A Razão do Rei escrita por Andy


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

E aqui estamos com o terceiro capítulo da fanfic! É uma pena que o Nyah! tenha saído do ar logo um dia depois de eu ter postado o segundo... Muito gente acabou não lendo, e acho que foi por causa disso. Triste. Eu ia esperar uma semana a mais antes de postar este, mas como eu venho recebendo pedidos, achei melhor postar logo, haha! ^^

E por falar em pedidos, eu quero dedicar este capítulo à minha mais nova leitora, Spencer, que fez aniversário ontem. Atrasado ainda serve, ne? Haha! Bom, Feliz Aniversário! Desejo-te tudo de bom! Inclusive que você leia a fanfic até o fim. Oops! Hahaha! ;P

Aaah! Por favor me digam o que vocês acharam do estilo narrativo deste capítulo... Se ficou confuso, se ficou bom... Eu tentei inovar nele, mas não sei se fiz bem. Espero que vocês possam me dizer.

Sem mais blábláblá, ao capítulo! /o/



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Syndel* penteava os longos cabelos dourados e anelados (esta última característica uma raridade entre os elfos cinzentos) enquanto observava o filho, que estava capturando vagalumes com uma habilidade impressionante mesmo para um elfo. Aos cinco anos de idade, Legolas era, em muitos aspectos, uma cópia quase exata do pai. Os mesmos fios finos e dourados lhe caíam sobre os ombros, os mesmos olhos azuis a fitavam, mais profundos que o céu, parecendo poder ler todos os seus segredos. As únicas características de Syndel que ele parecia ter herdado eram o formato do rosto, arredondado contrastando com o rosto fino de Thranduil e o formato dos olhos, amendoados, e não puxados nos cantos como os do pai.

– Tudo bem, Legolas, já chega! – ela disse, depositando o pente sobre o tronco de madeira que fazia as vezes de banco. – Já está tarde, vamos dormir!

– Ah não, mamãe! Só mais um pouquinho, por favor! – as sobrancelhas do pequeno elfo se juntaram, suplicantes.

– Eu já deixei você ficar mais um pouquinho. – Syndel sorriu, ignorando como era difícil resistir àquele olhar. – Vamos, deixe os pobres vagalumes em paz.

– Ah, mamãe... – Legolas olhou para o pote em suas mãos. Já estava cheio. Pelo menos vinte vagalumes andavam pelo vidro, assustados demais para brilhar. Assim, “apagados”, pareciam apenas insetos marrons e sem graça.

– Eu já sei. Vamos fazer um trato, então. – a mãe esperou até que o filho olhasse para ela, arregalando levemente os olhos com a expectativa. – Você vai para a cama agora e tem uma boa noite de sono. Se você obedecer e for imediatamente, amanhã eu vou começar a te ensinar a usar o arco-e-flecha.

– Mas o papai disse...

– Não importa o que o seu pai disse. Quem é que manda aqui, afinal? – ela piscou para o filho com cumplicidade, sabendo que ele ia adorar.

– Eu aceito! – Legolas enfiou o pote com os vagalumes nas mãos da mãe e saiu correndo para dentro. Não olhou para trás para ver que, no instante em que Syndel segurou o pote, os vagalumes começaram a brilhar, quase como se ela os tivesse instigado a isso. Ela sorriu para os pequenos insetos e, pegando o pente, seguiu o filho.

O quarto de Legolas era pequeno, mas aconchegante. Syndel arrumou a cama enquanto ele escovava os dentes e esperou para lhe desejar boa noite. Quando o pequeno elfo chegou, encontrou a mãe fazendo furinhos na tampa do pote dos vagalumes, usando a ponta de uma das flechas que sempre carregava consigo.

– Pronto, agora vocês já podem respirar, amiguinhos. Legolas vai soltar vocês amanhã. Não é, Legolas?

– Claro. – o tom de voz dele deixava evidente que libertar os insetos nunca estivera em seus planos. A mãe sorriu para ele.

– Vem cá, deita. Eu vou cobrir você.

Obediente, o filho se deitou na cama e a mãe puxou o cobertor sobre ele, embora a noite de verão estivesse bastante quente. Ela lhe deu um beijo na testa e sussurrou “boa noite”, roçando de leve o nariz no nariz do filho, que riu e sussurrou “boa noite” de volta. Syndel já estava quase saindo do quarto quando Legolas chamou:

– Mamãe?

