As Três Lágrimas do Youkai. escrita por Larizg


Capítulo 23
Capítulo 23 – Lágrima de Culpa. (Atualizado)


Notas iniciais do capítulo

Olá, mina!!! Passado esse maldito ENEM, posso me dedicar mais a fic. =) Para compensar não ter postado todo esse tempo, deixo para você um capítulo novo. O fiz maior para compensar a demora... Na minha humilde opinião é um dos capítulos mais bonitos e emotivos da fic, mas deixarei par vocês, minhas queridas leitoras julgarem. Espero conseguir arrancar algumas lágrimas rsrs ;)
Para dar uma incrementada, deixo para você dois link de músicas que combinam perfeitamente com o que Sesshoumaru sente. O link já tem a letra, tradução e música, por favor, não deixem de conferir. (http://letras.mus.br/trading-yesterday/918841/traducao.html) ou (http://letras.mus.br/trading-yesterday/758845/traducao.html)



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Sesshoumaru travou. Virou-se lentamente para encará-la e pela primeira vez seu rosto era um misto de surpresa e dor. Tsukiyo não sabia o que fazer. Nunca havia visto essa expressão no youkai, aliás, nunca pensou que ele fosse capaz de fazê-la.

            – Do que está falando? – perguntou-lhe Sesshoumaru. Seu tom era extremamente baixo, dividido entre o perigo e o medo.

            – Eu... – ela hesitou por um momento. A face do youkai a desestabilizara completamente, perdendo toda a confiança que carregava quando chegara ali. – Ela é aquela que você disse que eu lembro, não é? – falou baixo. – Realmente somos muito parecidas...

            Sesshoumaru permanecia de pé, encarando-a profundamente.

            – Como sabe disso? – questionou.

            Tsukiyo contou-lhe sobre os sonhos que havia tido com ela da melhor forma que pôde. Contou sobre o campo, a lápide, como se sentiu segura com ela e a única palavra que ela lhe falara: o nome dele. Ao final, Sesshoumaru parecia tão perplexo quanto ela.

            – Sei que parece loucura, mas eu juro que é tudo verdade. – falou Tsukiyo.

            – Eu acredito. – sussurrou.

            Sesshoumaru afastou-se e sentou-se do outro lado do quarto. Já não mais a encarava. Fitava o chão, o olhar perdido como Tsukiyo nunca imaginou ser possível. Ela desejou nunca ter vindo ao seu quarto. Vê-lo daquela forma doía-lhe o peito, principalmente por não conseguir fazer nada para confortá-lo. Mesmo sem saber toda a história, Tsukiyo tinha certeza de uma coisa: Rin não foi apenas uma conhecida para Sesshoumaru. Aquela expressão perdida, carregada sofrimento, que Tsukiyo tanto conhecia, só podia significar uma coisa.

Tsukiyo sentiu os olhos marejarem ao compartilhar de sua dor.

            Você a amava Sesshoumaru...

—_________________________XXXXX____________________________

            Quando Sesshoumaru ouviu o nome de Rin tão inesperadamente, sentiu suas defesas se quebrando, tornando-o completamente exposto. Nunca esperou que a jovem descobrisse sobre ela e, agora, se via completamente sem ação. Enquanto escutava a jovem falar sobre seu sonho, sentia seu peito apertar que a cada palavra.

            O que isso significava? Rin estava viva? Não, isso era impossível. Mas então, por quê? Por que apareceu para a jovem? O que ela queria dizer? Tudo parecia tão surreal, e ele acreditava em tudo sem exceção.

            Desnorteado, ele caminhou até o outro lado do quarto e sentou-se. De alguma forma, seu mundo parecia ter desabado completamente. Já não sabia o que fazer ou o que pensar. Sentia-se perdido. Da mesma forma que se sentira no dia em que ela se fora.

            Foi tirado de seus devaneios pela jovem.

            – Sesshoumaru...? – a voz falha.

