A Espiã escrita por MandyCillo


Capítulo 14
Capítulo XIV




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Molly, subitamente paralisada, olhava para Sherlock com um ar perdido, como se não o tivesse ouvido.

— O que… disse?

A expressão bem-humorada dele se acentuou.

— Pedi você em casamento — falou, num tom normal.

— Mas você não pode estar falando a sério!

— Isso eu posso lhe garantir. Mas não entendi a sua reação. — Fez um ar triste. — Imaginei que já estivesse esperando por isso.

Ela tentou se recompor desesperadamente.

— Mas já conversamos sobre esse assunto e eu lhe disse que não estava interessada em casamento.

— Eu também não. Até encontrar você.

A cabeça de Molly começou a latejar de novo, deixando-a ainda mais nervosa.

— Eu nem sei o que dizer…

— Então não responda nada agora. Sinto muito, acho que fiz a sua dor de cabeça piorar. Eu não pretendia conversar sobre casamento esta noite, mas quando vi o seu estado de nervos, pensei que talvez lhe fizesse bem ficar sabendo das minhas boas intenções — Ele falou em tom alegre, esperando por uma resposta, mas se levantou ao ver que Molly permanecia em silêncio. — Não estou com a menor vontade de ir embora, mas se ficar aqui por muito tempo seu zelador vai começar com falatórios. Tente dormir de novo, querida. — Inclinando-se, beijou-a na testa. Ela não disse nada e nem mesmo levantou o olhar. — Telefono amanhã cedo para saber se você vai ao leilão.

Ao se ver sozinha, completamente confusa com o rumo que as coisas estavam tomando, ela soltou uma gargalhada histérica. Realmente, havia descoberto que Sherlock estava começando a ficar apaixonado, mas nunca poderia imaginar que fosse um sentimento tão forte. Afinal não fazia dois meses que se conheciam, pouquíssimo tempo para um pedido de casamento! Apesar disso não conseguia deixar de considerar o que seria estar casada com ele, vivendo naquela magnífica mansão em Kent, tendo todos os desejos realizados. Vinham-lhe agora imagens bem nítidas da intimidade de um casal. Molly se via na cama com aquele homem, numa entrega sem restrições aos prazeres do amor.

Então, sentindo o coração aos pulos, percebeu como seria fácil cair na armadilha! Mas ela também sabia do outro lado da personalidade de Sherlock. Jamais poderia esquecer a crueldade, o sadismo usado para arruinar a vida de Sarah Magnussen por pura vingança. Pelo visto, devia ser também extremamente ciumento e possessivo. Molly estremeceu só de pensar no que aconteceria se uma mulher comprometida com ele ousasse olhar para outro homem.

Levou muitas horas para voltar a dormir e acordou cansada e deprimida. Era bem tarde, quase nove e meia da manhã, e seu primeiro pensamento foi entrar em contato com Charles. Mas isso não foi necessário porque ele lhe telefonou antes, e parecia estar muito animado.

— Acho que descobrimos uma boa pista. Você se lembra daqueles títulos nas pastas sobre a mesa de Sherlock? Um deles era “Fusão Projetada”. Também tinha uma carta com o cabeçalho, “Tewson e Newbury”. Pode ser que haja uma ligação entre os dois. Você tem que instalar os microfones no escritório dele o mais rápido possível.

— Eles foram colocados ontem — respondeu Molly.

— E por que não me avisou imediatamente?

— Não pude. — Ela pensou em explicar, mas mudou de ideia. — Olhe, tenho de me encontrar com você.

— É urgente?

— Sim, muito.

— Não pode me falar pelo telefone?

— Prefiro ver você pessoalmente.

— Certo. — Ele não parecia muito satisfeito. — A propósito, hoje é dia do leilão daquele colar, não? Você pode ir até quinze mil libras. Mais tarde, quando estiver sozinha, telefono para marcarmos um encontro.

— Muito bem. E você está certo sobre a fusão das companhias. Ele me falou qualquer coisa sobre isso ontem.

— Por acaso chegou a mencionar o nome da empresa envolvida?

— Não. Perguntei mas Sherlock não quis me contar.

— Você precisa descobrir, e o mais breve possível! É muito importante, entendeu?

— Sim. Até logo.

Mal acabou de desligar, o telefone tocou de novo. Desta vez era Sherlock.

— Bom dia, querida. Como está a dor de cabeça?

— Oh, já passou. Estou ótima, obrigada — ela mentiu.

— Está disposta para ir ao leilão?

— Sim, claro.

— Ótimo. Vou buscar você dentro de uma hora.

Chegaram um pouco atrasados e o auditório estava cheio de gente. O primeiro lote já tinha sido arrematado. Ansiosa, ela olhou o catálogo e suspirou de alívio, ao ver que o colar seria um dos últimos objetos leiloados. A imprensa havia falado muito naquele adorno em forma de serpente, feito com exclusividade para Sarah Bernhardt, o que certamente atraíra um grande número de possíveis compradores e curiosos. Quando finalmente começaram os lances pela joia famosa, Molly teve que desistir depois de algum tempo quando o valor superou quinze mil libras. A peça foi arrematada por uma pessoa que insistia em se manter anônima, pelo preço de vinte e sete mil libras.

