As Três Lágrimas do Youkai. escrita por Larizg


Capítulo 43
Capítulo 43 – Ouro e Prata. (Atualizado)


Notas iniciais do capítulo

Olá, mina! Estou postando esse capítulo meio corrido, então me perdoem se for breve na introdução. Quero agradecer a todas que acompanham e continuam dando apoio lá nos comentários. Obrigada, lindas!! Esse cap eu fiz com a intensão de despertar diversas emoções em vocês. Espero que gostem...
Para a segundo vez que Sesshoumaru começa a narrar, recomendo colocarem essa música. Se encaixa perfeitamente no momento, não esqueçam de por, mas só coloquem no momento certo ;) - https://www.youtube.com/watch?v=SLJllk-0o6c



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Assim que a jovem se acalmou, Sesshoumaru se afastou. Ela tratou de enxugar as lágrimas e colocou o enganoso sorriso no rosto. Tsukiyo o encarou com os olhos amarelados que tanto o hipnotizavam.

            – Obrigada. – falou se levantando.

            Sesshoumaru, parecendo somente agora se dar conta do olhar curioso de Satori,  se afastou em direção à saída. Ao tocar o arco lateral da porta, olhou por cima dos ombros para a jovem.

            – Vamos.

            Sem questionar, Tsukiyo concordou, um olhar mais determinado começava a sobrepor o melancólico. Está quase de volta a si, pensou satisfeito. Surpreendendo-o, a jovem, antes de segui-lo, voltou-se para sua mãe. Satori permaneceu em silêncio durante todo o tempo. O Lorde sabia que o silêncio da mãe não significava desinteresse, muito pelo contrário. Ele estreitou os olhos para a nobre youkai numa forma de aviso.

Satori pareceu se divertir com isso, e sua atenção logo retornou à jovem que lhe fazia uma sincera mesura:

            – Obrigada por tudo que fez por mim, Satori-hime. Tem minha total gratidão.

            A youkai não pareceu se importar muito com a atitude, mas sua curiosidade sentiu necessidade de ser saciada.

            – Qual seu nome, minha jovem?

            – Uhn? – exclamou Tsukiyo ao levantar a cabeça, surpresa com a pergunta. – É Tsukiyo, minha Lady.

            – “Noite enluarada”, hm? – exclamou Satori pensativa.

            – Sim. Minha mãe o escolheu porque era apaixonada por noites iluminadas pela luz prateada da lua. – não conseguiu esconder um sorriso terno. – Ela dizia que apesar de não parecer, a lua era mais aconchegante que o sol e acho que ela queria que eu também fosse assim...

            Satori pareceu analisar a questão um tempo e mal conseguiu disfarçar um sorriso que surgiu no canto dos lábios.

A youkai se levantou:

            – Mães nunca erram... – sussurrou para si mesma.

            Sesshoumaru percebeu que a jovem ficou meio sem jeito com o comentário, e mesmo ele havia se surpreendido. O Lorde não entendeu a razão por trás da pergunta da mãe, mas preferiu partir antes que o “assunto” indesejado pudesse surgir. Ele saiu do cômodo e caminhou em direção à saída. Logo escutou os passos da jovem atrás de si e mais distante os sons dos sapatos da mãe tocando o chão.

            O silêncio perpetuou até o início da escadaria, quando Satori chamou:

            – Sesshoumaru...

            O youkai parou. Havia conseguido evitar continuar o assunto até agora, mas ao que parecia, a mãe não pretendia deixá-lo ir sem um ponto final. Não querendo que Tsukiyo soubesse de nada, ele ordenou:

            – Vá na frente e prepare Ah-Uh. Partiremos em minutos.

            O Lorde percebeu o olhar desconfiado e duvidoso dela sobre si, mas para sua sorte, a menina preferiu não discutir em frente à Satori. Tsukiyo agradeceu novamente a youkai e começou a descer as escadas em direção à saída.

Assim que ela desapareceu do grande salão, Satori começou, enigmática:

            – Estranho como associamos o sol ao ouro e a lua à prata... São tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidos... Ambos são astros, mas enquanto o sol cria luz e atrai a atenção, a lua se acostumou a viver refletindo seu brilho, sabendo que todos olham o sol e que quando ela surge no céu, o mundo adormece...

            Sesshoumaru a olhou interrogativo.

            – O que quer dizer com isso?

