As Três Lágrimas do Youkai. escrita por Larizg


Capítulo 52
Capítulo 52 – Razões para fazer algo...


Notas iniciais do capítulo

Olá, mina!! Sim, eu sei que já faz uma eternidade, mas estou com dificuldades para encontrar tempo para escrever... Quem dera conseguir para o tempo para escrever para vocês... Espero sinceramente que ainda não tenham desistido da fic kkk
Esse capítulo ficou maior que o esperado (como sempre) e como gosto de trabalhar muito os pensamentos e reflexões dos personagens, me vejo ao mesmo tempo perto e longe do final...
Próximo capítulo está confirmado o hentai, mas não tem data para sair... SORRY!!! T.T Além disso, gostaria que todos os leitores que ainda acompanham, se desejam ver os lados dos vários personagens na guerra, ou apenas do casal principal? É que acabei criando vários núcleos e shipei muitos casais, então acho que merecem um desenvolvimento especial também. Prometo que se for trabalhar isso, não farei nada longo, mas algumas partes específicas na guerra...
Não deixem de me responder, por favor!!!



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Hiryu fechou a porta atrás de si e sentiu ter fechado toda sua esperança com ela. Era um fato: Sesshoumaru, seu melhor e mais antigo amigo, estava com os dias contados. Na sua mente, ainda era uma ideia inconcebível. Uma Dai-youkai coo Sesshoumaru, alguém que parecia ser a encarnação do orgulho e força, havia aceitado sua irrevogável condição.

– Tsc! – exclamou cerrando as mãos em negação.

Uma mão tocou leve e hesitante seu ombro, chamando sua atenção.

– Sinto muito. Sei que não é fácil aceitar. – a feiticeira o olhava com ternura. – Não há nada pior que ver aqueles que amamos morrerem sem podermos fazer nada.

Hiryu imaginou qual a expressão que devia estar fazendo para receber consolo de uma desconhecida amedrontada. Estou realmente patético, riu de si. Simplesmente agradecendo internamente as palavras, ele concordou triste.

– Ainda não aceitei. – então, com um suspiro, ele se recompôs. Tinha tarefas a cumprir. – Bem, acompanhe-me. Como solicitado, vou levá-la a Suiryu para cumprir a tarefa para qual todos acreditam que veio. Depois, estará livre para partir.

Assim que recebeu um sinal positivo com a cabeça por parte da feiticeira, Hiryu começou a caminhar em direção ao escritório de Suiryu. A mulher o seguiu sem dizer uma só palavra, como que respeitando o luto do youkai. Ele agradeceu internamente por deixa-lo em paz com os próprios pensamentos. Seguindo a varanda até o final do corredor, Hiryu preferiu atentar novamente para um ponto:

– Lembre-se que isso é apenas sobre o “outro” motivo de estar aqui. Aquilo que lhe disse sobre o ritual. – ele parou um instante e a olhou sério. – Tome cuidado com o que fala perto de Suiryu, ele é um homem muito perceptível e inteligente. O menor deslize e ele pode desconfiar de algo. – uma leve pausa. – Não preciso lembrá-la sobre as condições de Sesshoumaru serem segredo absoluto. Não deve mencioná-las a ninguém, nem aqui nem nunca. Principalmente para Tsukiyo.

– Eu... entendo. Não falarei nada. – certo alívio afrouxou o aperto em seu peito até que ela completou séria e sem vacilar. – Mas antes preciso saber de algo.

A seriedade na voz dela fez com que ele focasse totalmente seu pensamento nela e a olhasse de frente. Pela primeira vez desde que chegara ali, não havia qualquer hesitação em seus olhos verdes. Sem perceber, ele engoliu um seco imaginando que tipos de chantagem ela planejara fazer.

A continuação trouxe-lhe mais surpresa.

– Minha amiga, – falou ela. – Tsukiyo, o que querem com ela?

Pela primeira vez desde que chegara ali, a feiticeira não tinha sequer um traço de temor, sua postura mudara completamente. Diante daqueles olhos verdes que o encaravam vivamente, Hiryu só conseguiu reagir de uma maneira.

Ele sorriu.

