Aquele Que Veio do Mar escrita por Ri Naldo


Capítulo 12
Sereia


Notas iniciais do capítulo

Aqui está sua vingança, Marina ;-;



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Corri em direção à caverna.

Mais ou menos na metade do caminho de volta, eu ouvi os latidos inconfundíveis da Sra. O’Leary, e isso não era um bom sinal.

Ouvi passos apressados na minha frente, Louise tinha detectado perigo.

Chegando lá, não havia nada. Mirina estava desmaiada na mesma posição — eu tinha colocado ela encostada na parede, apoiada na mochila —, a Sra. O’Leary estava latindo para o riacho. Louise chegou ao meu lado, mas eu ainda ouvia passos. Uns instantes depois, Colin apareceu no outro lado do riacho.

— O que você estava fazendo? — perguntei.

— Estava buscando alguns galhos para fazer uma fogueira — ele levantou os gravetos que tinha na mão. — Onde está a… Julieta… — e correu até a margem do riacho. — Venham cá!

Aproximei-me e notei bolhas subindo do fundo.

— Olhe ali — Louise apontou para um rastro na margem oposta. Parecia a cauda de um peixe gigante.

— Tem pegadas ao lado do rastro — disse.

Colin assentiu.

— Mas não pode ser! Da última vez que chequei, esse riacho não antigia nem os meus joelhos!

— Deuses… — Louise correu até o ponto da margem onde as pegadas acabavam.

— Ei, o que é isso? — peguei alguma coisa que estava caída no chão, perto da nascente.

— Uma… cesta de vime… — Colin começou a pensar, dava pra imaginar as engrenagens girando na cabeça dele.

— Cauda de peixe… — Louise disse.

— Nascente de rio… — falei.

E nós falamos simultaneamente:

— Náiades.

— Idiota — Louise falou, e ficou andando de um lado para o outro. — As náiades deve tê-la pego. Eu vou buscá-la — ela tirou a camisa, o que não foi uma visão ruim, mas eu não podia deixá-la ir.

— Não, eu vou. Você não pode respirar embaixo d’água.

— Não me diga o que eu posso fazer ou não.

— Louise, seja racional uma vez na vida — Colin falou, apesar de dar olhadelas discretas para o busto de Louise. — O Dylan é filho de Poseidon. É a tarefa ideal para ele. Quem sabe você possa quebrar uma árvore ou sei lá.

— Eu vou é quebrar sua cara — ela revirou os olhos.

— Eu não vou deixar você ir pra lá — apontei para o fundo do riacho — sozinha.

Ela cruzou os braços.

— Eu não preciso da sua proteção.

— Mas Mirina precisa da sua.

— Ou da sua.

Bufei.

— Você é impossível.

— Quem escolheu me aguentar foi você.

A Sra. O’Leary recomeçou com a sessão de latidos. Estávamos perdendo tempo com essa discussão besta.

— Ei, Dylan, cuidado. Os territórios das náiades geralmente não fazem parte do de Poseidon. Pode ser que você não tenha seus poderes lá — Colin me avisou.

— Certo.

Joguei a camisa de volta pra Louise.

— Vista isso de novo.

Eu tirei a minha e mergulhei, pus a cabeça para fora para me certificar de que ela não iria me seguir.

— Pode ir — ela falou, e virou a cabeça de lado. — Vou ficar aqui.

— Guarde sua frustração para qualquer ameaça que aparecer por aí. E, ah… sutiã preto combina mais com você — dei uma risadinha, e Colin se dobrou, rindo em silêncio.

Ela pegou uma pedra e atirou na minha direção, mas eu já estava nadando a caminho do fundo, com o grito dela penetrando a água e parando nas minhas orelhas. "Idiota". Uou, até nos gritos ela era potente.

Era como se o riacho que antes não ultrapassava nossos joelhos tivesse se transformado em um rio muito profundo. Quando mais eu me aproximava do fundo, mais a água ficava enlameada. Lama, algas e outras plantas faziam uma espécie de barreira — de tal modo que eu tinha que afastar com as mãos —, como se alguém — ou alguma coisa — não quisesse que eu passasse. Eu estava sentindo um pouco de necessidade de oxigênio, e meus pés estavam ficando molhados; tudo como Colin disse. Filho da mãe nerd. Sem ofensas, Atena.

Então eu vi. Uma abertura de cano, suficientemente grande para um boi passar com folga.

A água estava tão cristalina que eu podia ver centenas de metros à frente.

Cheguei mais perto, e não acreditei no que vi. Era um vilarejo. Um vilarejo subaquático. Um vilarejo subaquático habitado por náiades.

Elas nadavam de um lado para outro, levando cestas — como aquela que estava na margem —, entrando em outras casas — que mais pareciam caixas, só que com conchas encrostadas —, e comendo peixe — isso seria canibalismo?.

Então eu avistei. Uma náiade segurava Julieta, sua roupa estava encharcada, e seu cabelo, todo colado. Como ela conseguia respirar?