            – Quero dizer que apesar de se cobiçar mais o ouro pelo seu valor, não se deve esquecer a prata. – ela dirigiu ao youkai um olhar que ele não soube decifrar. – Sabia, Sesshoumaru, que a prata é um metal mais raro que o ouro?

            Finalmente o youkai entendeu as palavras enigmáticas da mãe e, apesar de não demonstrar, ele sorriu internamente. Uma troca significativa de olhares se fez entre os dois e Sesshoumaru virou-se de costas dirigindo-se a saída.

            – Realmente não irá contar? – perguntou ela com olhar sério.

Ele parou e seu silêncio respondeu a pergunta.

Sem conseguir manter a postura, Satori se exaltou:

— Cedo ou tarde ela descobrirá! Sesshoumaru, você é o herdeiro desse clã, não pode...

            – Ela não saberá de nada. – interrompeu se virando para a Lady. A face transmitia perigo, mas os olhos não acompanhavam.  – Você e todos, estão proibidos de contar a ela.

            Diante da ordem do filho, Satori se viu sem saída. A youkai abaixou a cabeça e buscou se recompor. Mesmo sendo ela, a morte de um filho é capaz de causar desespero em qualquer mãe. A youkai serrou os dentes de raiva a sua impotência.

            Sesshoumaru se se virou de costas para não ver a expressão da mãe e continuou a descer as escadas.

            – Encontrarei outra forma. – falou, tentando convencer não só Satori, mas a si também.

            Quando estava no fim das escadas, escutou um sussurro da mãe, que apenas um Dai-youkai ou um filho desalentado poderia escutar, e parou.

            – Existe uma feiticeira, ao leste de suas terras. Mande procurá-la. Se alguém souber a cura, será ela. Dizem que vive numa cabana afastada das vilas, mas não deverá ser difícil achá-la. É bem famosa por aquelas bandas.

            Após assimilar a fala, ele continuou a andar até sair do cômodo.

            Quando viu o filho sair pela porta, a youkai podia jurar que nunca mais o veria entrar, mas se havia algo que Inu no Taishou a ensinou era que um forte sentimento era capaz de quebrar estigmas e mover montanhas.

            Salve-o, por favor, lua de prata...

...

            Chegando à saída, encontrou Tsukiyo pronta para partir. A jovem estava montada em Ah-Uh e carinhosamente acariciava a lateral do animal. Ao ver a chegada do youkai, ela se ajeitou na sela. O olhar curioso se manteve o tempo todo sobre Sesshoumaru, mas ela não fez qualquer pergunta sobre o ocorrido.

            Sem nada precisar dizer, Sesshoumaru liberou seu yoki para voar e a jovem impeliu sua montaria para acompanhá-lo. Quando pensou que seria uma viagem silenciosa, a jovem voltou à sua normal tagarelice.

            – Ei, Sesshoumaru, o que aconteceu depois que eu apaguei? Como viemos parar na mansão de sua mãe?

            O youkai suspirou, fingindo buscar paciência, mas a verdade era que sua mente fervilhava para não lhe contar sobre Mayonaka.

            – Assim que apagou, aquela mulher transportou nossas consciências de volta a nossos corpos. Depois ela indicou um portal que nos retornaria ao mundo dos vivos. Quando passamos pelo portal, voltamos ao lugar onde quebrei o colar que nos levou a Saigo no Kotoba. – falou em meias verdades.

            – Fico feliz... Achei que eu o havia arrastado para o inferno sem volta. – desabafou ela. – Nunca me perdoaria se algo lhe acontecesse por minha causa.

            De alguma forma, aquelas palavras tornaram uma traição a omissão dos fatos que Sesshoumaru estava fazendo. O youkai buscou afastar os pensamentos antes que fizesse algo que o desagradasse.

            – Não preciso que alguém como você se preocupe comigo. – fingiu arrogância.

            A jovem fechou a cara para ele.

— Para variar, é impossível obter qualquer forma de agradecimento de sua parte. – falou irônica. – Você é tão infantil, Sesshoumaru.

A jovem mostrou-lhe a língua, cruzou os braços e virou a cabeça na direção contrária para não o encarar. Como sempre, Sesshoumaru não perdeu a chance de provocar.

— Este Sesshoumaru, infantil?! Já se olhou no espelho? Além disso, eu...

Sua fala foi interrompida quando uma dor excruciante assolou o peito de Sesshoumaru e a visão ficou ligeiramente turva. Em seguida, ele sentiu uma queimação na região do ombro e antebraço. O youkai não precisou olhar para saber o que acontecia.

