Billy se retirou do aposento, sem dizer palavra, com o pênis pendurado para fora da calça. Era um rapaz muito obediente, e foi imediatamente procurar a velha Matilda. Pouco tempo depois ouviu-se gritos de prazer saindo do quarto da vovozinha.

Dean balançava as pernas, nervoso. Cristy então amarrou as pernas do louro nas da poltrona com uma corda e saiu do quarto, deixando os dois irmãos sozinhos por um tempo.

– Viu só em que situação nos metemos? – rosnou Sam indignado para o irmão – E aqui não tem ninguém para resgatar a gente... Vamos apodrecer nas mãos dessa bruxa...

Dean deu um sorrisinho maroto: "- deixa de frescura, Sammy. Nós já estivemos em situações muito piores: Inferno, gaiola de Lúcifer, purgatório..."

– Pois eu preferia estar no nosso universo. Nunca uma coisa ridícula dessas aconteceria por lá... – disse de cara amarrada. – Ficar algemado desse jeito... Nem o Castiel a gente pode chamar...

– Sam, relaxa cara... Pelo menos não está com as pernas amarradas como eu... E pense bem, o que de tão ruim poderia acontecer com a gente aqui?

Mal Dean completou a frase, Cristy Kelly adentrou o quarto com um facão. Ela foi diretamente até a poltrona em que Dean estava sentado, e sem o menor pudor desabotoou a calça do rapaz e abriu o zíper. Dean estava mudo de horror quando Cristy agarrou seu órgão genital com uma das mãos e puxou o facão com a outra. Sem poder se defender, em pânico, o pobre teve falta de ar e começou a suar frio. O pênis, ameaçado, se encolheu como pôde, se assemelhando a um passarinho assustado em mãos de pessoa estranha. A lâmina afiada acenava para ele, quase tocando sua pele sensível.

– NÃÃÃÃOOOO! – Berrou Sam. Agora era a hora dele salvar seu irmão.

Cristy parou o que estava fazendo e se virou para o moreno.

– Não grite, meu fofurequinho... Quando seu namorado for eunuco, nunca mais poderá te trair com mulheres.

Sam então, gaguejando, falou:

– Mas assim eu também saio perdendo... Afinal ele é meu namorado e...

Dean concordou, balançando a cabeça com veemência.

A moça fitou-os por um instante e sorriu debochada... "- Cara, até parece que vou cair nessa, né? Todo mundo sabe que em "Jen slash Jay", Bottom!jen e Top!Jay são canon..."

Os rapazes se entreolharam sem entender que língua era aquela que Cristy falava...

– Como é que é? – perguntou Dean, um pouco mais tranquilo depois que Cristy se afastara dele.

Com expressão de impaciência ela tirou uma apostila bem grossa de sua estante de livros, abriu em uma das primeiras páginas e a estendeu em direção a Sam."- Aqui, leia em voz alta" – disse.

A página exibia um pequeno dicionário com expressões usadas em fanfiction. Sam então leu o que dizia as expressões "Slash" e "Canon":

Canon: Segue o "Cânone". Refere-se a fanfics que sigam fielmente a história, principalmente em termos de shippings (casais como por exemplo: Gil Grissom e Sara Sidle, Harry Potter e Gina Weasley) e caracterização de personagens.

Slash: dois indivíduos do mesmo sexo em uma relação sexual. Em fanfictions, um dos personagens é bottom e o outro é top. O top é o parceiro sexualmente ativo, e que tem um papel dominante na relação. O bottom é o parceiro mais receptivo, emocionalmente vulnerável e frágil.

Então, obviamente, eu que sou Top! – reclamou Dean, antes que Sam terminasse de ler.

Sam deu uma risadinha… "- Não, espera…" – e prosseguiu -"Em Wincest…"

Dessa vez, foi interrompido por Cristy:

– Wincest significa "Sam slash Dean". Pode continuar, Jay…

Sam e Dean coraram, e Sam prosseguiu com a leitura:

Em Wincest, na grande maioria das vezes, Dean é Bottom e Sam é Top. Da mesma forma, Jen é Bottom e Jay é Top.

Dean, indignado e ofendido, começou a reclamar: "-Hey, mas isso não é justo! Se eu transo até com mulher... Eu que deveria ser o Top!" Cristy, ouvindo aquilo, pareceu se irritar mais. Pegou o facão novamente e partiu para cima o pobre e indefeso órgão genital do rapaz.

– Cristy! Não! – Gritou Sam novamente – Se você fizer isso, ele vai sangrar tanto que vai ter que ir pro hospital. Vai te dar o maior trabalho, sujar o carro de sangue, e você vai até presa...

Sorte de Dean que Sam era um sujeito racional. Cristy ouviu suas palavras sensatas, e teve que concordar com ele.

Frustrada, usou o facão para soltar as pernas de Dean.

– Como faço para puni-lo então? – a moça perguntou a Sam

– Não precisa, eu já o perdoei. E ele promete nunca mais fazer isso, certo, Jen?

– Lógico, prometo sim! Nunca mais vou pra cama com mulher nenhuma! – concordou Dean.

