RUE - As flores, O pássaro e A música escrita por Serena Bin


Capítulo 3
CAPÍTULO III - A Música parte I


Notas iniciais do capítulo

Olá amores. Quero agradeçer a todo mundo que está lendo a fanfic desde o começo.
Bem, o último capítulo será divido em dois, A música parte I e II.
Boa Leitura.



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O som da voz de Caesar Flickmann ecoa pela sala. Logo mais a noite teremos uma entrevista com o maior apresentador de Panem.

Meu estilista já tratou de minha roupa.

– Daqui a poucas horas voces estarão frente a frente com Caesar Flickmann - Chaff comenta - Sejam simpáticos, respondam as perguntas com leveza e tentem parecer fortes e naturais.

Eu olho para Thresh imaginando que não será difícil impressionar com todo esse tamanho e força, em seguida tento me imaginar olhando para todo aquele público, tendo como missão impressionar alguns poucos patrocinadores que queiram me ajudar a voltar para casa.

– Falem somente o necessario e não deem detalhes de suas habilidades. - Chaff conclui, em seguida Thrash e eu somos levados por nossa equipe de preparação.

Scath coloca tres vestido a minha frente.

– De qual deles gosta mais? - Meu estilista pergunta me colocando frente ao espelho. Eu olho para os tres modelos e os considero.

O primeiro é verde escuro, rodado em seda, o segundo é amarelo ouro, com um tecido fino que muito se assemelha à organza, o terceiro é meu preferido. Azul claro com seda branca.

– Do azul. - respondo.

Scath sorri e acrescenta:

– Ótima escolha.

–--

Duas horas se passam e finalmente estou pronta. Meu reflexo no espelho mostra uma garota assustada, com saudades de casa, com dor de cabeça pelas noites não dormidas, uma menina ansiosa. Uma Rue quebrada pelas chances iminentes de estar morta em poucas horas. Mas ainda sim estou bela. Angelical e meiga.

– Rue - Érida Wombber interrompe na porta do quarto, ficando surpresa ao me ver - Oh! Voce está linda, um primor. Agora vamos, temos de estar nos estúdios em uma hora.

Minhas pernas me impedem de andar. O medo que não senti nos outros dias, eu o sinto agora. Finalmente a ficha caiu. Estou nos Jogos Vorazes.

Os olhos de Érida recaem sobre mim.

– Rue? - Diz movimentando em minha direção - O que houve?

Meu olhar está baixo. Quando Érida Wombber chega até mim e levanta meu rosto, as lágrimas brotam em seus olhos.

– Ah! Rue - Érida diz envolvendo-me em um abraço - Não se sinta assim. Pode parecer estranho o que vou dizer, mas eu sei o que voce está sentindo.

A voz de Érida sai abafada, mas ouço confusa.

– Sabe? - pergunto tristemente. Ela assente.

– Não comento muito mas perdi minha irmã para os jogos vorazes. Meu choro cessa. A revelação de Érida me faz perder a vontade de me lamentar e me coloco atenta as palavras de minha agenciadora. Como é possível isso? Érida percebe minha confusão.

– Há vinte e cinco anos,ela fora escolhida pelo distrito cinco. O meu distrito de origem antes de eu ser adotada por um casal da capital. - a fala de Érida se torna ainda mais confusa para mim - Trista Lunders, era o nome dela. Chegou até o décimo nono dia e então foi morta por um rapaz chamado Haymitch que se tornou assim o vencedor daquela edição. Hoje ele é mentor no 12.

O 12. Mais uma vez me surpreendendo. Entrando em meus caminhos como o vento que cruza um campo. Estou estática. Érida continua:

– Sei que não se compara com o que voce está sentindo mas, a dor de poder perder algo é a mesma.

As lágrimas voltam ao meu olhar. Nos abraçamos e ela finalmente me conforta:

– Fique calma. Voce ainda vai viver muito.

