Mudando de Vida escrita por Lady Padackles


Capítulo 9
Seres imaginários também sofrem?




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Ele corria com medo das dezenas de monstros que estavam a seu encalço. Em pânico, notou que suas pernas já não o obedeciam mais. Tentou gritar por Jay, mas sua voz não saía.

Os olhos de Jen foram atingidos por uma luz forte, que o despertou, finalmente livrando-o do maldito pesadelo. Estava febril e sentia-se cansado, como se as poucas horas de sono que tivera não lhe tivessem ajudado a recuperar as energias.

– Jay, eu estou dormindo! Apague a luz! – finalmente reclamou o louro em voz rouca, colocando o braço em frente aos olhos para protegê-los.

Jay lançou-lhe um olhar de desprezo e não respondeu. O machucado em seu braço tinha sido superficial, e já não doia mais. Estava pronto para mais um dia de aventuras, e não deixaria que nada nem ninguém o atrapalhasse.

Jen ficou com raiva. Pirado ou não, Jay não tinha o direito de tratá-lo assim. Levantou-se da cama de supetão, esquecendo-se da dor que sentia, e apagou a luz. Jay se voltou, raivoso, e a ascendeu novamente. Como duas crianças disputando teimosas, fizeram a luz do aposento piscar por diversas vezes – ora ascendendo, ora apagando – até que Jay perdeu a paciência e finalmente se dirigiu a Jen com ódio:

– MEU DEUS, O QUE EU FIZ PARA MERECER VOCÊ!? – gritou ele enfurecido, seus olhos faiscando.

Jen foi pego de surpresa pelo grito e afastou-se do interruptor. Pelo menos Jay estava falando com ele novamente...

– Jay, que droga, por que você está acordado a essa hora? São seis horas da manhã! Cara, vamos dormir... – suplicou Jen.

– Não, nós vamos caçar! – respondeu ele, ainda de cara fechada – Vamos logo, mude de roupa.

– Será que você não percebe que isso não é uma alucinação, e que nós nos machucamos de verdade? Estamos em um mundo perigoso!

– Cara, cale a boca, você consegue ser mais chato que Lúcifer! Só sabe reclamar e ficar com medo das coisas... Não sei porque não consigo que você suma daqui... – Jay então fechou seus olhos com força, como a se concentrar.

– Não adianta, eu não vou sumir, e nem vou te deixar em paz – disse Jen raivoso.

Jay fuzilou Jen com o olhar e trocou de roupa o mais depressa que pôde. Não precisava da ajuda de niguém para caçar, muito menos da ajuda daquele protótipo mal feito de Dean. Jen suplicou que ele ficasse, mas o moreno não lhe deu ouvidos. Pegou a chave do Impala e saiu de lá sozinho, batendo o pé.

O ator dirigiu a esmo por um par de horas. Sua cabeça divagava. Tentava encontrar um sentido em sua própria alucinação, sempre tentando ser racional. Ele queria ser o dono daquele universo de fantasias, porém quem o era, de fato, era o seu inconsciente. E por que, inconscientemente, Jay queria ser Sam? Bem, Sam era forte, corajoso, vivia uma vida cheia de aventuras... Sim, era compreensível. Tirando o fator perigo, a vida de Sam era interessante. E Jay, tanto consciente quanto inconscientemente, sabia que não estava em perigo. Então, sim, era razoável que quizesse viver a vida de seu personagem. E, aparentemente, não queria e nem prescisava da ajuda de Dean. Dean era carente e só atrapalhava. Sam precisava viver suas aventuras sem a interferência doentia de seu irmão. E assim seria, se dependesse de Jay.

Finalmente o rapaz parou o carro em frente a uma lanchonete. Verificou as chamadas não atendidas de Dean e as ignorou. Enquanto tomava seu café da manhã, abriu o laptop e começou a pesquisar possíveis casos sobrenaturais nos noticiários.

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Jen sentia-se fraco, enjoado e febril. Sua barriga doía. Culpa de Jay, aquele cretino! Foi ele que insistiu em sair para caçar, e ele que atrapalhou tudo, rindo da cara do zumbi. Jen ainda tinha salvo a pele do amigo... e em retribuição o que ele fazia era deixá-lo ali sozinho, quando ele mais precisava de companhia.

Grossas lágrimas caíam de seus olhos. Por que Jen ainda se preocupava com aquele desgraçado? Onde estaria Jay? Estaria machucado? Por que aquele imbecil não atendia seus telefonemas?

