RUE - As flores, O pássaro e A música escrita por Serena Bin


Capítulo 2
CAPÍTULO II - O Pássaro


Notas iniciais do capítulo

Hello Peoples. Estou muito feliz. Quero agradecer a cada um que leu o primeiro capítulo.
Em especial, agradeço a Lena Malévola, a primeira a comentar e a acompanhar a fanfic.
Obrigadíssima Lena.
Esse capítulo dedico a voce linda.
Boa Leitura.
:)



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Nunca tive pesadelos horríveis, mas no momento em que ouvi meu nome ser chamado dentre centenas de outros nomes, me vi dentro de uma cena amarga, um sonho terrível que se instalou em meus pensamentos.

Depois que sou oficialmente um tributo, sou levada para o interior do edifício da justiça. Encontro-me rapidamente com alguns amigos e familiares, mas as únicas presenças que me importam são as de meus pais. Ao encontra-los me lanço em seus braços, num choro cansado, acompanhado de pesares e soluços tristes de minha mãe. Meu pai, de posse de todo o seu tamanho e força, nada pode fazer para dissipar a tristeza de seus olhos.

– Você sabe subir em árvores. - Meu pai me lembra - Suba na mais alta que encontrar e fique lá até que todos estejam mortos. Você é como um pássaro, então voe de volta para casa.

Nós dois forçamos o riso.

A brincadeira funciona e me descontrai um pouco, mas logo o terror volta a tomar lugar. Abraço meu pai como nunca o abracei antes, sentindo toda a proteção que não terei na arena. Em seguida é a vez de minha mãe. Não há palavra alguma entre nós, apenas um abraço profundo e um choro sentido. Seu olhar para mim é de profunda depressão.

Minha mãe está se despedindo de mim antes mesmo de eu partir.

– Se eu fosse mais velho, eu seria voluntario em seu lugar. - Diz Connor, meu irmão de dez anos com coragem na voz.

Eu o abraço carinhosamente e deposito um beijo em seu rosto.

– Obrigado. - Respondo - Mas você não poderia ser meu voluntário nem se fosse mais velho.

– Porque? - Connor pergunta com o olhar marejado. Eu olho para aqueles pequenos olhos escuros, tão cheios d'agua e tento brincar:

– Voce é um garoto.

Ele solta um riso frio.

– Eu amo voce Rue, não quero que vá embora, vou sentir sua falta. - Connor diz chorando.

– Vai ficar tudo bem. - Respondo com um sorriso - Não se preocupe. Dou um beijo em cada rosto ao meu redor e me despeço daqueles que serão minhas maiores fontes de força na arena, então a porta se abre e detrás dela sai uma figura média, um homem gordo e com uma das mãos amputadas. Ele é Chaff, o meu mentor.

–--

Chaff, o homem que ganhou a quinquagésima terceira edição dos Jogos Vorazes, é calmo, mas um tanto brincalhão. Não inspira medo. Embarcamos no trem rumo a capital. Thresh e eu somos encaminhados para um café com nosso mentor e nossa agenciadora Érida Wombber.

– Então são voces. - Chaff diz olhando fixamente para nós - A primeira coisa que precisam saber é que, podem comer À vontade. Tudo isso é pra voces.

Thresh permanece calado e imóvel. Seu olhar de raiva ainda permanece intacto. Da mesma forma estou estática, não me movo nem para olhar o que há de tão cheiroso na mesa.

Chaff ri.

– Ora crianças! - Diz estendendo um prato de bolinhos - Não tenham medo, não sofram por antecipação.

Eu olho para Thresh, que me encara com um olhar de aprovação quanto a comida. Estendo a mão e pego um bolinho de nozes, mordo e sinto a massa derreter em minha boca, não evito deixar escapar um suspiro de quão bom é comer algo doce. No distrito 11 não passo fome, mas não há nada além de cereais e um pouco de alguma carne dura. Saboreio lentamente a guloseima, até que nosso mentor deixa escapar:

– Isso Rue, saboreie quanta comida quiser, já que a fome será sua amiga constante nos próximos dias, aliás voces farão muitos amigos na arena.

Engulo a seco. Chaff ri maleficamente.