Teve que cerrar os dentes e as mãos para não se dobrar de dor.

            Sesshoumaru respirou fundo e a dor logo passou, tão rápido quanto veio, porém, ele sentia o corpo pesado. Droga, toda essa liberação de yoki deve acelerar o processo, concluiu.

            – Sesshoumaru? – chamou baixo a jovem.

            O youkai temeu que a jovem houvesse percebido algo. Com o coração na mão ele se virou para ela, a expressão o mais imparcial possível. Assim que pôs os olhos nela, percebeu não ser o caso.

            A jovem estava encurvada para frente na sela do animal. A face parecia cansada e os olhos sem brilho. Quando falou, a voz de Tsukiyo parecia rouca:

            – Desculpe por pedir isso, já que está com pressa, mas podemos descer? Acho que ainda não me recuperei e voar não está me fazendo muito bem...

            No seu interior, Sesshoumaru agradeceu aos deuses. Não precisaria inventar nenhuma desculpa para deixar de voar. Em resposta à pergunta dela, ele iniciou a descida até o solo. Acabaram pousando no bosque, que ficava há meio dia de distância do shiro.

            – Desculpe, Sesshoumaru. – falou a jovem enquanto desmontava. – Mesmo depois de ter me ajudado tanto, eu...

            – Não precisa. – interrompeu ele, sem maiores detalhes.

            A jovem acabou sorrindo e caminhou até uma das árvores para se recostar.

            – Eu só preciso de alguns minutos. – falou ela, antes de fechar os olhos.

            Quando teve certeza que ela caíra em sono profundo, Sesshoumaru afastou o quimono no ombro e percebeu que a mancha havia aumentado, espalhando-se um pouco na direção do braço.

            – Tsc. – exclamou antes de cobrir a marca novamente.

            Buscando não pensar nisso, ele foi sentar-se ao lado dela. Se ignorasse todos seus problemas, poderia aproveitar o momento. Às sombras da árvore, olhando o céu azul através da espaçada copa de folhas. Uma leve brisa brincava com seus cabelos e a respiração ritmada da jovem melodiava ao seu lado.

Tudo refletia paz.

            Apenas seu espírito estava inquieto.

            Sesshoumaru olhou para Tsukiyo que dormia tranquilamente. Quando o vento bagunçou seus cabelos negros, ele inconscientemente afastou as mechas do rosto delicado e sereno dela. Francamente, como consegue dormir tão rápido?, pensou o youkai sem perceber que ele próprio estava sendo levado para o mundo dos sonhos.

            O corpo ainda estava pesado e uma estranha exaustão tomava conta de si. O Lorde fechou os olhos e dentro de poucos minutos dormia tão profundo quanto ela.

—_________________________XXXXX____________________________

            O contrário da última vez, Tsukiyo não teve qualquer pesadelo. A Fera a havia deixado em paz. De alguma forma ela sabia que o que trazia segurança era a presença do youkai de longos cabelos prateados.

            Quando seu corpo pareceu estar recuperado, ela abriu os olhos. O céu estava num tom avermelhado, marcando o final da tarde. Quanto tempo eu dormi? Uma movimentação ao lado chamou sua atenção. Sesshoumaru estava dormindo, mas a face se contorcia em caretas de agonia. A testa do youkai tinha gotas de suor escorrendo e assim que Tsukiyo o tocou, a pele parecia gelada.

            – Sesshoumaru?! – preocupada, a jovem começou a sacudi-lo de leve. – Ei, Sesshoumaru! Acorde!

            O youkai acordou num sobressalto, arqueando para frente, arfando e com o olhar distante.

Levou um segundo para ele compreender onde estava.

            – Estava num pesadelo. – falou Tsukiyo, ainda chocada com a reação do youkai.

Talvez por sempre o ver como alguém extremamente forte, a ideia de que pudesse ser atormentado por pesadelos assim como ela parecia ser algo impossível.

            Sesshoumaru a encarou por alguns segundos e então voltou a se recostar na árvore, tentando normalizar a respiração. O suor havia sessado e a expressão voltou ao típico indiferente. A jovem o fitou com a pergunta nos olhos, mas ele não parecia inclinado a responder. Quando franziu a testa para ele de raiva pela teimosia, Sesshoumaru se levantou e andou alguns passos para longe.

