Minha luz escrita por Larissa das Neves


Capítulo 7
Vow


Notas iniciais do capítulo

Estava escutando as músicas I'd Come For You, do Nickelback e Try, da Pink, enquanto escrevia esse capítulo.
Que cena fofa da Marina apoiando a Clara no Hospital. Mas ver a cara da Silvia, que percebeu o clima das duas, foi impagável!! HAHAHA



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Vanessa entrou no estúdio e só então percebeu o quanto estava atrasada. OS trabalhos já estavam a mil, com Marina realizado o primeiro ensaio do dia com as modelos, sendo auxiliada por Giselle e Flavinha. Resolveu aproximar devagar, sem chamar a atenção de ninguém e logo se infiltrou no meio das amigas.

– Isso são horas de chegar ao trabalho? – Marina se pronunciou, sem tirar os olhos da câmera, enquanto ajustava o foco.

– Tive umas coisas pessoais pra resolver essa manhã.

– Assuntos pessoais podem ficar pra depois, né? – Falou, se virando para encarar a amiga.

– Que foi, hein, Marina? Ta acordando com o pé esquerdo a semana inteira, credo. Quando a Clara chegava atrasada você não ficava mal-humorada desse jeito..

Logo as assistentes de Marina e as modelos perceberam o clima que se instalou ali. Vanessa percebeu que o nome Clara havia se tornado um tabu para a fotógrafa.

– Uma coisa não se aplica à outra. – Falou a fotógrafa, irritada.

– Até não se aplica, mas e a igualdade para todas, Marina? O que mais estou tentando fazer ultimamente é ficar do seu lado, seja profissional como emocionalmente, mas por conta desse seu estresse todo você fica arrumando desculpas para brigar. Não vou entrar nessa. Desculpe-me pelo atraso, mas você não pode se dar ao luxo de parar o ensaio por qualquer besteirinha. - Vanessa cruzou os braços e ficou encarando a amiga, séria.

Marina, que ainda estava séria, suspirou e concordou com a cabeça.

– Desculpe pelo que aconteceu agora, Van. E desculpe meninas, por ter parado o ensaio. Vamos continuar, sim? – Disse, voltando a se posicionar atrás da câmera.

Como Giselle estava ajudando Marina com o posicionamento das luzes e das modelos, Flavinha se aproximou de Vanessa.

– Você nunca falta a um ensaio, Van, nem por assunto pessoal. O que foi aprontar? Tem haver com a Clara? – Cochichou para a ruiva.

– Fui tentar dar uma ajuda pra ela. – Apontou com a cabeça em direção à fotografa, que estava concentrada no trabalho. – E olha o que recebo em troca. Se eu realmente não me importasse com ela, já teria ligado o “foda-se” a muito tempo.

– Mas que tipo de ajuda você deu pra ela, Van? Meu Deus, você não matou a Clara, né? – Estava chocada com a possibilidade do que poderia ter acontecido e viu Vanessa rindo.

– Nossa, as pessoas acham que sou o que? Uma psicopata obsessiva e possessiva? Por favor, Flavinha, não é assim que eu resolvo os problemas!

– O que você fez então?

– Segredo! Talvez as coisas melhorem pra Marina. Não aguento mais ver ela mergulhada nessa solidão. – Falou triste, observando a amiga de longe.

~.~

Houve uma pausa para o descanso no Bistrô, já que no meio da tarde e movimento era fraco.

Cadu estava sentado em uma das mesas lendo um jornal enquanto Clara estava sentada à sua frente, comendo um pedaço de torta e com uma cara pensativa.

– Então esse Diogo Meirelles é o pai da Marina? – Cadu perguntou, ainda lendo o jornal.

– Sim.

– Você viu em quanto escândalo ele ta envolvido? Milhões e milhões roubados da receita, lavagem de dinheiro. Estou chocado.

Clara permaneceu em silêncio. Lembrou-se da conversa que Diogo e Marina tiveram e depois da promessa que fez a ela dizendo que elas enfrentariam tudo juntas. Havia quebrado uma promessa.

– Você não vai falar nada, Clara?

– Falar o que? Eu não trabalho mais lá, não tem mais nada a ver comigo.

– Tem sim, ela não era sua amiguinha até uns dias atrás? Agora vai fingir que não se interessa pelo que acontece com ela?

– Você é estranho, Cadu. Ora você não quer nem ouvir o nome da Marina. Ora você faz questão de colocar ela no assunto. O que você quer, afinal? – Falou, olhando séria para o marido.

