Rebirth escrita por Miojo Maldito


Capítulo 7
Episódio 6: Skeltonization


Notas iniciais do capítulo

Esqueletização ou período de redução esquelética, é um estágio de decomposição. É caracterizada pela desintegração da pele, tecidos moles e certos órgãos devido ao processo de liquefação, restando apenas os órgãos mais sólidos como o útero/glândula da próstata, coração, tendões, cartilagens, unhas e cabelo. O esqueleto pode também tornar-se desarticulado através de processos ambientais e biológicos. Alguns consideram como o último estágio da morte.

—----------------
** Aviso antes de ler: gente, o capítulo é o último. Eu demorei pra postar pq eu tive um problema sério de bloqueio criativo, então ele não está lá essas coisas, mas ainda vou dar uma repaginada nele. Não revisei, então qualquer erro e qualquer dúvida, por favor, me perguntem e me digam nos reviews sem medo de ser feliz.
Beijo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/498193/chapter/7

Como em todos os malditos dias da vida de Elliot Turner, chovia. O sol já se punha no horizonte e os pingos de chuva caíam sobre o corpo desfalecido de Jessica no meio do asfalto.

Ele havia a trocado pelo cheiro de gasolina. O asfalto, a liberdade de estar em cima de uma moto por um momento parecia mais importante em sua vida do que Jessica.

Só que naquele instante tudo parecia se perder quando Jessica abria seus olhos e agonizava nos braços de Elliot. Seus olhos perdiam o brilho que sempre tiveram; a luz que os iluminava os deixavam a medida que os segundos passavam.

— Jessica!

— E.. Elliot... procure... por... Peter Ber... nadone— a voz parecia escapar com dificuldades da sua garganta. A garota estava começando a ver a luz que levaria para a escuridão.

A chuva engrossava e Elliot Turner sentia cada pingo como se fossem pedras que arremessavam em seu corpo.

Ele queria que Jessica fosse imortal, como ele. Ele daria tudo para que a dádiva que lhe fora concebida não mais pertencesse mais a ele, e sim a Jessica Hudson. Ele a amava. Ele a amava mesmo com todas as brigas, problemas, discussões e males entendidos.

Teria ele como provar esse amor?

Quando o feiticeiro Brayden viu em sua bola de cristal que Elliot estava com Jessica agonizando em seus braços, emitiu uma mensagem telepática ao anjo Zuriel para que ele se encaminhasse ao local e ajudasse o rapaz.

Zuriel, porém, ainda estava com Peter ao seu lado. Ao saber do que se tratava, o parasita ficou atordoado.

— Zuriel, leve-me até onde Elliot está.

— Se ele souber o que você fez com Jessica...

— Que se dane! — interrompeu Peter — Elliot e eu temos uma conta a acertar. Não há um momento mais oportuno. — encarou o anjo Zuriel por alguns segundos até que ele se deixou levar pela ameaça.

O Anjo abriu suas asas e fez com que Peter se apoiasse em suas costas. Saltou e com toda a sua força, quebrou o telhado e atravessou-o como um portal. Peter se segurava, horrorizado com o estrago feito pelo anjo.

Seguiram pelo céu enfrentando os respingos de chuva. Peter estava sendo levado pelo anjo, que segurava o rapaz pelos braços. Da terra se via um objeto voador estranho e nele um homem pendurado.

Quando o último sopro de vida saiu das narinas de Jessica Hudson, misturou-se com a água da chuva e escorreu pelo asfalto daquela avenida deserta. Elliot Turner chorava muito, mas teve de soltar Jessica e abandoná-la ali. Ao lembrar-se das últimas palavras da moça, um ataque de fúria tomou seu coração.

“Peter Bernadone...”

“Peter Bernadone...”

Aquele que Elliot não acreditava que era seu irmão, mas alegavam, só lhe trouxera coisas negativas para sua vida, mesmo em tão pouco tempo

Elliot só queria encontrar Peter e colocar tudo em pratos limpos.

Ele só queria sua vida normal de volta.

Ele só queria Jessica Hudson de volta.

Ainda de joelhos sobre o asfalto molhado e ao lado do corpo desfalecido de Jessica, Elliot esmurrou o chão. Esmurrou com todas as suas forças. Esmurrou até que as feridas se abriram.

E se fecharam.

Ele não desejava mais aquilo. Elliot tinha certeza de que não aguentaria todas as pessoas que amava em sua vida partindo e ele ficaria sozinho.

Pensou que talvez fosse egoísmo de sua parte querer morrer, morrer antes das pessoas que ele amava.

Um vento mais forte se iniciou. Os cabelos do jovem motoqueiro esvoaçavam. A chuva ia embora, porém o Anjo Zuriel e Peter Bernadone chegavam ao local.

