A Bella e o Monstro escrita por Leprechaun


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Bem, tentei adicionar uma dose cômica ao drama, algo que suavizasse a historia, que lhes tirasse uma boa gargalhada, mas o resultado foi definitivamente lastimante. Eis aqui o desfecho de minha fatídica tentativa de usar o humor:



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Não sei dizer quanto tempo fiquei olhando para o chão da carruagem, mas lentamente, através da névoa do meu desespero, tive consciência de que aquele caminho era longo demais para a curta distância até a Mansão Pattinson. Erguendo a cabeça, olhei pela janela, vendo terra cinza e pedras irregulares, além dos carvalhos muito altos, permeados por arbustos finos e secos. Percebi que nós percorríamos a estrada que atravessava a floresta, embora o destino daquela viagem permanecesse um mistério.

Percebi que Cullen também olhava para fora, e comecei a pensar o que ele encontrava de tão fascinante naquela estéril paisagem. O veículo balançava na estrada irregular, e o frio úmido do lado de fora se fazia sentir na carruagem. No canto do banco de veludo, peguei as minhas luvas brancas de lã e as calcei.

— Desculpe-me — sussurrei, envolvendo-me com os braços, tentando superar a onda de pânico que ameaçava minha compostura diante do uivo distante dos lobos e dos ruídos do veículo.

Cullen dirigiu sua atenção a mim, aqueles fascinantes olhos brilhando na luz difusa. Fiquei tensa, mas venci o temor e perguntei:

— Para onde vamos?

Esperei ansiosamente pela resposta, atormentada por a variedade das possibilidades. Concordei com aquele esquema com muita rapidez, aceitei ser uma escrava na Mansão Pattinson. Trabalharia na lavanderia, na copa, na cozinha. Nunca tive medo de trabalho pesado. Mas, à medida que a carruagem se afastava da cidade, percebi, horrorizada, que ele podia fazer comigo o que quisesse, pois não havia ninguém para impedi-lo. A estrada era isolada e agora eu era propriedade dele por direito legal. Quase desfalecendo de medo, tornei a perguntar:

— O senhor vai me embarcar em um navio para as colônias?

Ele apertou os olhos e ergueu um pouco a cabeça.

— Você não tem razão para... — Parou de repente. — Está com fome? Frio?

Pisquei, perplexa. A última coisa que esperava dele era preocupação com meu conforto. Seguindo meu instinto, meneei a cabeça e me calei.

Ele não tinha respondido às minhas perguntas, nem deu nenhuma indicação do meu destino. A omissão era sinistra e, de certa forma, aquela ameaça me deu forças para seguir em frente.

— Sim — eu disse, erguendo o queixo. — Estou com fome e com frio. — Fiz uma pequena pausa. — E... com medo.

Por um instante, Edward pareceu surpreso diante da minha honestidade, e arregalou os olhos, antes de declarar:

— Você teve um dia agitado.

A absurda observação me faria rir se eu não precisasse manter a compostura. Em um único dia, tomei consciência sobre minha situação de penúria, vi uma mulher morta ser retirada do mar, fui afastada do meu pai e de qualquer ilusão de segurança que ele pudesse me oferecer. Realmente, tive um dia agitado.

Baixando os olhos para as mãos enluvadas, pensei se teria coragem de perguntar por que ele odiava tanto meu pai, por que fez aquela maldade contra minha família? Porém, pressionando as mãos sobre as coxas, preferi ficar calada. Seria tolice me arriscar. Ele não foi rude comigo até aquele momento.

De repente, a natureza irracional dos meus pensamentos me alarmou. Ele não foi rude? Ele tinha me arrancado da minha casa e de tudo que me era familiar. O que seria isso, a não ser rudeza? Todas as suas boas intenções evaporaram, fazendo-me verbalizar a infelicidade e a revolta que me dominavam.

— O senhor é mau. Um monstro cruel — murmurei. — Nós poderíamos pagá-lo se nos desse tempo, mas escolheu esse modo rancoroso de agir. — A cada palavra, adquiri mais coragem e continuei a falar: — Quando o vi pela primeira vez, pensei que fosse um príncipe...