            Ele levantou o rosto para encará-la. Ela tinha a expressão genuína de preocupação e tristeza evidente. Hunpf, o quão patético devo estou para ela estar assim? Sesshoumaru se repreendia, mas não conseguia reconstruir suas defesas. Sua máscara de indiferença havia caído e ele não conseguia colocar novamente. Estava dividido, pois ao mesmo tempo em que queria ficar sozinho com seus próprios fantasmas do passado, não queria que ela saísse do seu lado.

            – Sesshoumaru eu... – a jovem fez menção de se levantar, mas desabou novamente.

            Aquele simples ato foi suficiente para fazê-lo sair de seu torpor. Ele, inconscientemente, levantou-se e se aproximou. Olhou para a ferida no ombro dela e constatou que o ferimento voltara a abrir.

— Sempre inconsequente... – falou.

Como num déjà vu se viu retirar um pedaço de sua manga para amarrar no ombro dela para estancar o sangramento que começou a manchar toda sua roupa. A jovem fez questão de recusar, mas ele a ignorou. Amarrou bem a tira ao redor de seu ombro. Quando terminou, voltou a encará-la.

A jovem tinha os olhos amarelos preenchidos de pesar. Seu sorriso tranquilizante inexistia. Ela parecia compadecer de sua dor, tentando pegar toda para si. Sesshoumaru se viu refletido naqueles belos olhos e tudo o que viu foi um homem patético tomado por um dos piores sentimentos humanos:

Culpa.

Antes que percebesse, começou a falar.

Talvez para fazê-la entender e, assim, acabar com o sofrimento de seu rosto. Ou talvez fosse apenas ele tentando colocar para fora tudo aquilo que guardara para si. Existe um limite para o que um homem pode suportar e essa nova onda de lembranças trouxe uma dor que extrapolou esse limite. Talvez Hiryu esteja certo. Quem sabe se eu...

— Rin era uma humana que conheci há muitos anos atrás. – começou. Tão surpreso quanto a jovem a sua frente. – Ela salvou minha vida, e eu não fui capaz de retribuir o favor...

A cada palavra parecia que algo se partia nele, mas também era o primeiro passo para se restaurar aquilo que estava quebrado. Ficou grato quando não viu no olhar da jovem qualquer traço de julgamento.

— O que aconteceu? – perguntou a garota, entre a curiosidade e a preocupação.

Após uns instantes de silêncio e reflexão, Sesshoumaru respirou fundo, encarando o longe.

— Aconteceu quando estávamos...

Enquanto desabafava, imagens vívidas surgiam na sua mente. Imagens que lhe causavam dor imensurável, mas que ele se recusava a esquecer.

Flashback...

            Sesshoumaru preparava Ah-Uh para a longa viagem que faria. Normalmente não levaria o animal para uma de suas viagens, mas não queria deixar nenhuma forma de Rin segui-lo. De repente, sentiu um par de braços enrolarem ao redor de si. Foi só pensar... Ele se desvencilhou delicadamente do abraço da jovem e encarou Rin.

            A jovem portava um longo sorriso no rosto, os olhos castanhos-mel brilhando para ele. Trajava um quimono azul, presente dele próprio, com uma faixa branca na cintura. No longo cabelo negro tinha uma presilha de prata em forma de lua, combinando com seu anel prateado de noivado. O orgulho com que ela usava tais peças alegrava Sesshoumaru.

            – O que faz aqui fora tão cedo, Rin? – perguntou.

            – Não achou que deixaria que fosse sem me despedir, achou? – falou com a voz doce que conseguia tirar Sesshoumaru do sério. Rin, então, colocou as mãos na cintura e mudou a expressão para irritada. – Mas ainda não entendo porque não posso ir com você.

            Sesshoumaru suspirou. Quando a jovem queria ser teimosa era como ninguém. Ele cruzou os braços para repreendê-la da mesma forma quando fazia quando ela era criança.

            – Porque vou para o território inimigo para clamar de volta as terras que uma vez foram de meu pai. É muito perigoso. – falou.

