À medida que íamos nos separando do professor de inglês, o meu coração batia cada vez mais rápido. Droga! Por quê o N tinha que ser tão lindo a ponto de fazer o meu coração acelerar?! E ele, para variar, estava caminhando calmamente do meu lado, até a entrada da escola, onde o caminhão de carnes estaria nos esperando.

– Ei. – a voz do príncipe ao meu lado rompeu com o silêncio entre nós - Tem certeza de que você não quer que eu faça tudo sozinho? Sabe, carnes são mais pesadas do que parecem.

– E eu não sou tão fraca quanto pareço. – bufei. Odiava quando as pessoas duvidavam das minhas capacidades. - Eu consigo carregar umas caixas! Afinal, desde que você divida o peso comigo, vai estar tudo bem. – respondi, olhando sempre em frente, evitando o nosso contato visual.

– Se é o que você diz... Seu desejo é uma ordem. – a voz angelical retrucava de modo tão elegante, que tive que ser forte para não corar novamente.

Chegando na entrada da USS, avistamos o caminhão de carnes já estacionado. Assim, quando nos aproximamos, os açougueiros logo perceberam que éramos nós quem iríamos pegar as carnes, e já se adiantaram abrindo a mala do veículo.

Meus olhos arregalaram ao ver o tamanho das caixas que estavam dentro do compartimento do automóvel. Que gigantes! Eu realmente não esperava que elas fossem ser tão grandes assim! Agora eu entendo porque o professor de inglês não queria que eu fizesse isso sozinha.

Quando me dei por percebida, N já havia retirado uma das caixas de lá de dentro e estava a carregando para o pátio da escola. Corri em sua direção com raiva. Não acredito que ele está realmente fazendo isso sozinho quando concordou em que eu o ajudasse!

– E-ei! Deixa que eu te ajudo! – exclamei, após alcançá-lo, colocando minhas mãos sob a caixa.

Enquanto carregávamos a caixa, ficava difícil de manter as mãos sempre na mesma posição, por conta do peso e também por conta do atrito do papelão sobre nossa pele. De minuto em minuto, tentava mudar a posição das minhas mãos, para que pudesse ficar menos desconfortável.

De repente, sinto algo quente tocando uma das minhas mãos. Subitamente, percebo que nossas mãos haviam se esbarrado e agora estavam encostadas umas na outra. A mão do N era tão quente... Tão quente como o calor do seu abraço na noite em que me salvou.

Pude sentir o meu rosto começar a esquentar, e a respiração ficar um pouco ofegante. Não conseguia entender o porquê de não conseguir mais mudar a posição das minhas mãos. Era como se o calor que estava sendo transmitido do N até mim tivesse me imobilizado por completo.

– Err, Touko? – a voz angelical soa no ar, rompendo mais uma vez com o silêncio.

– S-sim? – indaguei, ainda tentando evitar o nosso contato visual.

– Poderia soltar a caixa, por favor? Assim eu não posso colocá-la no chão para irmos buscar as que faltam.

– Cla-claro! – exclamei ao soltar a caixa na mesma hora, envergonhada por ter sido pega no meu estado de transe.

Trumbrumgrum!

Ouço o barulho de algo caindo e imediatamente me viro para o lado.

O rosto do N estava a poucos centímetros de distância do meu, assim como a caixa que ele segurava com força, impedindo-a de cair em cima de mim. Parece que eu havia soltado um dos lados da caixa, sem que ele a soltasse também, fazendo com que ela escorregasse na minha direção.

Meu rosto estava quente demais, e meu coração estava quase saindo pela boca. Eu não conseguia desviar os meus olhos daquele olhar verde que me hipnotizara tão facilmente. Seu rosto estava tão próximo... seus olhos... seu nariz... sua boca... Seus lábios me atraiam como um imã, seu cheiro me seduzia intensamente. Não haviam obstáculos entre nós... apenas o fato de estarmos na escola.

– D-desculpe! – comentou N ao se afastar de mim por impulso.

– S-sem problemas! – assenti ciente de que estava vermelha. Merda! Como eu queria que esses ligeiros segundos tivessem durado um pouco mais!

Olhando de relance para o seu rosto, pude perceber a pequena coloração rubra que se formava em suas bochechas. O N estava... corado? Ele ficou corado?! Como eu queria poder contemplar esta visão até o final do dia! O professor de biologia que esbanja beleza e sedução estava claramente envergonhado pelo o que acabava de acontecer, e dessa vez, era ele quem estava evitando fazer contato visual comigo.

