Que Zoro não tinha o menor senso de direção todos sabiam; mas que isso acabaria afetando Luffy e Nami ninguém imaginava. Robin ria dos companheiros brigando com o espadachim, ele não vira a porta de entrada fazendo com que Luffy destruísse uma parte dali, Nami não gostaria de se responsabilizar pelos prejuízos da fábrica.

— Você quer mesmo que a gente entre aí? — Zoro perguntou a Robin e Chopper, se referia talvez ao calor que só parecia aumentar dentro do lugar.

— Está muito quente, mas Sogeki-sama nos convocou e é preciso a tripulação toda. — informou abanando o tecido do vestido contra o peito.

— Yosh, vamos lá ver o primo do Sogeking! — Luffy sequer tinha ideia de quem se tratava.

Adentraram a porta que o capitão não havia destruído percorrendo um extenso corredor. Mesmo mal iluminado, era possível ver a densidade do ar distorcida com o calor intenso, como quando se está ao lado de uma fogueira. O chão repleto de cinzas e papel não facilitava a locomoção ali. Nami havia entendido tudo ao pisar dentro da fábrica.

Chegaram a uma espécie de sala de espera, os outros os esperavam sentados confortavelmente em sofás e também se serviam com água para aguentar o calor. Aquilo seria perfeitamente normal, se não fosse pela cena que presenciavam das janelas.

A sala havia uma sacada com porta e janelas sem vidros e qualquer cortina, de fora um enorme clarão tratava de iluminar o ambiente. Tudo fazia sentido agora, o clima bipolar da ilha que quanto mais ao sul mais quente, era devido ao fogo que consumia o lixo de toda a população na área industrial ali. Nami sabendo do quanto aquilo prejudicava a atmosfera, só pôde sentir o ódio correr por si. Aquilo era ridículo! Como alguém faz um lixão escondido dos próprios habitantes da ilha, para se livrar de todo o material inutilizado? Parecia tão simples que podiam usar a ideia no dia-a-dia, quem sabe quando estiverem com problemas, a tripulação simplesmente não ateie fogo em tudo para se livrar deles.

— Não acredito. — era tudo o que a ruiva realmente queria fazer, mas era impossível de não se acreditar naquilo que estava tão vivo diante de seus olhos.

— Eu ainda não sei bem como lidar com isso... — Chopper dizia cabisbaixo, aquilo parecia ter afetado a todos.

Nami sentou-se no sofá mais próximo, ao lado de Sanji. Mantinha uma feição tensa, parou para pensar segurando o rosto com as mãos apoiadas no joelho. Zoro e Luffy foram cumprimentar Brook, ao qual não viam há algum tempo. A tripulação não sabia muito bem o que fazer no momento, eles não imaginavam o que viria a seguir e sequer tinham mente para pensar em algo.

Talvez apenas Robin esperasse, mas desde o começo sabia-se que o problema de Shima-shi não era físico; a administração e os maus hábitos da ilha seriam o vilão da vez.

— Tá pegando fogo ali fora?! — Luffy correu até a sacada pendurando-se. — Nunca vi uma fogueira tão grande!

— Idiota! Você só percebeu agora? — Sanji e Zoro gritaram em uníssono, inconformados com o companheiro tapado.

— Luffy, isso não é uma fogueira. — Nami levantou-se indo até o capitão e tirando-o de perto das chamas. — Essa ilha tem sérios problemas com o meio-ambiente. Desde que chegamos não vi uma árvore sequer, sempre soube que o clima dela estava absurdamente errado, mas nunca imaginaria que a causa disso fosse um enorme lixão pegando fogo dia e noite. — suspirou empurrando Luffy para longe das portas.

— Navegadora-san, acho que sua suposição está errada em um pequeno ponto. — Robin se pronunciou chamando a atenção de todos. — Quando encontramos com Brook antes de virmos para cá, ele me confirmou algo que havia sentido na noite anterior.

— Yohoho, eu ajudei em algo! — dançava animado com a contribuição.

— Nosso músico passou a noite em alguma das fábricas locais, não necessariamente nessa, mas aqui por perto. — todos prestavam atenção na mulher. — E segundo ele, a temperatura esfriou durante a noite. Não como se ela caísse drasticamente, mas apenas diminuiu, também percebi isso no hotel. O que me fez chegar à conclusão de que o fogo é apagado durante todas as noites.

— Que conclusão genial, Robin-chwan! — Sanji rebolava apaixonado aos pés da morena.

