4 meses depois...

— Blair, eu implorei para que você não exagerasse na escolha do vestido. – Suspirei pesadamente enquanto ela e minha mãe me vestiam. Achava ridículo não quererem que eu visse o vestido ainda, colocando um lenço sobre meus olhos. Tinha medo que ambas tivessem exagerado demais para um baile tão simples.

— Você ainda nem o viu para estar reclamando. Fique calma, estamos quase terminando de arrumar você. – Bufo ao ouvir Maria dar uma risadinha com o comentário da sua velha/nova melhor amiga. Ainda não sei como chamar esse laço que ambas tem e voltou a se fortalecer desde todo o ocorrido. Sinto o tecido leve do vestido sobre meu corpo e a ansiedade em poder observá-lo se aumenta ainda mais.

— Por favor, me digam que já estão terminando. – Murmuro apreensiva.

— Pronto. – Diz Blair segurando meu braço e me levando em direção ao espelho.

Minhas mãos vão direto ao lenço, desamarrando-o e deixando cair no chão revelando o meu reflexo no espelho. Um sorriso estúpido aparece em meu rosto e vejo de esguelha que minha mãe está chorando. O vestido era esvoaçante. Completamente branco e justo somente no busto, possuindo alguns detalhes em brilho na alça. Simples e sofisticado. Exatamente da forma como eu queria. Corro até Maria e Blair que contemplavam o que acabaram de fazer e as abraço apertado.

— Obrigada... De verdade. Por tudo. – Sussurro baixinho e antes que elas pudessem dizer qualquer coisa, Olívia entrava pisando duro.

— Eu não acredito que não sei passar uma maquiagem descente. E agora minha mãe decidiu viajar para sabe Deus onde e eu não tenho ninguém para me ajudar... A não ser que possam me ajudar e... Sophie! Oh meu Deus! Você está incrível. Queria que pudesse dizer o mesmo sobre mim, mas não até que eu passe pelo menos um batom para não ficar feia nas fotos que serão tiradas do baile. Ah! Estou tão animada, será definitivamente...

— O melhor baile do século porque era nosso sonho desde crianças? – Completo-a e ela sorri indo em minha direção e me dando um abraço. – Você já está deslumbrante.

Pisco para ela e Blair trata de puxá-la para a sua grande penteadeira. Minha mãe enxuga as lágrimas enquanto corre para ajudar ambas em todo o processo. Saio do quarto arrumando as alças do vestido e descendo as escadas. Ethan estava na sala de estar em uma briga eterna com sua gravata e dou uma risada me aproximando dele por trás.

— Aqui. – Viro-o para mim. – Me deixe te ajudar com isso. - Faço um nó simples de gravata e o encaro por alguns segundos.

— Me deixe te dizer o quanto está linda hoje. – Seus braços envolvem minhas costas e seus lábios se aproximam dos meus.

— Nada disso. – O grito de Blair faz eu me afastar de Ethan rapidamente. – Por favor, demorei horas para deixá-la assim.

Damos uma risada alta vendo minha mãe descer as escadas com o mesmo argumento. Eu não conseguia acreditar que finalmente eu iria me formar. Algo que eu e Olívia sonhamos desde que nos entendemos por gente. Passei os últimos quatro meses estudando por horas e horas, chegando sempre mais cedo nas aulas e vendo se eu havia conseguido uma nota descente. Tudo havia voltado ao normal.

Ethan e eu decidimos ir para o baile naquele instante, afinal esperávamos sair mais cedo de lá já que o próprio tinha uma surpresa para mim. O que me deixa ainda mais ansiosa. Olívia permitiu que eu fosse dizendo que Pietro iria buscá-la e entramos no carro. As coisas mudaram bastante desde os últimos meses... Mas nenhuma mudança que não fosse bem aceita. Katheryn e Frederick moram agora em meu antigo apartamento, ou melhor, no antigo apartamento de Ethan. Camille e Adam estão mais próximos do que nunca e, apesar de eu já desconfiar que ambos estivessem namorando, nenhum declarou nada e provavelmente nunca irão. É a primeira vez que a vejo tão tímida.

Eu e Ethan estamos morando com Blair e Anthony, e surpreendente, minha mãe também, mas ao contrário de nós dois, ela não tem nenhuma intenção de sair de lá. Provavelmente estão reatando os laços que pensaram ter perdido. Ainda é um pouco estranho imaginá-los amigos, afinal, não faz tanto tempo que eles pareciam não se gostar. Harry apareceu há um mês com uma mulher e ambos parecem se dar muito bem.