            – Exatamente! – exclamou a jovem, agora com seus 20 anos. – É muito perigoso. Por que você está indo sozinho? Por que não pede a Hiryu-san para ir com você?

            – Talvez apresentá-la para ele não tenha sido a melhor ideia. – reclamou mais para si mesmo que para ela. – Estou claramente em desvantagem contra a união de vocês dois.

            – É só porque nos preocupamos com você. – respondeu Rin, o tom baixo. – Tem mesmo que ir?

            Sesshoumaru levantou levemente o queixo da jovem para encará-la nos olhos.

            – Sou o Senhor destas terras, é meu dever. – respondeu para acalmar a amada. – Não se preocupe, voltarei logo.

            – Assim espero. – falou rendida. A expressão agora travessa. – Beeem, já que vai sair, também vou! Irei visitar Kaede-sama, desde que ela se mudou para uma vila que precisava de uma miko, temo que ela esteja muito sozinha.

            – Não há como te impedir de ir, não é? – ele perguntou já sabendo a resposta.

            – Não, não há! – sorriu travessa entrelaçando os dedos nas costas. – Além disso, não é longe e é nas Terras do Oeste. Não terei problema.

            Sesshoumaru suspirou novamente. Rin era a única que o vencia.

            – Leve Jaken com você. – falou. – E só para garantir, veja se Hiryu está disponível.

            – Certo!

            A jovem aproximou-se e beijou-lhe os lábios, provocando ondas de calor no youkai. Ele a puxou para mais perto. Ambos ficaram assim algum tempo, até que se separaram. Rin dirigiu-lhe um último sorriso antes dele se virar, montar em Ah-Uh e sair voando dali.

            Fique bem, pensou. Sem saber que aquela separação seria maior do que qualquer um dos dois imaginara

...

            Após expulsar os inimigos de suas terras em duas semanas, Sesshoumaru voltava para seu shiro. Ansiava por encontrar Rin novamente, não esperava que o tempo que passara longe dela fosse fazê-lo sentir tanta falta.

            Pelo caminho, passou por muitas vilas, mas todas pareciam desertas. Não havia trabalhadores no campo, nem mulheres cuidando de crianças. Apesar de serem vilas humanas, Sesshoumaru começou a se preocupar depois de passar pela quarta vila sem sinais de vida. O céu parecia negro nesses locais e o vento trazia um cheiro inconfundível: o cheiro da morte. O que está acontecendo por aqui?

            Chegando ao shiro, notou que parecia silencioso. Ao contrário das vilas, seus servos continuavam com as tarefas normalmente, mas no local pairava uma tensão angustiante. Atravessou o portão, esperando a tão costumeira recepção da noiva, mas ela não ocorreu.

Em vez disso, foi saudado por Hiryu que portava uma expressão preocupada.

            – Sesshoumaru...

            – Onde está Rin? – cortou Sesshoumaru, tomado por preocupação.

            – Sesshoumaru, tente entender. – buscava se explicar. – Ela estava bem até...

            – Onde ela está?! – vociferou. Sem esperar uma resposta, pôs-se em direção ao quarto de Rin.

            Chegando, abriu a porta. Rin parecia dormir em seu futon, a face estava pálida, em sua testa brotavam gotículas de suor. Tinha uma expressão angustiada e a respiração era irregular. Ao lado da jovem, estavam Jaken e a velha miko, Kaede.

Ambos olharam apreensivos para Sesshoumaru, temendo sua reação.

            – O que aconteceu? – questionou baixo, a ameaça evidente entre as palavras.

            A miko e Jaken trocaram olhares, preocupados com a reação do Dai-youkai. Kaede preparou-se para responder, mas foi salva por Hiryu que se pôs a explicar. Provavelmente ele era o único que poderia confrontar Sesshoumaru e sair com vida naquele momento.

            – Escute, Sesshoumaru. – começou, atraindo a atenção do amigo. – Assim como foi pedido, levamos Rin até a aldeia da miko. O que não esperávamos era que as aldeias humanas estão sendo afligidas por uma epidemia. Quando descobrimos, retornamos com Rin imediatamente, e ela parecia bem, mas...