Não estava zombando dela, muito pelo contrário, estava apenas rindo da situação. Por mais diferentes que podiam ser, ambos eram exatamente iguais em um ponto: estavam preocupados com seus amigos. Percebendo a mudança em seu comportamento, o ruivo percebeu que Tsukiyo era para a feiticeira, o mesmo que Sesshoumaru era para ele: seu amigo mais próximo e querido. E tanto o dragão quanto a esverdeada eram capazes de esquecer os próprios problemas e medos se significasse garantir a segurança de suas amizades.

– Do que está rindo? – perguntou a mulher sem entender.

Isso só o fez rir mais.

– Nada. É só que... Enfim, não precisa se preocupar. Tsukiyo está aqui por vontade própria e pode partir quando quiser. – o rapaz voltou a caminhar.

A contra gosto, a mulher começou a segui-lo.

– Com todo o respeito, não consigo pensar em nenhuma razão para Tsukiyo desejar ficar aqui. – falou desconfiada.

Por um instante Hiryu considerou contar a ela, mas imaginou que não acreditaria. Não cabe a mim contar a ela, pensou. Ele sorriu de canto e parou em frente à uma porta.

– Pode perguntar a ela mais tarde. Garanto que se ouvir de mim não irá acreditar.

Relutante, ela pareceu aceitar a ideia dele. Não que ela tivesse outra opção. Assim como também não tenho opção quanto a aceitar ideias malucas. Todos tem que aceitar o que não gostam, e no caso de Hiryu, ele não gostava nem um pouco. Respirando fundo e afastando a amargura que começava a tomar conta de si, Hiryu bateu de leve três vezes na porta.

– Entre. – falou uma voz baixa do outro lado.

A porta correu para o lado e eles entraram. Assim que pôs os pés no cômodo, Hiryu deixou escapar um assobio.

– Nossa! Isso está uma bagunça.

Pergaminhos pendiam nas laterais de todas as mesas, havia papéis espalhados pelo chão e pilhas de documentos nas mesas e cadeiras. O ruivo sentiu o olhar cético e impassível de Suiryu sobre si. O estrategista estava debruçado sobre um mapa repleto de anotações e marcações.

– Alguém tem que cuidar do trabalho que você negligencia. – apesar do comentário irônico, o tom de voz baixo de Suiryu não se alterou.

O ruivo levou a mão à cabeça num gesto sem graça.

– No fim, você é melhor do que eu nessa parte. – ele se atentou as olheiras do youkai. – Mesmo quando está cansado dessa forma, faz um melhor trabalho do que eu em meus melhores dias.

– Melhores dias? – perguntou se recostando na cadeira. – Já se olhou no espelho? Está tão acabado quanto eu. – olhos inteligentes analisaram Hiryu dos pés a cabeça. – O que houve?

O ruivo surpreendeu-se, por duas razões. A primeira era porque nunca vira Suiryu admitir cansaço. Quando soltou aquele infeliz comentário, estava esperando que o youkai negasse como fizera muitas outras vezes com sua lógica. Ele deve estar exausto, pensou preocupado. A segunda questão era a rebatida de Suiryu. O ruivo sabia que as últimas horas foram algumas das piores da sua vida, mas não esperava que seu desgaste estivesse tão evidente.

Afastando os pensamentos, Hiryu mudou de assunto.

– Suiryu, esta é Merioku. – indicou a mulher de cabelos verdes com a mão. – Ela é a feiticeira que o ajudará com os detalhes do ritual.

A mulher fez uma reverência formal e o estrategista, impassível, indicou uma cadeira a sua frente. Aproveitando a deixa, Hiryu saiu do cômodo, parando apenas para olhar por cima do combro com um falso sorriso de tranquilidade.

– Deixo-a em suas mãos.

Fechou a porta. Preferia não passar mais tempo na presença de Suiryu. O homem era extremamente perceptível e, ao que parecia, ele próprio não conseguia disfarçar como estava se sentindo. Hiryu suspirou e levou uma das mãos aos olhos, apoiando na parede ao lado da porta. Colocando a parte posterior da cabeça na parede e deixando a mão cair ao seu lado, ele olhou para o nada falando para si mesmo:

– Então é isso...

Em silêncio, ele encarou uma nuvem branca que flutuava o céu. O caminhar lento da nuvem trouxe tranquilidade até que notou num canto do branco algodão uma mancha escura que se espalhava gradativamente.

Ela começara a se tornar uma nuvem negra de tempestade.