A conversa que se segue não é das mais agradáveis. Um misto de ironia e pena são recorrentes às falas de meu mentor. Thrash encara Chaff com indignação.

– Como pode brincar com isso? - Thresh pergunta irritado - Não estamos aterrorizados o bastante?

Olho para meu companheiro de distrito e percebo que a raiva em seus olhos agora evolui para ódio, sinto que se fosse possível, Thresh arremessaria uma faca no peito de nosso mentor. Felizmente ele se contem.

– Fique calmo rapaz. - Chaff diz já com um olhar sério - Os jogos são terríveis, mas é possível vence-los.

Chaff nos olha fixamente enquanto fala:

– Basta que sejam frios, egoístas, manipuladores e tão mortais quanto o próprio criador dos Jogos Vorazes.

Tudo o que eu não consigo ser.

–--

Da janela do trem vejo os primeiros reflexos de uma cidade iluminada, cheia de vida e peculiaridades. Pessoas vestidas com Érida Wommber.

Homens usam plumas, mulheres usam tatuagens no rosto e nos seios, roupas feitas de algum material semelhante ao plástico. Um emaranhado de cores e formas. Essa é a Capital.

– Crianças! - Érida nos chama com entusiasmo - Sejam bem vindos À Capital!

Olho atentamente tentando capturar cada novidade mas me perco diante de tantos efeitos. Thresh não parece envolvido pelas belezas da megalópole. Permanece carrancudo e rígido.

– Segure minha mão mocinha. - Thresh me diz tomando minha mão, eu faço o que ele pede então caminhamos até a entrada de nossos aposentos. Um andar inteiro só para mim, Thresh, Érida, Chaff e nossa equipe de preparação, que nos recebe logo que chegamos ao nosso alojamento.

Percebo uma mulher de pele clara com olhos verdes e cabelos violeta em um vestido preto.

– Thresh, essa é Gler Coupee, sua estilista. - Érida apresenta.

A mulher e Thresh trocam um cumprimento vazio. E então é a minha vez.

– Rue querida, esse é Scath Bornway, seu estilista. - Érida diz.

Um homem alto, de pele cor de bronze e cabelos negros com uma tatuagem de folhas no ante braço direito.

– Porque precisamos de estilistas? - Pergunto.

– Publicidade minha linda. - Érida proclama - Voces precisam estar apresentáveis para atrair patrocinadores que serão seus anjos da guarda na arena. Agora vão meus queridos, voces têm muito o que se prepararem. Hoje À noite Panem conhecerá seu novo vencedor.

É claro que Érida se refere ao Desfile dos Tributos, onde cada distrito apresenta seus escolhidos na colheita. Mas antes do começo da preparação para o grandioso evento, assistimos pela televisão o resumo da colheita pelos demais distritos.

Felicidade e honra para os tributos do distrito um. Um garoto franzino de pede clara e uma garota morena de olhos azuis são escolhidos mas logo são substituídos pelos voluntários que disputam com fervor cada oportunidade de estarem nos jogos. Então um garoto alto e uma garota loira de olhos verdes são os novos tributos do 1.

No distrito dois a mesma situação. Tributos sorteados mas logo trocados por seus voluntários. Um rapaz alto e bonito e uma garota morena de olhos grandes e escuros. Posso garantir que esses quatro tributos formam o grupo mais forte, os carreiristas.

Então distrito a distrito vão resumindo. A mesma cena medonha e triste no Distrito 3,4,5,6,7,8,9,10,11 e 12.

Distrito 12. Talvez a colheita mais emocionante.

Uma menina loira de uns doze anos é chamada, mas sua irmã mais velha se voluntaria para ir em seu lugar. Não por honra ou por fama, mas por amor.

"Se eu fosse mais velho, eu seria voluntário em seu lugar."

As palavras de meu irmão ecoam em minha cabeça e sinto o coração apertar. Mas não há tempo para choro, logo somos levados ao centro de preparação para ficarmos apresentáveis para a publicidade da Capital.