            O youkai de cabelos vermelhos não sabia como explicar. Sesshoumaru se aproximou, ficando a centímetros do amigo, e com fúria no olhar questionou:

            – “Mas” o que?

O ruivo deu um longo suspiro e lançou a fala.

            – Mas, logo que chegamos, a saúde dela piorou. Não sei explicar como, mas dois dias depois ela já estava fraca o suficiente para não conseguir se levantar da cama. – falou Hiryu com pesar, vendo o desespero cruzar os olhos do amigo. – Não pudemos fazer nada, Sesshoumaru. Tentamos avisá-lo, mas o mensageiro não conseguiu achá-lo.

            Sesshoumaru, negando-se a acreditar, se virou para a miko.

            – Qual a cura?

            – Não há, Lorde Sesshoumaru. – respondeu Kaede entre a tristeza e o medo. – Nunca vimos nada igual. Ainda não foi achada uma cura. Fiz tudo o que pude, mas não posso curá-la.

            – Se... – começou Hiryu, incerto sobre a sugestão que daria. – Se Sesshoumaru marcá-la, ela melhorará?

            O youkai dragão olhava apreensivo para Sesshoumaru.

A marca era dada num ritual no qual se unificava por completo um casal. Uma fêmea marcada poderia ganhar saúde e longevidade tão grandes quanto à do youkai que a marcara, mas isso significava que passariam a dividir a vida.  A marca ligava suas almas e os sentimentos eram divididos e amplificados, tanto o amor quanto a perda do parceiro.

Geralmente, quando um youkai marca uma fêmea, ele a escolhe como parceira pelo resto da vida, e Hiryu ainda não sabia se Sesshoumaru seria capaz de escolher uma humana, em vista de todo o preconceito que o youkai cão parecia manter. Não duvidava que Sesshoumaru amasse Rin, mas dar a marca era algo extremamente íntimo e simbólico.

O ruivo ainda olhava com expectativas para Sesshoumaru, quando Kaede negou com a cabeça.

            – Mesmo que a marque, ela não resistirá. – a tristeza evidente na voz da velha. – Durante os primeiros dias, o ritual enfraquece a mulher para somente depois fortificá-la. Marcar Rin agora é o mesmo que adiantar sua morte.

            Instalou-se o silêncio no local. Nenhum dos presentes se moveu, todos encaravam Sesshoumaru, esperando sua reação. O Dai-youkai, sem dar maiores explicações, se virou e saiu do quarto, passando por Hiryu sem nem ao menos olhá-lo.

O youkai seguiu para os portões do shiro, seguido de perto pelo amigo, visivelmente preocupado.

            – Sesshoumaru? Aonde vai?

            Sesshoumaru parou no limite do portão e, sem se virar, respondeu:

            – Vou salvar a Rin.

            Sem mais nada a dizer, ele levantou voo e desapareceu entre as nuvens. A mente tomada por sentimentos diversos que ele não conseguia definir. Raiva, preocupação, desespero e o pior de todos: culpa. Sesshoumaru não conseguia parar de pensar que ele era o responsável por tudo estar acontecendo. Não deveria tê-la deixado ir. Se eu tivesse ficado, nada disso teria acontecido... Droga! Seu coração pulsava e a mente fervilhava com a impotência. Se ao menos fosse um youkai a ameaçando ele poderia facilmente dar um jeito, mas uma doença...

            Se eu já a tivesse marcado... Sesshoumaru lamentava ter tido dúvidas sobre marcar uma humana. Planejava fazê-lo depois do casamento, pois ainda tinha certa preocupação com sua imagem, principalmente por medo de repetir os erros do pai. Se eu não tivesse sido tão orgulhoso, Rin...

...

            Os portões do palácio se abriram num estrondo e Sesshoumaru adentrou no grande salão. Os guardas, ao lado do trono, se colocaram em posição de defesa, apontando suas lanças na direção do youkai que entrava furioso no local.

