Perante aquela pergunta que a desconfortou, Beatriz ignorou e fingiu não ter ouvido. Ela disse que iria pegar um copo de água, pois estava com sede.

Ao chegar à cozinha, César correu a tempo de conseguir segurá-la pelo braço e sussurrar em seu ouvido:

– Beatriz, você pode até conseguir enganar o imbecil do Michel, mas a minha você só engana até a página 2. Quem você pensa que é? Se a Sarah morreu ou não você. . .

– Você o que, César? – gritou Beatriz

Michel percebeu a tensão daquela conversa e decidiu ficar calado. Mas ele começou a desconfiar da morte de Sarah, já que Beatriz em momento algum falou da amiga e ainda por cima ignorou-os, ele e César, ao falarem de Sarah.

Mas ele preferia que aquilo tudo viesse da boca de Beatriz, não de uma possível intuição.

***

Enquanto Tito não voltava, Jandira almoçava, mordendo o pedaço de carne que estava no prato acompanhado de um miojo frio e gosmento. Ela não gostava dos filhos e ficou com raiva do marido quando ele quis saber de Beatriz, Jackie e César.

Há semanas Tito não bebia mais e frequentava o A.A (Alcóolicos Anônimos). Por isso, Jandira não levava mais as surras constantes dele. Mas por tê-la “abandonado” para ver os filhos, Jandira decidiu se vingar.

Ela pegou a arma que o marido guardava há 20 anos. Quando ele chegou, se deparou com uma surpresa nada agradável. Ela estava bêbada, parcialmente nua e com uma arma apontada para ele. Tito se enfureceu e gritou:

– O que é isso, Jandira?

Quando ele ameaçou dar um passo a frente, Jandira gritou choramingando:

– Não se mexa! Se não você verá o pior! Você me abandonou Tito Ferreira Paes, agora eu vou ter que te matar!

***

Jackie continuou andando até em casa, com sua cadeira de rodas, lembrando-se da conversa que teve com Tito. Quando ela disse que amava o pai, não sabia se foi de coração ou falou por falar. Ela ainda não se sentia pronta para perdoá-lo, mas a saudade era tanta que ela gostou muito de revê-lo.

Um rapaz que carregava uma pilha de livros esbarrou nela e acabou derrubando tudo. Ele tratou logo de se desculpar:

– Desculpe moça.

– Tudo bem.

Ali ocorreu uma troca de olhares. O rapaz olhava para Jackie como se já a conhecesse de algum lugar:

– Ei, você não é a Jackie Paes, do Colégio Maria Zélia do Sul? Eu estudei lá. Você ficou. . .

– Paraplégica? Não. Acidentei-me e vou andar com a cadeira provisoriamente. Mas sim, sou eu, Jackie Paes. E quem é você?

– Me chamo Carlos. A sua tia Esmeralda é a atual diretora do colégio, não é?

– Sim. Por isso eu estudo lá de graça. Embora ela seja muito rica, não tenho coragem de pedir nada pra ela, já que o fato de ser pobre e poder estudar no terceiro melhor colégio do Rio de Janeiro são muito bom.

Os dois riram. Ele recolheu os livros e foi andando, pensando na rápida, porém prazerosa conversa com Jackie. Ela também ficou pensando naquela voz grave e baixa que Carlos tinha, na calma e no sorriso branco e discreto dele.

***

– Jandira, para com isso. Não faça nada que você possa se arrepender depois.

– Ah. . . – riu sarcasticamente Jandira – Eu me arrependi de ter casado com você, apanhado, cozinhado, lavado suas cueca cheias de freada e sua meias fedidas! Agora é a SUA vez de sofrer. Adeus, Tito!

“Pou”! Tito caiu no chão. Ele não havia morrido. O tiro foi de raspão. Mas ele tinha um plano em mente. Jandira pensou que o tinha matado e quando foi pisar no corpo de Tito, ele segurou sua perna, derrubando-a:

– Jandira, você pode ser o que for, mas tem um defeito: você é BURRA!

Tito cuspiu no rosto de Jandira, se abaixo e com sua mão esfregou aquela saliva pelo rosto da esposa e simultaneamente rindo maleficamente.

– Cretino. . .

***

Quando César perdeu a curiosidade de saber de Sarah, foi dormir. Aí, Beatriz confessou a Michel:

– Michel, ontem de noite. . . a Sarah MORREU!