Rebirth escrita por Miojo Maldito


Capítulo 3
Episódio 3: Rigor Mortis


Notas iniciais do capítulo

Rigor mortis é um sinal reconhecível de morte que é causado por uma mudança química nos músculos, causando aos membros do cadáver um endurecimento ("rigor") e impossibilidade de mexê-los ou manipulá-los. Tipicamente o rigor acontece várias horas após a morte clínica e volta espontaneamente depois de dois dias, apesar de o tempo de início e duração depender da temperatura ambiente. Na média, presumindo-se temperatura amena, começa entre 3 e 4 horas post-mortem, com total efeito do rigor em aproximadamente 12 horas, e finalmente o relaxamento em aproximadamente 36 horas.



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Quando Peter soltou a garganta do homem, cuja estava apenas apertando com a sua mão, ele caiu já sem vida. O carro em que ele e Elliot estavam seguia desgovernado no meio da pista.

— Segura a droga do volante! — disse Elliot, por cima do corpo do motorista, tentando controlar o carro.

— Eu não sei dirigir! — retrucou Peter Bernadone, acomodando-se no banco do carona, como se não estivesse prestes a sofrer um grave acidente.

Elliot não tinha muita experiência ao volante, e considerando que eles estavam com um homem morto dentro daquele veículo, seus pensamentos só lhe faziam ficar mais apavorado.

Peter havia matado o motorista daquele táxi.

De repente a estrada ficou escura e Elliot não viu mais nada. Sentiu um baque: o carro havia batido em uma árvore.

Elliot acordou minutos depois. O estrago que o impacto sobre a árvore fizera com o carro havia sido imenso. Para um simples mortal, talvez, fosse fatal. Mas para ele, era como se nada tivesse acontecido.

Sua perna estava retorcida sob os estilhaços. Ele retirou calmamente tudo o que havia em cima de si mesmo e viu que sua perna voltava ao normal feito mágica. Olhando-se no retrovisor, percebeu que suas cicatrizes se fechavam, assim como da outra vez.

Havia mais dois corpos dentro daquele táxi: o do motorista que, supostamente havia sido morto por Peter e, o próprio Peter. O semblante daquele que se dizia seu irmão era de conformação. Seus olhos estavam bem abertos e, daquela vez, morreu com a face esboçando um sorriso sarcástico.

Elliot conseguiu abrir a porta do veículo se sair. Deu alguns passos à frente e, após isso, virou para o local onde o carro estava. Fitou os corpos daqueles dois homens ali, abandonados, a própria sorte. Talvez apodrecessem ali ou, quem sabe, se tivessem sorte, alguém os acharia ao amanhecer e chamaria a polícia.

O jovem estudante de economia lembrou-se das palavras do anjo Zuriel, as quais diziam que seu dever era cuidar de Peter Bernadone, seu irmão.

Elliot pensou nas consequências se caso tudo fosse verdade. Talvez ele deixasse de ser imortal. Talvez o mundo entrasse em colapso. Se realmente ele e Peter fossem unha e carne, sangue do mesmo sangue, se estivessem mesmo interligados por algum tipo de energia cósmica, a morte dele poderia resultar em uma catástrofe?

Ainda naquela madrugada, Jessica Hudson pegou as chaves do seu Chevrolet 99, herança de seu falecido pai, e foi até o hospital da pequena cidade de Saint Petersburg onde supostamente o corpo de Elliot Turner, seu noivo, havia sido levado após o acidente.

E de onde, também, ele havia sumido.

A moça ainda estava tremendo. Por um milagre ela chegara ali naquele local sã e salva já que dirigir com tamanho nervosismo era quase que impossível.

Jessica, porém, queria respostas para as suas perguntas:

Como o corpo de Elliot havia sumido?

Por que alguém poderia querer um cadáver?

Ao chegar ao hospital, Sara Turner, mãe de Elliot, pedia explicações para os diretores, médicos e outros funcionários daquele lugar. A mãe, inconformada, esbanjava ira em seu olhar, ao mesmo tempo em que deixava sua tristeza ir embora com as lágrimas.