– Sim?

– Estou sem sono.

Ainda de costas, a elfa sorriu. Típico...

– Ah não, você prometeu que ia dormir.

– Mas mamãe...

– Está bem. Chegue para lá, deixe-me sentar aqui. – ela se sentou na beirada da cama e começou a acariciar os cabelos de Legolas. – Eu vou lhe contar uma história. Sobre mim e seu pai. Quer ouvir?

– Quero!

– Shh... Fale baixinho, ele vai te ouvir!

Quero... – ele sussurrou, de maneira quase inaudível, fazendo Syndel rir.

– Eu tinha apenas dez anos de idade quando o príncipe Thranduil nasceu... – ela começou, num tom baixo e calmo, olhando os vagalumes sobre a mesa de cabeceira.

“E nunca me esquecerei da festa que houve uma semana depois, para comemorar o nascimento do herdeiro de Oropher. Estavam todos tão felizes! Até o rei, que é sempre tão sério (você conhece o seu avô). Até ele, naquela noite, parecia incapaz de conter seus sorrisos. A comida estava maravilhosa, nunca provei nada igual! E os fogos de artifício? Parece que algum mago amigo do rei os providenciou... Eram incríveis! Eu espero que algum dia você tenha a oportunidade de ver fogos como aqueles... Se bem que, para ser sincera, não sei se eles eram realmente necessários. Porque naquela noite até mesmo as estrelas pareciam mais brilhantes que o normal, como se estivessem saudando o novo príncipe com sua luz.

Todos riam e dançavam alegremente. Novas canções eram improvisadas, suas rimas desejando boa fortuna ao futuro rei. Os elfos mais jovens elaboravam brincadeiras de todo tipo e riam alto, fazendo muito barulho. Reis élficos de outros reinos, nossos parentes distantes, vieram para prestar suas homenagens. Eu fiquei encantada observando os vestidos das elfas de Lothlorien e achei engraçado o sotaque dos elfos de Valfenda.

Enquanto meus pais ficaram conversando com os outros adultos, eu me afastei para admirar a festa. Eles sempre me deixaram livre para ir aonde eu quisesse, desde que eu não ultrapassasse as fronteiras do reino. E eu não conseguia ficar quieta. Eu era a única criança de Greenwood na época. Você sabe como crianças élficas são uma raridade, não sabe? Eu era a única, não tinha ninguém para brincar comigo, por isso estava mais feliz que todos os outros com a notícia do nascimento do príncipe. Eu pensava que talvez ele pudesse brincar comigo. O fato de ele ser da realeza, para mim, não fazia a menor diferença. Eu era apenas uma criança, não entendia dessas coisas.

Foi por causa disso que eu decidi, depois de rodopiar sozinha ao som da música por algum tempo e de já ter comido mais doces do que eu podia aguentar, ir dar uma olhada no meu futuro amigo. Eu não era boba, sabia que ele ainda era muito pequeno para brincar, mas eu podia esperar algum tempo. Por ora, eu só queria vê-lo.

Naquela noite, não havia guardas para impedir as pessoas de se aproximarem da família real. Nem havia motivos para isso, pois o rei e a rainha estavam cercados por amigos. Ninguém que estava na festa lhes faria mal. Talvez por isso a rainha tenha decidido confiar em mim.

Eu estava olhando em volta, meio perdida no meio de todos aqueles jovens e adultos. Mesmo que a festa ainda estivesse no início, alguns deles já tinham bebido demais e as coisas estavam começando a ficar confusas. Eu estava na ponta dos pés, tentando enxergar mais adiante, e não vi a rainha até tropeçar no pé dela. Eu me curvei imediatamente, torcendo para não tê-la machucado ou ofendido, e fiquei muito surpresa quando ela exclamou o meu nome:

– Oh, Syndel! – quando levantei a cabeça, ela estava sorrindo para mim. – Que bom que está aqui. Será que você poderia segurá-lo para mim por um momento...?

Antes que eu tivesse tido tempo para entender o que ela estava me pedindo, ela já tinha colocado o pequeno príncipe, enrolado numa fina manta verde, em meus braços. Em pânico, com medo de deixá-lo cair ou de que ele simplesmente começasse a chorar, eu tentei segurá-lo da maneira mais confortável possível. Eu me sentia tão desajeitada! Já tinha segurado vários filhotes de cervos e de coelhos antes, mas nunca um bebê! A ideia de estar com ele nos braços me apavorava completamente. A rainha, por outro lado, parecia completamente tranquila, embora não tirasse os olhos de nós. Ela estivera desamassando o vestido e agora penteava os cabelos com os dedos e sorria gentilmente para mim.