– Não quero nada, ué. Quero conversar com minha esposa, que ultimamente está distante de mim.

– Se quer conversar vamos trocar de assunto.

– Tudo bem. – Bufou, e logo voltou a folhear o jornal. – Mas deixa eu comentar mais uma coisa. Sabe o que eu penso? Se parte do dinheiro que a Marina ganhou também foi conseguido assim, de forma suja.

Clara se surpreendeu com a observação de Cadu e logo sentiu o sangue ferver.

– Como assim, Cadu?

– Ah, se o pai dela é assim não me surpreenderia se ela fosse assim também. Filho de peixe, peixinho é, não é? – Falou, rindo em tom de deboche.

– A Marina não é assim... – Respondeu em voz baixa, encarando o chef.

– Quem garante? Sinceramente Clara, acho que você nem conhece a Marina direito. Mesmo recebendo ajuda do pai, como você me contou, tenho certeza que ela joga por debaixo dos panos.

Essa foi a gota d’água. Clara levantou num pulo e espalmou as mãos com força sobre a mesa para chamar a atenção de Cadu. Estava vermelha de raiva.

– Escuta aqui. – Apontou o dedo na cara dele. – Você nunca mais ouse falar assim da Marina na minha presença. Entendeu?

– Olhá só. – Sorriu de forma provocativa. – Continua defendendo a sua amiguinha, não é?

– Eu defendo quem eu acho que deve ser defendido. Você não conhece ela, mas eu sim! Ela é a que mais está sofrendo com as cagadas que o pai ta fazendo então não venha me falar que ela é igual a ele! Que golpe baixo, Cadu! Você não é assim!

– Eu fiquei assim por culpa dela. Ela vem e se infiltra na nossa vida sem ser chamada e age como se fosse sua dona você quer que eu faça o que?

– Você nunca parou pra pensar que EU posso ter permitido a Marina entrar na nossa vida? – Disse, para a surpresa de Cadu.

– Como é que é?!

– Ah, Cadu! Não se faça de desentendido agora, por favor. Você se lembra do dia que fomos na exposição dela? Eu queria que você ficasse do meu lado quando ela veio falar comigo. E o que você fez? Ficou falando no celular sobre comida com seus amiguinhos! Você estava mais preocupado em abrir seu restaurante do que ficar com a sua família. Se recusava a ir às reuniões do Ivan porque estava ocupado com seu sonho. Eu percebi a sua mudança. Você passou a ficar mais tempo comigo e com o Ivan porque se sentiu ameaçado. Não é? Me diz, como estaríamos se nunca tivéssemos conhecido a Marina?

– Felizes! – Ele gritou, deixando ela surpresa. A briga dos dois já chamava a atenção de algumas pessoas que passavam por ali.

Clara ficou em silêncio por um momento e uma lágrima escorreu pelo seu rosto.

– Será mesmo, Cadu? Eu estava sempre ali, vivendo para você e para o Ivan e me esqueci de mim. Você estava feliz, disso eu sei. Mas será que eu estava?

– Ta querendo dizer o que? Que você estava infeliz comigo, Clara? É isso? – Ele se levantou, exaltado.

– Cadu, por favor. – Ela chorava. – Estou dizendo que você precisa parar pra pensar e ver como nós estávamos vivendo antes de conhecermos a Marina. Não culpe ela pelas coisas que você fez.

– O que eu fiz, Clara?

– Se esqueceu de mim.

Aquela frase deixou Cadu em choque. Ele se lembrou de quantas vezes ficava acordado até tarde fazendo os cálculos para abrir o restaurante. E de quantas vezes usou o cartão da esposa sem ela saber para pegar o dinheiro que precisava. E se lembrou de outras coisas também. Mas um casamento não pode acabar daquela forma. Pessoas erram. E ele se recusava a aceitar que estava errado. Estava fazendo aquilo por ela e pelo Ivan.

– Eu não posso acreditar no que estou ouvindo..

– Cadu... – Ela enxugava as lagrimas com a palma da mão. – Eu preciso ir buscar o Ivan. Vou leva-lo pra casa, mas não vou voltar. Preciso ver se ele precisa de ajuda com lição de casa ou coisas assim..

– Agora vai ser a mãe presente? – Provocou.

– Sempre fui presente, Cadu. Fui presente por 10 anos, e ainda estou sendo. Você que se recusa a enxergar. – Levantou e foi embora, deixando Cadu para trás.