Sara Turner era realmente uma mulher de fibra. Estatura baixa, encorpada, cabelos curtos e ruivos, que lembravam os do seu filho. Sua voz parecia agora estar se acabando, estando em seu último fio. Discutia com um dos diretores do hospital.

— Sara! — gritou Jessica, ao ver a agora ex futura sogra. — Ela a abraçou e deixou que a mulher usasse o seu colo para chorar. Ela estava arrasada.

Jessica Hudson, porém, ainda tinha forças para tirar daqueles funcionários todas as informações possíveis. Sua tristeza estava virando ódio.

— Eu exijo saber o que aconteceu com Elliot — pôs o dedo na testa do diretor do hospital — Isso não vai ficar assim!

Jessica Hudson e Sara Turner foram levadas até a direção do necrotério do hospital, onde os legistas as aguardavam para dar as devidas explicações.

Um homem calvo, de meia idade, branco, as esperava em frente a sala onde os corpos trazidos ficavam armazenados.

— Senhoritas, eu sinto muito pelo que aconteceu... a polícia já foi contatada. — o legista entregou para Jessica um pacote, cujo continha os documentos de Elliot — as roupas precisamos descartar. Por motivos de higiene.

— O senhor não tem ideia do que pode ter acontecido com o corpo do meu namorado?

— Elliot merecia pelo menos um funeral. — completou Sara, ainda emocionada.

Jessica deixou Sara sentada numa poltrona perto dali e arrastou o legista para longe da mãe de Elliot.

— Fale-me a verdade: o que pode ter acontecido?

— Bom, cadáveres podem ter serventia para algumas pessoas. Eu não gosto de falar muito sobre isso, senhorita, mas existem pessoas de todo tipo no mundo.

— Que serventia um cadáver pode ter para alguém? — Jessica fitava os olhos daquele homem com fúria. Ela agarrava seu colarinho, tentando extrair o máximo de informações, mesmo sabendo que ele não tinha ideia de nada.

— Tráfico de órgãos, rituais de magia negra...

As palavras dele fizeram com que Jessica o soltasse e ficasse um pouco mais aturdida.

— Mas creio que isso não tenha acontecido com Elliot. — completou ele, tirando do bolso algumas fotos — Estas fotos foram tiradas no momento em que encontraram seu namorado.

Jessica tentou pegar, mas ele recuou.

— As imagens são fortes.

— Vá se ferrar. — disse, puxando as fotos das mãos do homem.

As imagens realmente eram fortes: em uma, a mão mutilada de Elliot. Em outra, aparecia o rapaz no meio da pista, envolto a muito sangue. Dava para se perceber que o corpo do rapaz estava quase que dilacerado, ossos expostos, membros retorcidos. Os corpos de dois homens, que também estavam na foto, chamaram a atenção de Jessica.

— Quem são eles? — perguntou.

— Este aqui — mostrou na foto — era o caminhoneiro, que conduzia o veículo que provocou o acidente. E este — apontou para a foto do corpo de Peter Bernadone — vinha no banco do carona. Não tinha documentos. O corpo dele também sumiu.

Jessica ficou sem reação.

Elliot estendeu as duas mãos sobre o peito de Peter Bernadone e, como da outra vez, um tipo de luz cósmica acendeu sob elas. Ele também sentiu o coração do irmão pulsar de novo. As pupilas do rapaz então dilataram.

Peter estava vivo.

— Morrer duas vezes dentro do mesmo dia é realmente excitante! —disse Peter, se levantando do chão.

— Eu... eu posso curar! — exclamou Elliot para si mesmo. Aproximou-se do motorista do táxi.

— Opa! — Peter o repeliu — melhor não.

— Você o matou!

— Eu suguei a vida dele.

— Você se alimenta de vidas, seu verme? — Elliot o empurrou — Eu preciso limpar a merda que você fez, antes que seja tarde demais! Já pensou se a polícia chega aqui?

Elliot se aproximou novamente do corpo do motorista e, assim como fez com Peter minutos antes, colocou as mãos sobre o peito do homem e fechou os olhos. Sentiu o coração dele pulsar.

