Eu não pedi para me mudar. Muito menos para uma cidadezinha no meio do nada em que todo mundo conhece todo mundo. Villa Doce parece ser aquele tipo de cidade em que a pessoa dá um suspiro e todos já ficam sabendo. Particularmente, gosto de morar em cidades grandes, com o barulho dos carros, shoppings, trânsito e restaurantes dos mais variados tipos.

Mas agora isso, infelizmente, ficou no passado, neste exato momento, estou parada na frente de um prédio de no máximo quinze andares, que por sinal parece ser um dos mais altos dessa cidadezinha, carregando três malas e uma bolsa. Cadê o porteiro quando a gente precisa?

Antes de continuar a contar o meu drama com as malas... vou explicar como vim parar aqui. Meu nome é Katherine Dias, sou filha de um rico empresário francês e minha mãe é uma atriz muito famosa, então cresci rodeada de fama e mimos, mas por conta dos meus altos gastos em compras de roupas e eletrônicos, tive que deixar meus amigos, minha fama, família e uma enorme mansão, para trás. Pois de acordo com os meus pais, está na hora de crescer e entender que o mundo não é um filme em que você simplesmente tem tudo e todos aos seus pés. Então, eles decidiram que seria uma ótima experiência passar o ano letivo morando com o sobrinho do amigo do meu pai do outro lado do país, onda vou receber uma mesada que não compra nem um look completo da Channel. Depois de quatro horas de um voo extremamente cansativo e uma grande dificuldade de arranjar um táxi, cheguei ao meu destino às sete e meia da manhã.

Voltando ao meu conflito com as malas, tive que subir aqueles degraus da frente do prédio carregando uma mala por vez, detalhe: sinto que quase quebrei a coluna, peguei o elevador e até o andar 14º, onde uma nova vida me esperava.

— Apartamento 141, aqui vamos nós - pensei.

Toquei a campainha e... Nada. Toquei de novo e de novo... Até que finalmente ouço o trinco da porta abrir. Naquele momento, pensei que estivesse vendo um anjo, parado na minha frente estava um garoto de aproximadamente 1,80 de altura, com cabelos platinados, olhos com heterocromia e um sorriso encantador. Alguém me segure, porque acho que vou desmaiar!

—Eeer.... Oi , tudo bem? Sou a Katherine, a sua nova colega de apartamento, devem ter avisado que eu vinha, certo? - eu disse.

Ele continuava me fitando com aqueles olhos hipnotizantes, com uma cara de que não sabia o que estava acontecendo, até que por fim, disse:

—Ah, não me lembrava que a senhorita viria hoje, é um prazer, meu nome é Lysandre.- com isso ele beijou a minha mão.

Senti que o meu rosto estava pegando fogo, fiquei totalmente sem fala, nunca um garoto tinha me tratado de maneira tão... educada.

Ele abriu passagem para eu entrar e pegou as minhas malas. Como eu ainda estava meio atordoada por conta do beijo não consegui reparar muito no apartamento, mas pelo que eu observei, havia uma sala de televisão, separada apenas por um balcão de granito da cozinha. Logo em seguida, Lysandre me guiou até um corredor com quatro portas, que ele disse que eram a lavanderia, os nossos quartos e um estúdio.

O meu quarto era básico, porém aconchegante, tinha uma cama de casal com lençóis cor de creme, um tapete felpudo, criado mudo, TV na parede de frente para a cama, janelas que encobriam do teto ao chão de uma parede com cortinas brancas, além de um armário com portas de vidro fosco e uma outra porta que levava ao banheiro.

—Vou me arrumar para encontrar alguns amigos, vou deixá-la a sós para se acomodar. - a voz melodiosa era calma e suave.

Agradeci e tranquei a porta, corri até a cama me jogando sobre ela, algo me diz que este ano será fantástico!