Apenas um pouco reconfortada pela confiança dela, eu baixei os olhos para a criança. Ele era tão pequeno! E era também a criaturinha mais doce que eu já tinha visto, com aquelas bochechas grandes e rosadas. Ele dormia com uma expressão tranquila, parecendo sorrir. Devia estar tendo um sonho bom. Vendo-o, era impossível não sorrir também.

– Qual vai ser o nome dele? – eu perguntei para a rainha, mesmo sabendo que aquele era um segredo que estavam guardando para anunciar mais tarde, no auge da festa.

– Thranduil. – ela se inclinou para sussurrar para mim, em tom de confidência. – Thranduil Verdefolha. – ela sorriu e se endireitou, voltando a pentear os cabelos com os dedos.

– Thranduil... – eu repeti baixinho, voltando a olhar para ele.

Não sei se ele me ouviu, se reconheceu o nome ou o que, mas nesse momento o príncipe acordou e olhou diretamente para mim. Os olhos dele eram tão azuis, eu nunca tinha visto nada igual. Nem mesmo o céu, nem mesmo o lago comprido, nem a Montanha Solitária à distância, nada oferecia um comparativo bom o suficiente para eles. Era como se aquela criança tivesse tomado todo o azul dos olhos da mãe e todo o azul dos olhos do pai e combinado num novo tom, mais brilhante, vivo e profundo que todos os outros azuis existentes. Aqueles olhos eram a coisa mais linda que eu já tinha visto em minha vida.

Eu fiquei até com vergonha do cinzento sem graça dos meus próprios olhos, quando o pequeno príncipe me encarou. Eu gostaria muito de saber o que ele estava pensando ao olhar para mim. Ele inclinou a cabeça, parecendo intrigado, curioso. Mas não chorou, felizmente. Também não sorriu, mas não chorar já era bom o bastante.

– Olhe só! Parece que ele gostou de você! – eu não sei dizer de onde a rainha tirou aquela conclusão, e também não tive muito tempo para pensar no assunto, porque no instante seguinte ela já tinha pegado o bebê e o estava aconchegando em seus braços. – Obrigada por segurá-lo para mim, Syndel. Agora vá se divertir! A festa está só começando!

Obediente, eu me virei e comecei a andar na outra direção, sem fazer a menor ideia de para onde estava indo. Estava concentrada, tentando me lembrar de todas as coisas azuis que já vira na vida.

– E afinal você e o papai viraram amigos?

Syndel levantou os olhos da madeira com que estava trabalhando (fazendo um arco pequeno o bastante para Legolas) e olhou para o filho. Ele parecia aborrecido, praticando como limpar o arco-e-flecha da mãe. O fato de que seus cabelos não paravam de cair na frente de seu rosto, atrapalhando-o, não estava ajudando a melhorar seu humor.

A elfa colocou o pequeno arco ainda inacabado no chão e se levantou, indo sentar na grama perto do filho. Estendendo a mão, ela o fez virar e puxou seus cabelos para trás.

– Vamos ter que dar um jeito de prender seu cabelo. Ele não pode ficar na frente do seu rosto quando você estiver atirando. – com dedos delicados, ela separou duas mechas e começou a fazer uma trança justa e intrincada atrás, mas ainda deixando a maior parte do cabelo solto.

– O que você está fazendo? – Legolas tentou colocar as mãozinhas para sentir o penteado, mas a mãe as afastou com delicadeza.

– Se chama trança rabo-de-peixe. Eu vou te ensinar a fazer e você vai usar o cabelo assim, de agora em diante. E essas mechas aqui... – ela separou mais duas mechas maiores, que insistiam em escorregar para a frente do rosto do filho. – Você pode prender em duas tranças mais longas e finas, uma de cada lado.

– Eu não vou parecer uma menina?

– Ora, é claro que não! Você não reparou que quase todos os elfos da guarda trançam os cabelos? É uma característica do nosso povo.

– Papai usa o cabelo solto. – Legolas cruzou os braços, fazendo biquinho. Syndel sorriu. É claro que esse era o problema.

– Mas o papai não usa o arco-e-flecha, usa?

