A Bella e o Monstro escrita por Leprechaun


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é dedicado a todos (ou todas, né? Tenho mais leitoras do gênero feminino que do masculino kkk) que desejavam desesperadamente a confirmação do amor de Edward por Bella. Bom, não é bem a declaração romântica, chorosa e piegas que certamente passou pela cabeça de vocês, mas tenho que lembra-las que Edward é um homem marcado, frio, que, como ele mesmo diz, tem um coração tão negro quanto carvão.
Ser capaz de “amar” algo, mesmo que da sua maneira, e amar de qualquer jeito. O amor, não apaga as magoas do passado, apenas faz com que estas sejam mais fáceis de suportar. Lembrem-se disso, quando lerem esse capítulo. :)
Espero que gostem!



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Uma pequena parte de mim desejava proteger meu pai, salvá-lo. Porém, entendia que ele fizera escolhas anos atrás, escolhas pelas quais teria que pagar em algum momento. Papai causara a tragédia na vida de Edward e, quem sabe, na de tantas outras pessoas. Agora sabia. Era uma coisa terrível para uma filha reconhecer, algo que poderia destruir-me, se eu permitisse.

A maior parte de mim desejava salvar Edward dele mesmo, de suas sombras e tormentos. Tinha certeza de que não importava o que ele fizesse, nada traria de volta os anos perdidos, nem clarearia o rio turvo de sua tristeza, nem limparia as manchas do sangue derramado.

Edward achava que a vingança o curaria. Eu sabia que a vingança roubaria sua humanidade e o deixaria como uma casca vazia.

— Como? — perguntei. — Como fará isso?

— Os barris serão deixados onde possam ser encontrados, na hospedaria. Cobradores de impostos junto com o xerife Billy Black foram chamados. Talvez já estejam a caminho.

— Eles encontrarão os barris e os usarão como prova. — estremeci. — Meu pai será condenado por um crime que não cometeu?

— Isabella, ele cometeu esse crime e piores. — Edward me estudou por um longo momento. — Talvez não dessa vez, com esses barris, mas seu pai é um destruidor de navios, um assassino. — Edward suspirou. — Ele roubou minha vida. A vida da minha mãe e do meu pai. Ele me condenou ao inferno pelo crime de ter sobrevivido ao naufrágio que matou minha mãe. Eu verei Charlie viver o mesmo pesadelo. Uma justiça adequada, não é?

Adequada demais. Perfeita demais. Meneei a cabeça.

— Isso não lhe trará nem paz e nem alegria.

— Isso me dará paz, Isabella.

— Não, Edward. Você está enganado.

— Quer me convencer de que seu pai não merece punição? — perguntou, ríspido.

— Não é isso. Eu esperava que pudesse...

— Pudesse o quê, Bella? — O olhar dele me queimava, enxergando meu coração, desnudando minha alma.

Entreabri os lábios, e me perdi nos lindos olhos.

— Pudesse o quê? — ele perguntou de novo, mais suave, mais gentil.

Senti uma enorme pressão no peito. Minha garganta doía e eu retinha as lágrimas. Meu coração batia com força e rapidez, deixando-me tonta e sem ar. Sentindo-me como se estivesse caindo de um precipício, abri a boca, e deixei as palavras escaparem, orando para que o atingissem.

— Esperei que pudesse fazê-lo me amar — declarei, desafiante, desesperada.

Edward arregalou os olhos, e eu desvie o rosto. Sim, eu sabia, ele iria me rejeitar. Pegando o meu queixo entre os dedos, ele me fez fitá-lo.

— Eu pensei que pudesse fazê-lo me amar — repeti, dessa vez com tristeza.

O toque de Edward em meu rosto era delicado, e percebi que eu chorava.

— Eu amo você, Bella.

Eu gostaria de saber por que aquela declaração me trazia tanta dor. Soube, assim que ele prosseguiu:

— Eu amo o máximo que sou capaz. Mas não posso renunciar a minha vingança. Eu a avisei. Sou um homem de resolução firme. Não posso trair os objetivos de mais de uma década. Não posso esquecer os votos feitos com sangue.

Ele me amava, mas aquele amor não era suficiente para dar-lhe paz, não era suficiente para libertá-lo das correntes do ódio.

— Há uma diferença entre não poder e não querer — sussurrei.

— Sim. Não quero, então. — Ele acariciou-me no rosto com o polegar. — Isabella, meu amor, sinto muito pela sua dor, mas não tenho arrependimento pelo que farei. Precisa saber disso.

Eu sabia. Sem dizer nada, apenas olhei para ele. Edward suspirou. Beijou os meus lábios, mas não fui capaz de corresponder, e se foi, deixando-me ali, emocionalmente em frangalhos.

Sentia-me como se tivesse caído no oceano e afundado nas profundezas geladas e escuras. Edward me amava, uma maravilha, um presente, porém marcado pela escuridão.

Ele me amava, tanto quanto era capaz. Mas não o suficiente para salvá-lo.

Eu não esperava por isso. Na minha imaginação, nunca considerei o fato de que, mesmo que me amasse, ele procuraria vingança. Agora, reconhecia minha arrogância, ou talvez ingenuidade. No final, era a mesma coisa, e eu estava cansada e decepcionada. Arrastei os pés pelo corredor escuro e úmido e voltei à biblioteca.

Não me surpreendi ao ver Jasper esperando por mim. Hesitei diante do silêncio cauteloso do rapaz. Nunca consegui entender por que ele estava na casa de Esme naquele dia.

