Regis um menino no espaço escrita por Celso Innocente


Capítulo 9
Um novo amigo.


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo foi editado e separado em dois devido a pedidos por estar muito longo.



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Aproximadamente oito horas terráqueas depois, acordei assustado, ouvindo uma voz forte:

— Garoto Regis, hora de acordar!

Acordei me esticando todo, espreguiçando sobre a cama e me surpreendendo com um verdadeiro robô à minha frente: Não era muito diferente daqueles em que a gente vê nos filmes. Semelhante a uma figura humana; pouca coisa maior do que eu; dourado, feito de aço e quando falava, com sua voz metálica, ascendia várias luzinhas, das cores do arco Iris em seus olhos e peito. Amedrontado, saltei da cama, perguntando forte:

— Quem é você?

— Um robô susteriano! Como pode ver!

— Um robô? E o que você está fazendo aqui?

— Como todo mundo, vim fazer amizade com o garoto da Terra!

— Mas o garoto da Terra sou eu!

— Não disse o contrário!

— Quem fez você? — Vesti camiseta.

— Não fui gerado como você!

— Eu sei que não! Você acha que sou bobo?
— Pelo contrário: é muito inteligente! Quase igual a mim!

— Quase igual? — Duvidei. — Sou muito mais inteligente do que você!

— Ninguém pode ser mais inteligente do que um robô susteriano!

— Eu posso! E posso provar!

— Como um filhote de gente, cabelo espetado, pré-tende provar que é mais sábio do que um robô susteriano?

— Não tenho cabelo espetado! — Retruquei, esfregando as mãos na cabeça.

— Parece arame farpado!

— É que acabei de levantar!

— Como vai provar ser mais inteligente do que um robô avançado?

— Tenho uma idéia: eu lhe faço uma pergunta e você me responde! Depois você faz uma pergunta pra mim!

— De acordo! Pode começar!

— Deixe-me ver... — Pensei um pouco. — Qual é a minha idade?

— Em anos, dias, horas, minutos, segundos ou décimos?

— Sei lá! Minha verdadeira idade!

— Quatorze anos, trinta e nove dias, oito horas, quarenta e um minutos e sessenta e nove segundos.

— Mas que confusão é essa?

— Sua idade real!

— Quero minha idade, como se fosse na Terra!

— Nove anos, noventa dias, dez horas, vinte e cinco minutos e treze segundos.

— Acredito em você! — Dei de ombros. — Como posso duvidar? Agora pode fazer sua pergunta!

— Bem fácil. — Insinuou o robô. — Qual à distância da rota criada entre nossos dois planetas?

— Fácil mesmo! — Me exibi. — Oitenta e sete anos-luz!

— É preciso dar a resposta em quilômetros!

— Isso é impossível!

— Não para mim!

— Muito bem seu engraçadinho! Prove melhor sua inteligência! Qual é a distância?

— Oitocentos e vinte e três trilhões, sessenta e seis bilhões, seiscentos e trinta e dois milhões, setecentos e oitenta mil e quatrocentos e quarenta e sete quilômetros de distância.

— Quê! — Me espantei.

— Sabe essa magnitude numérica?

— Mag... O quê?

— Analfabeto!

— Idiota! — Retruquei.

— Magnitude! O tamanho do número! O analfabeto garoto da Terra conseguiria escrever tal ordem numérica?

Pensei um pouco e balançando os ombros insinuei um tanto duvidoso:

— Posso provar!

Levantei-me, seguindo até o tal armário, apanhando com certa dificuldade, devido a altura em que fôra colocada, a minha bolsa escolar; joguei-a sobre a cama, apanhei um caderno e um lápis preto, ajoelhei-me no chão e pedi:

— Repita o número.

— Oitocentos e vinte e três trilhões, sessenta e seis bilhões... Basta até aí.

Na folha do caderno, anotei:

82366000000

Mostrei a ele, franzindo o nariz.

— Burrinho! — Ironizou o robô.

823660000000

— Volte para a escola! — Insinuou cantado com a voz eletrônica.

82366000000000

— Experimente separar com pontos.

823.66.000.000.000

— Não consigo decifrar esta grandeza!

Observei o caderno, apanhei uma borracha, apagan-do, corrigindo os pontos e acrescentando novo zero.

823.660.000.000.000

— O número apresentado não confere!