Aquilo era surreal.

Os ossos do homem, as cicatrizes e a vida que Peter outrora havia tomado dele, voltaram como num passe de mágica.

— Vamos sair daqui antes que ele volte a si. — propôs Elliot, puxando Peter pela manga da camisa.

Peter Bernadone levou Elliot para o local onde ele residia: um pequeno apartamento num beco fétido, cheio de ratos. As paredes estavam caindo nitidamente, o que fez Elliot ficar assustado.

— Estou com medo, pois esse prédio pode cair a qualquer momento. — disse Elliot, andando pelos corredores juntamente com o irmão.

— Oh, querido irmão! Você não morre, esqueceu? Além do mais, nem eu que não sou imortal tenho medo. — disse, retirando a chave de baixo do tapete e abrindo a porta emperrada de sua residência.

— Eu não sou seu irmão! — exclamou Elliot — Aliás, o que você é, afinal?

Peter sorriu, sem responder nada, e abriu a porta de sua casa. Permitiu que Elliot entrasse primeiro. Foi até a geladeira, caindo aos pedaços e pegou duas latas de uma cerveja cuja marca explicitava que era a mais barata que existia.

— Sabe, cara — entregou a cerveja para Elliot — eu vivo largadão por aí. Me visto de mendigo e saio pedindo esmolas pela rua. É bem legal. E você sabe o que acontece com quem não me ajuda?

— O quê? — deu um gole na cerveja. Era péssima.

— Eu sugo a vida deles. Assim como eu fiz com o motorista do táxi. Eu preciso disso para sobreviver. É como um alimento. Assim como os vampiros precisam de sangue, eu preciso de vidas. — os olhos de Peter adquiriram um tom vermelho escuro — Se eu não matar ninguém, eu morro. Minha pele fica pálida, meus ossos ficam rígidos e quem morre sou eu. Este é meu carma, querido Elliot.

Elliot engoliu a seco.

— Mas não se preocupe. — continuou — eu não faria isso com você.

— Tem que ter um jeito. Você não pode sair matando todos a sua volta.

— É por isso que eu tenho você. — encostou a mão no ombro de Elliot — Eu mato, você ressuscita. Trato feito?

Passaram-se alguns dias desde o acidente e do desaparecimento de Elliot Turner. Jessica Hudson e Sara Turner ainda tinham esperanças em encontrar pelo menos pistas sobre o que havia sido feito do corpo do rapaz.

Sara estava de cama. A perda do único filho ainda lhe causava dor. Jessica, a garota que seria sua nora, se tornara sua única companhia durante esses dias de sofrimento. Ela tentava lhe dar forças para se levantar, mas era difícil.

A mulher, religiosa, apoiou que Jessica organizasse uma missa em memória do rapaz. Dissera que o filho merecia pelo menos uma homenagem, já que um velório digno até aquele momento não lhe foi possível.

Estavam reunidos, além de Sara e Jessica, todos os amigos da faculdade de Elliot, além de vários familiares. Muitos deles vindos de outras cidades. Elliot era realmente um rapaz muito querido.

A missa estava sendo celebrada em um lindo jardim. Havia flores em todo lugar e Jessica pediu para que tocassem a música preferida do noivo antes que começassem as celebrações.

— Tem certeza de que está fazendo a coisa certa? — indagou Peter. Elliot olhou para todas aquelas pessoas reunidas, chorando a sua morte.

— Eles me amam! — sorriu.

Elliot começou a se aproximar do campo onde a missa seria celebrada. Enquanto sua música preferida tocava, todos choravam de cabeça baixa, lembrando das memórias que tinham dele.

E as memórias que eles teriam, a partir daquele momento, seriam outras.

— ELE... ELE ESTÁ VIVO?! — exclamou um dos seus tios, apontando para a sua direção.

Elliot abriu os braços e sorriu.

— Estou?


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Notas finais do capítulo

** o nome Peter Bernadone eu tirei de um personagem da série Hannibal (só o nome)
Mereço reviews? *--*



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