— Não sou um príncipe — ele me interrompeu. Respirei fundo, impressionada com a frieza de seu olhar.

— Por quê? — perguntei, com voz trêmula. — Por que fez isso?

Recostando-se no banco, Edward me estudou atentamente, como se tentasse memorizar até o menor dos detalhes. Prendi a respiração quando ele se inclinou e pegou uma mecha do meu cabelo, o enrolando ao redor do dedo. Com o coração disparado, afastei-me, mortificada com o arrepio que percorreu meu corpo com aquele contato.

— Por que eu fiz isso? — Ele apertou os lábios. — Vingança — declarou. — Seu sofrimento é uma consequência lamentável.

— Vingança contra quem? Qual é o erro que imagina ter sido cometido?

— Acredito que nada que eu possa imaginar vai se aproximar do que foi, de fato, feito contra mim.

Temi a ameaça contida naquele tom de voz, lembrando-me, de repente, da mulher afogada. Estremeci, convencida de que aquele homem podia usar qualquer recurso contra mim, mas continuei questionando.

— Pretende me largar na floreta para que eu seja tragada pelos lobos sem deixar nenhum vestígio? Essa é a sua vingança?

— Trouxe você a Hoh Rain porque tenho negócios a tratar por aqui. — Ele me endereçou um olhar divertido que me fez lembrar da primeira vez que o vi.

O monstro tem muitos disfarces, pensei.

Edward meneou a cabeça e inclinou-se para pegar uma grande cesta quase escondida em um canto escuro da carruagem. Eu não a tinha visto e me surpreendi quando ele pegou um cobertor, dobrou-o com cuidado e o colocou sobre minhas pernas.

Nossos olhares se encontraram e eu gelei, o coração disparado quando ele tocou meu rosto com a mão. Medo, pensei, o coração estava acelerado por causa do medo. Porém, isso não me convenceu. Uma parte de mim queria pegar na mão dele e tocá-lo como ele estava me tocando. Loucura. Eu estava dominada pela loucura.

— Você diz que está com frio, fome e medo. O cobertor a ajudará com o primeiro. — Enfiou a mão na cesta e de lá tirou uma torta, e a entregou a mim. — Isto a ajudará com o segundo. Quanto ao terceiro... — Deu de ombros.

Tive vontade de dizer o que ele deveria fazer com aquilo, mas o bom senso me impediu. Eu tinha muita fome e o aroma da comida fez meu estômago roncar. Seria melhor aceitar o que ele me oferecia, pois eu não sabia quando iria comer novamente. Mordi a pequena torta, fechando os olhos ao sentir o gosto de carne e batatas. Deliciosa.

Com a cabeça abaixada, terminei a torta com mordidas pequenas, estudando meu companheiro de viagem com olhares de soslaio.

Ele tinha voltado o rosto para a janela, sem pegar nada para comer. Engolindo o último pedaço, limpei as migalhas e reuni coragem para continuar perguntando:

— Por que não me levou à Mansão Pattinson para que eu começasse a cumprir minhas tarefas antes de... dos seus negócios?

Por um longo momento, pensei que ele não fosse responder e, quando finalmente ele fez, seu tom de voz era áspero.

— Você queria enviar um sinal para acalmar as preocupações do seu pai. Se é que ele é capaz de ficar preocupado.

— Como o senhor sabia disso? Eu falei no ouvido dele. — Chocada, tive vontade de defender meu pai, mas achei melhor não fazê-lo. — Então, o senhor me trouxe junto para me impedir de avisá-lo que estou bem? Deseja que ele sofra por não saber se estou em segurança?

— Sim.

— E o sofrimento dele o fará feliz? Trará paz ao senhor? — sussurrei.

Sim, eu tinha ido longe demais. Percebi pela tensão nos ombros e pela contração da mandíbula dele. Encolhi-me no banco, com receio da minha própria audácia. Normalmente, eu era uma moça prudente, sempre atenta às consequências de atos e palavras. A vida e os anos servindo cerveja a homens de olhar turvo, punhos pesados e mau humor tinham-me treinado a agir daquela maneira. E ali, perto daquele monstro disfarçado de homem, eu agia impensadamente.