— Como não! — Reclamei.

— Leia-o, por favor!

— Oitocentos e vinte e três milh... Não! Bilhões, Seiscentos e sessenta bilhões...

— Bilhões de bilhões?! Fugiu da escola!

— Não fugi da escola! — Neguei bravo. — Ainda não aprendi tudo isso!

— Escreva conforme eu dito! Oito... Dois... Três... Zero... Seis... Seis...

823066

— Acrescente a sequência de nove zeros, separado por pontos.

823066.000.000.000

— Quase certo! Só faltou os pontos!

— Como você consegue ler? — Especulei-o. — Quer dizer: Seus olhos podem enxergar minhas letras e sua cabeça entender elas!

— Meus olhos com sistema foto acoplador, podem ver e distinguir detalhes, melhor do que os seus e meu cérebro com o mesmo tamanho de sua massa encefálica processam em um segundo o que o seu levará toda sua existência quase imortal para decifrar.

— O que significa a palavra planeta, em grego? — Me exibi, aproveitando trecho que ouvi em um documentário pela tevê.

— Viajante do espaço! O que é Grego? — Emendou-me a uma pergunta complicada, para meus nove anos de idade.

— Sei lá! — Balancei os ombros. — A linguagem falada na Grécia antiga. Eu acho!

— Uma etnia criada a partir de vários grupos: gregos micênicos, surgiram mil e duzentos anos antes de seu Cristo; gregos bizantinos...

— Ei chega! — Interrompi-o. — O que menos quero agora é uma aula de história. Ainda mais sobre gregos!

— Quem é o mais inteligente?

— Eu! — Brinquei. — Sou o único gente aqui! Você só pode ser intelirobô!

Pensei um pouco e perguntei-lhe:

— Como você consegue saber tudo?

— Possuo um micro processador interno!

— Assim não vale! Você é tudo máquina!

— E muito bem construído!

— Quem te criou?

— Essa pergunta já foi formulada!

— Mas não foi respondida corretamente!

— Fui construído em uma fábrica de computadores, em Merlin.

— O que é Merlin?

— Uma cidade, localizada ao lado oeste de Suster.

— Qual é seu nome? Só robô?

— Ainda não fui batizado!

— Pois então vou te batizar agora! Você passa a se chamar... — Pensei um pouco. — Luecy!

— Nome de mulher!

— Esse nome é masculino e feminino! — Insinuei. — Te dou esse nome, que é igual ao de um amigo meu metido a sábio, como você!

— Agradeço!

— Mas me diga uma coisa: Quem te adquiriu?

— O Senhor Frene.

— Desde quando?

— Acabei de chegar! Vim direto conhecer meu dono!

— Seu dono! Quem?

— Você, Regis!

— Quer dizer que você é um presente do senhor Frene... pra mim?

— Estou programado para lhe atender! Farei e responderei tudo o que você quiser!

— Mas eu não quero ser seu dono! Quero ser seu amigo!

— Já é!

A porta se abriu e entrou Leandra, dizendo:

— Regis, hora do banho! Vamos?

— Muito obrigado Leandra! Agora eu já aprendi a tomar banho sozinho e vou usar o banheiro do quarto! Não precisa me ajudar!

— Acontece que é minha tarefa, levá-lo ao banho! — Insistiu ela.

— Ela pensa que você é nenê! — Alegou o robô.

— Eu sei! — Afirmei rindo. — Mas não sou!

— Ela vai insistir pra lhe dar banho!

— Cale a boca seu robô hipócrita! — Reclamou ela.

— Leandra, pode deixar que eu tome banho sozinho!

— Já que insiste: — Concordou ela. — Vou cuidar de minhas obrigações!

— Vai tarde! — Caçoou Luecy.

A mulher se retirou. Comecei a rir, insinuando:

— Coitada Luecy! Ela é muito gentil!

— Gosta muito de você!

— É verdade! Ela e todos desse planeta gostam muito de mim!

— Garoto especial!

— Vamos tomar banho?

— Robô não toma banho! — Negou ele.

— Mas pode vir comigo!

— Não sentirás vergonha de mim?

— Por que deveria sentir? — Ri. — Você é homem!

— Sou uma máquina!

— Melhor assim! Vamos!

Seguimos para o banho. Acabei de me despir e entrei no chuveiro. Assim que começou a cair água, Luecy se afastou alegando:

— Detesto água!

