Homewrecker escrita por Rize


Capítulo 2
The Wasted Years


Notas iniciais do capítulo

Dois capítulos em um dia! ui ui ui! Espero que esteja bom!



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Em seu quarto, portas e janelas fechadas, cortinas abaixadas e luzes desligadas. Miku estava sentada em sua cama, com seu pijama. O computador repousava sobre suas pernas, e começava a esquentar. A música que saia do aparelho não parecia muito o tipo de música que ela ouvia, mas era. Um saquinho de chips estava ao seu lado, e ela comia um por um, desatentamente.

Escrevia um arquivo para seu relatório de amanhã, na faculdade. Faria os testes para o estágio de jornalismo, algo que almejava desde o ensino médio.

As palavras no computador pareciam mais difíceis de aparecer, seu assunto estava acabando e sua meta de páginas ainda não havia sido concluída.

Suspirou e pendeu a cabeça pra trás.

Sabia o porquê de estar assim. Um motivo bastante azul. Jogou o computador para o lado e se levantou. Espreguiçou os braços e forçou a coluna pra trás, estalando algumas vértebras.

Abriu uma fresta na cortina e espiou por ela. Morava no décimo terceiro andar de seu prédio, e de lá, tudo parecia menor.

Ouviu as chaves girando e então abrindo a porta da frente. Seu irmão havia chegado. Ele estava no último semestre da faculdade de direito e Miku nunca o viu tão dedicado. Ficava até tarde estudando, conversando com professores, pesquisando. Era quase um incômodo.

Hatsune foi para seu banheiro, quando decidiu que só conseguiria terminar esse relatório quando sua cabeça estivesse limpa.

Apoiou-se na pia enquanto escovava os dentes, encarando seu reflexo. Era bom se ver sem nada. Sem maquiagem, sem nada modificando seu cabelo – de cachos falsos até elásticos que o prendessem – sem roupas que marcavam sua pele para destacar mais tudo que ela poderia dar.

O cabelo liso caía até os quadris, os olhos sem rímel, delineador ou lápis, apenas expressando sua cor e cílios normais, os lábios róseos por natureza e bochechas pouco rosadas. A blusa de seu irmão que caía sobre o corpo e a calcinha samba canção, quando não precisava impressionar ninguém. Aos poucos, ela se esquecia como era a sensação.

Após terminar de escovar os dentes, guardou o resto das chips na cozinha e desligou o computador. Deitou a cabeça em seu travesseiro, afundando o rosto na fronha, saboreando o odor do amaciante e shampoo. Com os olhos fechados, puxou os lençóis até a cintura e se afundou em sua cama, abrindo mão de seus sentidos e se deixando levar pelo sopro do adormecer.

***

Ela dirigia com calma, o motor suave passava silencioso pela cidade, até que foi desligado, ao chegar a seu destino.

Miku desceu do carro, trotando com brandura até sua classe. O auditório estava com poucos alunos – os mais adiantados – e Miku sentou-se na fileira do primeiro degrau, colocando seu computador na mesa e terminando seu relatório. Agora, com a cabeça apenas dedicada ao seu trabalho, poderia terminar em paz o que ontem havia começado.

Havia acabado de salvar o arquivo completo, quando Luka se sentou ao seu lado. Elas haviam começado a amizade há pouco tempo, mas ambas se consideravam bastante.

– Bom dia, Miku. – Luka sorriu, colocando o notebook sobre a mesa e se sentando também. – Como foi seu feriado?

– Bom. – até certo ponto – e o seu?

– Maravilhoso! – ela possuía uma face sonhadora e iludida. Miku já esqueceu como era a sensação de sentir algo que a deixasse assim. – Eu e Gakupo viajamos pro litoral, foi muito romântico e lindo! Nos cavalgamos, acampamos, foi perfeito!

Miku se sentia feliz por ela. Feliz mesmo. Mas sabia que esse tipo de coisa nunca funcionaria com ela, então se limitava a imaginar o que havia sido.

– Que ótimo, Luka. – ela sorriu. – Como está seu relatório?

– Uma linda bagunça. Mas não vamos falar disso. E você? Nunca te vi falando de ninguém. Quer dizer, não desse jeito. Por que?

Miku tentou manter sua expressão de sempre, e estava pronta pra contar o porque de todos seus limites, quando o palestrante entrou no auditório.

Salva pelo gongo.

Durante toda a aula, Miku havia se permitido pequenas viagens intelectuais a coisas que apenas lhe faziam respeito. Conseguiu captar a mensagem principal do palestrante daquela manhã, mas no fundo, não havia ouvido sequer uma palavra que aquele sujeito havia dito.

Viajou para muitos lugares diferentes. Como para quando se formasse. Para onde prestaria concursos? O que aconteceria com seu irmão? E seus amigos? Talvez no fundo soubesse que aquelas amizades não seriam eternas, mas ela não queria abrir mão do que tinha.

Viajou para mais além. Para quando fosse ter sua casa. Se casaria? Não parecia algo de seu feitio, mas e se casasse? Teria filhos? Quantos? Um cachorro? Gato? Ou os dois? Conseguiria se tornar jornalista como sonhava, ou abdicaria de seus sonhos por uma família, como tantos fazem?

As perguntas e viagens não parariam de vir e ir, se o horário não tivesse expirado. Todos começavam a sair do lugar quando Miku se deu conta que a palestra havia acabado e que era hora do almoço.

Já?

Ela deixou seu computador em seu lugar – sabia que ninguém o roubaria – e saiu do auditório. O dia havia esfriado significantemente, e ela escondeu as mãos nos bolsos do casaco, ao ver que sua respiração começava a se condensar em vapor, saindo por entre seus lábios e narinas como aquela adorável fumaça branca dos dias frios.

Miku andava cega, entre os outros estudantes, apenas tentando lembrar aonde havia estacionado seu carro, um corola preto, com um pequeno amassado no fundo.

No estacionamento, com tantos carros, ela teve dificuldade em achar o seu. E quando achou, desejou que tivesse escolhido ir almoçar a pé.

Kaito estava parado escorado em seu carro, olhando diretamente pra ela. Estava agasalhado e com óculos escuros estilo aviador, e por isso, Miku não sabia para que parte de si ele olhava. Pernas, cintura, seios ou olhos?

– O que está fazendo aqui? – ela perguntou seca, quando chegou numa distância suficiente para que ele pudesse ouvi-la.

– Quero te levar pra almoçar. – ele se descorou do carro e diminuiu a distância entre os dois em cinco passos. – Faz tempo que não te levo pra almoçar.

– Talvez isso tenha um porque. – revirou os olhos, cuspindo as palavras com menos austeridade do que gostaria. Não gostava de ser grossa com ele, mesmo quando era preciso.

– Que tal no Destir’z? Você sempre adorou comida italiana – ignorou o comentário da garota, tirando os óculos do rosto e colocando na gola em V da camisa. – Ainda gosta, não é?

– Algumas coisas nunca mudam – ela cruzou os braços e reuniu força para olhá-lo nos olhos. – já outras...

– Isso facilita tudo. – Kaito bateu as palmas, esfregando-as, no objetivo de aquecer a pele. – Você tem que estar de volta na faculdade a que horas?

– Uma e meia. – mentiu. O menos tempo que conseguisse passar com ele, melhor.

– Duas e meia te deixo na porta. – o sorriso astuto fez com que ela ficasse vermelha, por ter mentido. Kaito tirou as chaves de um Hyundai do bolso e balançou a cabeça, fazendo sinal para que ela o seguisse.

E quem seria a tola de não seguir?


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