– Jay, meu tchutchuco, você é realmente um amor, perdoando ele assim... – disse Cristy emocionada – Vou deixar vocês pertinho para que possam fazer as pazes com um beijo de amor.

E dizendo isso, ela deu um jeito de transferir Dean para a cama, algemando-o ao lado de Sam.

– Pronto! Agora o beijo! – disse ela sorrindo desdentada.

Dean e Sam se entreolharam sem graça. Nenhum dos dois tomou a iniciativa.

– Vai logo! – berrou Cristy

Então, lentamente, Sam e Dean encostaram seus lábios um no outro, corando de vergonha.

– Ahh, deixem disso... – protestou Cristy Kelly – Não tenham vergonha de mim... – E com voz autoritária, ordenou: "- Beijo de língua, agora!"

Os dois obedeceram com medo de uma possível punição, e cheios de esperança de estarem assinando seu alvará de soltura.

Muito envergonhado, e sem conseguir encarar o irmão, Dean então perguntou com sua voz mais amável:

– Cristy, nós podemos ir para casa agora?

– Nem pensar! – Desse ela surpresa com tamanha pretensão – Considere-se feliz por estar na cama junto com seu amante...

– Ma.. mas... Cristy... – Gaguejou Sam – Quando você vai nos deixar ir?

– Não sei... Vocês são muito bonitos, gosto de admirá-los... – pensou um pouco – Já sei! – disse ela então animada – vamos assistir as oito temporadas de Supernatural juntos! Vou buscar um lanche e chamar a vovó.

Quando ela saiu, ainda constrangidos com o beijo, Sam e Dean mal se olharam. Não queriam assistir ao seriado, e estavam já desesperados para sair dali. Pouco depois, Cristy, sua avó e Billy apareceram com os oito DVD Boxes e muita pipoca. A moça, bondosamente, soltou uma das mãos de Sam, para que ele pudesse alimentar a si mesmo e a Dean.

– Eu preciso ir ao banheiro – choramingou Dean.

Cristy então olhou para sua cega avó e pediu: "- Vó, traga as fraldas geriátricas". A velha saiu e voltou com duas fraldas. Os caçadores quase tiveram um piripaque quando Matilda os despiu, apalpando tudo, e colocou as fraldas. Ficaram só de camiseta e fraldinha.

O primeiro episódio já foi o suficiente para deixar os caçadores estupefatos. Tudo, absolutamente tudo que aparecia era a cópia fiel dos acontecimentos reais que vivenciaram em seu mundo. Cada palavra, cada gesto, sem tirar nem pôr. Foi muito difícil para eles reviver tudo aquilo, ver o pai, a mãe, o fogo no quarto de Sam... Começaram a chorar copiosamente. Cristy colocava um episódio atrás do outro, sem se importar com o sofrimento dos dois.

A avó Matilda e o retardado Billy assistiam o seriado pela primeira vez. A velha fazia perguntas e mais perguntas, principalmente porque não conseguia enxergar. Apalpava a toda hora o rosto dos "atores" para saber como eram as feições de Sam e Dean. Não contente com isso, vovó Matilda fez questão de sentir também seus corpos e músculos. Os pobrezinhos, entretanto, estavam já tão emocionalmente abalados que nem ligaram muito. Foram bolinados até não poder mais.

Já quase ao amanhecer, resolveram finalmente dormir. Cristy colocou um colchão no chão para ela, e Matilda e Billy foram dormir no quarto da velha. Sam e Dean demoraram a pegar no sono. Pouco tempo depois de terem dormido acordaram com a agradável canção "Carry on My Weyward Son". Já estava na hora de prosseguir com a maratona.

Aquela tortura se repetiu por dias. Quando Castiel finalmente apareceu na série, vovó Matilda se interessou por ele. Queria saber como era sua aparência. Agarrou Billy e perguntou "- Esse aqui é o ator que faz o papel do anjo?".

Sam e Dean acharam engraçada a pergunta.

– Não, vó – respondeu a neta impaciente – O Mishel é gatinho...

– Billy também – respondeu a velha, tascando um beijo no bobalhão.

Depois insistiu: "- Como é o Castiel?". Dean tentou descrevê-lo:

– Castiel tem a pele branquinha, cabelos escuros, olhos bem azuis...

Sam tomou a palavra, provavelmente enciumado:

– Não é muito alto, nem muito forte, e tem a boca estranha...

– Ele não tem a boca estranha... – protestou Dean.

Cristy olhou para eles irritada. Já tinha pausado o episódio por dez minutos para ouvir aquela discussão.

– Vocês são impossíveis! – reclamou ela – me aguardem.

E dizendo isso, a moça saiu de casa. Nem é preciso dizer que Sam e Dean aproveitaram para implorar que a velha ou Billy os deixassem ir. O máximo que conseguiram foi que Matilda lhes trocasse as fraldas (com direito a talquinho e tudo), e Billy lhes desse banho na cama com uma toalha molhada.

Meia hora depois, Cristy Kelly entra em casa com um novo hóspede. Mishel estava amordaçado e com os olhos vendados. Cristy segurava seu braço: "- pronto vó, apalpa ele e para de encher o saco"