— Heh? E por que eles fariam isso somente de noite?! Quem projetou esta divisa foi super cauteloso ao construir as fábricas de um tamanho significável para que tampasse as chamas, não vejo motivos para isso. — Franky ajudava os outros a raciocinar.

— Talvez o som das chamas alcançasse os moradores das divisas mais próximas, quem sabe também a claridade e assim eles foram obrigados a manter tudo apagado de noite para que ninguém desconfiasse! — a rena se aproximou do círculo que formavam.

— Isso também explicaria o porquê do toque de recolher. — o espadachim disse simplesmente.

— Oi Marimo, isso não explica nada não, cala a boca! — Sanji tirou o cigarro da boca pronto para iniciar uma nova briga.

— Não comecem! — a navegadora interveio na discussão dos dois. — Acho que o Zoro pode estar certo. — suspirou cansada, estavam pensando demais naquele assunto.

Mesmo depois de toda aquela discussão era como se não tivessem evoluído nada quanto às informações, tirando as chamas que viam agora com seus próprios olhos, tudo não passava de especulações. Especulavam inclusive sobre quem estaria no comando de Shima-shi, julgavam ser mais de uma pessoa, mas isso também era apenas o que julgavam ser.

— Não fomos chamados aqui por aquele Sogeki-sama, então cadê ele? — Luffy cruzou os braços entediado. — E também está faltando o Usopp! — apenas ele e Chopper entraram em pânico. — Vocês não sentiram a falta do nariz dele? Que tipo de companheiro vocês são?! —abraçou o médico compartilhando do mesmo medo.

— Precisamos sair daqui agora e ir atrás dele, Usopp pode estar com problemas! — dizia agarrando-se ainda mais ao capitão.

— Usopp está com Sogeki-sama. — Nami mentiu revirando os olhos.

— E como você sabe Nami?! Chegou aqui junto comigo! — parecia que Luffy finalmente estava usando o pouco da sua inteligência, pena ser para a situação errada.

— Vem cá. — bateu a mão no estofado, o convidando a sentar-se; e ele não tardou em obedecê-la. — Por que você não pensa um pouco em carne? Imagina que legal quando voltarmos para o Sunny e o nosso cozinheiro ter renovado o estoque de comida, pensa no quanto de carne vai ter somente para você! — passou o braço pelo ombro do amigo, iludindo-o com seus desejos. E essa era sua ideia mesmo, com Luffy hipnotizado não precisaria explicar nada caso Usopp simplesmente aparecesse. — Gostoso né? Agora quero que imagine o acompanhamento, você consegue? — perguntou fechando os olhos do menino com a mão livre.

— Arroz temperado e um pouco de molho... — respondia de boca aberta, inclusive até babava.

— Isso, bom menino. — depositou alguns tapinhas de reconhecimento sobre o chapéu dele, aproximando assim de seu ouvido. — Agora quero que você coma e prestigie o que imaginou, você consegue capitão? — perguntou ao moreno, perigosamente próxima dele.

— Oi nee-chan, isso vai funcionar mesmo? — Franky ria do outro lado, suava incrivelmente mais que os outros.

— Vai mantê-lo ocupado. — jogou os ombros sem se importar, fazendo menção de tirar o braço envolta de Luffy. Assustou-se ao sentir o capitão impedindo-a de tirar seu membro dali. Luffy simplesmente a abraçou, cercando-a com os braços e pernas sem mais nem menos. — L-Luffy! — gritou o empurrando sem sucesso, ele esfregava-se feito um gatinho manhoso.

— Capitão idiota! — Sanji apareceu puxando o garoto antes que ele fizesse qualquer coisa a sua adorada Nami-san.

Instantes antes de o cozinheiro conseguir tirar Luffy de cima da navegadora, Nami sentiu uma mordiscada travessa em sua bochecha. Abriu bem os olhos tentando entender ainda assustada

— Minha carne! Não!! — gritava ainda de olhos fechados.

A navegadora se recompôs ajeitando o cabelo e limpando as bochechas com a costa da mão, talvez não tenha sido assim tão boa ideia brincar com as vontades do capitão. Era engraçado como ele havia imaginado mesmo tudo o que ela pedira; se aprofundou tanto nas palavras da ruiva que chegou a contundi-la com sua própria carne.

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— Sogeki-sama, os homens estão-

— Prontos e tá, tá! — espionava os amigos pelo buraco da fechadura.

Fazia pelo menos três horas que havia chegado à fábrica, o primeiro grupo dos companheiros chegara a menos de uma, ele não aguentava mais sentir aquele calor infernal ali. Usopp tinha um plano, mas precisava de todos os chapéus de palha juntos para que aquilo funcionasse.