–--

Eles penteiam meus cabelos, lavam meu corpo com uma espécie de óleo perfumado. Cuidam de minhas unhas e minha pele. Depois de algum tempo não me pareço em nada com a garotinha pobre do distrito 11. Estou bem cuidada. Scath, meu estilista me veste com uma espécie de macacão prata, remetendo a função de meu distrito, a agricultura , e uma coroa se instala em minha cabeça. Sou uma espécie de princesa do trigo. Encontro Thresh já no saguão. Ele veste o mesmo que eu.

De longe vejo os outros tributos. Os garotos do 1 vestidos em plumas cor-de-rosa, o distrito 2 envoltos em armaduras douradas e noto ao fundo da sala, conversando com aquele que julgo ser seu estilista a garota do 12 e seu colega de distrito, vestidos em uma roupa preta que parece brilhar na luz.

– Na entrada, sejam simpáticos. Acenos, sorrisos. Vale tudo. - Érida nos orienta - A vida de voces dependem do dinheiro dos patrocinadores. Por isso causem uma boa impressão.

Érida termina e nos encaminha para nossa carruagem. As luzes se acendem e a voz do locutor anuncia nossa entrada. O hino nacional toca e entramos na cidade circular de Panem.

Há muitas pessoas. Centenas, talvez milhares. Tento me lembrar das palavras de minha agenciadora e aceno para a multidão. Thresh faz o mesmo. Mas há um momento em que os gritos são mais fortes. As pessoas jogam coisas na pista. Gritam por um nome. Olho para os lados em busca de alguma explicação, é quando Thresh chama minha atenção: - Olha! - Diz ele apontando para os telões.

Eis a explicação. A carruagem atras de nós revela dois tributos envoltos em chamas.

– Estão pegando fogo! - Me apavoro - Vão queimar até morrerem. Thrash ri.

– Publicidade Rue. - Ele reponde - Publicidade.

–--

No dia seguinte, começa a maratona de treinamentos e orientações. Logo cedo Thresh e eu somos encaminhados ao centro de treinamento juntamente com os outros tributos. Um enorme pavilhão com várias armas, e professores para ensinar e aprimorar diversas habilidades. Me atento para os conhecimentos de plantas medicinais e comestíveis, na fabricação de armadilhas e em minha maior vantagem, a escalada.

Um notável momento é quando roubo a faca do garoto do distrito dois e me escondo nos altos da sala. Ninguém nota minha presença, exceto ela. A garota em chamas.

Ela não mostra muitas habilidades, diferentemente de seu parceiro. O rapaz loiro tenta a todo custo encontrar algo em que se destaque mas demora até encontra-lo. É ela quem o orienta a arremessar um peso, o que acaba colocando uma expressão de cuidado nos rostos dos carreiristas. Criaturas mortais.

Agora as palavras de Chaff fazem mais sentido. Frios, egoístas, manipuladores e mortais. A garota do distrito um é ótima com arcos, seu parceiro é bom com lanças. O rapaz do 2 é muito forte já sua companheira é mortífera com facas.

Me sinto acuada. Mesmo sendo pequena e quase invisível, sinto que estou em grande desvantagem assim como a maioria dos tributos de distritos mais pobre. Existe uma hora em que passo apenas a observar as habilidades de cada um e me prendo mais uma vez nos tributos do 12. Eu os observo de longe, acho que fui quase imperceptível não fosse a garota olhar para minha direção e me ver. Ela sorri timidamente, eu recuo me lembrando das palavras de Chaff.

"Voces faram muitos amigos na arena."

Mais uma das frases irônicas de meu mentor.

Após a maratona de treinamentos, somos encaminhados para os testes de habilidades.

Em uma sala, todos os tributos esperam. O pavilhão é o mesmo em que houveram os dias de treinamentos. No alto da sala, um mezanino acomoda os idealizadores dos Jogos.

Sêneca Crane o grande chefe me diz que tenho dez minutos para mostrar minha habilidade escolhida. Felizmente há estacas. Eu as escalo como se eu fosse feita de plumas. Pulo de uma para outra com perfeição, o que mais tarde me rende uma nota oito na classificação geral.

"Você é um pássaro, então voe de volta para casa."

Recordo meu pai dizendo e concordo. Posso não ser forte nem boa com arcos ou lanças. Mas eu sei voar.

Como um pássaro.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler.
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