            Persistente, Tsukiyo se levantou e encarando as costas do youkai perguntou:

            – O que houve?

            Silêncio.

            Irritada, Tsukiyo caminhou dando a volta no youkai e parando de frente para encará-lo nos olhos.

            – Sesshoumaru, não finja que nada aconteceu. Isso está muito longe de ser normal para você. Quero que me diga o que aconteceu.

            – Não foi nada. – respondeu o youkai.

            Tsukiyo olhou no fundo dos olhos ambares e sabia que era mentira. Mas ao que parecia, ele nada diria. Droga, Sesshoumaru! Deixe-me ajudá-lo também! A jovem se aproximou ainda encarando o Lorde com determinação.

            – Está mentindo! Eu...

            A próxima ação dele a fez perder as palavras. Sem nenhum alerta, ele estendeu uma das mãos e afastou uma das mechas de cabelo negro que havia caído em seu rosto. Tsukiyo havia congelado no lugar, sem entender de onde tudo aquilo surgira. Ela foi completamente desestabilizada pela expressão no rosto de Sesshoumaru.

            Sua face havia se tornado serena, mas os olhos continham uma emoção que Tsukiyo nunca imaginou enxergar ali: ternura.

            A menina sentiu o coração martelar no peito. Inconscientemente, ela deu um passo para mais perto do youkai, ansiando por se perder mais e mais naquele olhar que ela nunca vira. Era como se estivesse enxergando o Lorde pela primeira vez. Apenas de ser alvo daquele olhar fazia uma onda de calor subir por seu corpo.

Era uma sensação viciante que a fazia desejar por mais.

Antes que percebesse, eles estavam separados por meros centímetros que logo desapareceram quando Sesshoumaru a puxou para mais perto e selou seus lábios num beijo. Pega de surpresa, Tsukiyo levou alguns segundos para corresponder, mas logo estava com os braços entrelaçados ao redor do pescoço do youkai. Sentiu a mão de Sesshoumaru em sua cintura puxando para mais perto e o calor do corpo do youkai ao tocá-la.

O beijo começou doce, mas devido ao desejo por mais, despertado em ambos, acabou por se tornar cada vez mais apaixonado. Sesshoumaru pediu passagem com a língua e Tsukiyo não ofereceu resistência, começando uma batalha em que não havia vencedores. Os dois só se afastaram para buscar ar, e só então a razão voltou à mente da menina.

Ela colocou as mãos no peito do youkai, o mantendo longe, mas sem conseguir sair de seus braços.

— Sesshoumaru, eu não...

— Você não é Rin. – falou o youkai levantando seu queixo para encará-lo nos olhos. – Eu sei que não é.

Novamente aquele olhar desprovido de qualquer barreira que normalmente ele ergue ao redor de si. Aquele olhar que fazia com que Tsukiyo se perdesse num mundo só deles. Ela não sabia se o youkai tinha consciência de que seu olhar era capaz de fazer seu mundo todo desmoronar, e que por mais que tentasse, ela não conseguia resistir.

Os lábios se juntaram novamente. Tsukiyo sentiu as mãos de Sesshoumaru passarem por suas costas, causando arrepios na garota. Ele parou com uma das mãos atrás de sua cabeça e puxou-a mais para si, desejando, tanto quanto ela, mais contato. Ela, por sua vez, passou a mão pelos lisos e sedosos cabelos prateados.

Uma voz berrou dentro de Tsukiyo:

Então, fez sua escolha?

A gargalhada da Fera a trouxe de volta aos eixos.

Ela se separou de Sesshoumaru, mesmo que cada célula de seu corpo desejasse nunca mais o soltar. Uma sombra cobria seus olhos, tornando impossível ver sua expressão.

— Não posso. – sussurrou quase que em dor.

Sesshoumaru se aproximou curioso e tocou de leve seu rosto com uma das mãos.

— Já lhe disse que não a vejo como Rin e...

— Não é isso! – retrucou do toque do youkai.

Ela sentiu o coração se dividir em dois com todos os seus sentimentos junto. Por que tem que ser tão difícil?! A imagem do espelho se dividindo em dois voltou a sua mente, junto com o deboche da Fera diante de sua fraqueza em controlar a si própria.