Não creio que seja verdade. Tento ser otimista mas pensar no que posso enfrentar amanha se torna doloroso e medonho demais para suportar sozinha.

"Voe de volta para casa."

Tento lembrar das palavras de meu pai e sinto um fio de força voltar às minhas pernas.

–--

A emissora onde gravo minha entrevista é enorme. O cenário de onde Caesar Flickmann fala para Panem todos os dias, nesta hora encontra-se escuro, mas em determinado momento as luzes se acendem e pouco a pouco a plateia vai chegando. Em poucos minutos todo o lugar está lotado.

Os tributos formam uma fila única. Por ordem de distrito, Thrash e eu somos os penúltimos a entrar, o que nos garante poder assistir as entrevistas dos outros tributos. Quem chama minha atenção logo de cara é a garota loira do distrito um. Linda, tão altamente boa com as palavras e tão escandalosamente encantadora. Devem haver filas de patrocinadores querendo salvar a vida dela.

Minha atenção está voltada a mim mesma. Tímida num canto, repasso as orientações que recebi de Érida e Chaff, é quando sinto duas mãos em meus cabelos. Me assusto. Olho para ver quem é e sou surpreendida por ela. A garota do 12.

– Pronto. - diz a garota arrumando meu laço de fita - Agora não vai mais cair.

Ela sorri sutilmente. Não há tempo para agradecimentos, sou chamada antes disso.

– Senhora e senhores! - A voz de Caesar Flickmann soa - Ela é meiga, é a participante mais jovem desta edição, é do distrito 11, recebam com aplausos. Rue Sparks!

Ouço aplausos.

Sou encaminhada até a entrada do palco. Uma escadaria me conduz até o centro. Há luzes, refletores, telões e câmeras por todos os lados. Não consigo imaginar o quanto tudo é exagerado na Capital.

– Rue! - Caesar explode enquanto os aplausos ainda são altos, mas há um momento em que cessam e então a entrevista começa. Caesar me pergunta sobre minha familia, sobre o distrito 11, minha incrível nota oito no treinamento. Coisas dessa classe. Mas eventualmente uma pergunta tira meu chão.

– Então, Rue - Caesar diz com a voz calma de sempre: – Voce quer deixar algum recado para sua família?

As lágrimas. Sinto encherem meu olhos.

"Tente parecer forte."– As palavras de Chaff circundam meus pensamentos. Me contenho. Eu olho para uma das várias cÂmeras existentes ali e fixo meu olhar, como se cada ponto de luz fosse um rosto que amo.

– Mãe...pai... - digo vagarosamente - Eu amo voces.

Há silencio.

Então minha entrevista se vai. Thresh sobe ao palco para ser entrevistado. Saio rapidamente e antes que eu consiga chegar aos bastidores, as lágrimas molham meu rosto. Noto que sou uma atração para os tributos do 1 e 2, que com olhar desprezível nem se quer sentem remorso por fazerem tanta questão de estarem nos Jogos.

A vinheta anuncia que é hora dos comerciais. Scath ajuda a me recompor,e quando o programa volta ao ar é a vez do ultimo casal de tributos. Eles estão adoraveis. Ele em um terno e ela num brilhante vestido cor de fogo.

– Senhoras e Senhores, recebam com aplausos, ela que brilhou no desfile, do distrito 12, Katniss Everdeen! - Caesar clama a plenos pulmões.

Imediatamente a multidão vai a loucura. O nome da garota morena de olhos cinzentos é aclamado por toda a platéia. Ao fundo da sala posso ouvir Érida Wombber elogiar:

– Bem, parece que Effie Trinket conseguiu uma potencial vencedora, afinal.

As palavras de minha agenciadora são duras mas reais. Um alguém com tanta popularidade tem grandes chances de vencer essa coisa horrível.

A entrevista segue e Caesar Flickmann diz o quanto adorou a parte em que Katniss se voluntaria pela irmã.