– Bom, eu... – comecei devagar, sem conseguir mais desviar meus globos azuis dele – Vou voltar lá e... já começar a trazer as outras...

– Por hoje basta. – sua voz me cortou secamente.

– Huh? O que você quis dizer com isso? – levantei um pouco a voz, levando os punhos a frente do corpo - Quero dizer... eu vim para a escola hoje a fim de ajudar com os preparativos e-!!

– Você não deveria estar preocupada em ajudar com os preparativos do festival enquanto as provas começam segunda-feira! Quem ficou de recuperação deveria estar em casa estudando! – N exclamou com raiva ao olhar para mim.

– Huh? – meus olhos se arregalaram e eu não conseguia dizer mais nenhuma palavra. A vontade de chorar começava a querer subir pela minha garganta.

O N estava parado na minha frente, me encarando de forma irritada, com um olhar assustador e com a respiração pesada. Ele definitivamente não estava agindo como o professor atencioso e sereno o qual eu estava acostumada com.

Acabei deixando as lágrimas e a raiva tomarem conta de mim, criando coragem para botar as palavras para fora:

– V-v-v-v-ocê também não! Por quê um professor como você estaria perdendo o seu tempo em ajudar um festival desses?! C-c-c-como se você se importasse!

Sua reação foi apenas me ignorar, olhando para um ponto fixo no chão, cobrindo com uma das mãos, o seu rosto avermelhado.

Me virei e comecei a correr. Eu queria ficar o mais longe possível dele. Como ele pode dizer isso?! O que deu nele?! Eu amo tanto os festivais... droga!

Enquanto corria, acabei tropeçando, e dando de cara no chão duro do pátio da escola.Eu estava tão triste que não conseguia me levantar. Era como se todas as minhas forças tivessem sido sugadas por aquele olhar frio e sombrio do N de pouco tempo atrás. Quando eu me sentia tão triste desse jeito, tudo o que eu mais queria era desaparecer. Ou que tudo ao meu redor desaparecesse.

No momento, tudo o que eu via, era a escuridão.

x-x-x

– Mei? – ouço uma voz desconhecida chamando pelo nome da minha irmã.

Nossa, será que eu adormeci tão rápido assim? Quem está chamando pela Mei?

– Mei? O que você tá fazendo que nem uma lesma aí no chão? – a voz desconhecida fica mais clara. Era como se estivesse alguém bem perto de mim chamando pela minha irmã.

Viro o meu rosto pro lado, e abro os olhos. Dou de cara com o Hyuu.

– Ah, foi mal, mas você não é a Mei! Mas vocês são realmente muito parecidas! – o jovem de cabelos espetados me olha de forma surpresa e um pouco encabulado.

– É porque eu sou a irmã dela. – respondo, ao me levantar do chão.

– Uaah! Sério?! Eu me chamo Hyuu, trabalho com a sua irmã no time de basquete da escola. – o atleta de olhos vermelhos diz ao estender uma de suas mãos.

– Eu sei quem você é! Mei fala muito bem de você! Apropósito, eu sou a Touko. – comento com um sorriso ao corresponder o seu cumprimento.

O Hyuu estava bem diferente do dia do teste para líderes de torcida. Ele estava bem feliz e animado. Deve ser por causa do festival. Olhando ao meu redor eu só conseguia ver pessoas sorrindo por todos os lados. Eu deveria ficar assim também! Deveria esquecer a grosseria que o N falou para mim e continuar ajudando a todos com os preparativos!

– Aliás, você está procurando pela Mei? – perguntei retomando ao início.

– Sim! Aquela cabeça de bolinhos está atrasada para o ensaio final da apresentação das líderes de torcida de amanhã. As outras líderes estão putas com ela! E como ela é a minha líder parceira, é o meu dever ir atrás dela. – comentou dando de ombros ao colocar as mãos nos bolsos da calça do uniforme masculino, que nada mais era do que calça jeans e camisa social branca com uma gravata azul marinho.

“Cabeça de bolinhos...” huh.... a Mei gosta realmente dele? Naquele dia ele realmente me pareceu ser um cara mais sério...

– Toou, Hyuuu!! – Mei exclama ao acenar de longe, correndo em nossa direção com seu uniforme de líder de torcida.

