Regis um menino no espaço escrita por Celso Innocente


Capítulo 11
Castigo susteriano.




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Após algumas horas de sono, acordei e me levantei. Devido o calor, com o ar condicionado desligado, estava suado, mas não sentia dores, nem no rosto, nem no peito. Estava a fim de tomar um demorado banho.

Quando me dirigia ao banheiro, o senhor Frene entrou. Estava sério e me olhou dos pés à cabeça sem nada mencionar. Então resolvi falar:

— Me desculpe pelo que fiz a vocês!

— Você sabe que nos causou um prejuízo enorme?

— O disco se incendiou?

— O bastante pra não ter mais uso! Mas pior seria se você conseguisse fugir: pois além de perdermos você, perderíamos a nave inteira também!

— Me desculpe! Eu só queria voltar pros meus pais!

— E acha que conseguiria?

— Acho que sim! Eu sei o caminho de volta!

— Ninguém sabe o caminho de volta! Pra se fazer uma viagem dessas, é necessário traçar uma rota muito complicada antes. E quer saber da maior: se este acidente acontecesse em seu planeta, certamente você estaria morto, ou no mínimo quebraria as duas pernas e os dois braços.

— E por que aqui não?

— Aqui você é protegido! Aqui, todos somos imortais! Não a ponto de cometermos abuso!

— O senhor disse que aqui não há dores, lágrimas e nem morte. Então por que aconteceu comigo?

— Muito fácil: Não é porque não há dores, que a gente pode facilitar.

— Acontece que as dores do acidente, não foi nada! O pior são as dores que sinto todos os dias. A dor da saudade!

— Eu queria lhe evitar essas dores, mas você não quis!

— Aquela cirurgia? Nunca!

— A dor pior vai ser a de agora!

— Por quê?

— Em sua casa, se você fizesse tal peraltice, qual seria sua punição? O que fariam seus pais?

— Me... bateriam?! — Insinuei assustado.

— Pois é o que eu vou fazer!

Tirou um cinturão de metal, das vestes.

— Mas o senhor disse... Que é contra o espanc... é contra bater em crianças!

— E sou! Mas você está habituado a tal castigo! Só ele pode te ensinar! Tire esse short!

— Por quê? O senhor já quer me ver pelado novamente?

— Não! Quero lhe aplicar um castigo sério!

— E por que tirar o short? Estou sem cueca!

— Porque eu quero!

— O senhor não me ama?

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra! Tire o short!

— E se eu recusar? — Perguntei triste.

— Eu te bato dobrado e tiro na marra!

— Se o senhor me ama, por que não me perdoa?

— Já te perdoei! Mas você tem que pagar seu erro!

— Devo me despir?

— Já devia ter feito há bastante tempo! — Afirmou ele sério.

— Tenho vergonha!

— Mandei tirar!

— Tenho vergonha! Estou sem cueca!

— Não quero saber! — Gritou o homem bravo.

Continuava de short, desobedecendo-o. Ele permanecia com ar muito sério, com a mesma ira que um pai sente, em castigar um filho, que desobedeceu a suas ordens e lhe deu um prejuízo enorme, em torno de duzentos milhões de cruzeiros, que seria suficiente para comprar trezentos carros modernos. Percebi que sua ameaça era muito séria e que ele iria me surrar mesmo. Então resolvi implorar, quase chorando:

— Por favor, senhor Frene: Não bata em mim!

— Sinto muito, mas pra nós, uma decisão, é uma decisão!

— E o senhor terá prazer em me castigar?

— Nem um pouco!

— Pois faça o que quiser! Juro que não vou chorar, nem tentar fugir.

— Tire o short.

— Não!

Acreditava que ele só queria me assustar e que não ousaria me surrar, mas me enganara: não me despi e ele me bateu mesmo. Quando senti as primeiras chicotadas que eram administradas fortemente por todo meu corpo seminu, vi que não era brincadeira. Os vergões levantaram imediatamente por todo meu corpo infantil: pernas, costas, peito... Porem, como prometi: Apanhei bastante, mas não tentei fugir e nem mesmo chorei, embora sentisse muito ódio e vontade.

Após pelo menos cinco impiedosas chicotadas, ele parou. Luecy entrou e ele ainda me ordenou:

— Agora deite-se!

— Por quê? Já não basta a surra?

— Obedeça, sem fazer perguntas!

Deitei-me de bruços.

— Tome conta dele Mark Três! — Ordenou a Luecy.

— Afirmativo! — Concordou o robô.

O senhor Frene se retirou, nos deixando a sós. Mesmo de bruços, olhando de lado, resolvi descontar em Luecy:

— Por que esse olhar de hipócrita?

— Não gosto de brincadeiras! — Afirmou ele sério (se é que robô também fica sério).

