A história de Ana e Luca escrita por marlia


Capítulo 6
Capitulo 5




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Luca joga sua carteira em cima da cama e sai para a sacada. Tenta se concentrar na paisagem a sua frente: o rio, a avenida, ao fundo o céu alaranjado... Mas a visita a casa de Ana deixou ele agitado. A animosidade com que Ana o tratou, mexeu com ele. Esperava que ela já tivesse superado a separação, que tivesse entendido os motivos dele. Talvez ele tenha subestimado o sofrimento dela, o modo como ela vivenciou a separação. Para ele não foi difícil, sentiu sua falta, mas os compromissos de trabalho foram aumentando e não tinha tempo para sofrer por isso. Nesses últimos anos não pensou sobre o dia da separação, lembrava de Ana, algumas vezes, principalmente dela em sua garupa ou em sua cama.

Lembro que Ana viajou comigo para San Remo, ela não deixava que eu desanimasse, estava certa de que eu ganharia o festival. Eu a mantinha sempre por perto, me deixava mais calmo olhar para ela. Ficava na coxia durante o ensaio, tinha paciência para ficar horas esperando por mim. E a noite eu dormia em seus braços. Depois da terceira noite, quando passei para a final, as coisas ficaram mais difíceis, tinha muita gente em volta, mas ela se manteve paciente ao meu lado, mesmo quando as garotas me rodeavam pedindo autógrafo, insistindo em me beijar, ela não reclamou. Mas depois da vitória... Ela voltou sozinha para o hotel, não tive tempo de lhe dar atenção... E depois da briga ela foi embora e não há vi mais. Alguns dias depois Rodrigo me disse que ela havia voltado ao Brasil.

Luca tira o celular do bolso, e espera ansioso para sua ligação ser atendida.

– Mãe! – ouvir a voz da mãe faz com que ele se lembre o porquê de estar ali, em uma cidade tão longe. – Eu o conheci mãe, ele parece comigo naquelas fotografias que você me mostrou.

– E como ele é filho? Educado? Tímido? Esperto? Qual o nome dele? – a mãe reage à animação dele.

– Mãe, ele parece ser bem agitado. A mãe tirou todos os enfeites da casa por causa dele. – Luca dá uma risada – Francisco me disse que a mãe fala : “ Menino! De Santo você só tem o nome!”. – ele ouve a mãe rir do outro lado da linha.

– Meu neto se chama Francisco? Eu não acredito, meu Santo de devoção filho, isso parece ser um bom sinal. – Dona Aurora fala animada.

– Mãe. Ela conversa com ele em italiano. – ele fala ainda sem entender porque ela faz isso.

– Então, ela não pretendia esconder o menino de você por muito tempo.

A mãe tinha razão. Isso faz ele pensar que Ana estava esperando a melhor hora para aparecer com o filho e com isso tirar algum proveito, ou até mesmo se vingar dele.

– Ela devia estar esperando a melhor hora de aparecer e tirar alguma coisa de mim. – ele desabafa para a mãe.

– Luca, não tire conclusões precipitadas. – a mãe faz uma pequena pausa – Como meu neto vive? Eles estão passando por dificuldades?

– Não sei... A casa é boa, eles moram em um bairro tranquilo, perto da Universidade daqui... Eu vou passar alguns dias com ele, e descobrir o que ela pretende.

– Sim meu filho, faça isso. – a Senhora muda o tom de voz – Mas, por favor, vá desarmado, veja tudo com os olhos do coração.

– Eu vou tentar mãe.

Sua mãe sempre teve um bom coração, uma mulher boa, que só enxerga o lado bom das pessoas. Ele costumava ser assim, mas depois que foi cercado de bajuladores e interesseiros, aprendeu a se proteger, a olhar as pessoas com desconfiança, e com Ana não seria diferente, não ia deixar que ela usasse o filho para tirar proveito dele.

Luca toca a campainha pela terceira vez, olha para Sandra e abre os braços.

– Demorar para atender a porta não quer dizer que ela tenha fugido. – Sandra tenta acalmá-lo.

– E o que poderia ser?

Ela olha para a rua e depois para o portão da casa.

– Algum imprevisto...

Luca encara a Senhora e balança a cabeça. Para ele estava claro que Ana tinha feito alguma besteira. Tinha reagido do jeito que ele havia previsto, imaturamente e havia fugido.

– Não devia ter acreditado nela.

Sandra olha para ele, está irritado, ele olha para a rua e anda pela calçada como se tentasse pensar em uma saída. Ela olha pela rua na esperança de ver um carro virando a esquina, uma briga entre os dois só ia prejudicar o menino. Sandra observa Luca tocar novamente a campainha. Ele abaixa a cabeça e resmunga um palavrão.