Tsukiyo teve que abaixar a cabeça, não conseguia encarar o olhar magoado de Sesshoumaru. Não podia ver novamente naqueles belos olhos manchados de tristeza que ela própria causara. Não queria traí-lo nesse sentido. A jovem sentiu as lágrimas começarem a surgir, mas lutou para que não caíssem, não era justo ela sentir-se mal. Afinal, a culpa é toda minha.

— Então o que é?! – exigiu Sesshoumaru, sobrepondo a raiva à mágoa.

— Não é justo com você! – despejou as palavras carregadas de sentimento. Ela levantou os olhos marejados. – Não posso lhe dar garantia! Não posso corresponder algo que não sei! Não posso...

Uma teimosa lágrima de ira escorreu por seu rosto e caiu na grama aos seus pés. Uma brisa instalou o silêncio entre os dois. Tsukiyo sentiu-se sufocar de culpa quando Sesshoumaru franziu a testa, cerrou os punhos e deu-lhe as costas. Tsukiyo sentiu como se uma parte de si fosse completamente destruída.

Mas ela merecia.

Merecia porque era a coisa certa a se fazer. Teria sido errado continuar satisfazendo seus desejos egoístas quando nem tinha certeza do que escolheria no futuro. A espada com Shikon no Tama pesou na cintura. E mesmo que negasse ao máximo, sabia que teria de escolher.

Cedo ou tarde teria de fazê-lo.

Mas mesmo que tentasse, era difícil. E doía. Doía mais que qualquer ferida, porque para feridas como esta, não havia cura ou remédios que a impediam de sentir. Só restava amaldiçoar a si própria.

Ele precisava entender. Ela precisava que ele entendesse.

Olhando para as costas do youkai, ela tomou coragem para que as palavras instaladas na garganta saíssem.

— Sesshoumaru...

Uma dor aguda na nuca a interrompeu.

O mundo ficou escuro.

Sua consciência se foi.

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Sesshoumaru acordou sobressaltado com o chamado da jovem. Logo percebeu o estado em que estava: arfando e suando frio. Ela falara em pesadelo, mas ele bem sabia que não o era. Droga! O youkai voltou a se recostar e buscou retomar a respiração ao normal. A face de preocupação e interrogação da jovem chegava a incomodá-lo a ponto de fazê-lo se levantar. Não podia ficar encarando aqueles olhos amarelos ou acabaria cedendo.

— O que houve? – perguntou-lhe.

Não podendo dizer a verdade e não querendo mentir, ele simplesmente permaneceu em silêncio.

Irritada, Tsukiyo andou até parar à sua frente.

— Sesshoumaru, não finja que nada aconteceu. Isso está muito longe de ser normal para você. Quero que me diga o que aconteceu.

— Não foi nada. – respondeu indiferente. Droga, por que fica insistindo? Não pode simplesmente esquecer e deixar para lá?

Uma leve brisa soprou e bagunçou os cabelos negros da jovem, e sem perceber, Sesshoumaru fez o mesmo gesto de minutos atrás. Ele afastou a mecha de seu rosto, tudo sem o menor pensamento, ele apenas o fizera por fazer. Com o ato, acabou por calar as palavras dela que nem ao menos se interessara em ouvir.

Talvez o fato de sentir estar, pela primeira vez, às portas da morte, despertou no youkai a necessidade de afirmar aquilo que a tempos já sabia. Ou talvez fosse o fato de se ver, pela primeira vez, sem tempo.  

A noção de tempo e de finitude nunca lhe pareceu tão clara quanto agora.

Num ato desprovido de lógica, ele puxou Tsukiyo, já excessivamente próxima de si, para um caloroso beijo.

Ao tocar seus lábios, Sesshoumaru sentiu o coração acelerar e uma onda de calor percorrer o corpo. Levou as mãos à cintura da garota e puxou-a mais para si. O calor do corpo da jovem e a proximidade causavam arrepios em seu corpo. O Lorde aprofundou o beijo avançando com a língua na boca da jovem, sentindo-se extremamente satisfeito quando lhe foi permitida a passagem.

Afastaram-se quando os pulmões clamavam por ar. Ele sentiu as mãos de Tsukiyo em seu peito, o afastando levemente, mas não se fez de rogado e manteve firmes as mãos nas costas dela.

— Sesshoumaru eu não...

Ele sabia o que provavelmente se passava pela mente de Tsukiyo, e fez questão de garantir que esse beijo fora completamente diferente do último. Sesshoumaru já não estava mais preso ao passado e ele queria que Tsukiyo também soubesse isso.

— Você não é Rin. Eu sei que não é.