– Mas você usa. E seu cabelo fica solto. Às vezes.

Syndel suspirou.

– É, mas a mamãe já atira há muito tempo... – ela se interrompeu, tendo uma ideia. – Vamos fazer um outro acordo, então. Você vai usar o cabelo preso por enquanto, só até conseguir atirar tão bem quanto eu. O que você acha? – ela elevou ligeiramente a voz quando ele fez menção de contestar. – Se não, eu não vou poder te ensinar. Você não pode atirar com o cabelo te atrapalhando, vai acabar se machucando! E eu não sei nem o que o papai faria comigo se você se machucasse. Ele não ficou nem um pouquinho feliz quando eu disse que já ia começar a te ensinar agora, você sabe.

– Tá bom. – o pequeno elfo se apressou em concordar, antes que a mãe mudasse de ideia quanto a lhe ensinar. – Só até eu saber atirar direito.

– Combinado. – Syndel sorriu, certa de que o filho não ia querer abandonar o penteado depois.

Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, enquanto a mãe agilmente terminava de arrumar o cabelo de Legolas.

– Prontinho. Vire, deixe-me olhar para você. Ah, ficou lindo! Agora você parece um legítimo guerreiro de Greenwood! – Legolas sorriu, animado com a ideia. Syndel retribuiu o sorriso. – Tenho certeza de que um dia você será o capitão-mor da guarda e me deixará muito orgulhosa. Você ainda vai vencer muitas batalhas, Legolas Verdefolha. – ela deu um toquezinho de leve com a ponta do indicador no nariz dele. – Mas por enquanto você ainda precisa de um arco. É melhor eu terminar o que estava fazendo. E o senhor também. Não adianta nada eu ter o maior trabalho fazendo um equipamento para você se você não souber tomar conta dele. – ela apontou para seu próprio arco e para os trapos que Legolas tinha deixado no chão.

Com um suspiro desanimado do pequenino, os dois voltaram ao que estavam fazendo. Ficaram trabalhando e ouvindo o canto dos pássaros nas árvores por alguns minutos, até que Legolas se lembrou:

– Mamãe, você não respondeu. – ele esperou que a mãe olhasse para ele. – A história de ontem. Você e o papai viraram amigos?

Syndel sorriu e mordeu os lábios, parecendo pensar em por onde começar. Por fim, disse:

– É claro que não. Aprenda uma coisa, meu filho... Só existe um momento na vida dos elfos em que a diferença de idade realmente importa e é quando eles têm menos de trinta anos de idade. Nessa época, a diferença pode parecer enorme, porque eles ainda estão em fase de crescimento. Depois disso, uma diferença de uma década ou duas não tem muita importância. A questão passa a ser só se eles são ou não adultos, porque, você sabe, elfos atingem a maioridade quando têm algo entre quinhentos e mil anos de vida. As mulheres mais cedo que os homens**. – ela sorriu, parecendo querer dizer mais alguma coisa, mas se contendo. – Mas isso é muito mais vida do que você pode imaginar. Um dia, você vai entender.

“De qualquer forma, por causa disso, quando Thranduil já tinha idade o suficiente para brincar, eu já não tinha mais idade para isso. E mesmo depois, conforme nós dois crescemos e a diferença de idade entre nós passou a ter cada vez menos importância, até finalmente não ter mais importância nenhuma, eu nunca me aproximei dele. Em primeiro lugar, porque isso seria difícil de qualquer forma, já que ele era um príncipe, e eu uma simples elfa da floresta. Uma súdita como outra qualquer. E em segundo lugar porque, para dizer a verdade, eu nem queria me aproximar. Naquela época ele era tão arrogante! Eu o via apenas em raras ocasiões, pois nós frequentávamos ambientes completamente diferentes, e mesmo assim eu não conseguia suportar a maneira como ele e seus amiguinhos da nobreza olhavam para o resto de nós. Era difícil acreditar que ele era mesmo aquele doce bebezinho que um dia eu tinha segurado. Se dependesse de mim, eu queria era manter a maior distância possível dele. Eu tinha um monte de amigos, então, e estava feliz o bastante com eles.

Mas o destino não se importava nem um pouco com a minha vontade, pelo visto.

Você sabe que depois dos doze anos de idade todos os elfos jovens começam a ser treinados na arte da guerra, certo? Comigo, com meus amigos e com Thranduil e os amigos dele não foi diferente. É claro que o príncipe e seus amigos nobres, que um dia, se esperava, seriam capitães da guarda, treinavam em locais separados, com professores diferentes. Mas todos fomos treinados.