— Paz? Sim. — Ele sorriu friamente, sem alegria. — O sofrimento dele me trará paz. É minha única esperança de paz.

— O que... — lutei para manter o equilíbrio. Ele falava de paz, ainda que não tivesse coração nem sentimentos.

Ele era um homem que eu deveria odiar. Um homem que pôs um cobertor sobre minhas pernas e me alimentou.

— Que tipo de homem é o senhor? —sussurrei, passando a palma da mão no lado da face que ele havia tocado, eu estava quase convencida de que ele não era mortal, mas um demônio enviado para me atormentar e tentar-me.

Vi algo brilhar nas profundezas dos olhos de Edward, e achei que poderia ser arrependimento.

— Sou seu patrão — respondeu.

— Meu senhor — eu o corrigi suavemente, incapaz de evitar que o rancor transparecesse. — Um empregado pode escolher partir. Um escravo, não.

Ele emitiu um som de impaciência, mas não me contradisse. Em vez disso, ajeitou o cobertor em minhas pernas e, mais uma vez, virou-se para a janela, observando a paisagem desoladora.

Minhas emoções eram desencontradas. Temia e detestava Edward Cullen. Ele ultrapassava os limites e, naquele instante, eu o odiei tanto por sua gentileza quanto por sua crueldade.

♥♥♥

—Isabella, acorde. Chegamos.

Abri os olhos e lentamente, tomei consciência do ambiente, do barulho da chuva no teto da carruagem e da escuridão da noite. Virando a cabeça, vi Edward de pé, do lado de fora, a chuva escorrendo sobre o rico tecido de seu casaco. Tive o estranho impulso de fazê-lo voltar para dentro, onde estava seco.

— Onde estamos? — sussurrei, afastando uma mecha de cabelo com as costas da mão.

— Espere por mim — ele disse, ignorando minha pergunta. — Não saia da carruagem até que eu volte. Jasper, meu cocheiro, está aqui. Se precisar de alguma coisa, chame por ele.

Ainda sonolenta, abri a boca para fazer outras perguntas, mas ele fechou a porta, deixando-me na escuridão. Me inclinando para frente, ergui a cortina que cobria a janela da carruagem. Mesmo sob a chuva, pude ver a forma de uma grande construção, com luzes acesas nos dois andares. A imagem me era vagamente familiar e achei que se tratava da Hospedaria Ephraim, em Neah Bay, onde estive uma vez com meu pai.

Suspirei e ajeitei a capa sobre os ombros. Logo, porém, comecei a ficar desconfortável, sentindo o chamado da natureza. Havíamos viajado um longo tempo, e o barulho da chuva definitivamente não ajudava. Me controlei o máximo possível, mas, por fim, abri a porta da carruagem.

— Sr. Cullen — chamei, inquieta. Sem obter resposta, desci com cuidado da carruagem, sentindo a perna rija e dolorida após tantas horas de viagem. — Sr. Cullen? Sr. Jasper?

Mancando, os procurei, mas não vi sinal deles. A chuva me molhava por inteiro e eu piscava freneticamente para tentar enxergar alguma coisa. De costas para a carruagem, vi uma grande carroça entre mim e a porta da hospedaria. Olhei de novo ao redor, mas estava sozinha.

— Sr. Jasper? — gritei. Dei um passo na direção da hospedaria, as solas dos meus sapatos estavam escorregadias sobre as pedras molhadas.

Ao chegar perto da carroça, parei para descansar a perna. Apesar do carregamento contido nela estar coberto por um grosso tecido, pude ver claramente o contorno dos barris. Tive a nítida sensação de que não estava segura ali e virei para me afastar. A perna dolorida fraquejou, fazendo-me escorregar e, cegamente, tentei me agarrar a alguma coisa para evitar a queda. Minhas mãos encontraram o tecido que cobria a carga, afastando-o e revelando os diversos barris de madeira.

Inquieta, tentei arrumá-lo como estava. Senti um aperto na garganta ao pensar que aquilo era mercadoria contrabandeada. De repente, senti meu pulso ser agarrado por uma horrenda mão forte, e gritei, em pânico, enquanto tentava me desvencilhar daquela pessoa cuja respiração eu podia sentir no meu rosto.