Estavam prestes a avançar, quando lhes foi ordenado:

            – Está tudo bem. Baixem as armas. – assim o fizeram.

            Satori estava sentada no trono, encarando o filho. A face indiferente, como por vezes o próprio Sesshoumaru fazia, mas com um brilho de divertimento cruzando o olhar. Era incrível o quanto eram parecidos nesse aspecto. Os cabelos prateados da youkai escorriam pelas costas em seu penteado habitual. O quimono azul celeste contrastava com a pele  branca e os olhos âmbar, iguais aos de Sesshoumaru.

Satori esperou o filho se aproximar e continuou:

            – Não precisa de tanto alvoroço, Sesshoumaru. – o tom meloso incrementando o teatro típico da youkai. – Sabe que é sempre bem-vindo no palácio de sua mãe.

            – O que preciso fazer? – disparou Sesshoumaru, ignorando o drama da mãe. Sua paciência, já curta, estava no limite.

            Apesar de manter a postura relaxada, a expressão de Satori tornou-se séria. Nem mesmo ela confrontaria o filho em tais circunstâncias. O brilho divertido permaneceu, mas somou-se a cautela e curiosidade.

            – Sei por que veio aqui, Sesshoumaru. – começou. – Mas infelizmente não há nada que você possa fazer. Nenhuma miko ou feiticeira pode ajuda-la. Aquela garota vai morrer.

            Não se contendo, Sesshoumaru sacou a espada e apontou para a mãe. Os guardas fizeram menção de se aproximar, mas Satori os dispensou com um levantar de mão. Ela encarava Sesshoumaru, completamente séria. O youkai sentia as mãos tremerem de raiva perante sua própria impotência. Ele se recusava a aceitar o veredicto.

            – O que disse? – perguntou Sesshoumaru com os dentes cerrados.

            Satori, com os olhos fixos nos do filho, calmamente levou os dedos na ponta da espada e a abaixou. Sesshoumaru, atordoado como estava, mal pareceu notar. Encarava profundamente o olhar da mãe.

            – Entenda, Sesshoumaru. Essa garota já escapou da morte mais vezes do que qualquer ser vivo poderia. – falou Satori. – Quando eu a trouxe de volta à vida, pela segunda vez, o fiz por gentileza, já que ela era importante para você. Eu lhe avisei que uma pessoa ressuscitada pela Tenseiga não poderia ser salva novamente, e ainda sim a salvei.

            Ela fez uma pausa, permitindo a Sesshoumaru assimilar tudo. O youkai era pura concentração, mas a cada palavra, Sesshoumaru parecia mais perdido do que nunca. Sabia onde terminaria o raciocínio da mãe, e isso o apavorava.

Satori se colocou de pé frente ao filho e continuou.

            – A morte não gosta de ser enganada, Sesshoumaru, e graças a você essa garota já o fizera duas vezes. Cedo ou tarde esse male a alcançaria, aliás, me surpreende que não a tenha alcançado antes. Você deve ter sido extremamente cuidadoso com ela para tal. – outra pequena pausa, cheia de significado. – Entretanto, a morte clama pela vida dessa jovem e quando o faz, pode persegui-la até mesmo em vidas futuras para conseguir o que quer.

            Sesshoumaru afrouxou a mão, quase derrubando a espada. Seu mundo inteiro ruiu por terra. Havia esperado que a mãe o trouxesse uma solução miraculosa, mas no fundo sempre soube que não havia nada que pudesse fazer. Ele baixou o braço com a espada e deixou-a escorregar pelos dedos. O metal bateu no chão, ressoando por todo salão.

            Diante do desespero do filho, Satori se aproximou e tocou-lhe a face delicadamente com a mão, num gesto completamente verdadeiro. Ela nunca vira Sesshoumaru tão perdido e, como toda mãe, foi tomada por um sentimento maternal, desejando acabar com a dor de seu primeiro e único filho. Talvez as palavras mais honestas que Satori já dissera, saíram como um sussurro de seus lábios.

            – Eu sinto muito, meu filho.