Jen fechou os olhos, sentindo-se como uma criança abandonada. Como queria que sua mãe estivesse com ele... Ela o pegaria no colo, acariciaria seus cabelos e lhe daria remédios. Gentilmente, Donna Eco insistiria para que ele comesse, apesar de seus protestos de menino dengoso. E ele tomaria uma sopa gostosa, quentinha e nutritiva preparada por ela. Forçou meio pacote de cheetos garganta a dentro, chorando.

Nada de mãe para ele, nada de amigo, nada de nada... Jen precisava se virar sozinho, e só levantar da cama já era um suplício, porque tudo lhe doía. Ficou com medo de Jay nunca mais voltar. O que ele faria doente e sozinho em um mundo hostil e recheado de monstros?

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Jay teve dificuldades em encontrar qualquer coisa que pudesse parecer um caso para ele. Ligou para Garth, a procura de alguma dica do que fazer.

– O que!? Sam Winchester!? Cara, vai descansar um pouco, já não bastou o fiasco de ontem para você perceber que não está em condições de caçar?

Sam nem respondeu, desligando o telefone na cara do homem. Certo, então não teria a ajuda dele também... Subconscientemente ele não queria a ajuda de ninguém, então assim seria... Acabou indo visitar um cemitério abandonado e deserto, onde algumas almas penadas voejavam sem rumo, inocentes. O moreno passou a manhã, tarde e noite cavando as sepulturas dos espetros infelizes e queimando seus ossos. O exercício físico lhe fez bem. Só então, sentindo-se um valente caçador, pensou em rumar de volta ao hotel para tomar um banho e descançar.

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Jay estava demorando a chegar. Jen, enxugando as lágrimas, acabou se obrigando a sair da cama, tomar um banho, e refazer o curativo do seu machucado que agora parecia horrível e infeccionado. Depois pensou em ligar para Garth, quem sabe ele soubesse do paradeiro de Jay?

– Não, não sei onde o maluco do seu irmão se enfiou – disse ele nervoso – Olha Dean, eu sei que vocês tem os problemas de vocês, mas eu estou prestes a invadir um ninho de vampiros... Vou ter que desligar meu telefone por um tempo.

Jen ainda tentou protestar, mas Garth não quis saber de conversa. Ao ator coube apenas rezar em silêncio. Estava entrando em pânico.

Quando Jay finalmente chegou ao hotel, Jen ficou extremamente aliviado.

– Jay, por Deus, nunca mais faça isso comigo! Eu fiquei tão preocupado... – disse nervoso

O moreno olhou para ele. Jen estava um trapo, um mulambo... Resolveu novamente ignorá-lo.

O louro continuou a insistir em um diálogo. Não poderia suportar mas indiferença...

– Jay, olha pra mim! Você não pode me largar aqui desse jeito sozinho de novo, ok? Promete que vai ficar no quarto amanhã?

– ...

– Jay, me escuta, por favor. O meu machucado está feio, está doendo, você precisa pelo menos comprar uns remédios pra mim na rua...

– ...

– Diz alguma coisa, não me ignora – disse agora com lágrimas nos olhos - Fala comigo, porra! Se você acha mesmo que eu sou apenas um fruto da sua imaginação, por que não me tira logo desse sofrimento? Me cura logo desse machucado, e me dá coragem, que amanhã eu saio para caçar com você! Que tal, heim?

– ...

– Por que você me odeia tanto assim? Por que não me mata logo? – disse já entre soluços, chorando como um babê.

– Eu não sei, Jen... Não sei porque meu inconsciente está sendo sádico com você, ok? – Jay respondeu finalmente, seco e irritado.

– Eu sempre fui um bom amigo pra você, não fui?

– O Jen foi. Ele deve estar bem, espero eu. Você, em contrapartida... Você não é ninguém... Então me deixe em paz...

– Eu não sou ninguém?

– Não, você é só parte da minha imaginação, nada mais... E é profundamente irritante. Eu queria que você sumisse logo!

Jen então se enroscou na cobertas, se encolhendo o máximo que pôde. Talvez Jay tivesse razão. Ele não era ninguém, era apenas um ser imaginário e sofredor, que estava ali para morrer. Não adiantava pedir socorro, ninguém o ouviria, pois o Deus daquele Universo não queria que ele fosse feliz.


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