Mei parecia uma boneca enquanto corria. Seus cabelos balançavam contra o vento e pequenas gotas de suor que pareciam cristais brilhantes escorriam pelo seu rosto. Suas bochechas estavam rosadas, assim como seus lábios, e seu corpo escultural se destacava muito, em especial seu busto, que saltava com seus passos.

– M-me d-desculpe pelo atraso... – a morena ofegava ao parar entre nós – Mas, vejo que vocês já se conhec-

– Ah, aí está você cabeça de bolinhos! – exclamou o moreno ao puxá-la pela mão.

– Uaah! – Mei se assusta transparecendo ainda mais o tom rosado em seu rosto.

Seguro a mão da minha irmã antes que os dois pombinhos sumissem do meu campo de visão:

– Ei, ouriço do mar! Eu vou com vocês! – exclamo, chamando a atenção dos dois, que se viram para mim.

Mei colocou as mãos sobre a boca, segurando uma risada. Seu rosto ficou ainda mais rosado e pequenos cristais de água formaram-se no canto dos seus olhos. Hyuu me encarou com uma das sobrancelhas arqueadas e de braços cruzados:

– Ouriço... do mar? – ele se perguntava em voz alta. – Ei, espera aí, isso é por causa do meu cabelo, não é?!

Eu e Mei caímos na gargalhada. Começamos a rir que nem duas bobas por ele finalmente ter percebido o porquê do apelido, após um momento de reflexão.

– É apenas um pequeno troco... – respondia ainda rindo, ao enxugar uma lágrima do olho – ...por chamar a minha irmã de “cabeça de bolinhos”.

– Ah que seja! O cabelo dela parece mesmo com bolinhos! – exclamou o moreno ao cruzar os braços e virar o rosto para o lado, revelando pequenos rubores em suas bochechas.

Rimos mais uma vez e seguimos o senhor ouriço do mar até o ginásio.

x-x-x

Chegando no ginásio da USS, Hyuu e Mei foram entrando na frente, e eu logo atrás. Parecia que a equipe toda da UST já estava ali reunida.

– Ah, finalmente vocês chegaram! Sabem que horas são? – Kyouhei, o líder do time, perguntava de braços cruzados.

– Uaah, Kyo, me desculpa, eu que acabei me atrasando! Eu estava ajudando o pessoal da minha turma com os preparativos do festival e perdi a hora! – Mei se explicava com o dedo indicador apoiado no queixo.

– Tudo bem, o mais importante é que vocês finalmente chegaram. Mas... deixando isso de lado... – o líder se vira na minha direção – Quem é ela e o que faz aqui? – finaliza de modo sério ao apontar para mim.

– Ué, não dá pra perceber que ela é a irmã da Mei? – Hyuu debocha um pouco da percepção de seu colega rival.

– Vocês dois sabem que pessoas de fora não podem ver os ensaios, né? – o moreno perguntava ainda num tom sério.

– Olha... se for um problema eu ficar aqui... eu posso ir embora... – me pronunciei de forma calma, tentando evitar que uma briga entre aqueles dois acontecesse novamente.

– Me desculpa, mas é melhor você ir mesmo. Regras do time. – o moreno de olhos azuis foi incrivelmente direto.

– Waaah?! Mas qual é o problema dela assistir?! – o senhor ouriço do mar já começou a se enfezar e a ficar mais sério.

– Hyuu... se ela não pode assistir tudo bem... ela vai nos assistir amanha de qualquer forma... – Mei começou, tentando acalmar o parceiro.

– Mas eu sei que você adoraria ouvir a opinião da sua irmã antes da apresentação para ficar mais confiante! – o jovem de cabelos espetados exclamava ao se virar para sua parceira.

– Tudo bem. Tudo bem. – cortou Kyouhei – Eu deixo ela ficar se você me der um motivo para tal.

– Falar que a Mei vai ficar mais confiante com isso não é mais do que suficiente?! – Hyuu sem enfezava cada vez mais com o seu rival.

– Foi mal, mas eu quero um motivo profissional e não sentimental.

O jovem de cabelos espetados, prensou com força os seus olhos vermelhos, como se estivesse tentando pensar em algo, ou controlar a própria raiva.

– Kyouhei, não vai me dizer que não percebeu o como elas são idênticas? – o jovem ouriço do mar sorria de modo sarcástico – Se acontecer algum imprevisto com a Mei, ela pode tomar o lugar dela como uma dublê, se assistir o ensaio! – ele finalizava com o peito estufado, orgulhoso do que acabava de dizer.