Nos olhos amarelos que tanto o intrigavam ele viu alívio, mas não conseguiu segurar-se mais. Dessa vez com mais força, ele puxou-a para outro beijo. As mãos percorriam as costas e curvas da jovem, o fazendo desejar mais. Ao sentir o arrepio dela e saber que ele fora o causador, sentiu-se poderoso e quis fazê-la sentir mais. Uma das mãos foi para trás da cabeça da jovem trazendo para mais perto, aprofundando ainda mais o beijo, ao passo que sentia que ela timidamente começara a explorar ele próprio com as mãos.

Era viciante estar com a Tsukiyo, quanto mais a sentia, maior o desejo ficava. Minha dama de prata... pensou ao se lembrar das estranhas palavras finais da mãe.

De repente, ela se afastou.

— Não posso. – sussurrou ela quase que em dor.

A expressão dela era coberta por uma sombra, tornando impossível saber como estava. Estaria pensando que é igual a última vez? O Lorde se aproximou e tocou sua face com uma das mãos, buscando tranquiliza-la.

— Já lhe disse que não a vejo como Rin e...

— Não é isso! – ela se afastou bruscamente dele, causando confusão nos sentimentos de Sesshoumaru.

Ele começou a imaginar se não a teria forçado a tudo. Será que...? A ideia de que ela talvez não sentisse o mesmo por ele, trouxe, pela primeira vez, medo ao youkai. Até agora isso nunca havia passado por sua cabeça. Surgiu, então, a urgência pela resposta dessa dúvida.

— Então o que é?!

— Não é justo com você! – despejou as palavras carregadas de sentimento. Ela levantou os olhos marejados. – Não posso lhe dar esperança! Não posso corresponder algo que não sei! Não posso...

Então é isso!

Não é que ela não gostasse dele, o problema é que amava outro.

O youkai não conseguiu continuar a encarar aqueles olhos tristonhos que tanto apreciava ver cheios de alegria. Ele cerrou os punhos de raiva, mas não era raiva dela ou mesmo do youkai que tinha seu coração. Não, ele teve ira de si próprio porque entendia o sentimento dividido da jovem. Por experiência própria, ele sabia. E pelos deuses, se ele simplesmente não compreendesse seus sentimentos, tudo seria mais fácil!

Assim como não a farei escolher quem salvar, não a farei escolher com quem ficar... Afinal, uma escolha definirá a outra...

Ele cerrou os dentes de raiva. Droga! Se estou fazendo o certo, por que dói tanto?!

— Sesshoumaru... – começou a jovem.

Um baque foi ouvido e Sesshoumaru se virou para ela. Quando viu a cena, foi pego de surpresa. Estava tão distraído que não notara o cheiro.

Segurando Tsukiyo desmaiada nos braços, estava um youkai coberto por uma capa negra, carregando uma espada nas costas. A pressão que exercia era imensa.

O homem sorriu para Sesshoumaru.

— Ora, ora... finalmente nos encontramos, Sesshoumaru.

Algo em seu espírito gritou, e o Lorde soube imediatamente de quem se tratava.

— Nisshoku. – falou seco.

O sorriso sombrio do homem se alargou. Os olhos vermelhos se estreitaram e examinaram Sesshoumaru de cima a baixo.

— Finalmente resolveu dar as caras. – continuou Sesshoumaru. – Já estava pensando que era um covarde que se esconderia até o final.

Sesshoumaru desembainhou Bakusaiga e a apontou para o youkai negro. Os olhos âmbar brilhavam de aviso e o sangue fervia pela batalha. Em resposta, Nisshoku retirou a longa e pesada espada das costas, mirando sua ponta no adversário, enquanto segurava a jovem com a outra mão.

— Tem certeza? – questionou o sombrio. – Ela pode se machucar...

A lâmina negra tocou de leve o pescoço de Tsukiyo, fazendo Sesshoumaru se forçar ao máximo a manter a compostura, ao passo que a raiva aumentava cada vez mais.

— Não vai matá-la. – falou o Lorde. – Se assim o quisesse já o teria feito.

— Correto. Ela tem mais valor para mim viva. – falou ele, brincando com os cabelos negros dela.

— O que quer com ela? – perguntou Sesshoumaru tentando esconder sua ira.