~.~

Clara buscou o filho na escola e pensou em leva-lo para passear pela praia, já que o sol ainda estava de pé, mas foi direto para o apartamento da irmã. Precisa conversar com alguém sobre Cadu, sobre Marina e sobre a conversa que teve com Vanessa.

– E você gritou com ele? – Falou, depois de ouvir a irmã narrar a briga que tivera com Cadu.

– O que eu ia fazer, irmã? Ele acusou ela. Eu sei que a Marina não é igual o pai, ela sequer sabia como o pai ganhava dinheiro. Não foi justo da parte dele.

– O Cadu está se sentindo muito ameaçado com a presença dela. Agora que você defendeu ela, mais ainda.

– A Marina não tem ninguém pra defender ela. Eu sempre defendi o Cadu, mas agora ele passou dos limites.

– Acho que ele falou isso como uma forma de testar você. Ele queria saber como você se comportaria diante do comentário dele.

– Não me interessa. Ele não tem direito algum de falar dela desse jeito. – Esbravejou, revoltada.

– Tudo bem, nisso eu concordo com você. Mas agora, me conta. Você e a Marina continuam sem se falar?

– Sim. Tem duas semanas já. A Vanessa veio conversar comigo no Galpão hoje. Parece que a Marina está pior que eu. – Suspirou, desanimada.

– Ela também está sofrendo?

– Parece que sim. Irmã, isso está acabando comigo. Não teve um dia sequer que eu não tenha pensado nela.

– Se você sabia que ia sofrer, porque decidiu se afastar?

– Pra não dar falsas esperanças pra ela e pra mim...

– Sim, nisso eu concordo. Por mais que o Cadu esteja melhor, ele ainda está doente e precisa do seu apoio.

– Isso eu sei, Leninha. Ninguém me deixa esquecer isso. – Falou, irritada. – Mas eu vejo você e ele falando disso dá-se a entender que eu nunca fui presente. Ele não é uma criança que precisa que eu segure a mão dele o tempo todo. Eu sempre apoiei o Cadu e sempre vou apoiar. Mas me recuso ser infeliz no meio desse processo.

– Está irritada porque estou dizendo pra você ficar ao lado dele?

– Estou irritada porque você está me dizendo, nas entrelinhas, pra não ficar com a Marina.

– Clara, quem sou eu pra te dizer alguma coisa? Sou sua irmã, mas não sou a voz da razão. Já fiz muita coisa errada nessa vida. Eu tento te aconselhar no que acho correto, mas quem faz suas próprias escolhas é você. Se está com saudades dela, vá vê-la, ora. Cadu está certo, você está mal-humorada e amargurada desde que se afastou dela. – Riu.

– É, isso eu já percebi. – Levantou. – Vou pra casa. Preciso ajudar o Ivan com a lição de casa.

– Eu já fiz, mãe! – Gritou o menino do outro lado da sala. – Me deixa aqui, o tio Virgílio vai me levar na oficina daqui a pouco.

– Deixa ele aqui, irmã, e vá ver a Marina.

Clara cogitou a possibilidade de ver Marina e pensou em recuar. Sabia que se desse aquele passo, iria trair Cadu. Mas quando sentiu seu coração bater acelerado com aquela chance, percebeu que morreria se recusasse sua própria vontade.

Despediu-se do filho, dizendo que precisava ir até o estúdio, que concordou e tranquilizou a mãe dizendo que poderia dormir sem problemas no apartamento da tia.

Correu em casa e tomou um banho demorado, a fim de relaxar e tirar toda a tensão que passou naquela semana. Vestiu uma camisa branca bem larga e um short jeans, pois a noite estava bem quente. Pegou um taxi e rumou para Santa Tereza. Lá, roubou algumas flores da vizinha de Marina e foi até a casa da amada.

Chegando na casa da fotógrafa, viu uma certa iluminação na área da piscina e se aproximou, imaginando que encontraria Marina ali, mas viu apenas Flavinha, Giselle e Vanessa se divertindo na piscina.

– Ei, meninas! – Clara se anunciou.

– Clarinha! – Giselle se levantou da cadeira que estava e foi cumprimentar a amiga. – Você sumiu!

– Desculpe. – Riu envergonhada, cumprimentando Flavinha em seguida. – Tive uns probleminhas. – Virou-se para Vanessa. – Cade a Marina?

Vanessa viu a expressão um tanto quanto “ansiosa” de Clara, e quando viu as flores que ela carregava na mão, achou a cena engraçada. Fez uma careta imaginando a reconciliação das duas.

– Estúdio. – Respondeu simplesmente, voltando sua atenção para a revista que estava lendo.