Hiryu xingou mentalmente os deuses por aquela ridícula metáfora e começou a andar sem rumo tentando atenuar suas dores de cabeça. Ele se recusava a entender. Se recusava a aceitar. Era impensável que terminaria daquela forma. Nunca imaginou que Sesshoumaru se fosse antes dele.

Talvez fosse o carma agindo por tudo o que já fizera...

Virando a esquina, ele se deparou com Tsukiyo sentada na varanda, balançando distraidamente a espada de madeira no ar. A imagem da expressão de Sesshoumaru ao vê-la inundou sua mente. Tristeza se abateu sobre ele.

... mas tinha que agir justo agora?

– Ei, Tsuki! – chamou. – O que está fazendo?

A garota deu um pulinho de susto e olhou para ele.

– Ah, olá Hiryu! – ela lhe deu um sorriso quando ele sentou-se ao seu lado.

– Onde estão Inuyasha e a família?

– Encontramos com Arashi e Tsubasa. Eles insistiram em conhecê-los. Não é nenhuma surpresa que Sesshoumaru não fale muito sobre eles. Então deixei-os com os dois. – ela sorriu.

– E você, o que está fazendo?

– Eu só estava pensando.

– Isso eu percebi, estava tão compenetrada... Posso saber o que demanda sua total atenção?

– Não é nada. Apenas... Preciso fazer uma escolha importante e não tenho certeza sobre o que fazer.

Percebendo que isso era o máximo que revelaria, a mente de Hiryu formulou várias hipóteses, mas por alguma razão sabia que tinha a ver com Sesshoumaru e o tal Akarin a quem ela desejava salvar. Por um instante, Hiryu desejou que a escolha fosse Sesshoumaru, mas ao se lembrar de sua situação já não estava tão certo. Como o ruivo desejou contar tudo a ela, mas o amigo fora incisivo nesse ponto.

– Então, o que fez com Merioku? Espero que nenhuma gracinha. – brincou ela, trazendo-o de volta.

– Ela está com Suiryu. – ele levou uma das mãos ao peito como se estivesse ofendido. – Já lhe disse que sou compromissado, além de ser um homem extremamente honrado. Como pode não confiar em mim?

Ambos riram, o que ajudou a espalhar a sensação de mal estar que o acompanhou pelas últimas horas.

– Falando nisso, você nunca me disse que era casado.

– Acho que para mim é tão natural que às vezes esqueço-me de mencionar.

Tsukiyo deu-lhe um cutucão com o ombro.

– Ora, me conte tudo. Estou curiosa. Você realmente não me parece do tipo casado. Quem é essa que o conquistou?

Ele inclinou o corpo para trás e apoiou as mãos no chão para manter-se meio sentado, meio deitado. Os olhos viam longe e a mente perdia-se no passado.

– O nome dela é Hyori. Ela é uma youkai raposa que conheci por acaso. – um sorriso bobo preencheu sua face. – Lembro-me de estar num bar me gabando por conseguir conquistar a mulher que desejasse. Ela trabalhava na recepção e Tsubasa me desafiou a conquistá-la. Pela primeira vez recebi um “não”, mesmo usando de todos meus truques e cantadas. Insistindo em dizer que conquistaria qualquer uma, decidi que não descansaria até ganha-la.

Ele olhou para Tsukiyo que apreciava a história.

– Começou como uma aposta idiota, mas quando percebi tinha me apaixonado por ela. Demorou um longo tempo, mas foi dela que tive o melhor e maior “sim” da minha vida, no momento em que aceitou se casar comigo.

Ele deu uma pausa para relembrar os momentos e notou Tsukiyo olhando-o com olhos brilhantes.

– É uma bela história de amor. Ei, me diga, com ela é?

– Simplesmente a mulher mais bonita que já conheci. Tinha cabelos castanhos claros e olhos azuis como um céu limpo de primavera. Não muito alta, mas com o sorriso mais brilhante de todos. Uma pessoa de ideias fortes e muito decidida, porém, é muito gentil e carinhosa. Sua voz macia traz tranquilidade a qualquer um. – ele deu uma pausa antes de rir consigo mesmo. – Dei sorte que Yona puxou seu jeito e não o meu.

– Ahn? Vocês tem uma filha?!