— E quem está brincando?

— Outra gozação e eu te desintegro!

— E como fará isto?

— Te colocando em órbita, sem lenço e sem documento!

Levantei-me, vestindo também uma camiseta de pijama, depois tornei a me deitar de bruços.

Um minuto depois, o senhor Frene retornou com duas correias nas mãos e me disse:

— Quem mandou se vestir?

— Não vou ficar pelado! — Neguei bravo.

— Tire estas roupas! — Ordenou ele nervoso.

Virei-me de barriga para cima e gritei com os olhos faiscando de ódio:

— Nem que o senhor me matar!

Talvez, percebendo sua derrota, sem mais nada falar, ele passou a me amarrar naquela cama. Eu, porém, como não esperava, perguntei assustado:

— O que o senhor está fazendo?

— O que você está vendo!

— Isso também faz parte do castigo?

— O que você acha?

— Ouça senhor Frene: Nem meu pai, nem minha mãe e nem ninguém, jamais me bateram tão forte e também, jamais me amarraram!

— Meu castigo é mais cruel!

Falando assim, ele amarrou minhas pernas, depois forçou-me para me sentar na cama e arrancou bruscamente minha camiseta, depois me fez deitar e acabou de me amarrar. Então deu sua pena:

— Você ficará aqui durante trinta e duas horas, a partir de agora.

— Amarrado?!

— E sem comer!

— E pelado?

— Deveria ser!

— Sem sair pra nada?!

— Sem exceção!

— Isso não é amor!

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra!

— Meu corpo está cheio de marcas! — Insinuei com vontade de chorar. — O senhor me machucou! Isso não é amor!

— Nada que um ou dois dias não cure!

— Pode me colocar um lençol? Sou gente e tenho vergonha de ficar assim!

Retirou-se sem nada fazer, me deixando com Luecy.

Assim que ele saiu, enquanto me esforçava para livrar meus pulsos das correias, apelei a meu amigo mecânico:

— Me desamarre logo!

— Impossível! — O alegou.

— Por que é impossível?

— Não posso desobedecer ao senhor Frene.

— Como não? Você é meu amigo!

— Fui programado para obedecer ao senhor Frene!

— Você foi programado pra obedecer a mim!

— Esse é o mal dos robôs! — Alegou Luecy

E se retirou me deixando sozinho, amarrado. Meu esforço para me livrar das correias, era inútil e machucava também meus pulsos. Elas estavam muito bem amarradas, porém, não muito apertadas e insisti durante muito tempo, sem que ninguém aparecesse no quarto, até que, nervoso, revoltado, choroso e exausto, acabei adormecendo novamente.

Somente umas três horas depois é que Luecy tornou a entrar me acordando à base de chacoalhão e caçoando:

— Como está o garoto interplanetário?

— Com muitas dores e muita sede! — Afirmei com um pouco de dificuldade.

— Nada posso lhe fazer! — Negou ele.

— Pode sim! Desamarre as correias, por favor!

— Não posso! Fui orientado a não fazer!

— Não suporto mais estas correias apertadas!

— Elas não estão apertadas!

— Mesmo assim; não suporto ficar aqui!

— Não tenho nada com isso!

— E por que me acordou então?

— Para saber se você estava dormindo! — Ironizou tal bicho de metal.

— Este é o mal em ter um amigo sem coração! — Aleguei. — Pelo menos, me diga: Quanto tempo faz que estou aqui?

— Quatro horas, treze minutos e vinte e cinco segundos!

— Só! Se eu ficar cumprindo a punição completa, não suportarei e morrerei!

— Não se aflija! O tempo que lhe resta de castigo, não lhe matará!

— Morrerei de sede!

— O senhor Frene, sabe o que faz!

— Puxa saco!

— Mais uma gracinha e eu te desintegro!

— Me tire daqui! Meu corpo está todo suado e doendo.

— Nada feito!

— Ligue o ar condicionado.

— Negativo!

— Já que não posso sair daqui, não posso ter ar condicionado, tenho que sofrer, pelo menos, me traga um copo de água!

— Não insista!

— Então suma daqui!

Pelo menos em uma coisa, ele ainda me obedeceu: Foi eu mandá-lo embora e ele foi na mesma hora.

Novamente, ficara sozinho. Então comecei a chorar, de sede, dor e raiva. Quando a gente mais precisa não aparece ninguém.

As horas não passavam e meu corpo amarrado, além de muito dolorido, estava realmente molhado de suor.

Cerca de duas horas depois entrou Tony. A me ver daquele jeito, se espantou e perguntou:

— O que é isto?

Nada respondi. Só chorei sentido.

— Por que você está assim, Regis? — Insistiu ele.

Continuei chorando calado.