— Temos um espião, Laurent.

— É. Parece que sim, James.

— Não! — gritei, ainda tentando me livrar do seu aperto.

Lembrei, aterrorizada, de outro momento, em que um homem me tinha agarrado bruscamente com intenções violentas. Aterrorizada, tentei me soltar, e virei-me para olhar meu captor. Era de estatura média, peito largo e cabelos descoloridos quase brancos. Mostrava os dentes enquanto continuava a agarrar meu pulso, puxando-me de modo que minhas costas se encostassem em seu peito. Passou um dos braços ao redor do meu pescoço.

— Sabe o que acontece a espiões, garota?

— Por favor — consegui murmurar. — Não sou espiã.

Continuei me debatendo enquanto procurava por Jasper. Quando o segundo homem, Laurent, deu um passo adiante e puxou meus cabelos, senti meus olhos se encherem de lágrimas, mas não parei de lutar, e consegui atingir com o cotovelo a barriga de James, que gemeu de dor.

— Vamos nos divertir um pouco com ela, não?

De novo. Estava acontecendo de novo. Horríveis memórias do passado me atingiram, até que as únicas coisas que eu pudesse sentir fosse o medo, o horror e a sensação daquelas mãos grosseiras me agarrando. Dei outra cotovelada, com mais força, na barriga do homem, e a pressão sobre minha garganta diminuiu. Quase me libertei, mas ele me agarrou de novo.

—Edward! — gritei, aterrorizada, chutando e me debatendo. —Edward Cullen!

Ao ouvir meu grito, James ficou tenso.

— Cale a boca. Pare de chamá-lo — ele rosnou. — Cale essa boca.

Passando um braço ao redor da minha cintura, ele me carregou para trás da carroça.

— Largue a moça.

Pensei que fosse chorar de alegria ao ouvir a voz de Edward Cullen. Ele voltou, voltou pra mim.

James largou meu pescoço, mas manteve o braço ao redor da minha cintura. Acima das batidas do meu coração, ouvi o distinto som de uma pistola sendo armada. Erguendo os olhos, vi Edward, com o rosto duro feito pedra, empunhando a arma contra o homem, olhando-o fixamente.

—James... Ela vale a sua vida?

O braço ao redor da minha cintura desapareceu, fazendo com que eu caísse contra a carroça. Ele chamou o homem pelo nome. James. Colocando a mão sobre a garganta, engoli em seco, pensando no que significaria aquela familiaridade. Com dois grandes passos, Edward foi até mim e me puxou de encontro ao seu peito.

— O que é meu, eu protejo — ele disse. — Essa garota é minha e apenas minha. Espalhem isso, rapazes. O homem que à tocar morrerá.

Eu sabia que aquelas palavras de posse e ameaça deveriam me causar vergonha, horror e repulsa. Em vez disso, trouxeram-me consolo, o que me deixou estupefata. Ouvi os dois homens se afastando, mas não olhei. Não queria afastar a cabeça do peito dele, nem largar seu casaco, que eu apertava entre os dedos.

Edward ergueu meu queixo até que eu o encarasse. Os olhos brilhavam na escuridão.

— Você não esperou na carruagem — comentou, sem emoção.

— Eu tinha que... a viagem foi tão longa... eu precisava... — balbuciei constrangida.

Confuso, ele franziu as sobrancelhas para, logo em seguida, erguê-las, quando finalmente compreendeu. Envergonhada, virei o rosto.

— Desculpe-me — ele disse com suavidade.

Pegou-me no colo e venceu, com passadas largas, a distância que nós separava da porta da hospedaria. O vento que soprava forte e a chuva encobriram meu grito de surpresa.

Momentos mais tarde, parada no meio de um quarto no andar de cima, eu olhava para a porta fechada. Edward Cullen me pediu desculpas. Depois de perceber minha necessidade de privacidade, ele me carregou no colo até aquele quarto.

Pondo-me de pé, tinha fechado a porta com firmeza, deixando-me sozinha.