– Nossa pequena Yona... Só herdou de mim os cabelos ruivos, pois todo o resto puxou de Hyori. É uma menina muito ativa e muito curiosa, mas também é muito obediente. Ela adora a estação do outono para ficar brincando entre as folhas que caem, diz ser a estação mais divertida. Estaria com 50 anos hoje, mas como sabe, tem a aparência de uma criança humana de nove anos.

Hiryu não precisava de um espelho para saber que estava com o olhar distante e um sorriso bobo. Era sempre assim que se sentia quando falava da família, as duas mulheres que mais amava e presava no mundo. A saudade apertou seu peito e ele desejou que estivessem ali ao seu lado.

– Hoje seria aniversário dela?

– Não, o aniversário foi há três dias. Gostaria de estar com ela para comemorar. – falou saudoso.

– Imagino... Deve sentir falta delas. Mas tenho certeza que elas entendem que você as deixou para mantê-las seguras. Afinal, uma guerra não é lugar para trazer civis. – confortou-o Tsukiyo.

– Não, realmente não é...

Hiryu tentou afastar a melancolia que sentia e levantou-se estendendo a mão para Tsukiyo.

C Está certa, a guerra não é para civis, então me mostre o que saber fazer como soldado.

Tsukiyo lhe sorriu e agarrou a espada de madeira, jogando outra para ele. O treinamento com a jovem ajudaria a distrair sua cabeça de Sesshoumaru e da saudade da família.

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O som da porta tocando a parede jogou o cômodo num silêncio. Merioku se viu de frente para olhos que pareciam desvendá-la em todos os detalhes. A feiticeira sentiu-se hipnotizada e intimada por aqueles olhos verdes como o rio mais cristalino, analisando-a até o espírito. O movimento do youkai apontando uma cadeira livre a sua frente quebrou-lhe o transe.

– Sente-se. – falou frio e macio.

Merioku se recostou na cadeira e assistiu ao youkai enrolar o mapa e liberar espaço para um novo pergaminho em branco. O homem, Suiryu – se não lhe falhava a memória – preparou o pergaminho e puxou a pena do tinteiro. Ele levou a mão livre aos olhos e os esfregou fortemente enquanto suspirava.

– Vou precisar de algumas informações referentes a um ritual. – começou ele.

Sendo tão perceptiva quanto ele, Merioku notou o cansaço em sua voz. Por detrás daquela máscara indiferente e altiva, ela viu refletido nas profundas olheiras e ombros caídos que ele estava à beira da exaustão. Seu espírito de curandeira falou mais alto que o medo. Merioku apiedou-se dele e, antes que percebesse, a pergunta já escapava de sua boca.

– Você está bem?

A pergunta pareceu pegá-lo de surpresa porque, apesar da face inabalável, Suiryu levantou a cabeça e a encarou fixamente. A pergunta pareceu pairar no seu olhar e a feiticeira compreendeu o quão estranha parecia aquela pergunta.

– Desculpe-me, é que sou curandeira. – explicou. – Então estou acostumada a perceber gestos e sintomas de mal-estar. É automático para mim, perguntar se está tudo bem.

Um brilho de compreensão passou pelos olhos do estrategista.

– Entendo. – disse, voltando sua atenção para suas anotações. – Minha saúde é perfeita. Solicito que se atenha ao assunto ao qual veio tratar.

Teimoso, pensou ela. Merioku conhecia bem esse tipo. Suiryu era do tipo que colocava as obrigações acima de tudo e nunca admitia a própria fraqueza. Ela suspirou deixando o assunto de lado e focou-se apenas no assunto que supostamente deveria ajudar. Ao menos assim posso descobrir o que Akarin esta tramando.

À medida que o ritual foi sendo descrito, Merioku foi sendo tomada pelo horror. Não foi difícil saber o que ele pretendia com o ritual e muito menos o que precisava para realizá-lo. Ele está atrás de Tsukiyo. Tentando esconder sua angústia e vontade de sair dali para encontrar a amiga, Merioku respondeu à perguntas de Suiryu com precisão e sem demora. Pela primeira vez desde que vira Tsukiyo ali, agradeceu por estarem na base do inimigo de Akarin. Mas saberiam aqueles youkais que ela era o alvo? Eles a estavam protegendo ou a desejavam pela mesma razão que Akarin?

As perguntas fervilhavam em sua mente até que foi trazida de volta pela fala do youkai.