            O youkai não respondeu e nem se afastou do toque da mãe. Ficou temporariamente num estado de transe, tentando aceitar o inaceitável. Assim como nenhuma mãe fica calada diante do sofrimento de um filho, nenhum filho repudia o carinho e conforto de um gesto materno quando precisa.

Nem mesmo o orgulhoso Sesshoumaru...

...

            Sesshoumaru retornou ao shiro ao final da tarde, encontrando Hiryu o esperando no portão. O ruivo, ao avistá-lo sentiu um misto de alívio e temor.

            – Sesshoumaru, conseg...

            Interrompeu-se quando viu a face desolada do amigo. Para muito, o youkai cão parecia um vazio indiferente, mas Hiryu sabia o quanto o amigo estava sofrendo, o que significava que não encontrara nada que pudesse ajudar.

            – Como ela está? – perguntou Sesshoumaru.

            – Eu estava preste a procurá-lo. – disse. – Ela está acordada, mas...

Ele não conseguiu completar a sentença. Não era necessário.

Sesshoumaru pôs-se a caminho dos aposentos de Rin, sendo seguido de perto pelo general. Ele chegou ao quarto de Rin e abriu a porta. A miko estava segurando sua mão e Jaken estava falando com a jovem. O pequeno sapo tinha lágrimas nos olhos.

Rin estava acordada. Ela se voltou para a porta e encarou Sesshoumaru. Estava pálida e fraca, mas mantinha no rosto um semblante tranquilo. Seus olhos se alegraram quando encontraram os de Sesshoumaru e um sorriso leve se formou em sua face.

 – Sesshou...maru. – falou Rin com dificuldade. A voz não mais que um sussurro.

A miko e Jaken lançaram um último olhar a Rin e se levantaram, permitindo a Sesshoumaru se aproximar e colocar-se ao lado dela. Kaede, Jaken e Hiryu estavam parados a porta, mas Sesshoumaru não se importava com a presença deles. Ele delicadamente colocou uma das mãos ao redor da face da jovem, acariciando com o dedo as bochechas de Rin, que outrora eram tão rosadas e agora jaziam sem cor.

— Estou aqui, Rin. – falou. – Estou aqui.

O coração martelava no peito ameaçando parar. Tudo o que mais queria era confortá-la e agora, se via incapaz até mesmo disso. Não havia nada que pudesse fazer. Nem mesmo o mais poderoso dos youkais conseguiria mudar a sina de sua amada.

Rin, com muito esforço, levou a mão para junto da dele e entrelaçou seus dedos nos dele. Sua expressão era a mesma expressão doce que sempre tivera, mas estava carregada de uma genuína tristeza. Ela estava triste não pela morte, que sabia ser inevitável. Estava triste porque, desta vez, não poderia estar na companhia de seu amado Sesshoumaru.

Quando os olhos de Rin começaram a lacrimejar, Sesshoumaru desesperou-se. Já que não conseguia impedir sua morte, ele queria ao menos impedir sua tristeza. Da sua boca, saíram palavras fortes que ele carrega a muito no coração.

— Eu te amo, Rin. – falou, olhando fixamente nos olhos da menina.

Pela primeira vez, ele disse as palavras em voz alta. Sesshoumaru nunca as havia dito, apesar de ambos sempre sabarem que o sentimento era verdadeiro. Rin não pode evitar um sorriso. Um sorriso puro, daqueles vistos apenas em crianças ou em almas que aceitaram seu destino.

— Eu amo você, Sesshoumaru. – falou a jovem com o restante de força que lhe restava.

Sesshoumaru a puxou para perto e deu-lhe um beijo carregado de todo o sentimento que nutria por aquela humana. Ela prontamente correspondeu, as lágrimas ainda escorrendo pela face, sabendo que seria o último.

            Para aqueles que viam a cena, não sabiam se estavam diante da trágica separação de duas almas gêmeas ou de um ato do mais puro amor. Era o tipo de cena que deuses assistiriam e se compadeceriam pelo casal, escrevendo nas estrelas a história de tais almas atormentadas. Assim eram criadas as mais belas constelações, que serviriam de inspiração para futuros amantes.