— Foi o senhor Frene quem fez isso?

Acenei que sim.

— Por quê? Ele tá ficando louco?

— Castigo susteriano!

— Devido à tentativa de fuga?

— Sim senhor!

— Bobagem! Isso é ilegal em nosso mundo!

— Já que o senhor está com pena de mim, poderia me desamarrar?

Sem responder, ele se aproximou me desamarrando e percebendo os vergões me perguntou:

— Ele... lhe bateu?

Chorando sentido, me levantei e abracei aquele bom samaritano:

— Obrigado senhor Tony! O senhor é muito bom!

— Deixe disso! — Pediu ele

Nesse momento, entrou o senhor Frene, que, vendo aquilo, retrucou:

— O que você veio fazer aqui, Tony?

— Visitar nosso menino! — Afirmou Tony, desa-fiador. — Mas o encontrei pior do que esperava!

— Como assim?

— O Encontrei quase nu, ferido e amarrado!

— E quem lhe deu ordem pra desamarrá-lo?

— Desfiz apenas o que não deveria ter sido feito!

— Pois saiba que ele está de castigo e voltará ao castigo! — Virou-se para mim. — Pode tornar a se deitar, Regis!

— Não senhor! — Neguei.

— Eu não estou pedindo! Estou ordenando!

— Por favor, senhor Frene! Estou morrendo de sede!

— Pois que morra! Mas antes, você cumprirá o castigo que determinei!

— Estou pedindo pelo amor de Deus! — Implorei.

— O garoto quer tomar água, Frene! — Alegou Tony. — Nós o trouxemos aqui, pra nos dar felicidades! Não pra maltratá-lo!

— Acontece que ele é ingrato e precisa ser castigado, pra que obedeça aos mais velhos! Deite-se na cama, Regis!

— Isso é tortura sexual! — Afirmei.

— Tortura sexual se eu estivesse tocando em você! — Negou o senhor Frene. — Por acaso pus as mãos em seu corpo?

— É pecado o senhor fazer isto comigo! — Insisti chorando.

— Não é pecado um pai educar seu filho! — Afirmou o senhor Frene, zangado.

— E você não sabe perdoar? — Perguntou-lhe Tony. — Depois, Regis não é seu filho!

— Agora é!

— Não sou! — Neguei bravo. — Não quero ter como pai, um homem que vive me maltratando!

— É pro seu bem!

— Ninguém tem o direito de me bater com cinto!

— Já disse que é pro seu bem!

— Me espancar e me amarrar, sem me dar chance de defesa, não é pro meu bem! Não vou perdoá-lo por ter me machucado!

— Está bem! Você ganhou! Vá tomar sua água!

Vesti camiseta e saí imediatamente, indo para a cozinha tomar água. Assim que entrei, fui servido por Leandra, que me mandou sentar e me preparou um delicioso suco, com um fruto de mesmo sabor de laranja, porém, de cor esverdeada. Enquanto tomava o suco, ela me perguntara:

— O senhor Frene resolveu te soltar?

— Não senhora! Foi Tony.

— Mas ele tinha ordem para soltá-lo?

— Não se preocupe o senhor Frene já me perdoou!

— Eu não fui visitá-lo, porque sabia que você estava sem roupas e sei que você não gosta!

— Eu não estava sem roupas! Estava com estas roupas!

Levantei-me, coloquei as mãos sobre a cintura e disse:

— Sabe, eu gosto muito da senhora!

Ela sorriu afirmando:

— E eu te adoro!

Abraçamo-nos.

— A senhora pode até me amar muito! Mas adorar não pode!

— Por que não?

— A gente só pode adorar a Deus!

— Tem razão! — Riu ela. — Você é muito inteligente!

— Agora eu preciso ir! Tchau!

Retornei a meu quarto, onde encontrei Luecy.

— Olá menino Regis! — Cumprimentou-me ele com sua voz metálica.

— O que você quer seu enlatado?

— Dizer-lhe que não gosto que me chamem de enlatado!

— Pois já disse! Pode sair agora!

— Não irei à parte alguma! Fui reprogramado!

— Já sei disso! Você foi reprogramado pra atender apenas ao senhor Frene!

— Não! Fui reprogramado para atender a você!

— Que amigo eu tenho Luecy! — Exclamei desconfia-do. — A hora em que eu mais precisava, não podia contar com você, agora que já não preciso mais, é meu amigo.

— Robô é assim mesmo!

— Sei! — Esbocei leve sorriso. — Não tem sentimentos, nem coração!

— Só programas armazenados.


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Notas finais do capítulo

Que tal conhecer também a outra aventura, a qual chamo de a número zero de Regis, já adicionada completa aqui no Fanfiction?
Procure por "Anjo da Cara Suja"
É apenas um drama/ternura.



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