Ela ajeitou-se o máximo que pôde. Passou a mão pelos cabelos para alinhá-los novamente, passou a mão pelo vestido para desfazer algum amassado e apagar qualquer evidência do que tinha acontecido. Mesmo que para seus amigos ela e Grissom fossem casados, sentia que o beijo trocado não fora correto.

Sara retornou depressa para o interior da casa com o rosto afogueado. Se permanecesse mais alguns minutos ao lado de Grissom, não seria responsável pelos seus atos.

Ela não estava preparada para o turbilhão de emoções que lhe assolara durante seu breve encontro com seu marido no jardim. Quando seus lábios se encostaram-se aos dela, pela segunda vez naquele dia, Sara sentiu seu corpo inteiro entrar em ebulição. Um calor delicioso e indecente tomou conta de cada poro. Desejou muito mais que um simples beijo – a união de suas bocas fora tão avassaladora que todas as suas reservas ruíram -, no entanto, afastou tal pensamento. Havia imposto uma condição para seguir com aquela farsa e a cumpriria independente das necessidades biológicas de seu corpo. Seria esposa de Grissom apenas no papel – fazer amor com ele estava fora de questão. Pelo menos era isso que ela pensava – e por apenas um ano. Estava resoluta disso. Não podia ceder. Já podia antever que aquele período seria um ano daqueles, entretanto, ela não sabia que realmente seria, que o destino lhe reservava grandes surpresas.

A ausência dos anfitriões da casa não passou despercebida por seus amigos e convidados. A saída à francesa por parte dos donos da casa foi motivo de sorrisos abafados e burburinhos por parte de seus companheiros de trabalho. Para a equipe de Grissom era evidente que o casal estava realmente apaixonado, pois eles não conseguiam sequer disfarçar que dependiam totalmente um do outro, como se precisa do ar para viver, que um queria estar onde o outro estivesse.

Após a volta do jardim, Sara sentou-se no canto do sofá maior, junto de Greg e permaneceu calada. Temia falar qualquer besteira se abrisse a boca. Grissom com um grande sorriso vitorioso no rosto, como se tivesse ganhado o maior prêmio de sua vida, permaneceu em pé, ao lado de sua esposa, por fim, anunciou o almoço.

— Muito bem pessoal, o almoço está pronto e servido.

— E qual é o delicioso cardápio que nos aguarda? – indagou Catherine para o amigo e virando-se para os demais comentou sobre as habilidades culinárias do anfitrião da casa.

—Para quem não sabe, Grissom é um excelente cozinheiro. Seu tempero é maravilho! Ele faz cada prato de dar água na boca! – comentou a perita loura.

— E quem garante que quem fez a comida foi o Grissom e não a Sara? Acho que a Sarinha deve ser boa na cozinha também – contrapôs Greg em defesa de sua amiga e grande amor de sua vida.

Catherine soltou uma sonora gargalhada.

— Se eu conheço bem o Grissom, como creio que o conheço, ele não deixou a sara nem chegar perto da cozinha. Ele tem verdadeiro ciúmes de sua cozinha. É sua parte preferida de toda a casa. Estou errada Grissom?

O supervisor - e dono da casa - permaneceu em silêncio. Era melhor não comentar.

— Vamos Grissom! Esclareça-nos essa imensa dúvida que nos surgiu... Quem fez esse grande almoço? – inquiriu Warrick divertido com o desconforto a que seu chefe fora submetido.

— Aliás, a comida está com um cheiro delicioso! – comentou Greg – Quando vamos comer? – ele perguntou curioso, sua barriga já roncava. - Estou morrendo de fome!

— Somente quando Grissom responder quem foi que fez esse almoço tão esperado – assegurou Catherine categoricamente.

Grissom suspirou em sinal de rendição. Por fim respondeu:

—Bem, quem fez o almoço fui eu.

Catherine já mostrava um olhar que dizia: “Eu não disse?”, quando Grissom completou:

— Mas tive a ajuda de minha querida esposa, claro! – Mentiu um pouco. Ninguém ali precisava saber que ele é quem tinha preparado a comida sozinho. Divertiu-se ao ver a expressão contrariada da amiga. Aquilo não tinha preço.

Ele pousou sua mão no ombro de Sara fazendo um afago suave. Tinha certeza de que ela o mataria por isso. Um arrepio percorreu a espinha de Sara ao sentir aquela doce carícia.

— Pergunta respondida! Agora vamos almoçar porque saco vazio não para em pé – anunciou Sara levantando-se rapidamente, a fim de fugir daquele afago que tanto lhe perturbava os sentidos. Retirou discretamente a mão de Grissom de seu ombro.

— Verdade! – concordou Nick – E você Grissom ainda nos deve a história de como foi o seu casamento com Sara – a morena corou e os demais convidados concordaram.

Seguiram para onde o almoço estava servido. Como não havia lugares suficientes à mesa, fizeram a refeição sentados no sofá na sala de estar. O momento transcorreu com muita tranquilidade, conversaram sobre amenidades. Teve até sobremesa feita pelas lindas mãos de Catherine.

Após terminarem a refeição e levarem a louça para a pia, voltaram para a sala de estar.