Então, certo dia, sem nenhum objetivo grandioso aparente e sem nenhum sinal prévio, uma horda de orcs invadiu a floresta e veio marchando em direção a Greenwood. Uma horda de orcs armados não é algo com que se brinque, mas um grupo desorganizado e sem liderança como aquele não chega a ser uma ameaça tão grande, também. Foi pensando nisso que Oropher decidiu nos mandar, todos os aprendizes que tinham entre trinta e cem anos, para a batalha. Uma espécie de teste, entende? Ele queria ver o tamanho de nossa força. Então, colocou seu filho para ser nosso capitão e nos mandou para a floresta.

Isso foi o que Thranduil nos explicou em seu discurso, quando nos reuniu na praça central. Com palavras exaltadas, ele fez parecer que estávamos indo para uma guerra para salvar o reino.

– Vamos mostrar para o rei do que somos capazes! Vamos mostrar para esses orcs que este reino não está para brincadeiras! Vamos mostrar para todos a força da nossa geração!

– Quanta bobagem... – eu resmunguei, mas as minhas amigas não pareciam estar ouvindo, todas prestando a maior atenção.

– Por Greenwood!! Por Oropher!! – e assim ele encerrou o discurso.

Todos começaram a bater palmas e a gritar, parecendo um bando de goblins barulhentos. Eu achava tudo aquilo uma grande besteira. Era só um punhado de orcs. Em condições normais, Oropher mandaria uma dezena de elfos da guarda, eles resolveriam o problema, e ninguém no reino sequer ficaria sabendo do ocorrido. Mas eu parecia ser a única que não estava empolgada. Eu podia ouvir os homens soltando gritos de guerra e palavras de incentivo. As mulheres cochichavam sobre a aparência do príncipe. Eu achava ridículo que ele tivesse vestido a armadura completa para aquilo. Mas todas as outras pareciam achar que ele estava “mais lindo que nunca”, “perfeito” e tudo isso. Algumas, as mais corajosas, gritavam “lindo!” Eu nem o achava tão bonito assim. Quero dizer, ele era bonito, mas eu não o achava “lindo de morrer”, como minhas amigas estavam dizendo. Claro, a personalidade desprezível dele era a maior razão para eu pensar assim.

Os amiguinhos dele gritavam “Thranduil! Thranduil! Thranduil!” sem parar. E ele parecia estar gostando daquilo, pelo sorriso em seu rosto. Mas ele não estava olhando para eles. Na verdade, desde o começo do discurso ele estava olhando fixamente para... mim.

Aquilo estava me irritando mais ainda. Mais do que isso. Eu não queria admitir, mas por mais que eu não simpatizasse com ele nem um pouco, aqueles olhos me desconcertavam. Eu estava tentando me convencer de que aquilo era só a minha imaginação, de que ele não estava olhando para mim. Ele não me conhecia, não tinha motivos para isso. Mas aí as minhas amigas começaram a discutir à minha volta:

– Ele não é lindo?

– E o que são aqueles olhos, pelas estrelas...!

– Vocês repararam? Ele não tira os olhos de mim!

– De você? Ele está olhando para mim!

– Nem pensar, Naïf!

– Na verdade, eu acho que ele está olhando para a Syndel... Ou para mim.

– Para mim? Não seja boba! – eu repliquei, cerrando os dentes. Se a Aurial também tinha percebido...

Eu tratei de encará-lo de volta, franzindo as sobrancelhas em desafio. Se era assim que ele queria brincar... Ao perceber que eu tinha notado seus olhares, ele me abriu um sorriso torto e parou de andar de um lado para o outro lá na frente, pondo uma mão na cintura. E continuou olhando fixamente para mim. Ao meu lado, a Aurial se abanou e cochichou alguma coisa com as outras. Eu não liguei e tentei sustentar o olhar. Ficamos assim por alguns minutos, mas aqueles olhos azuis... Eles pareciam perfurar meus olhos, como se pudessem ver minha alma, ver através de mim... Era simplesmente mais do que eu podia aguentar. No fim, acabei desistindo e desviei o olhar, cruzando os braços e virando de costas para ele, irritada por ter perdido nossa disputa silenciosa.

