O N foi como um vento, um vento que passou pela minha vida. Ele conseguiu bagunçar tudo, tirar tudo do lugar. E quando o vento passou, tudo ficou lá, jogado no chão. E eu não sabia mais por onde eu devia começar a arrumar as coisas.

x-x-x

Segunda-feira, 3 de Setembro.

Pipipi.pipipi.pipipi.

O alarme para o inferno soava. Isso significa, que o meu primeiro dia de aula estava prestes a começar. Ah, claro, antes que eu me esqueça! Eu me chamo Touko. Touko White! Eu tenho 17 anos, minha cor favorita é branco, tenho 1 metro e 63 centímetros de altura, cabelos castanhos, olhos azuis e estudar é o que eu mais odeio no mundo. E a partir de agora, eu sou oficialmente uma estudante do último ano colegial!

Desliguei o alarme, levantei da cama e fitei meu uniforme escolar. Um dos poucos motivos que me fazia gostar da escola era poder usar esse uniforme. Afinal, para mim ele é o mais lindo da região de Unova! Como ainda estávamos no final do verão, o uniforme ainda era uma camisa amarela clara de manga curta com uma fita azul escura no meio. No centro da fita havia um broche da escola com o seu brasão, com a sigla USS, de Unova Special School. A saia era rodada até os joelhos, da mesma cor da fita. Pra completar, tinha uma meia ¾ , também até o joelho e uma sapatilha de boneca preta. Após vestir o uniforme, fiquei diante do espelho para pentear meus cabelos e prendê-los em um rabo de cavalo, como de costume. Em seguida, abri a primeira gaveta abaixo do espelho e peguei o meu anel da sorte, ele era como um laço envolvendo o meu dedo. Fui em direção à porta, peguei a bolsa que estava pendurada pela maçaneta, e desci as escadas que ia do corredor onde ficavam os quartos até o primeiro andar, onde ficavam a sala, a cozinha e o banheiro.

Quando pisei no último degrau que dava diretamente para a sala, fui surpreendida por uma voz doce e agradável:

– Bom diaaaa, Tooouuuko! – uma garota de cabelos castanhos e olhos azuis, exatamente como eu, me cumprimentava com um sorriso que estampava todo o rosto.

– Bom dia? Só se for pra você né, Mei? Pra garota gênio do primeiro ano colegial é fácil retornar as aulas, não é? – devolvi brincando.

Mei é a minha irmã mais nova, ela tem 15 anos, e ao contrário de mim, é bonita e inteligente! Nem parece que somos da mesma família! Ela é uma garota otimista, agradável e que está sempre sorrindo, consegue alegrar o dia de qualquer um! Além disso, apesar de ser 2 anos mais nova, ela consegue ter um corpo bem mais desenvolvido que o meu! Me dá raiva só de olhar para os seus melõezinhos. Sim, eu estou com inveja! Entretanto, eu gosto realmente dela.

– A-a-a-ah! Mas, Touko, seja otimista, esse ano vai ser melhor! Tenho certeza que as suas notas vão melhorar! – retrucou ela, sem deixar o seu sorriso desmanchar.

– Você diz isso, mas quando eu era do primeiro ano que nem você, eu fiquei em recuperação de todas as matérias. Você é bem melhor do que eu, não precisa tentar me animar.

– Touko Rosa White, isso é jeito de falar com a sua irmã?! – ouço a voz séria da minha mãe aparecer junto dela com os braços cruzados bem na minha frente.

– Mãe, eu estou só brincando! – retruco um pouco nervosa colocando as mãos na cintura de tanta raiva por ela me chamar pelo meu nome completo. Eu ODEIO o meu nome completo! Esse nome do meio “Rosa” é tão horroroso!

– Você deveria ouvir a sua irmã! Afinal, é como ela diz: esse ano as suas notas TEM que melhorar, caso o contrário como você espera passar no vestibular?!

Aaaaah, o vestibular. Como se não bastasse todo o estresse comum de todos os anos na escola, esse ano ainda tem o vestibular! Vou ter que me matar de estudar para passar para um dos cursos TOP, como engenharia, direito ou medicina, sendo que eu nem sei o que eu quero fazer da vida ainda!

– M-mamãe! Não se estresse com a Touko, nós só estávamos brincando mesmo! É claro que ela vai se esforçar bastante esse ano! Não é, Touko? – Mei me defendia, tentando acalmar a situação.

– Claro que eu vou! – afirmei só para me livrar daquela conversa, mesmo sabendo que no final das contas as minhas notas seriam vermelhas como sempre.