Um carro diminui a velocidade e estaciona na entrada da garagem. Luca levanta a cabeça e olha para Ana dentro do carro. A moça aciona o portão automático obrigando Luca a se afastar. Ele olha para Sandra.

– O Senhor sofreu a toa, não deixe que percebam sua irritação. – Sandra pede a ele.

Luca resmunga e entra na casa. Tenta controlar sua irritação, mas é difícil, ela sabia que ele vinha passar a tarde com o filho, não devia ter deixado ele esperando. Ana abre a porta de traz do carro e o menino salta.

– Senhor Luca, veio me visitar? – o menino sorri para ele. Luca se abaixa para falar com ele.

– Sim bambino, eu vim ver você. – a sinceridade do menino desarma Luca. – Vocês demoraram? Onde estava?

Ana bate a porta depois de tirar a mochila do menino de dentro do carro. Luca não se incomoda com a cara feia que ela faz quando olha para ele.

– Vamos entrar. – Ana convida em português, sorrindo para Sandra.

– Eu ajudo você. – Sandra fala tirando a mochila da mão dela, enquanto Ana abre a porta.

A casa está toda fechada, Ana entra abrindo as janelas da sala.

– Graça não veio. – Francisco fala animado em italiano. – Minha mãe e eu comemos na tia Jane. – o menino sobe em cima de uma cadeira. – É bom sem a Graça – Luca não tira os olhos do menino, e Sandra observa o quanto isso incomoda Ana. – Minha mãe é só minha. – ele fala e pula na cadeira. Luca segura ele e o coloca no chão.

– Francisco, vamos tirar o uniforme, depois você volta para conversar com o Senhor Luca.

O menino olha desanimado para ela.

– Sim mãe... O Senhor Luca pode ir comigo?

A mãe olha para ele, num primeiro momento tem vontade de dizer não, mas volta atrás depois de olhar para Luca.

– Claro filho.

– Venha Senhor Luca, conhecer meu quarto.

Francisco corre escada acima, Luca salta uns degraus e alcança o menino, suspende ele pela cintura e o carrega até o topo da escada.

Luca olha para a pequena sala, uma televisão, um sofá, e em cada lateral da sala, uma grande porta de correr divide a sala de dois quartos. Francisco corre até o armário em baixo da tv e pega alguns DVDs. Joga todos sobre o sofá.

– Senhor Luca, vamos assistir um filme?

Luca olha todos aqueles DVDs espalhados, todos de desenho e todos em italiano. Ana poderia estar com alguém, um italiano, talvez alguém que tenha conhecido em Roma, depois que eles terminaram. Alguém que sempre venha visita-la e que traga presentes para Francisco.

– Quem deu para você? – ele pergunta para o menino.

–Tio Giovane. – o menino responde olhando os filmes.

– O namorado de sua mãe?

– Não, namorado do Tio Pedro.

Luca se sente um tolo fazendo esse tipo de pergunta ao menino, como pode estar preocupado com esse tipo de coisa. Ele tinha esquecido de Pedro, na época em que namorava Ana, pode ver o quanto o primo gostava dela, sempre o interrogando para onde iam, pedindo que tivesse cuidado com ela.

– Senhor Luca, podemos assistir esse?

Ele devia estar prestando atenção ao menino, e não pensando em besteiras.

– Claro! Vamos assistir esse.

O menino coloca o DVD no aparelho e volta correndo para o sofá. Luca olha para ele, tão pequeno, como podia ter facilidade em falar italiano.

– Você entendo o que falam?

– Sim, eu assisti com minha mãe, ela me ensinou tudo.

Luca sorri, é um bom jeito de ensinar uma língua para uma criança, através de filmes.

– Quantas vezes você já assistiu?

Sem tirar os olhos da tela, o menino mostra cinco dedos para ele.

– Eu e minha mãe.

– Ela deve ter muita paciência. – Luca fala sorrindo.

– Minha mãe gosta. – ele olha para Luca – O favorito dela é a Bela e a Fera.

O filme começa e o menino fica em silêncio. Luca não vê muita saída a não ser também se concentrar no filme.