Só tem um pequeno problema nesse seu motivo aí, gênio ... – um dos membros do time, um garoto de cabelos negros e olhos dourados entrava em cena – Se qualquer um der uma checada no tamanho dos peitos delas, vai perceber claramente a diferença.

M-m-m-m-m-m-mas O QUE?!?!?!!?!!?

Uma aura de silêncio pesada tomou conta do ginásio. Todos os membros do time não sabiam o que dizer, apenas ficaram paralisados, encarando o jovem dos olhos dourados, que olhava para os lados como quem diz “o que eu fiz de errado?”. A minha vontade? O que eu mais queria era espancar aquele sem vergonha! Só não fazia isso para não ser expulsa do ginásio e matar a minha irmã de vergonha.

– Hi-hi-hi-hibiki! C-c-c-como ousa falar isso da minha irmã?! – Mei exclamava com o rosto vermelho como um pimentão, enquanto escondia seu farto busto com os braços.

– O-o-o-o-ora s-s-seu!! C-c-c-como ousa falar assim da minha parceira?!!?!!? – Hyuu exclamava aos prantos, com o rosto tão vermelho quanto o de Mei.

SLAP!

– Desculpem o meu parceiro pervertido aqui... – uma jovem de cabelos azuis e olhos cristalinos se revelava em seu uniforme de líder de torcida, após dar um tapa no rosto do parceiro. – Ele apenas não pensa antes de falar.

– Caham! – Kyouhei chamava a atenção de todos de volta para ele – Eu... acho que... ela pode ficar. Comecemos logo com o ensaio final!

Logo que eles decidiram começar a ensaiar pra valer, eu me sentei na arquibancada do ginásio para assistir o espetáculo. Assim, a líder das líderes de torcida, que aparentava ser a parceira do Kyouhei, pegou um microfone e começou falando:

– Boa noite para o público maravilhoso desse Festival de Outono da Unova Special School! Nós somos as líderes de torcida do time de basquete da escola, o Unova Special Team! E nós vamos fazer uma apresentação de boa sorte para os nossos meninos em seus treinos antes do próximo campeonato!

– Vai, Yuki! – exclamou a jovem de cabelos castanhos até os ombros e cortado na parte de trás, na altura da nuca.

– Vai, Hibiki! – exclamou a jovem de cabelos azuis de antes.

– Vai, Matsuba! – exclamou uma jovem de cabelos cor de rosa.

– Vai, Hyuu! – exclamou Mei, com maçãs no rosto por falar o nome do amado.

– Vai, Kyouhei! – exclamou a líder, que discursou anteriormente.

– Vai, vai, vai, Unova Special Team!!!! – todas exclamaram em coro.

Após a fala, a música começou a tocar no ginásio. E era uma música bem conhecida, Part Of Me, de uma dessas cantoras de pop que andam arrasando recentemente, a Caty Perri! A apresentação estava maravilhosa, todas as meninas estavam lindas, com um belo gingado, passos bem ritmados, em sintonia com a música, e com um rebolado bem elástico, acompanhadas de seus pompons!

Enquanto assistia ao ensaio, pude sentir o meu celular vibrando de dentro do meu bolso. Retirei-o rapidamente de dentro do tecido da saia e arregalei os olhos ao ler o conteúdo da mensagem:

“E aí Touko, alguma novidade?” – Cheren

Eu tinha me esquecido completamente do acordo que eu fiz com ele! E pra piorar a minha situação, eu tinha uma ultra mega novidade, sobre a sua loira amada estar apaixonada por ele e por seu amigo de infância ao mesmo tempo! Mas eu obviamente não poderia contar uma coisa dessas pra ele... por mais que tenhamos feito um acordo... Isso não... isso... iria ferir demais o coração dele! Respirei fundo, e mandei ver:

“Não aconteceu nada. Aliás, hoje está tudo ótimo! Não vi nem sinal dele, e a esta hora, Bianca deve estar com uma colega nossa ajudando nos preparativos do festival!” – Touko

Fechei o celular com força e o prensei contra o peito. Meu coração doía demais por saber que eu havia mentido pro Cheren desse jeito. Mas não havia outra escolha... eu fiz o que era o melhor a ser feito no momento.

A fim de evitar tais pensamentos, voltei a olhar para a maravilhosa apresentação que acontecia na minha frente. Conforme a música ia tocando, parecia que o dança se tornava ainda melhor! O que mais me animava era ver o sorriso da Mei enquanto dançava. Ela conseguia transparecer todo o seu amor que estava sendo colocado naquilo. Aliás, não só ela, como todas as outras líderes dançavam por amor ao que fazem. Parece que a Mei descobriu que a dança também pode ser uma paixão na sua vida.