– Você está dispensada. Agradecemos pela colaboração em confirmar a veracidade dos dados do ritual. Poderá receber sua recompensa na saída.

Com isso, ele voltou sua atenção para os papeis na mesa. Suiryu largou a pena e entrelaçou os dedos, apoiando o queixo neles. Merioku chegava quase a jurar que via as informações cruzando seus olhos pensativos.

Ela preparou-se para levantar, mas a imagem do ritual e Tsukiyo inundaram sua mente. Memórias a muito deixadas de lado voltaram. Memórias de quatro amigos e um casal apaixonado. Memória de como se conheceram e como se despediram. Memórias de vida e de morte.

Memórias de como acabaram ali...

Com determinação, Merioku cerrou as mãos e olhou para o youkai. Em seu coração ela sabia o que queria fazer. Quando falou, a voz saiu firme e os olhos ganharam novo fogo.

– Eu quero participar da guerra.

Essa seria a segunda vez que surpreendia Suiryu. Ele a olhou extremamente curioso e confuso, mas antes que pudesse negar, ela continuou.

– Não sou guerreira, mas poderei cuidar dos feridos em meio à batalha. Mesmo eu que não conheço táticas de batalha, compreendo que qualquer curandeira a mais é um bônus a se ter para o exército. – Ela se levantou e apoiou com as mãos na mesa, inclinando-se sobre ela. – Por favor, minha amiga vai estar nessa guerra, e eu quero estar com ela. Por favor!

Ela sustentou o olhar calculista do youkai durante todo o tempo esperando uma reposta. A pergunta dele trouxe-lhe esperança.

– O que desejaria em troca?

– Nada, apenas... – apenas quero proteger Tsukiyo, pensou. – apenas preciso fazê-lo.

O youkai desmanchou a postura pensativa e deixou-se cair na cadeira.

– Está bem. Apresente-se daqui a uma hora no salão principal. – ele fez um gesto de despejo. – Agora pode ir, tenho mais o que fazer.

Merioku não conseguiu evitar um sorriso vitorioso. Ela fez uma mesura em agradecimento e se voltou para a saída. Ouviu atrás de si, um suspiro do youkai e olhando por cima do ombro notou que cobria os olhos com uma das mãos. Sem pensar, ela parou e começou a remexer na mochila até os dedos acharam um frasco redondo com líquido branco. Isso! Ela colocou o frasco na mesa, atraindo novamente a atenção do youkai.

– Isso vai ajudar com o cansaço. Eu mesma o uso as vezes quando tenho que passar noites acordadas tratando de alguém. – falou ela de forma doce. – O melhor remédio é dormir, mas isso vai ajudar.

Sem esperar resposta ou agradecimento, ela foi para a saída, mas assim que seus dedos tocaram a porta, ouviu:

– Eu não entendo. – falou ele rodando o frasco na mão. – Não consigo ver a lógica em ajudar alguém que não conhece e muito menos se arriscar numa guerra que não lhe diz respeito. – os dois pares de olhos verdes se encontraram. – Por quê?

Merioku levou um dedo ao queixo pensativa. Nunca havia parado para pensar sobre isso.

– Eu acho que... – ele o encarou. – Nem tudo deve ser baseado em lógica. As pessoas às vezes fazem coisas porque precisam fazer. – dando de ombros, ela saiu do cômodo, deixando Suiryu pensativo e sem palavras.

Merioku caminhou pela varanda sem rumo. Não sabia se havia tomado a decisão mais inteligente, principalmente agora que considerava a reação de Sesshoumaru quando descobrisse que ela, conhecedora de seu segredo, permaneceria ali. Se ela tivesse o azar de esbarra com ele, voltaria a garantir seu sigilo completo, até porque, ela nunca revelaria nada sobre seus pacientes a ninguém.

Outros pensamentos que inundavam sua mente eram sobre Akarin e Tsukiyo. Desde pequenos, eles formavam o casal mais fofo que Merioku já vira, e depois, quando jovens, tinham um amor tão puro e feliz que chegava a invejar. A feiticeira havia colocado em sua cabeça que encontraria um homem para si, que fosse tão bom quanto Akarin era para Tsukiyo, porque seu sonho era ter uma relação como a dos amigos.