Ele era um enigma. Que tipo de homem era aquele que obrigava uma mulher a fazer escolhas terríveis, deixar seu lar, dedicar sete anos de sua vida a ele e pedia desculpas por não ter percebido suas necessidades? Eu era menos que uma empregada, um pouco mais do que uma escrava. Ainda assim, ele se desculpou. As atitudes de Edward me faziam oscilar entre emoções extremas: medo, constrangimento, e... gratidão.

Maneei a cabeça diante dos meus pensamentos, olhei ao redor. O quarto era limpo, simples, com uma cama de tamanho decente, duas cadeiras e uma mesa perto da janela. Sobre a mesa, havia uma lamparina, cuja chama projetava sombras nas paredes. Uma pequena lareira acesa aquecia o ambiente. Em um dos cantos havia um lavatório, ao lado de um biombo atrás do qual estava o urinol. Após usá-lo, lavei as mãos e o rosto.

De repente, comecei a ficar ansiosa. O que teria acontecido se Edward não tivesse escutado meu grito? Gelei, e coloquei uma das mãos no pescoço. Provavelmente estaria morta. Talvez estrangulada, mas não antes que eles...

Uma batida suave na porta interrompeu meus pensamentos.

— Quem é? — perguntei.

— Jasper, senhorita.

Aliviada, abri a porta. Um tanto desajeitado, Jasper estava parado no corredor, segurando minha mala. Ele me olhou de um modo tímido que me fez sorrir.

— Desculpe-me por tê-la deixado sozinha, senhorita. Precisava aliviar minhas necessidades e me esqueci que a senhorita também podia estar precisando fazer o mesmo. Milorde ficou furioso e não posso culpá-lo.

— Oh, não aconteceu nada, sr. Jasper— respondi, afastando da memória o que poderia ter acontecido. Mordi o lábio. Era óbvio que ele tinha sido repreendido.

— Quase aconteceu uma desgraça. Eu deveria ter sido mais esperto.

— Espero que o senhor não tenha sido maltratado.

Jasper me observava, curioso e eu percebi, de repente, que, apesar de ser grande, era muito jovem.

— Milorde me trata com justiça — ele disse, defensivamente.

— Fico feliz por isso — respondi, atônita por perceber que eu estava sendo sincera.

Sim, estava convencida de que Edward Cullen tratava o garoto com justiça. Aquele conceito era inquietante, pois eu não queria pensar nele como um homem bom, justo e gentil. Não queria pensar nele de jeito nenhum, mas, quanto mais me esforçava, mais ele dominava meus pensamentos.

— Por que o chama de milorde? — perguntei, depois de alguns momentos.

— Ele tem nosso respeito, e por outras razões — Jasper disse, entregando-me a maleta. Depois da resposta evasiva, ele se afastou. No meio do corredor, virou-se para trás.

— Tranque a porta. Não deve se arriscar.

Confusa, coloquei a maleta no chão e girei a chave na fechadura. Ao ouvir o relinchar de um cavalo, caminhei até a janela e afastei a cortina com cuidado. No começo, vi apenas o reflexo do meu rosto no vidro, mas depois de um momento, pude ver o pátio iluminado pelas luzes que saíam das janelas da hospedaria. Notei que a chuva havia cessado. Fechei a cortina e apaguei a lamparina, deixando o quarto iluminado apenas pelo fogo da lareira.

Voltei à janela. Agora, a visão era mais nítida e eu vi três grandes carroças, cada uma com um par de cavalos, além daquela que eu tinha visto pouco tempo antes. Homens saíam da hospedaria, e se apressavam em esvaziar uma das carroças, levando a carga para dentro. A seguir, transferiram o conteúdo de outra carroça para aquela que tinha sido esvaziada.

Continuei observando. Eles eram como formigas operárias. O que eu presenciava ali não eram alguns homens locais tentando ganhar um dinheiro extra com um contrabando ocasional. Aquilo era contrabando em larga escala, uma operação planejada de rotas e passagens, com a Hospedaria Ephraim como centro. Era um comércio muito maior e sinistro.


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Notas finais do capítulo

imagem: http://nylfn.deviantart.com/