Graças ao que Ibrahim lhe contara na noite passada conseguiu entender um pouco mais sobre o sistema daquela ilha, e sobre Nai-sama também. Ele era o possível causador de tanta poluição, pelo o que entendera, a vontade daquele homem se sobressaltava na ilha. Mas Usopp tinha poder afinal.

— Sogeki-sama, parece que a tripulação inteira se entregou como você planejou, todos aceitaram vir por livre e espontânea vontade somente de escutar seu nome! — um dos guardas informava animadamente. — O senhor é mesmo o mais temível de todos os mares Sogeki-sama, nunca sequer imaginaríamos que você estaria em Shima-shi caçando a tripulação do Monkey-

— Você fala muito! — Usopp murmurou revirando os olhos; talvez estivesse no maior papelão que seus companheiros poderiam imaginar, mas pelo menos estavam juntos.

Foi então que viu Sanji tirando o capitão desajeitadamente de cima de Nami, depois disso Chopper se juntou a eles enquanto o cozinheiro tirava Luffy de cena para lhe ensinar uma lição em outro lugar, e essa foi sua deixa para que os dois companheiros não o vissem.

— Vocês, tripulação dos chapéus de palha terão seus dias contados! — saiu majestosamente de trás da porta, erguendo uma espada falsa contra eles. Fechou a porta vendo alguns guardas desejando-lhe boa sorte, voltando assim para a sala. — Desculpem. — disse desanimado.

— Idiota. — Zoro resmungou de braço cruzado.

— Isso tudo foi uma encenação? — a ruiva ria descontroladamente. — Usopp, você é mesmo o tal de Sogeki-sama?!

— Sim sou, e ria mais baixo! — se aproximou balançando as mãos pedindo. — Se eles descobrirem que não sou um nobre em busca de uma causa, estou morto! — bufou jogando-se num sofá vazio. — Já viram o problemão dessa ilha? — perguntou apontando para sua costa, referia-se ao lixão em chamas.

— Seria impossível não notar. — Brook comentou aproximando-se.

— Existe um homem chamado Nai-sama, que segundo aquele cara com quem passei a noite, é o manda-chuva daqui.

— Oi Usopp, você passou a noite com um cara?! — Franky tirou sarro.

— Você me entendeu. — revirou os olhos. — Estou sendo um oficial para eles porque só assim terei uma chance de conversar com o tal do Nai-sama. Aliás, ele estava vindo pra cá! — tinha um tom esnobe, como se ele fosse grande coisa.

Os que estavam ali o encararam por alguns segundos, pensando que ele realmente havia feito algo útil, mas que não era preciso todo aquele convencimento. Afinal, Usopp sempre seria ele mesmo até sendo outra pessoa.

O atirador havia feito muito por todos, conseguira reunir a tripulação de uma maneira rápida e ainda teria chance de reverter toda aquela bagunça que Shima-shi havia feito por anos. Quem sabe ainda lucrar em cima disso, se isso acontecesse certamente Nami ficaria feliz.

Tudo ocorria como o planejado até ouvirem o mesmo barulho de quando Luffy quebrou a entrada da fábrica, provavelmente mais alguém tinha derrubado umas paredes de outro lado do lugar.

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— Não é para se aproximar mais da minha Nami-swan! — gritava com o capitão puxando-lhe pela orelha.

— O-oi Sanji, ela não é s-sua! — choramingou.

— Sanji, você vai machucar ele! — Chopper corria atrás dos companheiros com algumas coisas para primeiros-socorros já em mãos.

Faziam a maior bagunça por onde passavam, e provavelmente o cozinheiro os levava para frente da fábrica em que estavam. No caminho acabaram esbarrando num grupo de pessoas e sequer se desculparam, mas não viram quem eram também.

Sanji terminava de dar a devida bronca do companheiro quando aquele mesmo grupo de antes apareceu para tirar satisfações.

— Vocês devem ser a tripulação que está causando problemas na minha ilha, não é? — um homem baixinho e aparentemente bem vestido quem falava. — Aquela ladra e o ciborgue foram os principais culpados, não quero mais vocês por aqui.

— É uma pena não podermos sair ainda. — o loiro largou Luffy para que pudesse acender um cigarro.

— Não importa, então farei meus homens irem atrás de cada um! — estressou-se, havia realmente alguns homens que o seguiam ali, provavelmente guardas, então o cara era importante?

— Ossan, você é muito chato. — Luffy levantou-se enxugando o suor da testa. — E não fale mal dos meus companheiros sem nem mesmo ter conhecido eles! —aproveitou para ajeitar o chapéu na cabeça também.