Depois do leilão, Sherlock a levou para almoçar no Savoy, mas ela mal conseguiu comer de tanto nervosismo. Tinha medo de que a conversa acabasse girando em torno daquela absurda proposta de casamento. Também estava ansiosa para se ver livre e poder falar com Charles Magnussen. Ao contrário dela, porém, Sherlock demonstrava estar alegre e descontraído, parecendo não ter a mínima pressa em voltar ao escritório. Apesar de ele não ter falado diretamente em casamento, passou o tempo todo fazendo planos para o futuro, comentando o quanto iriam se divertir juntos.

Molly, sem forças para protestar, deixou que ele falasse à vontade, enquanto tentava comer um pouco. Sherlock não fez qualquer comentário sobre a apatia que ela demonstrava, mas permaneceu atento o tempo todo, encarando-a fixamente. Finalmente o almoço terminou e foi possível inventar uma desculpa rápida para ir embora sozinha. Ele se despediu com um beijo, prometendo apanhá-la no apartamento às sete horas.

Felizmente, Charles Magnussen estava livre e o encontro foi marcado numa lanchonete, em Edgeware Road.

Ele chegou atrasado e, a essa altura, Molly estava uma pilha de nervos. Embora procurasse manter sua habitual compostura, Charles demonstrava muita satisfação.

— Estou muito contente com o seu progresso, e acho que estava certo nas minhas previsões. Parece que Sherlock está mesmo usando a empresa Tewson e Newbury para maquinar um golpe com ações e fazer uma pequena fortuna.

— Como? Assumindo o controle da empresa?

— Não é assim tão simples. Ele só está usando a compra como uma fachada. Um plano muito esperto, que você não conseguiria entender. Mas eu lhe garanto que Sherlock é uma raposa, nem um perito desconfiaria das intenções dele. Agora me conte exatamente o que você ouviu sobre a tal compra ou fusão que ele pretende fazer. — Depois de ouvir um pequeno relato, ele balançou a cabeça, meio sonhador. — Ah, eu daria tudo para ter aquela pasta que ficou guardada no cofre!

— Sr. Magnussen… — Molly interrompeu os pensamentos dele, torcendo as mãos de nervosismo. — Olhe, sinto muito, mas já fiz o que me pediu e agora quero pular fora. Simplesmente não tenho mais condições de continuar.

— Mas eu ainda não consegui a prova final!

— Mas já está na trilha certa e agora que os microfones foram instalados logo vai saber tudo com os mínimos detalhes.

— Pelo visto, deve ter acontecido alguma coisa grave para fazer você desistir. Hum… por acaso ele lhe fez alguma proposta indecente?

Apesar de estar muito tensa, achou graça na pergunta de Charles e falou — Não, nada disso, é muito pior… Ele me pediu em casamento!

— Santo Deus! Mas é muita sorte! Você agora está com a faca e o queijo nas mãos!

— O que está querendo dizer com… muita sorte? Por acaso acha que vou aceitar?

— E por que não? O objetivo de tudo isto era você conseguir certo grau de intimidade com Sherlock. O que pode ser mais íntimo do que uma noiva?

— Mas isso é loucura! — respondeu Molly, furiosa. — Eu não saberia mais do que já sei atualmente. E pense na minha posição dentro de tudo isso!

— Ficaria mais fácil pegar aquela pasta sobre a fusão das empresas.

— Impossível. Ele guarda tudo no cofre.

— Nem sempre. Você já viu essa pasta uma vez, pode ser que consiga ver de novo. E se está guardada… — Charles encolheu os ombros. — Bem, poderia convencer Sherlock a programar o cofre de modo que você também pudesse entrar lá.

Ela o encarava horrorizada.

— Está me pedindo para assaltar o cofre! Você me prometeu que não haveria nada ilegal!

— Lamento, mas você já está mais do que comprometida. Infelizmente, cometi um engano. Parece que instalar microfones é mesmo contra a lei.

— Você sabia e me deixou ir em frente! Como pôde fazer isso? — Estava furiosa. — Por acaso acha que sua filha gostaria de saber que você também está jogando baixo, para se vingar?

Charles ficou em silêncio por alguns instantes.

— Infelizmente, ela nunca vai saber, morreu há dez dias.

— Oh! Sinto muito… — O impacto da notícia fez com que ela perdesse toda a disposição de continuar discutindo.

— Mas você tem razão, claro — ele continuou, antes que Molly pudesse se recompor. — Acho que fiquei obcecado com tudo isso, e você entende bem por quê. E agora, mais do que nunca, quero dar uma olhada naquela pasta. Tenho certeza de que vai ser simples. Não lhe pediria para fazer uma coisa dessas se desconfiasse de que haveria algum perigo. — Continuou num tom persuasivo, fazendo tudo parecer muito fácil e prometendo que logo a encenação estaria terminada. — E, naturalmente, pretendo aumentar os seus honorários!

— Não quero mais dinheiro. Meu único desejo é sair o mais rápido possível dessa situação!

— Ainda vai levar algum tempo. Acho que no momento a sua única escolha é ficar noiva dele. E, assim como você tem conseguido manter Sherlock a distância até agora, acredito que dê para continuar na mesma base até pegar aquela pasta no cofre. — Parou por um instante e depois acrescentou: — Aqui está o cheque para cobrir as suas despesas. Bem, acho que é tudo, até logo. — Com um leve cumprimento de cabeça, ele se levantou e saiu.


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