Eles haviam decidido passar férias em algum lugar paradisíaco. Confesso que fiquei bem tentada em convencer Ethan de viajarmos também, mas não acho que seja uma boa ideia agora. Como ele mesmo diz, temos todo o tempo do mundo para fazermos o que quiser. Ouvimos boatos de que Jolene e Seymour estão juntos, mas não chegamos a vê-los e comprovar isso. Surpreendentemente, desejo que estejam realmente tão felizes quanto eu.

Tem coisa melhor do que estar feliz? De sorrir por qualquer coisa mesmo que seja completamente idiota? Se me dissessem há dois anos que eu iria me apaixonar por um cara que matou um homem que tentou me estuprar e é filho de mafiosos, que aliás, foram grandes amigos dos meus pais...

Meus centrados e politicamente corretos, pais...

Eu não acreditaria de forma alguma. Mas hoje aquilo parecia tão normal quanto acordar os olhos e se levantar para enfrentar o novo dia que estava por vir. Observo a janela do carro e finalmente noto que estávamos indo em direção oposta ao baile. Meus olhos estudam Ethan com cuidado e vejo-o sorrir.

— Ethan...

— O que é? – Ele me encara e seu sorriso se aumenta.

— Onde estamos indo? – Pergunto baixinho me encolhendo sobre o banco de couro. – Sabe que eu odeio surpresas...

— Você irá gostar dessa, eu prometo.

Reviro os olhos soltando um sorriso tímido e voltando a encarar a paisagem. Já estávamos afastados da cidade e parte de mim desconfiava onde estávamos indo. Passamos bem próximos da pista de corrida. Fazia um bom tempo que eu não corria, e eu jurava que aquele lugar havia sido abandonado. O barulho dos motores me dava aquela velha vontade de dirigir agora. Jurava que Ethan iria estacionar ali e dizer que era a minha chance de correr mais uma vez então ele passa reto e então avisto a mansão. E para minha completa surpresa, estava reformado. As paredes desgastadas estavam completamente novas. Grandes colunas sustentavam alguma delas. Os assoalhos estragados também haviam substituídos. Encaro Ethan que dá de ombros.

— Está brincando. – Grito animada abrindo a porta do carro assim que estacionamos e desço do automóvel correndo até as escadas.

— Surpresa? – Ironiza Ethan e eu dou uma risada, abrindo as portas pesadas e observando a decoração.

— Você está fazendo isso há quanto tempo? – Pergunto baixinho encarando os cômodos mobiliados de forma sofisticada.

— Quando viemos aqui pela última vez, ficamos imaginando como seria se morássemos aqui e... Acho que eu levei isso a sério demais! – Suspirei pesadamente me aproximando dele.

— Vamos morar aqui? – Questiono colocando meus braços em volta de seu pescoço. Seu olhar cinza brilhando em expectativa e suas covinhas se formando em suas bochechas.

— Se você quiser claro... Porque se não achar exagerado ficarmos em um lugar tão grande, podemos procurar outro lugar, talvez um apartamento e...

Calo-o com um beijo demorado, não me importando com a maquiagem ou o aviso de Blair sobre não borrá-la. Me afasto sorrindo abertamente.

— Eu adorei.

— Queria ter mostrado depois do baile, mas eu estava tão ansioso quanto você, acredite... – Ethan observa a tela de seu celular e me encara. – Falando nisso, estamos atrasados.

Ele já ia me puxar para fora quando o interrompo.

— Na verdade, eu tenho uma ideia melhor. – Sussurro com um sorriso brincalhão no rosto.

— Tem certeza? Você falou tanto sobre o baile e...

— Eu sei. Mas não acho uma má ideia se ficarmos e competir um pouco nas corridas com novos adversários. – Murmuro lhe dando um selinho e ele dá uma risada.

— Você quem decide senhorita Hamswere.

— Dá para acreditar que moraríamos aqui? Juntos? – Balbucia. Nego com a cabeça.

Era realmente impossível acreditar nisso. Nunca parei para pensar em como tudo seria diferente, mas imaginando agora, não parecia uma realidade tão ruim. Arqueio a sobrancelha sugestiva e Ethan pareceu entender, correndo pelos extensos cômodos até chegar ao último, que imaginamos ser a cozinha, com todos os armários desgastados e grande parte, queimados. Ele senta no pequeno banco, e eu me deito sobre o balcão de mármore deixando seu rosto próximo do meu. Tão perigosamente próximo do meu. Mordo o lábio inferior.

— Seria tudo muito diferente... Por exemplo, comeríamos sempre juntos e é bem provável que eu fosse legal o suficiente ao ponto de fazer algo para você quando chegasse das corridas, cansado. – Imaginei com um sorriso no rosto.

