Ben saiu pela rua feito um louco, as lembranças de Anita segurando uma bomba, do sorriso sarcástico do irmão postiço e o endereço não lhe saiam da cabeça. Por sua sorte um taxi passou pela rua e ele não precisou andar até o ponto, ao entrar indicou o caminho e neste momento um sentimento de revolta o dominou. Durante o percurso foi escrevendo um bilhete que tinha a intenção de deixar com o taxista, era um pedido de socorro, mas saltou do carro sem entregar o papel, no fundo ele gostaria de ter tempo para uma longa conversa e também ter a chance de acertar as contas com o irmão.

–- Antônio abre essa porta logo estou aqui, não era o que você queria? – falou Ben esmurrando a porta sem paciência

–- Olha quem chegou! Seja bem-vindo irmãozinho fique à vontade – disse Antônio assim que abriu a porta

Ben apenas esboçou um sorriso de canto de boca meio irônico e entrou, seus olhos nervosos logo avistaram Anita apavorada e presa a uma cadeira num canto do que seria uma sala de estar. A casa tinha muito pouco móvel, duas cadeiras, um colchonete, um caixote sendo feito de armário, algumas louças, garrafas de bebida espalhadas pelo chão, um fogareiro e um isopor. Um ambiente muito parecido com a concepção de um cativeiro

–- O que você quer da gente? – perguntou Ben

–- Jura que você não faz ideia, logo você que é tão sagaz? – falou Antônio debochado

–- O que você fez da sua vida? Sempre foi tão talentoso, que desperdício. Além de toda raiva que eu sinto por você eu também tenho muita pena disso aí que você se transformou – disse Ben

–- Comovente! (aplausos irônicos do Antônio). Irmãozinho antes de começarmos me diz que você não aprontou nada, diz que não bancou o espertinho e chamou a polícia? – indagou Antônio

–- Eu pensei, tive chance e quase o fiz, mas desisti porque quero resolver esta situação com você, só nós dois – respondeu Ben

–- AhaHahaHa (riu debochado) que pergunta idiota a minha, imagina se o queridinho do Benjamin ia perder a oportunidade de posar de herói e vir sozinho salvar a sua princesa, coisa irritante!

–- Antônio para podermos conversar direito tire aquela bomba do colo da Anita, essa tortura não e necessária – pediu Ben

–- Quem sabe do que tem necessidade aqui ou não sou eu, eu estou no comando não se esqueça – rebateu Antônio

–- Solta a Anita, seu problema é comigo e sempre foi, ela entrou nessa de gaiata, só está aqui porque você sabe que a gente se ama. Deixa de ser covarde e me atinge direto, estou aqui na sua frente, resolva sua questão comigo – insistiu Ben

–- Ama? Ama tanto que engravidou a irmã dela, grande amor. Quem ama aqui sou eu, tudo que faço é por ela, para ficar com ela e para protege-la principalmente de você. Não é meu amorzinho? – disse Antônio já perto da garota

–- Que belo exemplo de amor, um recalcado como você nem sabe o que é isso, amor não se obriga se conquista e se sente – disse Ben

–- Não sei mesmo? Então olha só isso – disse Antônio se abaixando para beijar Anita a força

–- Seu desgraçado! – gritou Ben já partindo para cima do irmão

Ben empurrou Antônio que se desequilibrou e em seguida o acertou com um murro que o derrubou no chão, nessa hora Ben sentou em cima dele e começou a estrangulá-lo, Antônio conseguiu reverter a situação numa bobeada do irmão e acertou Ben algumas vezes, que ficou meio zonzo por alguns instantes. Anita assistia em pânico aos dois rolando no chão e se golpeando mutuamente, ela gritava em vão para que parassem. Até que pouco a pouco eles foram se aquietando vencidos pela exaustão e pela dor. Começaram então a trocar ofensas e acusações ainda deitados no chão como se buscassem forças para uma próxima batalha, que parecia inevitável

No Casarão

–- Boa tarde família bonita, que bom encontrar com todos – disse Cícera ao chegar no casarão

–- Cícera eu posso saber o que mesmo você veio fazer aqui? – perguntou Ronaldo

–- Ai isso é forma de receber uma visita? Mas eu respondo, vim ver meu filho porque hoje mais cedo achei ele tão tristinho que vim ver se estava melhor e também vim para ajudar a Sofia, nós demos uma voltinha no shopping e acabamos comprando coisinhas demais pro nosso netinho – respondeu Cícera

–- Até um carrinho de bebê! – disse Vera espantada com a quantidade de sacolas

–- Lindo né? Então vim ajudar a carregar, mas cadê o meu filho? Quero dar um beijo nele – disse Cícera

–- É verdade cadê o Ben gente? Não vejo ele desde tarde quando ele subiu para ver o computador, deve estar lá pra cima, vou lá chamar – falou Giovana

–- Deve estar com a Anita também não estou vendo ela aqui com vocês – supôs Cícera

–- Não a Anita saiu no fim da manhã e ainda não voltou, o Ben estava até preocupado – disse Vitor

–- Como a Anita ainda não voltou, pelo que escutei mais cedo ela tinha apenas uma encomenda para entregar, já era para ter voltado para ajudar com as tarefas de casa – disse Sofia meio desconfiada

–- Gente eu vou lá fora fazer uma ligação e já volto, pois meu sinal não pega direito aqui dentro, até já – falou Cícera

–- Sofia você não acha que está exagerando nas compras para esse bebê não? Criança perde tudo muito rápido – alertou Vera

–- Mãe a Cícera que faz questão, não sou eu que vou reclamar eu hein – respondeu Sofia