Peguei o meu lanche que estava na mesa da sala, o coloquei dentro da bolsa, e peguei uma torrada com manteiga para ir comendo no caminho até a escola.

– Vamos Mei? – perguntei para minha irmã.

– Sim! – ela afirmou, mais uma vez sorrindo.

Saímos de casa e fitamos o céu. Ele estava bem azul e com algumas nuvens. Pelo menos não estava mais aquele calor infernal do início do verão. Em menos de um mês já estaríamos na primavera.

Andamos um quarteirão e logo na esquina avistei Bianca, a minha melhor amiga, com o seu namorado, Cheren.

Bianca estuda comigo desde o meu primeiro ano no Unova Special School. Também ao contrário de mim, ela é uma aluna dedicada, não chega a ser gênia, que nem a minha irmã, mas pelo menos consegue ter todas as notas acima da média. Ela é loira, com cabelos curtos até o queixo e tem olhos verdes. Ela tem 17 anos, assim como eu, sua cor favorita é laranja, e ela usa um lindo óculos vermelho. Bianca é a menina mais meiga que eu já conheci, uma amiga de verdade! Não é a toa que tem um ótimo namorado que nem o Cheren, que acorda cedo todas as manhãs para levá-la até a porta da escola.

Cheren se formou ano passado na Unova Special School, e está cursando o seu primeiro período de medicina na melhor faculdade de Unova! Ele tem 18 anos, é alto, tem cabelos escuros e está sempre usando uma camisa social branca com uma gravata vermelha. Aliás, eu preciso comentar que ele é lindo?

– Bom dia, Touko! Bom dia, Mei! – exclama Bianca me dando um abraço que eu devolvo na mesma intensidade.

Aí estava o segundo e último motivo que me fazia gostar da escola: poder ver a Bianca todos os dias!

– Bom dia Bianca! Bom dia Cheren! – respondia ao me soltar dos braços da minha loira favorita.

– Bom dia, senhoritas! – falava o Cheren, simples e direto, como sempre.

Assim, todos nós seguimos juntos o caminho da escola, enquanto conversávamos sobre como tinham sido as nossas férias de verão.

– Então, como foram essas férias, Touko? – perguntava Bianca de mãos dadas com o Cheren.

– Ah, normais, normais. Fiquei lendo quadrinhos, assistindo TV, nada fora do normal. – respondi.

– O que? Mas eu só vi você dormindo as férias inteiras! Parece até que resolveu hibernar! – comentou Mei, revelando toda a verdade só para zombar da minha cara.

– M-mei! – exclamei corada de vergonha pela sua sem vergonhice de me entregar desse jeito.

– Ahaha! Não precisa ficar assim, Touko! Eu já devia esperar que você fosse ficar dormindo! – retruca a loira, segurando um risinho.

Em plena manhã do primeiro dia de aula, todos já resolveram zombar de mim. Podia até ver um sorrisinho no cantinho do rosto do Cheren!

Nesse momento, de pura vergonha para mim, veio uma salvação para cortar o clima: um vento. Um vento muito forte e aleatório para um dia de verão. E ele estava incrivelmente forte, estávamos tendo que segurar as nossas saias e-

– M-meu anel!!! – exclamei lutando contra o vento, tentando pegar o anel que voava pelo céu. – A-ah! – cai de cara no chão.

– Touko, você está bem?! – exclamavam Mei e Bianca, agachadas em volta de mim.

– Ah... eu estou... eu acho... só que infelizmente acho que perdi o meu anel.... da sorte. – respondi cabisbaixa.

– Pelo menos você está bem! Antes um anel do que você se machucar! – alertou a loira me estendendo a mão. – Venha, vamos entrar na escola, a aula já vai começar.

Não tinha nem percebido mas eu tinha pagado esse mico gigantesco bem na frente da escola! Essas coisas só acontecem comigo mesmo...

No portão, Mei se despediu de nós três e foi entrando na frente. Afinal, a garota gênio do primeiro ano colegial, além de inteligente era extremamente pontual. Cheren se despediu da Bianca com um selinho, e nós duas entramos na escola.

Eram exatamente 8 horas da manhã, o horário de início da nossa primeira aula do dia. Por sorte, desde o primeiro ano colegial, as turmas se mantinham as mesmas, portanto eu poderia sempre estar com a Bianca e contar com a sua companhia e é claro, as anotações dela.

Chegando na porta da nossa sala, da turma 4AA, decidi perguntar só para já ir me preparando psicologicamente:

– Então, qual é a primeira aula do dia?

– Biologia. – respondeu a loira.