— O QUE VOCÊ FEZ COM ELA?! — Elliot pôs-se a ficar de pé, porém ao correr para agredir Peter, tudo ficou escuro.

Elliot não conseguia enxergar mais nada, apenas as risadas de Peter e os conselhos de Zuriel, que vinham como palavras aleatórias. O mundo girava e Elliot Perdeu o chão. Sentia-se agora como se estivesse caindo do céu.

Um portal num céu cinzento finalmente se abriu e dele saiu um homem. Era Elliot, que acabara de ser abandonado no ar e descia rumo ao chão. Quando menos percebera, seu corpo foi arremessado na neve fofa daquele local.

Levantando-se, Elliot Turner apenas se preocupava em se cobrir com o jaleco que trouxera do outro mundo. Tamanho era o frio, que o pobre rapaz tremia os dentes e seus braços não eram suficientes para se aquecer. Sem nem ao menos querer saber aonde estava, Elliot Turner rumou até uma caverna próximo ao ponto onde se encontrava e lá ficou até o amanhecer.

Quando os primeiros raios de luz invadiram a gruta onde Elliot repousava, o jovem ruivo finalmente pôde observar o lugar onde estava. Saindo da caverna, ele se encantava com aquela paisagem totalmente exótica: as copas das árvores eram de um lilás reluzente o qual ele nunca tinha visto. A neve que cobria o chão e as próprias árvores tinha uma textura diferente da normal. Elliot caminhou mais um pouco, recordando-se das coisas que lhe aconteceram minutos antes de ele estar ali naquele lugar estranho.

A pouco Jessica, sua amada, repousava sua morte com o corpo estirado numa estrada molhada e deserta.

Elliot gostaria de voltar para lá. Ele precisava, mas não tinha como!

Caminhou procurando uma saída. O vento se tornava mais forte e o desejo que Elliot tinha de voltar à sua casa e à sua vida normal se tornava mais intenso. Após andar por algumas horas a procura de alguém que pudesse lhe ajudar, sentiu-se cansado e fincou os joelhos no chão. Estava sentindo muito frio. Se seus próprios braços já não lhe eram suficientes para aquecer a si mesmo antes, naquele momento eles já não lhe serviam de nada. Elliot tentou correr para o norte pensando encontrar por alguém que lhe ajudasse naquela direção.

Havia um precipício no final do caminho ao norte. Elliot olhou para baixo e só conseguia enxergar escuridão. Ele estava começando a acreditar que naquele lugar ermo não encontraria ninguém. E ele já não sabia mais o que fazer. Posicionou-se de pés juntos à beira do precipício. Ele abriu os braços e sentiu a brisa gelada chocando-se contra o seu corpo. Fechou os olhos e desejou se teletransportar dali e voltar para o seu pesadelo anterior. Contudo, ele apenas se desequilibrou com a ajuda do vento, e quando menos viu estava caindo daquele precipício. Enquanto caía tentou abrir os olhos mas o que ele podia ver era apenas a imensidão da escuridão a qual ele mergulhava de cabeça. Pensou que talvez uma grande queda poderia lhe dar um fim definitivo, já que sair daquele ermo era impossível.

Sentiu uma pressão sobre sua testa e uma dor imensa em seu corpo. Elliot havia caído entre as pedras de um rio. Desmaiado, deixava que a correnteza o levasse com dificuldades enquanto seu corpo se esvaía em sangue. Todavia, os ferimentos estavam se fechando como num passe de mágica. O corpo de Elliot Turner ficou enganchado entre duas grandes pedras daquele rio por alguns minutos, até que o rapaz acordou. Sua vista estava embaçada e a escuridão ainda pairava naquele local. Juntou suas forças e conseguiu se apoiar na beira do rio, a qual usou de apoio para sair de dentro dele. Ficou de pé e estalou seus ossos. Seu braço direito estava completamente torto e com ajuda do esquerdo, fez força para colocá-lo no lugar, voltando ao normal. O barulho que eles faziam a medida que voltavam automaticamente ao lugar de origem era medonho. Elliot então girou parcialmente seu tronco de modo brusco, por duas vezes, jogando-o para frente com a cintura, o que fez com que os ossos de sua bacia também estalassem e voltassem ao normal. Elliot estava novo em folha. O rapaz então voltou com a sua caminhada, seguindo o ponto de luz que ele observava a sua frente enquanto rumava em direção ao horizonte.