–- O Ben não está lá em cima e nem em lugar nenhum – disse Giovana vendo Cícera voltar

–- Eu acabei de ligar para ele e o telefone dá desligado ou fora de área, alguém pode ligar para a Anita e ver se estão juntos – pediu Cícera

–- Fora de área o da Anita também, devem estar namorando em algum lugar sem sinal – falou Vitor

–- Como assim gente, vocês não ficam preocupados? A menina sumiu desde cedo, Ronaldo, Vera? E pelo visto o Ben também – disse Cícera aflita

–- Calma Cícera, também não gosto disso, mas eles são dois adolescentes, daqui a pouco a fome aperta e eles aparecem, E o que de perigoso podia acontecer para eles aqui no Grajaú? – indagou Ronaldo

–- Eu não sei, mas pelo que escuto no noticiário o Rio é uma cidade violenta. Não não sei pode ser coisa de mãe, mas estou com um mal pressentimento – respondeu a mulher visivelmente nervosa

–- Gente olha o que eu achei no notebook do Ben, ele deve ter saído apressado e nem desligou o computador, ai foi só apertar o play – disse Pedro

–- O que que tem aí Pedro? – perguntou Sofia

–- O Antônio sequestrou a Anita e com este vídeo atraiu o Ben também. Aqui está o endereço e as ameaças daquele doido – completou o caçula

–- Ah Meu Deus, meu filho! – disse Cícera em choque

–- Gente que absurdo é esse, não é possível! Vou ligar para polícia agora, me dá esse endereço e todas as informações – disse Ronaldo muito nervoso

No cativeiro

–- Sabe que eu maldigo aquele dia em que eu não te deixei despencar de cima daquele andaime – disse Ben ainda ofegante

–- Você é um fraco, nunca que conseguiria conviver com a culpa de ter deixado seu irmão morrer, ainda mais em praça pública – falou Antônio

–- Tá errado, eu não consigo lidar com o fato de ter te deixado vivo, um mau caráter como você não faz falta ao mundo e nem a ninguém. – disparou Ben

–- Pois no primeiro momento eu também tive ódio de ter sido salvo por você, mas hoje é minha maior glória saber que você preservou minha vida para eu poder te destruir em seguida. Naquele dia eu já tinha o vídeo, já tinha vocês dois separados, mas faltava continuar vivo para última tacada - falou Antônio com satisfação

–- Você é pior que verme, um coitado

–- Não sabe como foi fácil te seguir até aquele acampamento, ficar de tocaia e depois filmar aquela noite de amorzinho. Não imagina quantas vezes eu me diverti revendo aquelas cenas – gabou-se Antônio

–- Que vida infeliz essa sua de só conseguir ter prazer causando o mal nas outras pessoas, seu pior castigo é ser você mesmo, nem aos teus pais você conseguiu cativar – disse Ben transtornado

–- Você Ben desde o início desconfiou da minha autoria no vídeo, mas foi covarde e em vez de bancar isso para todos sucumbiu a uma ameaça anônima e abandonou o amor da sua vida dias depois de ter dormido com ela. Era óbvio que meu grande ato não iria acabar ali, te ameaçar era só o início do show, o grande espetáculo seria divulgar o meu feito e acabar com vocês e aquela felicidade toda – falou Antônio

–- Você é um louco nojento – gritou Anita

–- E depois então pude ver aquela idiota ali indo me visitar no reformatório e acreditando em cada intriga que eu falava, a cara dela de horrorizada com as historinhas que eu inventava era hilária. Ela acreditou em cada palavra que eu disse contra você e ainda teve pena de mim e quis me ajudar. Eu virei o herói e você o monstro Benjamin – disse Antônio quase que em transe

–- Cala a boca! Você se aproveitou do momento de muita fragilidade para mexer com a minha cabeça de uma forma absurda, e eu estava assim perdida e desiludida da vida não por causa da exposição da minha intimidade e sim porque eu estava sem o Ben do meu lado. E é isso que te mata, é saber que nunca ninguém será capaz de te amar como eu amo ele porque você não é digno e nem merecedor desse sentimento. Um amor tão grande que mal cabe em mim e que faz com que a importância da minha vida fique pequena diante da ausência da vida dele. – disse Anita muito emocionada

–-Você é uma bobinha e que amor é esse que desconfia, trai e abandona? – disse Antônio rindo

–- Desiste de entender, isso não é para você “irmão”. Só te digo que você não conseguiu destruir nada, muito pelo contrário, só fortaleceu o que já era uma fortaleza eu e a Anita estamos juntos e você não pode contra a gente – rebateu Ben

–- Otários e perdedores eu posso sim contra vocês, tanto que estão aqui agora sob a minha ameaça e foi sempre assim, fazem tudo do jeitinho que eu planejava. São tão previsíveis que eu joguei o tempo todos com vocês como se fossem uma pecinha num tabuleiro de xadrez. O sofrimento dos dois foi o meu alimento durante todos estes meses

–- Antônio eu vou matar você – disse Ben avançando novamente sobre o irmão

Anita ainda pediu mais uma vez que ele se acalmasse ao ver a feição do namorado completamente transfigurada pelo ódio. Desta vez Antônio não teve chance, Ben o socava impiedosamente e sem falar nada apenas batia, mas em seus olhos estava refletida a figura de Anita e principalmente todas as vezes em que ele viu a menina chorar.

–- Para com isso Ben, você é muito superior não se iguale a esse infeliz não suje suas mãos com ele, você não precisa e nem merece isso – gritou Anita

Autora: Carol

*Baseado no sonho da Kassy