– Prim - Katniss responde aérea, com o mesmo rosto de surpresa que fiz - Ela é maravilhosa.

As palavras da garota são tão espontâneas e tão claramente verídicas que me pergunto se tal pessoa seria capaz de se entregar a mortandade dos jogos. Há uma estranha doçura em sua fala, principalmente quando se refere à irmã caçula. Então nos momentos finais da entrevista, o ato mais emocionante acontece. Katniss caminha até o centro do palco e gira em torno de si própria, e num estalar de dedos, ela está em chamas, brilhante pelo fogo como na noite do desfile. Por todos os lados, vejo pessoas boquiabertas e Caesar Flickmann não esconde o entusiasmo ao ver tal situação. Agora, toda Panem tomou para si o que eu já sabia. Katniss Everdeen: a garota em chamas.

A onda excitante que embala todo o set de gravação se mantem firme mesmo quando Katniss Everdeen deixa o palco. Pelo contrário se intensifica, pois quem sobe para a última entrevista da noite é o garoto do 12.

– Peeta Mellark - Caesar começa - Como estão sendo seus dias aqui pela Capital?

Agora com mais atenção posso vê-lo melhor. O rapaz loiro de estatura mediana e olhos incrivelmente azuis, veste um terno feito do mesmo tecido brilhante da roupa de sua colega de distrito, porém em uma cor mais sóbria. E então noto. Ele é bonito.

Peeta Mellark responde Caesar com uma simpatia impressionante. Não sei qual o seu segredo, mas ele não está alarmado ou amedrontado como a maioria dos tributos, ou se está ao menos não transparece.

– Bem - Começa Peeta - A comida é boa e os chuveiros daqui são estranhos.

Um riso estrondoso toma conta da audiência que já está impregnada pelo charme do rapaz.

– Viram só pessoal, temos chuveiros estranhos. - Caesar comenta com a platéia.

A conversa segue com um discutindo sobre o cheiro do outro, numa onda cômica que disfarça o clima tenso dos bastidores. Quando Caesar pergunta sobre os sentimentos de Peeta é que o garoto do 12 torna-se uma espécie de ídolo da audiência.

– Então Peeta, existe alguém especial? - O apresentador especula, mas o rapaz apenas sorri e nega. Mas Caesar Flickmann é apresentador ha mais de trinta anos, ele sabe como ninguém a melhor maneira de conduzir uma conversa.

– Oh! Não pode ser - Caesar diz olhando para a platéia - Um garoto bonito como esse, não pode estar sozinho...Peeta, me conta!

Há um leve constrangimento no ar, mas o rapaz é articulado o bastante para nem se deixar corar. Peeta então cede à pergunta de Caesar.

– Bem, - Começa a dizer com o olhar fixo no nada, parecendo puxar lá do fundo a maneira certa de dizer algo - Há uma garota no 12, por quem eu sou apaixonado desde criança...

Os olhos de todos caem na figura do romântico rapaz que continua: - Mas acho que ela nunca reparou em mim, até o dia da colheita.

Caesar interrompe o ar platônico e exalta:

– Quer saber Peeta? - Diz - Voce vai lá e vence os Jogos Vorazes e, quando voltar para casa ela vai ter que te dar uma chance. Não é mesmo pessoal? - O apresentador comemora com a audiência ali presente.

– Obrigado - Peeta agradece - Mas receio que ganhar não vá me ajudar muito.

– Porque? - Caesar pergunta curioso.

Os olhos de Peeta brilham. Vejo uma estranha dor em seu olhar.

– Porque ela veio pra cá comigo.

Os olhos cinzentos da garota estão atônitos. Eu a observo assim como faz o resto dos tributos. Cochichos e vozes abafadas comentam a nova fofoca. Penso o quão bonita foi tal declaração e que sorte mais triste é a desses dois.

A entrevista com o garoto se encerra com Caesar desejando sorte à Peeta Mellark, o apaixonado do distrito 12.