            Eles se afastaram, mantendo as mãos unidas. Rin olhou para a face do amado e o encontrou perdido. Podia vê-lo quebrando por dentro e só desejou que não fosse a razão de seu sofrimento. Assim como ele, ela só queria acabar com a angústia do noivo. Ela colocou uma das mãos no rosto do youkai, o olhar carregado de sentimento e ternura.

            – Sesshou...

            Antes de conseguir proferir a frase que libertaria a alma do amado do tormento, a frase que precisava ser dita, Rin desabou nos braços de Sesshoumaru. Em choque, o youkai verificou o pulso da jovem.

Seu coração parou de bater e a respiração cessou.

            – Saiam. – falou Sesshoumaru para os presentes, mais como uma súplica do que uma ordem.

            Nenhum dos três contrariou. Eles saíram do quarto, acompanhados pelos soluços do pequeno sapo e o choro da miko, fechando a porta. Agora, Sesshoumaru estava a sós com o corpo que já não mais continha a vida de Rin.

            A sensação de solidão era tanta que ele puxou-a para perto e a envolveu num abraço, tentando aplacar a dor que comprimia seu coração. Sentia os dentes cerrados e uma bolha de angústia se formando na garganta. Sentia cada célula do seu corpo se despedaçar e o espirito perder toda a força.

            Sesshoumaru a apertava contra si como se aquele gesto pudesse segurar sua vida.

— Me desculpe... – sussurrou, suplicando um perdão que já não podia mais ser oferecido.

Para um coração distante e gelado, amar é um ato trabalhoso. E diante da perda, não há coração que sofre mais do que esse. Para o coração de Sesshoumaru, que não se deixava conquistar, a perda era devastadora. A impotência, a sufocante impotência, o corroia por dentro, e ele não conseguia afastar esse sentimento.

O brilho que Rin criara nele, se apagou. O coração pareceu rasgar e parar de vez. A própria vida pareceu abandoná-lo. Ele se sentiu tão vazio como nunca. Imerso nas trevas do sofrimento. Rin era sua luz do sol, e ela se fora para nunca mais nascer.

O sol havia se posto, dando lugar a eterna noite.

Naquela noite, Sesshoumaru, abraçado ao corpo de Rin, viu passar por sua mente os momentos convividos com ela. Quando se conheceram; como a salvara; quando foi ao inferno trazê-la de volta; o primeiro beijo; momentos bons e ruins; até aquele momento em que a sentiu desfalecer em seus braços.

Ela se fora.

Sua Rin se fora e não havia volta desta vez.

Sesshoumaru recordava de seu cheiro; da alegria com que sempre o recebia; dos olhos castanhos brilhantes; do sorriso que se mantivera tão puro quanto o de uma criança. Agora, nunca mais veria seu sorriso sincero novamente, nunca mais escutaria sua doce voz.

Nunca mais...

Em meio ao desespero e apegado a lembranças que nunca poderá reviver, Sesshoumaru liberou tudo o que sentia. Toda a dor, todo o medo de um futuro sem ela, toda raiva, toda a culpa.

Uma lágrima escorreu por sua face. A primeira que jamais havia derramado, mas que valia a pena pela mulher que ganhou seu coração.

Naquela sombria noite de primavera, Sesshoumaru chorou.

Aquele altivo youkai estava de joelhos abraçado ao corpo sem vida da amada, derramou uma única e pura lágrima, carregando todos os sentimentos retidos nele. Uma lágrima para impotência. Uma lágrima para a dor e solidão. Uma lágrima de desespero.

Uma lágrima de culpa...


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Notas finais do capítulo

Por favor, me digam o que acharam!!!!! Estou doida para saber a reação de vocês... =) Acharam que as músicas combinaram? ( já digo que a imagem é uma montagem, então ficou meio zuada, mas eu não sei fazer lágrima então.....)



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