Todas as memórias, todo o passado, todos eles... bastou uma noite para tudo ruir. Naquela trágica noite de tempestade, tudo o que construíram por anos, todos os sonhos, todas as promessas, tudo foi tirado deles. Não apenas perderam Wendy para sempre, como Akarin foi tomado por algo sombrio e Tsukiyo se viu perdida desde então. Talvez por isso Merioku não entendia o que a amiga estava fazendo ali.

Desde sempre, Tsukiyo dizia que salvaria Akarin, e Merioku, por ainda lembrar do amor profundo dos dois, chegou a acreditar que ela conseguiria. Torcia por isso, aliás. Não parecia certa a ideia de Tsukiyo ter desistido dele...

Então o que ela ainda está fazendo aqui?

Alcançando o final do corredor, Merioku viu Tsukiyo e seu coração se apertou por tudo o que pensara. Ela acelerou para se aproximar, até perceber a amiga em movimento, chocando sua espada com...

... Sesshoumaru!

Sem pensar, Merioku correu na direção deles, temendo pela amiga, mas assim que se aproximou mais, notou algo que a travou completamente.

Tsukiyo estava sorrindo de canto.

Parando para prestar atenção, não eram espadas reais, eram réplicas de madeira para treinamento. Eles estavam treinando. A face de Sesshoumaru estava impassível, mas algo indescritível brilhava em seus olhos, mas o que a chocou foi ver a amiga. Tsukiyo sorria e tinha nos olhos algo que Merioku não via há anos. Havia chegado a achar que nunca mais veria a amiga assim.

– Sabe, faz anos que não o vejo tão feliz...

A voz de Hiryu, sentado na varanda, próximo a Merioku, a trouxe de volta para o mundo. Ela olhou para o ruivo e notou um olhar singelo sobre os que lutavam e lembrou-se do quanto ele havia se desesperado pela situação de Sesshoumaru. Depois do que via, mesmo Merioku se preocupou.

Ela olhou para Tsukiyo, que agora perdera a espada e discutia nervosa com Sesshoumaru. Mas a amiga notou que o brilho nos olhos amarelos da morena não havia sumido.

– Eu também...

O coração de Merioku se alegrou por ver a vida inundar a amiga novamente, após tantos anos. Mas assim que seus olhos pousaram no Lorde, a preocupação a inundou novamente. Com o canto dos olhos, ela percebeu que o sorriso terno de Hiryu também havia murchado e em seus olhos rubros ela percebeu, de alguma forma, que ele temia por Sesshoumaru o mesmo que ela temia por Tsukiyo.

Que eles perdessem o brilho novamente...

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Sesshoumaru se levantou do futon, acreditando finalmente ter aceitado aquela situação. No fundo ele sabia que não, mas já se decidira que não havia outra opção. A única coisa que tanto sua parte emocional quanto a racional concordavam era o desejo de ver Tsukiyo. Apenas vê-la, porque ele queria passar o pouco tempo que tinha com ela.

Ela abriu a porta e não demorou a encontrá-la. Estava treinando com Hiryu que já parecia mais animado. Percebendo que ele acabara de desarmá-la, Sesshoumaru não resistiu a velhos hábitos.

– Está perdendo o jeito, se é que algum dia já teve.

Sua fala atraiu a atenção da jovem, que lhe sorriu rápido, mas logo fez uma careta, mostrando-lhe a língua.

– Sua besta, é logico que sou boa. – respondeu ela na mesma moeda. Então sua expressão mudou para provocativa. – Ou vai dizer que perdeu nosso primeiro duelo para alguém ruim de espada?

O comentário atingiu o orgulho de Sesshoumaru, e voltando aos velhos tempos, ele não deixaria barato. O Dai-youkai franziu a testa.

– Que eu me lembre, eu tive apenas um mísero arranhão, enquanto alguém tinha uma espada apontada para a garganta.

Ele a viu franzir os dentes antes de retornar a rebatida.

– Mas como era mesmo...? “Alguém como você não faria um arranhão neste Sesshoumaru”. – falou tentando imitar a voz do Lorde.

Sesshoumaru balançou a cabeça em negação e se aproximou lentamente.

– Alguém está muito convencida. O que acha de tentar a sorte, de novo? – ele fez um sinal para Hiryu e este lhe jogou sua espada. – Da última vez não passou disso: sorte.