Ela se debatia enquanto a náiade a levava. Elas entraram em uma casa, que era maior que as outras, e ligeiramente dourada.

Segui-as até lá e espiei, encostado à ‘’porta’’.

A náiade que estava carregando Julieta parou e fez uma reverência à que estava sentada em uma espécie de trono. Era igual às outras — tipo de sereia, com dentes muito afiados e grandes, escamas à mostra e totalmente verdes —, só que duas vezes maior. Duas outras montavam sentinela ao lado da "rainha".

— Invasora, milady.

Só percebi que elas estavam falando em uma linguagem estranha depois de algum tempo. Eu entendia perfeitamente.

De repente, alguém pegou minhas mãos e me imobilizou. Era outra náiade, que vira que eu estava de penetra.

— Outro invasor, milady.

— Na verdade, não estou invadindo lugar algum, e essa aí é minha amiga.

— Então você nos entende… Um filho de Poseidon, huh? O que você faz aqui? — disse a rainha.

Apontei para Julieta.

— Acho que vocês pegaram minha amiga.

— Ela estava nadando no nosso território.

— Não nadaria se soubesse, isso eu posso garantir.

— Você tem sorte, garoto. Mais alguns minutos atrasado e nós teríamos comido sua amiga.

Estremeci. Pensei nas náiades comendo peixe. Pensei em perguntar sobre o canibalismo, mas fiz uma escolha certa. Permaneci de boca fechada.

— Deixe-me levá-la, prometo que nunca mais voltaremos aos seus domínios.

— Não será tão fácil assim, espertinho — ela balançou sua cauda de sereia, soltou o cabelo negro e tirou a espada da bainha. — Terá que lutar comigo. É uma tradição náiade.

— Olhe, nós não precisamos…

Mas ela se levantou, e sacou a espada de suas costas. Antes mesmo de eu completar a frase, ela deferiu um golpe no meu braço, que fez um corte profundo. O corte não regenerou, o que eu achei estranho. A água sempre regenera meus machucados, me faz sentir vivo, mas essa não. Não eram águas de Poseidon. Minha necessidade por oxigênio aumentou, junto com a sensação de molhado, que era muito rara pra mim.

Peguei o MP3.

— Ora, ora, vai lutar com música? — a náiade riu.

Mas eu conectei, e ela se calou.

Desferi o primeiro golpe, que atingiu seu rosto. Mas o corte logo se restaurou. O feitiço virou contra o feiticeiro.

Ela desferia golpes, eu desviava da maioria e era atingido, me cortando. Eu desferia golpes, ela desviava de alguns e era atingida por outros, que não faziam o menor dano no fim. Eu só tinha uma opção.

Lembrei da aula que tive no Acampamento. Encostar, girar, empurrar. Era assim que se desarmava um inimigo.

Esperei ela vir pra cima, então encostei o lado plano da minha lâmina no punho da espada dela, girei as duas e empurrei com toda a minha força para baixo. A espada dela afundou na água. A minha espada estava apontada para o pescoço da náiade, agora indefesa.

— Me dê… — fiz mais pressão no pescoço dela — minha… — aproximei mais a espada, perfurando um pouco seu pescoço — amiga — olhar mais mortal que eu pude dar, do qual Louise riria se visse.

— Entregue-a — ela falou para as náiades que estavam assistindo, estupefatas com o que eu fizera.

A náiade que estava carregando Julieta a entregou para mim, com um olhar de respeito.

— Como vocês a manteram viva?

Ela levantou as mãos.

— Truques de náiade. Como você derrotou nossa rainha?

— Truques de semideus.

Fiz uma reverência debochada para a rainha, e me virei para a saída.

— Semideus — a náiade que eu tinha acabado de derrotar me chamou.

— Pois não?

— Qualquer dia desses volte, e conversaremos.

— Pensarei no assunto — mas tinha mais planos do que voltar para um vilarejo de náiades.

— Se eu fosse você, iria logo.

Não entendi de primeira, mas logo me veio a cabeça. Era a náiade quem permitia Julieta respirar debaixo d’água, e eu não podia fazer isso.

Nadei em disparada para fora. Se Julieta morresse, a culpa seria minha.

Cheguei na superfície e pulei para fora da água. Louise e Colin estavam esperando sentados na margem, e se sobressaltaram quando eu cheguei de repente. Deixei Julieta no chão, ela tossiu e recobrou consciência.

Louise imediatamente se aproximou e foi verificar o estado dela.

— O que diabos você foi fazer lá? — Louise parecia com raiva.

— Eu só — ela tossia enquanto falava — estava com fome, e fui pegar uns peixes.

Gordo é gordo.

Eu me ajoelhei e tirei as algas que estavam presas na minha roupa, mas eu recebi um impacto tão forte na bunda que caí da cara no chão.

— Da próxima vez que fazer algo desse tipo em mim — Mirina falou, com um olhar mortal —, eu vou retirar todos os seus órgãos e atirar para os monstros.

— De nada — falei, dolorido.


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Notas finais do capítulo

Esse chute dói em mim.



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