 – Humpf, você já deve saber. – ele olhou para Sesshoumaru de forma provocadora. – Posso até precisar dela viva para o ritual, mas... – ele fez um leve corte na bochecha da jovem, deixando escorrer um fio de sangue. – não quer dizer que não posso machucá-la um pouco...

— Se ficar segurando-a não conseguirá se defender direito. Será fácil matá-lo. – anunciou Sesshoumaru quase explodindo de raiva.

— Ah, mas eu acho que você não irá me atacar. Não se isso puder feri-la.

— Por que acha que tenho qualquer estima por essa mestiça? – fingiu.

— Não adianta mentir, Sesshoumaru. Não depois do que o vi fazer segundos atrás. – provocou com sua voz macia, deixando o Lorde no limite. – Mas sabe, até entendo seu desejo... Ela é deliciosa.

Apenas porque sabia que iria enlouquecer Sesshoumaru, Nisshoku lambeu o fio de sangue que escorria pela face da jovem, se deliciando com o sabor e sorrindo irônico para Sesshoumaru.

O youkai cão explodiu em fúria e partiu para cima de Nisshoku.

BAM!

As espadas se chocaram, cada um tentando superar a força do outro. Os olhos vermelhos encarando os ambares, os yokis densos se misturando.

Eram igualmente fortes.

Numa jogada arriscada, Sesshoumaru desembainhou a outra espada e fez um arco para acertar Nisshoku. Por reflexo, Nisshoku soltou a jovem para conseguir desviar da lâmina e se afastou. Sesshoumaru apanhou Tsukiyo antes que caísse e a colocou delicadamente no chão.

Um leve sorriso surgiu na face de Sesshoumaru e, quando a compreensão caiu sobre Nisshoku, ele teve que reconhecer.

— Oh, excelente blefe, Sesshoumaru. Não tive tempo de pensar que sacou Tenseiga, a espada que não corta. – ele se colocou em posição de combate e a expressão tornou-se séria. – Vamos resolver isso de uma vez.

Sesshoumaru concordou com o olhar, ao contrário de como fora com Shinigami, sua atenção estava cem por cento na batalha.

Os dois avançaram. As lâminas se chocavam, uma, duas, três vezes. Ambos eram bem habilidosos e as forças pareciam equivalentes, mas após alguns minutos de luta incessante e ondas de energia surgindo de ambas as espadas, uma grande diferença se mostrou decisiva:

A arma.

Num dos ataques, Sesshoumaru concentrou a energia em Bakusaiga e Nisshoku fez com mesmo com sua lâmina. O choque resultou em ondes de energia verde e roxa colidindo e agitando o ambiente ao redor. Estavam cara a cara. Os braços tremiam com o esforço e as expressões eram pura concentração e fúria de batalha.

Um trincado surgiu na arma de Nisshoku e a onda de energia explodiu, jogando cada combatente para um lado. Sesshoumaru se levantou com alguns poucos arranhados, mas sentiu que o gasto de energia da batalha estava se tornando problemático, principalmente devido a sua condição. Quando a poeira abaixou, Nisshoku também arfava, mas tinha uma das mãos no ombro ensanguentado e a espada fincada no chão, como se não aguentasse o peso da arma devido à profunda ferida.

— Tsc. – exclamou ele com um sorriso cansado. – Parece que realmente não posso vencê-lo sem o ritual.

Um sorriso vitorioso brincou nos lábios de Sesshoumaru. Percebendo o oponente cair de joelhos no chão, ele soube. Venci!

Com grande dificuldade, Sesshoumaru ergueu Bakusaiga acima da cabeça e preparou uma última rajada de energia.

— A guerra acaba aqui. – pronunciou o Lorde.

Quando estava prestes a descer a espada, um grito chamou sua atenção.

— Sesshoumaru, PARE!

A jovem tinha o olhar desesperado.

Incapaz de parar o ato que já começara, ele teve que torcer a espada e virar o braço. A rajada passou a centímetros de seu inimigo, sem o acertar. Confuso, o Lorde se voltou para a jovem e surpreendeu-se ao vê-la em choque, como se não acreditasse no que via.

As palavras que saíram de sua boca esclareceram tudo.

Com o olhar perdido em Nisshoku, ela falou quase como num sussurro levado pela brisa que se abateu sobre eles.

— Akkarin...

 

Nisshoku.


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Notas finais do capítulo

Por favor, estou morrendo de curiosidade para saber a reação de vocês a tudo o que aconteceu. Não me deixem no escuro, contem tudo!! kkk ^^