— Por que não está com Edward? — perguntei.

— Ele me enviou para ficar com a senhorita.

— Meu carcereiro? — indaguei, para logo em seguida suspirar diante da grosseria. — Desculpe-me. Foi indelicado da minha parte.

— Não, não. Eu entendo.

— Sabe o que ele está prestes a fazer?

— Sim.

— Isso o destruirá.

— Seu pai?

Meneei a cabeça.

— Edward. Ele não encontrará paz. E então o que lhe restará? O quê? Não terá ninguém para odiar, ninguém para culpar. Haverá apenas veneno no seu coração, sem libertação.

Jasper pareceu assombrado. Depois de um longo momento, eu o fitei de novo.

— Então, ele quer que você me observe?

— Sim. — Jasper esboçou um sorriso. — Para que a senhorita fique a salvo, embora eu já tenha falhado, lembra-se?

— Que perigo Edward achou que eu corria na casa da minha prima?

Jasper me olhou, visivelmente confuso.

— Você estava me protegendo na hospedaria e na estrada, mas o que estava fazendo na casa da minha prima Esme? Não... — Ergui a palma da mão quando, pelo olhar dele, percebi que mentiria. — Pelo menos me conceda a cortesia da verdade.

Ele apertou os lábios e desviou os olhos por uma fração de segundo.

— O cap... quero dizer, o sr. Cullen estava trabalhando com o xerife Billy Black por causa dos destruidores de navios. Milorde não tolera aquilo. Querem expulsá-los.

Meneei a cabeça, mas não disse nada.

— Fui enviado à casa de sua prima para procurar alguma coisa que levasse ao naufrágio do Soleil de Minuit (1), ocorrido cerca de um mês atrás, em uma noite clara e de mar calmo. O xerife Billy sabia que o navio carregava caixas de moedas de ouro, blocos de folha-de-flandres, café, açúcar. Nada chegou à praia. Apenas uma caixa de livros, a identificação do capitão, e outras coisas sem valor. Foi como se alguém houvesse pegado as melhores cargas. O xerife achou aquilo muito estranho e milorde concordou.

— E o que isso tem a ver com a minha prima Esme? Não está pressupondo que ela seja uma destruidora de navios.

O Soleil de Minuit tinha passageiros também. Alguns deles traziam mercadorias. Roupas. — Fez uma pausa. — Fina porcelana.

Engoli em seco, a imagem da louça de Esme na mente.

— Veja, nada chegou à praia a não ser o que já mencionei à senhorita e o corpo de garota Rosalie.

Então Rosalie observara Emmett destruir um navio. Morrera pelo que tinha testemunhado e, baseado no que Emmett dissera, por sua aversão por ele. Cruzando os braços sobre o peito, senti minha inquietação crescer.

— Edward estava no recife naquela manhã quando Jacob e Riley a encontraram.

— Eu estava com ele. Chegamos tarde demais. Esperávamos achá-la com vida.

— Esme não tem parte no que você acaba de me dizer. Seguramente vocês sabem se tratar de Emmett McCarty. Não vejo conexão com minha prima. O que imaginou encontrar na casa de Esme?

— Não é Esme, mas alguém que lhe envia migalhas de vez em quando.

Encarei Jasper, assustada. Sabia quem ajudava Esme, quem lhe dava dinheiro extra e pequenos presentes. Presentes como pratos e xícaras de porcelana floridos, que combinavam perfeitamente com a louça de Gianna McCarty.

— Não... — gemi. — Não.

— Milorde suspeita que seu pai lidera os destruidores de navios. — Jasper desviou o olhar.

Meu pai, um destruidor de navios. Uma coisa era saber que ele fizera coisas terríveis no passado, outra era saber que continuava a agir criminosamente. O que eu tinha imaginado? Que as ações dele estavam enterradas antes de ele conhecer minha mãe? Que seus crimes estavam limitados a um passado distante?

De repente, me lembrei da história de Edward, a que incriminava meu pai por ações horríveis. Lembrei-me também da noite em que estavam na praia observando o navio naufragando. Lembrei-me das roupas secas de papai e da luz que eu vira ao norte, como também da carroça.

Meu pai estaria naquela carroça? Ele acendera a luz para atrair o navio para a destruição?

Céus! Eu tinha suspeitado de Edward e agora sabia que aqueles horrores haviam sido cometidos por meu pai.

— Vou para Forks agora mesmo — declarei com firmeza. — A Hospedaria Swan.

Jasper deu um passo à frente na intenção de impedir-me.

— Pode me acompanhar ou permanecer aqui, mas não me impedirá.

— É tarde demais — ele resmungou. — A ação já deve ter sido perpetrada. Os barris já devem estar no lugar para serem descobertos. Talvez seu pai já tenha sido preso.

— Verei com meus próprios olhos.

Mancando, peguei minha capa, joguei-a sobre os ombros e fui procurar Jasper, que já esperava por mim em um pequeno coche aberto, de duas rodas, atrelado a um cavalo cinza. Subi e partimos.


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Notas finais do capítulo

Ai.. ai...
(1) "Soleil de Minuit" é "Sol da Meia-noite" em francês. Nome interessante para um navio, não acham?
Gente, a historia está acabando :(. Teremos, no máximo, mais quatro ou cinco capítulos. Desde já, gostaria de agradecer o carinho de todos você... Até o próximo.