Aí ele bateu palmas para chamar a atenção de todos:

– Muito bem, muito bem! – sua voz saiu num sopro, como se ele estivesse finalizando uma risada. E eu sabia que estava. Ele estava rindo de mim. Muito consciente disso, eu podia sentir a raiva ardendo em meu peito. Engoli em seco, sabendo apesar de tudo que eu não devia sentir raiva dele. Ele era o príncipe do meu reino. Eu tinha a obrigação de súdita de protegê-lo e de... “amá-lo”. Ou pelo menos fingir gostar dele. – Muito bem! Já chega. Em forma! – suas palavras foram um comando e houve uma pequena confusão enquanto cada um se dirigia a seu posto. – Ótimo. – o silêncio agora era completo. – Vamos partir.

Nós então partimos, cruzamos os portões e ganhamos a floresta. Eu pensara que quando chegássemos às árvores íamos parar e nos reorganizar para a batalha, mas Thranduil simplesmente continuou andando e nós o seguimos sem questionar, mantendo a formação padrão. Mas conforme avançávamos, eu comecei a sentir o terror brotar dentro de mim. O que raios ele estava pensando? Não ia reorganizar nossos postos?

Oh! Quase me esqueço de que você ainda não começou a ter aulas de estratégia, meu filho... Deixe-me explicar. Quando você começa o treinamento, recebe um número de identificação. Esse número serve, entre outras coisas, para determinar o seu posto no esquadrão dos aprendizes. Assim, quando seus superiores mandarem que você entre em forma, você sabe em qual fileira e em qual coluna ficar. Essa é a formação que chamamos de padrão. Mas essa é uma formação bastante aleatória, só depende da ordem em que os elfos começaram o treinamento. Ela não leva em consideração uma característica fundamental: a especialidade de cada elfo. Porque todos são treinados para saber fazer de tudo, mas cada um desenvolve melhor uma habilidade: uns se tornam especialistas no manejo de lanças, outros preferem utilizar espadas; uns sabem atirar facas com maestria, outros são gênios do arco-e-flecha; e há aqueles que são mestres em tratar de feridos, os que dominam a difícil arte da medicina, e aqueles que são mestres em bolar armadilhas e em criar estratégias. No dia-a-dia dos treinamentos ou quando os aprendizes vão desfilar em algum evento ou coisa assim, isso pouco importa e a formação padrão é tão boa quanto qualquer outra. Mas em uma batalha real, tudo isso deve ser levado em conta. E Thranduil não fez isso.

Conforme nós íamos andando, eu percebi um desconforto quase geral no esquadrão. Todos deviam estar pensando o mesmo que eu. Havia muitas pessoas em posições totalmente desfavoráveis para suas especialidades: arqueiros na linha de frente, lanceiros nas últimas fileiras, elfos curandeiros parecendo completamente desnorteados, sem saber o que fazer ali no meio de todos aqueles soldados armados. Claro, curandeiros também carregam facas, mas geralmente não as usam, pois raramente têm de lutar. Apesar disso, ninguém ousou falar com o capitão sobre isso. De onde eu estava, mais ou menos no meio do esquadrão, eu podia ver apenas sua cabeça e seus ombros. Mais que o bastante para eu saber que ele não tinha intenção nenhuma de parar e nos reorganizar.

Eu estava com um pressentimento horrível. Aquilo simplesmente não podia acabar bem. E foi então que nós os vimos e meu coração pareceu parar por um instante.

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Editando rapidinho para incluir esta imagem, compartilhada pela leitora Sarah, que tem tudo a ver com a fanfic! Até o cabelo da Syndel, gente! *3*

(Kagalin, você é simplesmente incrível! Estou apaixonada pelos seus desenhos! Então, se algum dia você vir isto... Parabéns!!)

(Kagalin, you are simply amazing! I am in love with your drawings! So, if you ever get to see this... Congratulations!!)


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Notas finais do capítulo

*Como não há nenhum registro a respeito da mãe de Legolas em nenhum dos livros de Tolkien, eu criei esta personagem. Syndel NÃO existe na obra original do escritor. É uma personagem criada por mim, especificamente para esta fanfiction.

**De novo, tecnicamente, o certo seria dizer “as fêmeas mais cedo que os machos”. Mas eu não gosto de usar esses termos, como expliquei no capítulo anterior, porque me sinto estranha, como se estivesse falando de animais. Por isso, mesmo sabendo que é errado, eu preferi utilizar “mulheres” e “homens” mesmo.