Ana escuta o barulho da tv e deixa de tentar adivinhar o que eles faziam, pelos ruídos que vinha do andar de cima. Francisco fez Luca participar da sua diversão preferida quando está dentro de casa – assistir a seus desenhos. Isso demonstra que ele gostou de Luca, deixar as pessoas assistirem a seus filmes favoritos é um sinal de que aprovou a pessoa. Seria mais fácil se o menino rejeitasse o pai, se ele não aceitasse a sua aproximação e demonstrasse desinteresse por ele, só isso a deixaria mais despreocupada. Tinha conversado sobre a chegada de Luca com mmm, contou a conversa que tiveram nos mínimos detalhes, mmm é seu melhor amigo e é advogado, mesmo que a área de família não seja sua especialidade, tem certeza de que fará de tudo para ajuda-la. Apesar de seu pai ser um dos melhores criminalistas do pais, não queria pedir ajuda a ele, não queria ouvir seus sermões de como o caminho que ela escolheu é difícil e doloroso. Nunca concordaria em deixar que ele registrasse seu filho, não podia nem pensar em ficar longe dele e fugir de sua responsabilidade como mãe, do convívio com o filho e de sua educação.

– Ana, eu posso te chamar assim? – Sandra sorri para ela.

– Claro. – ela fala olhando para a Senhora.

– O Senhor Luca é pai de Francisco?

Ana olha para ela por um instante e as lágrimas começam a umedecer seus olhos. Ela se controla desviando o olhar para fora, pela janela da cozinha.

– Desculpe eu estar me metendo...

– Tudo bem – Ana interrompe ela. – Ele é pai de Francisco.

Sandra já imaginava, mas queria ter certeza, toda aquela animosidade entre os dois no dia anterior mostrou que entre eles existe uma grande mágoa, e que Ana tinha sido muito machucada, já por duas vezes ela percebeu lágrimas nos olhos da moça, e pela calma de Luca, ele tinha superado o relacionamento dos dois. E Sandra tinha certeza de que Luca só descobriu o filho agora.

– Seja o que for que aconteceu entre vocês dois, a melhor maneira de vocês se acertarem é conversando.

Ana olha para ela e dá um sorriso desanimado.

– Espero que sim.

A Senhora toma um gole da bebida em seu copo.

– Isso é bom, como é mesmo que chama essa bebida?

– Cajuína. – Ana responde tomando um pouco também – É feita com caju, sem adição de conservantes ou açúcar.

– Deliciosa – a Senhora toma o restante.

Ana enche novamente o copo.

– A Senhora gostaria de experimentar o doce em calda?

– Sim, por favor, mas não me chame de Senhora, só Sandra.

As duas se distraem falando sobre as comidas típicas do Piaui e de Pernambuco, sobre os bolos e doces tradicionais. Sandra se anima quando Ana fala que nasceu em Pernambuco, e comenta sobre sua família. A conversa fica animada com as descobertas em comum das duas e elas não vêem o tempo passar.

– Francisco dormiu. – Luca fala, pronunciando o nome do menino em português.

A voz do rapaz interrompe a conversa animada que as duas levavam. Ana olha para ele sem entender o que ele havia dito

– Francisco dormiu – ele repete.

– Francisco nunca dorme a essa hora. – a moça fala estranhando a situação.

Luca olha para ela sem querer repetir o que havia falado por duas vezes.

– Eu o coloquei na cama. – fala com mais firmeza, não queria ficar repetindo tudo que fala. – Imagino que o quarto dele seja o que tem uma cama coberta com uma colcha cheia de brasões de um time de futebol. – como Ana continua a olhar para ele sem acreditar no que ele está falando, Luca fica irritado. – Eu não fiz nada ao menino. – ele reclama gesticulando.

A reação de Ana é imediata.

– Porque o Senhor está gritando?

– Porque você fica me olhando com essa cara de que eu estou mentindo.

Sandra vê uma briga se aproximar, levanta da cadeira e toma a frente.

– Já que o menino está dormindo, nós podemos ir embora. – ela olha pela janela. – já está anoitecendo, Ana também deve estar cansada.

Luca olha para ela e desfaz a expressão zangada do rosto.

– Eu volto amanhã. – ele fala com Ana como se ela fosse impedi-lo de voltar.

– Ah! Eu tenho certeza disso. – ela fala com desdém.

– Pode ter certeza. – ele provoca.

– Então – Sandra passa na frente dos dois – nos vemos todos amanhã. – ela fala e liga para o taxista que está atendendo aos dois.

Ana acompanha a Senhora até a porta.

– Eu gostei muito de nossa tarde juntas. – Sandra fala para Ana – Não precisa nos fazer companhia, vá ver como está Francisco.

Ana se despede e deixa os dois na calçada. Luca fica olhando para a janela do quarto.

– Nosso táxi não vai demorar. – ela fala para ele. Luca olha para ela como se não a tivesse ouvido.


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