–--

A longa noite se encerra comigo, Thrash, Chaff e Érida em nossos aposentos. Não há fome, não há sono, só há a vontade de que tudo acabe logo e bem. Me encontro sozinha na sala de estar, observando o fogo crepitar na lareira. O pensamento de o que vou enfrentar na manha seguinte me atormenta. Uma saudade mortal daqueles que deixei para trás e uma lágrima brota.

– É melhor voce dormir garotinha - Ouço a voz atra de mim. Thrash. Agora sem aquela mascara de durão se reporta até mim e me abraça. Sinto nele, o abraço de meu pai, algo próximo à proteção.

– Eu não quero morrer. - Digo com olhar baixo.

– Nenhum de nós nunca quer. - Ele responde - Mas...se te conforta um pouco, estaremos juntos lá, teremos um ao outro. - ele diz tentando ser gentil, mas sei como funciona. Por mais bom que seja um sentimento, não permanece mediante as circunstâncias dos jogos. Eu ouço as palavras de Thrash sem questionar. Por maior que seja a certeza de que no momento oportuno eu possa ser uma possível vítima de sua enorme força, não quero deixar esse aconchego, algo tão sútil e tão horrivelmente necessário. Lentamente sinto o sono chegar. Meu cérebro me faz adormecer por medo de pensar.

–--

Estou em um campo. Todas as pessoas que amo estão ao meu lado, mas tudo o que consigo ver são as copas das árvores. Ao fundo há uma melodia bonita. Me encontro caminhando lentamente em direção ao dono da voz que a canta. Passo a passo vou chegando mais perto, quando estou próxima de encontrar a melodia, o sonho acaba.

A voz de Érida me tras de volta a realidade. O primeiros raios de sol me mostram que o dia chegou. O dia em que terei de encarar a arena. O dia em que minha corrida pela sobrevivência começa.

Na mesa do café da manha, comidas leves e uma mistura de suplementos, uma espécie de vitamina. Thrash e eu somos encaminhados para a sala de guarda, onde fazemos um exame anti-dópin com todos os tributos. É a última em que estaremos tão próximos.

O exame consiste em um hemograma, onde o resultado leva apenas alguns minutos para ficar pronto. Aparentemente todos os tributos estão aptos. A espera que se segue é tensa. Chaff usa o tempo vago para repassar alguns conselhos a nós.

1º Procurar água;

2º Correr para o mais longe possível;

3º Não se esconder na cornucópia;

4º Pegar somente o necessário;

5º Se possível, fazer aliados.

A pequena lista fica formulada em minha cabeça. Thresh está concentrado nas palavras de nosso mentor. Ao meio dia as sirenes tocam e a rádio interna do centro de preparação nos avisa que é hora de ir. Dou um abraço em Chaff, Scath e Érida , que me deseja sorte. Minutos depois todos os tributos são levados para o aero-barco que nos servirá de transporte até a arena.

– Estique o braço. - Ordena uma enfermeira. -O que é isso? - Pergunta a garota do 12.

– Seu rastreador. - O rapaz do distrito 1 responde se metendo na conversa - Como acha que vão achar os restos de seu corpo?

Há risos entre os tributos do 1 e 2. Me mantenho calada e imóvel quando a enfermeira deposita em meu braço o pequeno rastreador. A pequena incisão não sangra tampouco dói, sinto apenas uma leve coceira sob a pele onde o pequeno artefato pisca compassadamente. Contemplo os rosto pálidos de meus colegas , alguns já trazem a impressão morta em seus semblantes. Todo o terror que vi em meu rosto, agora o vejo estampado nos demais também. Até os carreiristas começam a demonstrar medo ao passo que nos aproximamos da arena.

Ninguém é tão forte quanto parece ser.

Minutos se passam e após ultrapassarmos os limites da capital, o auto-falante avisa.

Chegamos.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler.
Se gostou comente. Não custa nada e é rapidinho :)
Assim o final sai mais rápido.