Sagira escrita por Senjougaha


Capítulo 5
Capítulo 5 - Torça para que seu corpo chegue inteiro


Notas iniciais do capítulo

Capítulo curtinho!



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Chacoalho Tanatos com urgência. Não consigo imaginar como ele é tão pesado tendo um corpo de deus grego. Literalmente.
Ele acorda sobressaltado e sai de cima de mim.
– Até que enfim - murmuro com a voz saindo arranhada.
– O que foi aquilo? - ele pergunta em tom exigente.
Tanatos está me encarando. Pensa que sei o que acabou de acontecer, pensa que sei de tudo relacionado aos flashes, mas eu não sei. Seus olhos dourados são tão... invasivos. Desvio o olhar.
– Eu não sei - respondo finalmente.
Ele franze o cenho como se estivesse desconfiado.
– Eu não sei, okay??! Droga! - digo irritada e ele faz um gesto de rendição com as mãos.
Me levanto tendo o cuidado de não tropeçar na corrente que agora, por algum motivo está mais clara. Quase translúcida. Posso ver o tufo de grama negra através dele, ainda que embaçada.
Limpo a sujeira da minha roupa e fungo. O ar ali está poeirento e denso, e por ter um olfato sensível, espirro.
– Onde estamos? - pergunto tentando focar meus olhos na escuridão.
Não tenho dificuldade alguma em fazer isso. Principalmente depois da transformação anterior, da qual não quero me lembrar. Sinto minhas pupilas dilatarem e posso ver tudo ao meu redor com auras. A aura de Tanatos é negra. Nenhuma surpresa com isso.
– Estamos perto da entrada do Tártaro - ele diz com um sobressalto e me puxa para tras.
– Como chegamos aqui? - pergunto confusa e atenta ao meu redor.
Qualquer monstro mitológico ou deus não muito amigável pode aparecer a qualquer momento, de qualquer canto.
O Tártaro é lugar de almas amaldiçoadas. Por algum motivo, não me sinto... deslocada aqui. Me sinto em perigo, mas não deslocada ou desconfortável como Tanatos aparenta estar.
– Deve ser coisa da Perséfone - ele tenta pensar, mas não é plausível.
– Deve ter sido efeito do nocaute - confesso - quando sou nocauteada, tenho o reflexo de viajar nas sombras pra qualquer lugar, mas nunca foi... pra tão longe assim.
Tanatos me encara com uma expressão que diz "e você fala isso agora?" e dou de ombros. Não que eu tenha culpa. Nem a obrigação de contar tudo sobre mim à ele.
Um uivo grosseiro e dilacerante ecoa não tão longe de nós e Tanatos procura de onde veio. Aponto para a nossa direita e dilato ainda mais minhas pupilas para enxergar melhor e mais longe.
– Está vindo - digo tensa.
– Consegue enxergar LÁ? - ele pergunta duvidoso.
– Sim, mané - reviro os olhos e pegando na mão dele, desato a correr.
– Eu poderia voar...
– NÃO! - corto.
Ele não discute. Por algum motivo, sinto compreensão vindo dele. E sei que ele sentiu meu medo de altura, de alguma forma.
Sinto o dono do uivo logo atras de nós. Os pelos da minha nuca se arrepiam com a sensação de proximidade e meu nariz se enruga com o fedor que vem dele. O zumbido no meu ouvido não para e eu sei que o que está atrás de mim é algo bem maior e antigo do que eu no momento.
– Lobisomem - sussurro e corro mais rápido.
– Se transforme - ele diz rápido.
– O quê? - estou indignada.
Ele tem ideia do quanto dói?
– Se transforme, eu te cubro - ele repete explicando melhor - vou voando.
Olho em sua direção pelo canto dos olhos e começo a me transformar ainda correndo.
A dor me dilacera. Imagine sua coluna se partindo em mil, seu estômago sendo atingido mil vezes por algo ácido e suas costelas sendo massacradas. E muito mais. Não é como me transformar naturalmente ou por um sentimento forte, como da ultima vez. Se transformar intencionalmente exige esforço, concentração e principalmente resistência.
Não sou uma lobisomem. Sou uma loba que assume aparência humana. Minha transformação depende do meu estado psicológico e no momento, não está dos bons. Porque tem um lobisomem ancião atras de mim. É compreensível?
Os ossos da minha costela estalam e solto um grito de dor, que logo se transforma num uivo ardido. O lobisomem atras de nós corresponde com outro.
– Não vai dar tempo - consigo dizer com uma voz grossa e duplicada mesmo com minha boca presa entre humana-loba.
– Vai sim - ele grunhe e aperta minha mão mais uma vez antes de alçar vôo e me deixar sozinha lá embaixo - vou tentar enfrentar...
– Não! É Licaón, o alfa! - grito e uivo ao mesmo tempo.
Ele hesita, mas vai mesmo assim.
Licaón é o primeiro lobisomem. O Primeiro. Na versão grega, ele tentou agradar a Zeus num banquete, oferecendo a carne de seus próprios filhos. Não preciso dizer que o titio esquentado não gostou quando descobriu e transformou o pai numa fera que realmente apreciasse carne humana.
– Sagira - ele chama antes de chegar lá.
Já estou quase sobre quatro patas, então rosno em resposta.
– Quase lá - ele diz e pisca para mim.
Que droga ele pensa que está fazendo? Ele não morre (pelo menos é o que se espera) e eu também não. Quero dizer, eu morro e volto. Ou não morro nunca? Tanto faz. Que seja. Mas morrer DÓI. Não quero nem imaginar como deve ser morrer nas portas do Tártaro.
Termino de me transformar e puxo a corrente com uma mordida brusca. Tanatos está de volta, então corro na maior velocidade que posso. O que é muito.
Carros a 120 km por hora? Eu passo!
Sinto que posso voar a qualquer momento e por incrível que pareça, Tanatos está me acompanhando.
– Ele está pegando leve pelo que parece - ele consegue dizer enquanto respira pesadamente e bate as asas negras com uma força incrível que arranca tufos de grama do chão - consegue nos acompanhar se quiser.
Rosno concordando e acelero ainda mais. Se eu ao menos tivesse tempo de Viajar...
Penso em dizer isso de alguma forma para meu companheiro de fuga, mas descarto a ideia. Ele não é tão rápido quanto eu para fazer isso. Provavelmente ninguém é.
Tanatos plana perto de mim e aproveitando a chance, pulo em sua direção e mordo seu braço, viajando nas sombras imediatamente.
Claro que estou com medo de alguma parte ou outra de Tanatos ter ficado pra tras. Mas espero que não. Também espero que se esse seja o caso, ele me perdoe.
Podemos voltar depois pra buscar o resto, certo?


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Notas finais do capítulo

Você voltaria lá? :p



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