O ensaio finalizou com uma surpresa: quando a música terminava, todas as líderes faziam suas poses finais, e ao mesmo tempo, um jato de fumaça de gelo seco era lançado ao fundo, compondo o logo do time.

– Woow! – não pude deixar de exclamar! – Bravo!! Incrível!! – me levantei batendo palmas, sem conseguir esconder o sorriso estampado em meu rosto.

Mei me devolvia, gentilmente, um sorriso de longe, enquanto caminhava na minha direção, até tropeçar.

A Mei sempre fora tão distraída! Nem parece que é uma líder de torcida capaz de fazer todos os passos que faz na coreografia de agora pouco. Eu realmente não sei como ela consegue, ser tão inteligente, ótima dançarina, e... tão estabanada desse jeito! Por impulso, e reflexos de irmã mais velha, eu quase fui socorrê-la, mas pelo visto, não seria mais necessário.

A jovem de cabelos castanhos presos em dos grandes coques seguidos de duas longas mechas acabava de ser salva de um tombo pelo seu parceiro dos olhos vermelhos. O jovem de cabelos espetados, a envolvia em seus braços, enquanto a mesma estava paralisada, sem nenhuma reação, apenas exibindo os tons escarlates que coloriam as suas bochechas. A situação de seu herói, não era diferente, o mesmo não conseguia soltá-la, apresentando os mesmos tons escarlates em seu rosto.

Seus corpos estavam completamente grudados, trocando calor um com o outro, unindo os seus batimentos cardíacos e com suas respirações ofegantes em sintonia. Era como se o tempo para aqueles dois tivesse parado em míseros instantes de segundos. Até que, um dos dois resolvesse romper com o silêncio:

– Hy...uu? – a morena indagava em um tom agudo nervoso.

O moreno a soltou imediatamente, sem conseguir disfarçar o pimentão que o seu rosto se tornara.

– Des...cul...pa? – o jovem de cabelos espetados murmurava fitando o chão.

– Obrigada! – a jovem sorriu gentilmente com maçãs suaves no rosto. – Quero dizer... você me salvou, então estou agradecendo!

– Ah... isso... – ele comentava ao coçar a cabeça, ainda mirando o chão – Era o mínimo que eu podia fazer por você... afinal, vai se apresentar amanhã.

O tom vermelho no rosto de Mei se intensificou. Parecia que a expressão facial do senhor ouriço do mar havia mexido com ela. Aww, a Mei fica tão fofa envergonhada desse jeito! Sou mesmo uma irmã coruja!

– Mei? – Hyuu perguntou ao fitá-la, após perceber a sua pequena pausa.

– Uaah, aah! Não é nada! – Mei exclamava ao sacudir as mãos na frente do rosto – Eu só sei que preciso ir agora já que acabamos o ensaio! Vou continuar ajudando o pessoal da minha turma com os preparativos.

Mei deu de costas e caminhou até a porta do ginásio. Eu, visto que o meu objetivo ali já tinha sido cumprido, me direcionei até o jovem de cabelos espetados.

– Fiiiiu! Nossa... essa foi por pouco. – Hyuu assobiava baixo e murmurava para si mesmo ao ver a silhueta de Mei deixando o ginásio.

– Eu ouvi isso, ouriço do mar! – exclamei por trás, provocando o garoto, que tremeu com o susto.

– V-v-v-v-ocê! – ele balbuciava, com o rosto extremamente vermelho, ao apontar para mim.

– Hehe, sim! – brinquei – Mas pode deixar que eu não vou contar pra ela! Bela apresentação que as meninas fizeram pra vocês. Vão arrasar amanhã! Até logo, ouriço do mar! – finalizei com uma piscadela no olho esquerdo e um acenar de mão.

– Até logo, cabeça de macarrão! – ele devolveu.

Saio do ginásio sem nem me esquentar ou olhar para trás. Qual é o problema dele? Digo... ele deve ter algum tipo de fetiche em dar apelidos que comparem cabelos com comida, porque... não é possível!

x-x-x

Chegando no pátio novamente, avisto Bianca carregando uma caixas. Aproximo-me mais um pouco e logo percebo que a loira estava acompanhada. Droga... e eu achando que não o veria hoje...

