Podia ter acontecido algo se não tivéssemos achado vocês.

— Não há de quê.

E fomos pra onde os outros estavam.

— Cadê a Louise? — perguntei.

— Ela foi tomar um banho. Disse que não aguentava nem mais um minuto com aquelas roupas. Bem temperamental ela, não? — disse Edward.

— Você não viu nada.

Colin ia falar algo, mas não teve tempo. Ouvimos gritos vindos do quarto de Mirina, e ninguém ficou na sala.

Seus olhos agora brilhavam mais do que nunca. E agora todo o seu corpo também brilhava. De algum jeito, eu sabia o que estava por vir.

— Dylan… — ela falava.

— Mirina, não…— lágrimas já

Lembrei do que Rachel havia falado. Ela previra que isso ia acontecer. Por que diabos não me falou, então?!

— Mamãe, você vai ficar pra sempre comigo? — eu repeti, depois de ela ter ficado sem me responder.

Ela se ajeitou no sofá.

— Dylan, querido, tem uma coisa que você tem que entender… ninguém vai ficar aqui pra sempre. Eu não sei pra onde as pessoas vão, mas chega uma hora que elas cansam que ficar aqui na Terra, e vão pra outro lugar.

— Mas mamãe, você vai cansar de mim?

— Claro que não, filho. Quando eu for, eu vou estar te esperando. Um dia nós vamos nos ver de novo. Mas por que você está falando isso? Ainda vai demorar muito tempo pra se livrar de sua mãe aqui.

— Mas eu não quero me livrar de você.

— Nem eu de você, querido. Mas lembre-se: viva e deixe morrer.

— Mas mãe… eu…

— Eu não quero que você morra — falei, ajoelhado diante de onde Mirina estava deitada.

— Oras… você está chorando, Dylan? — ela tentou rir. — Que idiota. Qualquer dia desses eu volto pra te assombrar, e vou contar quão legal é lá no mundo inferior.

Agora eu já chorava descontroladamente. E não era só eu, Julieta estava com a cabeça no ombro de Colin, que soluçava freneticamente.

— Por que você fez isso, Mirina? Você sabia, não sabia?

— Sim.

— Então, por quê?

— Pra retribuir o favor que Colin e Louise me fizeram. Gentileza gera gentileza.

— Mas eu não morri por você — disse Colin, em meio a soluços.

— Calem a boca, vocês dois. Eu daria minha vida por você todas as vezes que fossem necessárias, seus idiotas. Só… calem a boca.

Fizemos como ela pediu, ficamos calados, esperando o inevitável. Então ela abriu os braços. Ela… queria me abraçar. Eu me aproximei, e passei meus braços por ela.

— Ei — ela sussurrou no meu ouvido — eu vou estar esperando por você. Por todos vocês.

Então ela brilhou. Eu não me importava se ia ficar cego. O brilho era tão forte que fez minhas lágrimas evaporarem, o que adiantou de nada. Mais e mais caíam das minhas bochechas para a cama.

Então, de repente, eu só abraçava o ar, e minhas lágrimas só molhavam a areia que segundos atrás fora Mirina.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aquele Que Veio do Mar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.