Ah, ótimo! Como se já não bastasse ser a merda do primeiro dia de aula, a droga da primeira aula do dia ainda era matéria que eu mais ODEIO entre todas: biologia! Essa tremenda babaquice de matéria que nos obriga a ficar decorando um monte de nomes de órgãos, ossos, músculos e sei lá mais o que.

Bianca apenas sorriu sem jeito pra mim enquanto sentava na sua carteira, ao lado da minha. Minha melhor amiga sabia tanto quanto eu como eu odiava essa matéria. E não haveria nada, absolutamente nada que fosse fazer isso mudar.

.......... A não ser......... o professor..........

Cabelos verdes presos a um rabo de cavalo que sabia de baixo da cabeça, olhos da mesma cor, alto, jovem, com um rosto perfeito, que parecia de um príncipe saindo diretamente de um conto de fadas!

– Bom dia turma! Eu me chamo N, e lecionarei biologia para vocês durante esse ano tão importante! – se apresentou sorrindo.

E que sorriso! Pude sentir o meu rosto esquentar. Minhas pernas ficaram trêmulas e o meu coração estava batendo rápido demais! Eu simplesmente nunca havia visto um cara tão lindo antes! Ok, eu sei que eu falei que o Cheren é lindo, mas esse cara tem tipo a beleza de uns 10 Cherens juntos!

A aula havia começado. O professor lindo e maravilhoso N, fazia algumas anotações no quadro enquanto explicava com a sua voz angelical que eram música para os meus ouvidos. Biologia poderia não ser música, mas a sua voz era. Eu obviamente não estava prestando atenção em nada do que ele dizia, e muito menos fazendo anotações. Os meus olhos azuis eram todos dele, eu só tinha atenção para o seu rosto lindo e toda aquela sua expressão encantadora e-

– Você aí, moça! Qual o seu nome? – a voz angelical estava se direcionando pra mim e todas as cabeças da turma também. Pronto, havia corado de vez e estava mais nervosa do que antes! Todos estavam prestigiando o meu momento de admiradora do professor.

– T-touko Wh-white! – balbuciei sem conseguir esconder as maçãs que estavam no meu rosto.

– Touko, hãn. – ele sorriu. SIM, ele sorriu! – Se você quiser acompanhar as minhas aulas eu sujiro que você faça anotações e que preste atenção no quadro e não em mim. Sabe... como dizer... a matéria está escrita nele e não no meu rosto. – sorriu um pouco nervoso e encabulado.

– Cl-claro! – respondi, sacudindo a cabeça pros lados tentando disfarçar a vermelhidão que me preenchia.

– Ótimo! – ele sorriu e continuou a aula.

Eu estava muito envergonhada, até mesmo a Bianca estava me encarando com um rosto malicioso. Depois dessa e eu só queria morrer! Fiquei até o final da aula tentando dividir a minha atenção entre o quadro e o seu rosto irresistível. Até que, o sinal de fim de aula soou, e eu fiquei livre daquela situação constrangedora.

Antes que o professor saísse da sala ou que a Bianca pudesse vir em cima de mim comentar alguma gracinha, decidi ir beber uma água no corredor. Me levantei, ainda vermelha, sentindo o olhar malicioso da Bianca me cutucando por trás. Decidi andar mais rápido para sair logo dali. Quando já havia saído da sala, e estava a poucos centímetros do bebedouro, ouço mais uma vez aquela voz angelical:

– Touko White! – foi o suficiente para me fazer tropeçar e-

Espera, eu não caí! Mas o qu-

Quando eu percebi o que estava acontecendo, a vermelhidão da qual eu estava tentando me livrar, voltou para mim, e dessa vez bem mais forte do que em qualquer momento dentro da sala de aula! O professor N havia me segurado, ele estava me abraçando por trás para que eu não caísse, pela segunda vez no mesmo dia, de cara no chão.

– Eu só queria... – ele sussurrava no meu ouvido – te devolver isso... – segurava a minha mão gentilmente na frente de seu rosto, e colocava o meu anel da sorte roubado pelo vento no meu dedo anelar. O meu rosto esquentou ainda mais.

– Ele é seu... não é? – perguntou, ficando de frente pra mim.

Apenas assenti com a cabeça, olhando para o eu rosto, deixando-o perceber a minha vergonha e ainda sem acreditar no que estava acontecendo.

– Ótimo! – ele apenas sorriu, fez um cafuné de leve na minha cabeça, se virou e subiu as escadas para o segundo andar.

Acho que eu acabava de receber um terceiro motivo para gostar da escola:

O professor de biologia.