O olhar do Lorde brilhou divertido e desafiador, recebendo de Tsukiyo a mesma expressão. Essas discussões bobas... tudo começara aí e, no fundo, eles se divertiam com elas, principalmente quando venciam.

Apenas quando venciam.

O choque das espadas, a adrenalina os risos que escapavam de Tsukiyo sempre que chegava perto de atingi-lo... Aquilo trouxe uma paz momentânea ao youkai. Com o canto dos olhos, notou o olhar de Hiryu sobre ele, mas ignorou. Nada mais existia para ele naquele momento. Apenas o treinamento com Tsukiyo.

Mas, infelizmente, tudo o fazia se lembrar de que não poderia ter aquilo para sempre. Não poderia tê-la por muito tempo. Sesshoumaru desejou, naquele instante, contar tudo, mas ao perceber a face feliz dela, as palavras morreram na sua boca e a racionalidade tomou frente. Se eu forçá-la me escolher, nunca vou me perdoar, pensou.

– Sesshoumaru?

O chamado de Tsukiyo o trouxe de volta. Sesshoumaru percebeu que a havia desarmado e a colocado contra a parede. Pela expressão da jovem, ela havia ficado um bom tempo discutindo com ele e tentando fazê-lo voltar a si, mas agora, só lhe restava uma expressão preocupada.

– Está tudo bem? – perguntou ela.

Eles estavam extremamente próximos. Seus corpos quase te tocavam, separados apenas pela espessura da espada de madeira de Sesshoumaru. Dali, ele sentia claramente o perfume que ela exalava, sempre doce e atrativo. Ele a encarou profundamente nos olhos e percebeu preocupação. Se se preocupa por tão pouco, como seria eu capaz de contar que estou morrendo?

– Olha só quem perdeu novamente. – falou com a voz totalmente neutra, tentando desviar sua atenção.

– Er... – ela corou e desviou o olhar, irritada. – A chegada de Merioku me distraiu...

Ele permitiu que um sorriso convencido surgisse no canto de seu rosto. Logo em seguida, ela se deu por vencida e sorriu também. Era a expressão que melhor lhe caía. Sesshoumaru desejava vê-la assim, sempre sorridente, como um dia desejara o mesmo por Rin. O fato de poder ser a razão daquele sorriso desaparecer partia seu coração, então Sesshoumaru tomou uma decisão: nunca contaria a ela, e o que mais lhe doía:

Não mais queria ser escolhido.

Mesmo que fosse e ela usasse a Tamashi no Kakera nele, sempre existiria aquela pedra entre eles. Ela sempre se sentiria culpada por Sesshoumaru quase ter morrido e ele por fazê-la desistir de salvar o amado, que representava para ela o mesmo que Rin representava por ele. A outra opção seria deixa-la usar a pedra em Akarin e ser escolhido após isso, mas isso significaria morrer e deixá-la. E Sesshoumaru não poderia deixá-la triste.

Só havia uma coisa a fazer.

Quando estava prestes a dizer algo, Suiryu chamou-o da varanda.

– Sesshoumaru, devemos iniciar a reunião.

O Lorde se afastou de Tsukiyo e encarou o estrategista, concordando com a cabeça. Os três indivíduos da varanda partiram para o salão de reuniões, aliás, o que a feiticeira fazia com eles? Não ordenara a ir embora?

Ele afastou essa preocupação por hora e se voltou para Tsukiyo, que fincou a espada de madeira no chão e foi em direção ao salão. Assim que ela passou por ele, Sesshoumaru segurou-lhe o pulso, chamando a atenção dela.

– Sesshoumaru, o que...? – começou ela confusa.

– Não vou mais fazer isso. – falou ele sem encará-la nos olhos.

– Fazer o que?

– Não tentarei mais conquistá-la. Está livre para se focar apenas naquilo que veio fazer.

Ele notou o olhar confuso e decepcionado dela, porém, Sesshoumaru se forçou a caminhar sem encará-la. Se a olhasse frágil como aparentava, iria voltar atrás. E ele fazia isso por ela, por se importar com ela. Por finalmente admitir para si e para o mundo com todas as forças...

... por amá-la da maneira como o fazia.


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Notas finais do capítulo

O hentai vai ter, mas será que será como todos esperam? Ou melhor, será que é com quem esperam? kkkk
Queria saber o que estão achando e qual sua opinião sobre a pergunta que fiz lá em cima kkk



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