Quando finalmente conseguiu alcançar o lugar de onde vinha aquela luz – a saída da caverna a qual estava — Elliot percebeu que era a quase impossível lidar com a ventania que continuava a lhe perturbar. Resolveu girar os calcanhares e voltar, mas a neve que outrora era macia e de textura agradável começou a se tornar áspera e inapta para se caminhar sobre ela. Quando Elliot menos viu, estava sendo engolido por aquela neve e metade do seu corpo já estava coberto por ela. Tentou se livrar, remexendo-se para todos os lados, mas em vão. Quando aquela espécie neve movediça já lhe chegava ao queixo e lhe cobria a boca, Elliot decidiu que, se realmente fosse imortal, poderia deixar-se levar por aquilo. Porém, quando já estava completamente coberto e com apenas o braço para fora da neve, sentiu o toque quente de alguém, que lhe agarrara a mão e o puxava com uma força descomunal. Quando Elliot abriu os olhos, já em terra firme, teve uma surpresa. Poderia ser agradável. Ou não.

Elliot foi arremessado para frente. Era Peter Bernadone quem estava ali.

— Jessica falou seu nome antes de morrer. O que você fez com ela?

— Apenas mostrei quem realmente somos. Digamos que o porteiro do prédio onde eu moro me serviu de alimento e a pobre Jessica viu.

— Miserável! — vociferou, agarrando o pescoço de Peter. — você a assustou!

— Mas... você... a ... matou! — disse, enquanto sentia a dor de sua garganta sendo apertada pelo irmão.

— Eu posso revivê-la, assim como eu revivi você! Só quero que me levem de volta para perto dela.

— Lute!

Ao falar a última palavra, Peter acertou um chute entre as pernas de Elliot; o ser imortal, porém, ao se recuperar da dor rapidamente, avançou novamente no irmão e começou a socar seu rosto. Os dois rolaram pela neve, numa briga frenética em que todos os ferimentos que Peter Bernadone causava em Elliot se fechavam tão rápidos quanto a velocidade da luz.

Continuaram rolando pela neve até chegarem a beira de um precipício. Elliot, em cima de Peter, pressionava sua mão contra o peito do irmão, imobilizando-o. Peter já conseguia ver o que havia embaixo do precipício: era uma grande altura.

— Você não teria coragem de me jogar daqui de cima. — zombou Peter. Parecia não ter nenhuma preocupação — Se eu morrer, você precisará me reviver.

— Não se eu não quiser. — disse Elliot.

Quando Peter percebeu que Elliot estava realmente disposto a mata-lo, tentou se soltar, mas não conseguiu. Elliot sem dúvidas era mais forte que Peter.

E mais corajoso.

Peter caiu quando Elliot o empurrou. Tentou se agarrar à beira do precipício, mas em vão. O seu grito ecoou por alguns segundos, e o som de pavor ia se afastando a medida em que seu corpo encontrava o fim daquele abismo.

Era o fim.

(Música: Lana del Rey – Born to die)

Tudo ficou escuro e novamente e Elliot, ainda se recuperando do que acabara de fazer, sentiu ser teletransportado. Quando abriu os olhos, estava ao lado do corpo de Jessica Hudson, no seu mundo de sempre.

Abaixou-se e, antes de tocar o corpo de Jessica para tentar revivê-la, ouviu uma voz. Era Zuriel.

— Não poderá revivê-la. Você matou seu irmão.

Assustado, Elliot virou o rosto e rumou para perto do Anjo.

— Está mentindo, Zuriel!

— Jessica está morta e você não é mais imortal. Seus poderes foram embora com Peter, quando ele caiu daquele abismo. Você sabia o tempo todo que só teria sua imortalidade se protegesse Peter — disse, friamente.

Um homem com um sobretudo preto apareceu ao lado do anjo. Elliot deu dois passos para trás e o observou. Tratava-se de Brayden.

— Eu posso te ajudar. — disse o feiticeiro.

— Como?

— Entregue sua vida a mim — estendeu sua mão para Elliot — Jessica sobreviverá. Porém, você será um anjo, assim como Zuriel ... era.

— Era? — Zuriel indagou, não entendendo, pois ainda, naquele momento, era um anjo.

— Eu faço qualquer coisa para que Jessica fique viva ... seja lá quem você for, ajude-me.

Quando Brayden estendeu a palma de sua mão novamente, as asas de Zuriel desapareceram e tão logo, Elliot estava com uma túnica branca e com duas enormes asas. Zuriel, agora humano, caiu de joelhos no chão, fraco, enquanto Jessica despertava aos poucos.

Brayden abriu um portal e indicou o caminho para Elliot. Antes de entrar, o jovem olhou para Jessica. Ela estava viva. Ele devia uma vida a ela, e a devolveu.

Elliot entrou no portal, seguido por Brayden. Aquele era o último adeus. Então, concluiu que realmente nada durava para sempre. Nem mesmo a imortalidade.

FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agradeço a todos que leram até aqui *-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rebirth" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.