— O almoço estava muito bom. Muito delicioso mesmo. Parabéns chefinho! – elogiou Greg – Mas vamos ao que interessa: a história do casamento de vocês. Não aguento mais tanto suspense!

Naturalmente, Grissom não estava preparado psicologicamente para mentir para os seus amigos. Elaborar a história lhe custara muito. Doía-lhe o coração pensar que estava prestes a contar a maior mentira de sua vida para aqueles a quem amava tanto, ou seja, para seus companheiros de profissão, sua família de coração. Olhou para cada pessoa que ali estava e viu refletido em cada um deles a expectativa da narração do casamento.

Sara e ele já esperavam por isso, pela curiosidade de seus amigos. Era natural que eles quisessem saber como se dera a cerimônia. Haviam se preparado, principalmente Grissom – ele ficara responsável por narrar a história – durante alguns dias de elaborar o contexto em que se dera o matrimônio repentino.

— Muito bem – começou o supervisor e anfitrião da residência – para entender nosso relacionamento, vocês devem saber que eu já conhecia Sara muito antes de ela vir para Vegas – Grissom parou um pouco. Ao perceber que tinha a atenção toda para si, deu continuidade à história. Estava amando todo aquele suspense – A conheci quando fui dar uma série de palestras na Universidade em que ela estudava na Califórnia. Ela era a estudante de Física mais linda e inteligente que já conheci.

Sara corou ante a revelação de seu marido sobre o relacionamento deles anterior a sua vinda a Cidade do Pecado. Desconhecia algumas daquelas informações. É certo que ele não mencionara tudo o que acontecera entre eles e ela ficou imensamente agradecida por isso. Ninguém ali sabia o que havia acontecido naquela época. Sabiam apenas que ela e Grissom eram amigos, como ele fizera questão de dizer. Apenas ela própria e seu marido detinham aquela informação.

— Eu lembro muito bem de quando a Sara chegou aqui. Foi para investigar minha culpa na morte de Holly Gribbs. Ela era uma CSI novata naquele tempo... – comentou Warrick tristemente, recordando-se do episódio que há muito ficara no passado. Havia enterrado aquelas lembranças doloridas

— Hey, War! Não precisa ficar assim... Todos nós compreendemos o que aconteceu naquele dia. Você não foi o único culpado pela morte da Holly. Cada um de nós teve sua parcela de culpa. Com exceção da Sara, é claro! – consolou-o Cath, colocando a mão no ombro do amigo, afagando suavemente a estonteante pele masculina.

Percebendo o clima pesado que tomava conta do ambiente, Greg resolveu descontrair, sabendo que poderia ser punido pela brincadeira que faria:

— Para que essa enrolação toda chefinho? – Grissom o olhou de canto de olho, no entanto não ralhara com ele. Ufa! Ele suspirou aliviado – Conte-nos logo como foi o seu casamento com a Sara... – ele rogou.

— Muito bem... Atendendo aos pedidos – Grisssom brincou para continuar a descontração, pois Warrick ainda permanecia triste – Como eu já era apaixonado pela Sara...

Todos arregalaram os olhos. Como assim ele já era apaixonado pela Sara? Todos se perguntavam.

— Não me olhem assim! Sempre fui apaixonado por essa mulher maravilhosa que agora tenho a felicidade de ser minha esposa. Como eu ia dizendo, como eu já era apaixonado pela Sara, no dia da nossa saída para a boate, a pedi em casamento. Como não conseguiria esperar e planejar tudo durante meses, sugeri que nos casássemos numa capela próxima dali. Queria o quanto antes ficar ao lado do meu amor para sempre.

Grissom conseguiu arrancar suspiros de todos os presentes.

— Mas por que o segredo? – indagou Nick – Ainda não consigo entender.

— Vocês sabem que o relacionamento entre supervisor e subordinada é proibido pelas leis do laboratório. Tive medo de que o Ecklie descobrisse e pusesse tudo a perder. Satisfeitos?

— Sim, estamos satisfeitos. Mas falta uma coisinha... – comentou Greg e lançando um olhar provocativo para seus companheiros, puxou um coro que pedia:

— Beija! Beija! Beija!

Grissom lançou um olhar para Sara que dizia: Eu não tenho culpa. Aproximou-se dela, com uma mão envolveu-lhe o pescoço e com a outra envolveu a cintura de Sara puxando-a para si. Sua boca se apossou dos lábios de Sara com vontade. Aquele beijo era o que mais queria. Agradeceu mentalmente seus amigos por aquele pedido.

–o-

O último convidado deixou a casa totalmente satisfeito com aquele almoço e com a narrativa do casamento. Fora extremamente gratificante, apesar de cansativo, aquela reunião. Sara sentia-se de alma lavada.

— Bem, como o último convidado já foi, vou para meu quarto para descansar um pouco antes do nosso turno começar.

Antes que ela pudesse se ausentar, Grissom segurou-lhe o braço com mais força do que pretendia, puxou-a para si e sussurrou ao seu ouvido:

— Você pode negar, minha querida, mas seu corpo diz o contrário. Você me quer tanto quanto eu te quero, Sara. Ainda hoje realizarei os desejos de nossos corpos. Eu me unirei a você. Isso é uma promessa! – ele disse com um tom de voz que revelava seus desejos sexuais.

Ele a soltou e ela correu em direção ao seu quarto.