Não perdeu tempo e correu para o estúdio. Antes de adentrar ao local, ficou parada na porta a fim de encontrar Marina primeiro e a avistou. Estava usando uma camisa larga, na cor vermelha, e estava parada no meio do estúdio com os olhos fechados e dançando. Dançava de um jeito engraçado, balançando bem devagar de um lado para o outro enquanto uma música em inglês tocava. Clara não entendia muito de inglês, sabia o que havia aprendido na época da escola e que Marina havia ensinado a ela, mas já havia escutado aquela música uma vez e sabia sua tradução. Era algo sobre “Eu lutaria por você. Daria minha vida por você. Você sabe que eu sempre viria por você”. Sorriu.

Aproveitou-se que Marina estava de costas para a porta do estúdio e se aproximou devagar, parando atrás dela. Respirou fundo de forma silenciosa, sentindo o maravilhoso cheiro que os cabelos dela emanava, e percebeu que Marina havia parado de dançar. Passou o braço por cima do ombro da fotógrafa e fez as flores surgirem na visão dela. Viu o corpo dela se contrair inteiro.

– Oi. – Clara se pronunciou, percebendo como sua voz causava reações no corpo da mulher á sua frente.

Marina segurou as flores e se virou. Quando seus olhares se encontraram, o ar ficou carregado e estava tão visível que poderiam tocá-lo. Ficaram paradas por um tempo se analisando e tanto Clara como Marina perceberam a falta que uma fazia à outra. Marina sorriu. O sorriso mais lindo que Clara já havia visto.

– Oi. – Marina respondeu. Sem tirar os olhos da morena, levou as flores até o rosto para sentir o cheiro delas. – Acho a coisa mais linda você roubando flores pra me dar.

– Vou roubar quantas flores for preciso se você sorrir assim pra mim sempre. – Sorria.

– Você é o motivo dos meus sorrisos, Clara.

Clara se emocionou com aquela declaração e abriu os abraços, convidativos. Marina se atirou neles, a abraçando com força. Sentindo que o corpo da fotógrafa começou a tremer, Clara a abraçou ainda mais. A sensação do corpo quente dela no seu fez Clara suspirar.

Marina afundou seu rosto no pescoço da amada e sentiu seu perfume, aquele perfume tão conhecido.

– Por que voltou, Clara? – Perguntou, com a voz abafada. Sentia que iria chorar a qualquer momento.

– Eu te fiz uma promessa, lembra? Disse que enfrentaríamos tudo juntas.

Marina levantou seu rosto e passou a encarar Clara, com o rosto muito próximo e sem desfazer o abraço.

– Porque você realmente voltou, Clara? – Sussurrou, com seu nariz tocando de leve o nariz de Clara.

A ex assistente segurou a nuca da antiga chefe e grudou seus lábios no dela. Ficaram por um tempo com os lábios grudados até que Marina pediu passagem com a língua e o beijo se tornou desesperador. Ambas se agarravam na roupa da outra como uma forma de se manterem ainda mais próximas, enquanto aquele único beijo se tornava dois, três, quatro. Clara quebrou o beijo, a procura de ar, mas sem desgrudar suas bocas.

– Clara, e o Cadu.. – Marina começou a falar, mas foi interrompida por outro beijo ardente de Clara.

– Agora só tem eu e você.. – Deslizava as mãos pelas costas de Marina e levantou um pouco a camisa que ela usava, tocando de leve a pele branca, a fazendo se arrepiar. – Eu quero ficar hoje com você. Aqui. Por favor, Marina, eu não aguento mais. Meu corpo está implorando por você.

– Clara... – A voz de Marina saia carregada de desejo. – Se prosseguirmos não vai ter volta..

– Eu não me importo..

Marina levou Clara até seu quarto e trancou a porta. Clara encostou-se na mesma e ficou observando Marina a sua frente, enquanto suspirava. Percebeu que ela a olhava de cima a baixo, como se não acreditasse que ela estava ali. Clara segurou seu braço e a puxou em sua direção, começando mais um beijo.

– Quero que você me ensine.. – Falou, compartilhando com Marina o mesmo oxigênio.

– O que? – Marina sentia sua respiração falhar só de imaginar o que estava para acontecer.

– A alcançar o céu... – Sussurrou com a voz rouca de desejo, deslizando a ponta do nariz pelo rosto da fotógrafa.

Agora foi Marina que a beijou.


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Notas finais do capítulo

Agora a coisa vai pegar fogo! huhu