Já estávamos próximos das pistas, os passos cautelosos, sem nenhuma pressa de chegar lá. Nossas mãos estavam entrelaçadas enquanto eu olhava minha mais nova casa ao longe, cada vez que nos distanciávamos. Quando finalmente chegamos, vemos Marcel ao longe, que sorri ao nos ver se aproximar.

— Ethan, Sophie. Quanto tempo! Vocês sumiram. – Ele diz animado.

— É, mas agora voltamos para ficar. – Sorri encarando Ethan que rapidamente assentiu com a cabeça.

— Ainda tem lugar para nós dois? – Ele pergunta para Marcel e nos dá um abraço rápido.

— Sempre meus amigos... - Meu sorriso se aumenta ainda mais então noto que eu não tinha nenhum carro para correr.

— Por que não pega o meu carro Sophie? – Viro-me para o lado dando de cara com Adam e Camille que sorria timidamente. Ele me joga a chave e eu dou um beijo estalado na bochecha dos dois correndo em direção ao seu carro, ligando-o e colocando na linha da pista e observo minha irmã dar um selinho discreto em Adam. Sabia que ambos estavam juntos.

E sinceramente, não podia imaginar ninguém melhor do que ele para ficar com ela. Tudo bem que eles são muito diferentes um do outro, mas tudo era questão de costume. Retiro meu calçado colocando no banco do passageiro, posiciono minhas mãos no câmbio de marcha e volto a encarar minha irmã sorrindo e acenando para mim. O barulho de Ethan buzinando ao meu lado chama minha atenção e eu o encaro.

— Está pronta?

— Como nunca estive antes. – Retruco desafiadoramente, arrancando dele uma gargalhada. Noto uma pulseira em suas mãos. Ele segurava com tanta firmeza e tive mais certeza ainda de que era minha quando notei minhas iniciais nela. – Ei... Essa é minha pulseira!

Uma mulher morena quase nua aparece no meio da pista segurando o revólver.

— Sério? Não notei. – Diz ele completamente indiferente.

— Me devolve Ethan, sério. – Sussurro com um sorriso no rosto.

— Por que não vem pegar? Feia...

— Com todo prazer, seu bruto, idiota.

O barulho do revólver disparando no alto faz Ethan começar a dirigir em alta velocidade e eu piso fundo no acelerador, pronta para alcançá-lo.

"Ele é um trapaceiro, ele não é bom de jeito nenhum
É um perdedor, ele é um vagabundo
Ele mente, ele blefa, ele não é confiável
Ele é um otário com uma arma

Eu sei que você me disse que eu deveria ficar longe
Eu sei que você me falou que ele é um cão vira-lata
Ele é um cara mau com um coração podre
E até eu sei que isso não é sensato

Mas, mamãe, eu estou apaixonada por um criminoso
E esse tipo de amor não é racional, é físico
Mamãe, por favor não chore, eu ficarei bem
Pondo a razão de lado, não posso negar, eu amo aquele cara

Ele é um vilão pelas leis do diabo
Ele é um assassino só por diversão
Ele é um dedo-duro, imprevisível
Ele não tem consciência, ele não tem nada"

— Criminal - Britney Spears.

FIM!

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A HERDEIRA DA MÁFIA* - Introdução

Anthony

Minha mente simplesmente não parava de funcionar desde que ouvi Andrew mencionar o nome de Chloe, a prostituta que vivia na casa de meu pai antes de eu assumir sua máfia. Era impossível ela ter engravidado já que ficamos apenas uma noite, quando tive uma briga feia com Blair, principalmente porque ela teria me contado... Principalmente porque ela sabia que ter um filho meu é muito arriscado quando entro em guerra com outras máfias. Ethan era bem treinado, um homem feito.

É improvável que alguém tente capturá-lo sabendo que ele é tão bom quanto eu em fugir. Então percebi, que nem quando Ethan era menor, mafiosos foram atrás dele - exceto Andrew... Meus olhos arregalaram. Eu realmente tinha um filho por aí que sempre viveu em perigo. Aquele velho e idiota instinto paterno surgiu junto com o medo de perder a mulher que amo. Então comecei minhas pesquisas e há dois meses elas se aprofundaram ainda mais com a ajuda de alguns aliados. Era uma garota. Seu nome era Hannah Thierry e ela vivia com a Chloe... Em um bordel. Se ela realmente fosse minha filha, eu iria atrás dela de qualquer jeito.

— Anthony? – Ouço a voz rouca de Logan no telefone e suspiro pesadamente.

— Está na hora de ter certeza se posso confiar em você ou não. – Sussurro.

— Do que está falando?

— Quero que tome conta de alguém para mim por um tempo.