— Por quê? Ela te dá arrepio?

— Não! Dá ferrugens!

Ao ouvir aquilo, desliguei o chuveiro apressado, corri pegando a toalha e enxugando apressadamente os respingos de água que caíra sobre o robô, dizendo:

— Como sou burro, meu amigo! Não tinha pensado nisso! Você é feito de aço!

— Sou feito de metal muito bem trabalhado!

— Então a água não te dá ferrugens!

— Danificam meus circuitos eletrônicos!

Acabei de enxugá-lo bem, coloquei a toalha sobre o cabide e retornei ao banho.

— Você sem cascas é uma gracinha! — Caçoou ele. — Leandra tem bom gosto!

— O que é cascas? — Não entendi a metáfora.

— Acessórios! Roupas!

Terminado o banho, fui me trocar no quarto, onde deixara as roupas. Luecy me acompanhava sempre e sempre fazendo suas gracinhas.

Enquanto me vestia, a porta se abriu e entrou o senhor Frene:

— Espero que esteja se divertindo com Mark Três!

— Quem é Mark três? — Perguntei admirado. — Luecy?

— Quem é Luecy? — Perguntou o homem.

— Luecy sou eu! — Afirmou o robô.

— Quem te deu esse nome besta?

— Nome besta, quem me chama! — Caçoou o robô.

— Eu o batizei! — Disse-lhe.

— Esse nome que você deu a ele é de mulher!

— Mentira! Tenho um amigo que se chama Luecy!

— Acontece que ele já tem nome: Mark Três!

— Não gosto desse nome besta! — Negou o robô.

— Pra mim ele continua sendo Luecy!

— Já que vocês insistem: não seja por isso! Nem vamos discutir!

— Senhor Frene: — Chamei triste. — Sei que o senhor me ama e que todos me querem muito bem. Mas não posso ficar aqui!

— Você se acostumará! — O alegou.

— Não me acostumarei! — Neguei. — Já estou com muitas saudades da Terra! Estou sofrendo!

— Te ajudarei a não sentir saudades!

— Mas como? Isso vem do coração!

— Por isso que robô não sente saudades! — Interferiu Luecy.

— Faremos uma pequena cirurgia em você.

— Cirurgia?! Por quê?

— Fazer você esquecer pra sempre da Terra!

— Esquecer da Terra? Não quero!

— Pra que você não sofra mais! E o mais importante: Fará com que você passe a gostar daqui!

— O senhor pretende tirar meu coração? — Perguntei trêmulo.

— Claro que não! Se um louco fizer isto, você morrerá na hora!

— Ninguém vive sem coração! — Interferiu Luecy. — Nem eu!

— Que cirurgia é essa?

— Em seu cérebro! Nosso sistema é muito avançado em relação ao seu. Você não sofrerá nada! Nem um corte! Nem uma dor e nem uma gota de sangue sairá de você!

— Não haverá faca e nem injeção na bunda! — Caçoou Luecy.

— E eu vou me esquecer da Terra? Papai, mamãe, a escola e todos de lá?

— É pro seu bem!

— Não! Nunca vou me esquecer de lá!

— Você é quem sabe! — Afirmou o senhor Frene. — Nós só queremos o seu bem!

— Isso não é meu bem!

Ele se retirou um pouco nervoso. Sentei-me na poltrona e Luecy me disse:

— Você terá que fazer a cirurgia. Terás vida eterna em Suster! Não retornarás à Terra jamais!

Ouvindo estas palavras sem sentimentos, só me restava chorar e foi o que fiz.

O robô caçoava:

— Chorar não faz parte da vida de um homem!

— Não sou homem! E tenho saudades de casa!

— Não sabia que você era mulher!

— Sou menino! Você sabe disso!

— Menino homem, ou vira-latas?

— Cale a boca, sua peste enlatada! — Gritei nervoso.

— Peste enlatada, mas não molho a cama com urina!

— Não faço xixi na cama, seu enferrujado!

— Enferrujada é sua cara molhada de lágrimas!

— Chega de conversa fiada.

Fui me deitar.

— Pelo menos, se esqueceu de chorar. — Alegou ainda ele.


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Notas finais do capítulo

Como saberei se este capítulo foi realmente lido até seu final se o leitor se tornar um fantasma?
Mesmo que seja uma palavrinha.



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