Black e Bianca estavam carregando algumas caixas de um lado para o outro, conversando na maior animação. Olhando eles de longe já podia sentir um frio na espinha. Eu não gosto dele, não gosto, não gosto, não gosto! Eu sei que é ciúmes, mas... arght! Se não fosse por ele, eu que estaria passando todo esse tempo com a Bianca!

Respiro fundo, miro os dois, e decido me aproximar para ver se precisam de ajuda:

– E aí B! – sorrio para a loira a minha frente – O que está fazendo com ele? Não deveria estar ajudando o pessoal da nossa turma com os preparativos? – indago em um tom provocador - E... olá... Black, não é? – comento com uma voz um tanto forçada.

– Sim... o meu nome é Black... – ele responde um pouco emburrado – E olá para você também.

– Tou! – a loira exclama com raiva ao me segurar pelo pulso – Vem cá um pouquinho! – ela finaliza ao me puxar para o lado, há alguns metros de distância do moreno.

– Hm? O que foi? – pergunto um pouco confusa.

– O que foi?! – ela indaga de modo furioso – Não gosto do jeito que você olha e fala com o Black! – comenta ao cruzar os braços.

– Hãn? Por que isso do nada? – pergunto me fazendo de boba. Eu sabia mais do que ninguém que eu não trato ele bem. Mas isso é algo que eu não consigo evitar.

– Tou, você sabe... sobre o que conversamos mais cedo... – ela cora ao dar uma pequena pausa mirando o chão - Você sabe que além dele ser meu amigo de infância... eu também gosto dele. E, sabe, não é legal ver a sua melhor amiga tratando a pessoa que você gosta de uma forma rude...

Eu não entendo, mas... o modo como a Bianca falou sobre o Black me irritou muito. Além de voltar à tona com o fato dela estar apaixonada por ele, ela falou de um jeito como se o Cheren nem existisse! Aposto que ela mal podia imaginar como o Cheren estava sofrendo com essa história toda. Ele deve estar sofrendo mais do que eu e... Não dava para evitar a raiva que estava tomando conta de mim no momento. Fechei o punho com força e rangi os dentes:

– Só não se esqueça de que... – dei uma pausa para respirar fundo – Você também gosta do Cheren! – exclamei, sentindo uma pontada no coração.

Eu não conseguia olhar pro rosto da Bianca depois disso. Ela também não falou mais nada desde então. Assim, eu simplesmente dei de costas e comecei a andar pelo pátio. Merda! Por quê eu tinha que deixar uma brecha pra uma discussãozinha assim entre nós justo na véspera do festival!

– Touko! – ouço a voz de uma das meninas da minha turma me chamando.

– Ah, o que foi, Serena? – pergunto, tentando forçar um sorriso no rosto. Eu definitivamente não estava bem.

– Poderia nos ajudar a pendurar esses cartazes na parede? – ela me perguntou sorrindo serenamente, assim como seu nome, ao estender-me alguns pôsteres.

– Ah claro! – sorri.

Até que ficar ajudando Serena e as outras meninas a fixar os pôsteres na parede, estava sendo bom para passar o tempo. Pelo menos a minha consciência estava limpa de que eu estava fazendo algo para ajudar no festival. O trabalho nem era tão complicado assim. Era só descolar o adesivo do papel e fixá-lo na parede. Bem simples, até.

Enquanto estava compenetrada, realizando a atividade, o meu celular me surpreende, vibrando pela segunda vez no mesmo dia. Retiro-o do tecido da saia rapidamente. Era uma mensagem da Bianca. Sinto um frio bem forte na barriga. Essa não... ela deve estar furiosa comigo... Amanhã vai ser o pior festival da minha vida... brigada com a minha melhor amiga... Todos os tipos de pensamentos ruins começaram a rodear a minha mente. Respirei fundo, tomei coragem, e abri a mensagem:

“Amanhã vamos alugar os nossos kimonos para o festival? Vamos na loja da vovó que ela dá desconto! Chame a Mei também!” – Bianca

Ler essa mensagem foi como um alívio. Eu podia jurar que, conhecendo a Bianca, ela estaria puta comigo! Mas felizmente, ela preferiu agir como se nada tivesse acontecido. Que bom, pois afinal, eu estava certa, ela gosta do Cheren. Pelo menos era isso o quê eu esperava...

Uaaah! Já estava tarde, e eu ainda nem tinha parado para almoçar. Acho que vou voltar para casa, comer alguma coisa, e aguardar pelo grande dia do Festival!

Continua...