“Não me deixe!”

Acordei com um grito, era Annie. Era a terceira noite seguida com o mesmo sonho, eu corria em um corredor que não tinha fim e ouvia o grito de Annie, corria cada vez mais rápido, mas as palavras dela pareciam ficar mais longe. Olhei para o lado, Samantha, Sadie e Hermione dormiam em um canto e Percy (babando para variar) e Jace dormiam mais próximos de mim.

Estamos em um hotel numa capital amazônica chamada Manaus, já haviam se passado seis dias desde que Samantha milagrosamente sobreviveu e saíram de Brasília. Ninguém sabia ao certo como ela sobreviveu, Hermione havia falado que ninguém sobrevivia ao feitiço Avada Kedavra, a maldição da morte.

Minha cabeça doía com um sonho, meus sentimentos por Samantha se intensificaram desde a sua quase morte, tudo nela parecia me atrair, os olhos, seu sorriso, o modo com ela fala, mas ao mesmo tempo eu não conseguia me esquecer de Annie e do meu filho, eu tinha uma família, não podia me apaixonar.

Depois de algum tempo, os outros já estavam de pé e se dirigiam comigo até o pequeno refeitório que havia no hotel. Quando chegamos lá, o lugar estava bastante lotado, crianças brincavam num pequeno canto e os adultos se amontoavam nas mesas, o silêncio era quase absoluto nos adultos, todos eles escutavam com atenção o rádio, que atualmente era o único meio de comunicação em massa que funcionava a TV e a internet estavam fora do ar.

Procuramos uma mesa afastada e vazia num canto do refeitório e nos sentamos. Todos tinham expressões cansadas no rosto. No caminho para cá, eles haviam enfrentado vários dinossauros e monstros e viram muitas pessoas morrendo. Percy estava sentado num canto da mesa e brincava com um garfo, Sadie e Jace pareciam prestes a desmaiar de sono e Hermione lia um livro pequeno, todos sem prestar muita atenção no café.

Samantha era a que parecia melhor, seus olhos azuis pareciam estar mais fortes e seu rosto brilhava de vivacidade, não parecia que ela havia estado morta. Ela me olhou e deu um sorriso.

– Dormiu bem? – Pergunto.

– Mais ou menos e você?

– Não muito, tive alguns pesadelos – Respondo.

A mão de Samantha foi ao seu pescoço, ela segurava um pequeno cordão.

– É um presente? – Pergunto apontando para o cordão.

––Era da minha mãe, ela havia me dado isso um pouco antes de tudo isto começar.

O rádio no meio da sala fez um ruído e todos silenciaram, Jace e Sadie ficaram atentos e Hermione fechou o livro. De uma em uma hora, havia um giro de notícias que informava sobre o que está acontecendo no mundo.

“E aqui começa o giro de notícias” Um homem com voz profunda falou. “Milhões de pessoas estão migrando da Ásia para a Europa, os governos asiáticos anunciaram queda, milhares de cidades estão sendo destruídas e os governos Europeus tem abrigado aqueles que fogem. Um terremoto em Sidney, matou milhões de pessoas, os sobreviventes tem migrado para o sul da Austrália”.

– Isso não é bom – Hermione falou – E tem acontecido muito, parece que tem algo vindo do Oriente pro Ocidente.

O radialista continuou. “Notícias dos Estados Unidos, a cidade de Chicago parece estar enfrentando algum tipo de reclusão, militares se aproximaram dos arredores da cidade mas foram impedidos por uma barreira invisível que tem impedido a passagem para a cidade, a comunicação de Chicago foi cortada e ninguém tem notícias do que pode estar acontecendo”

– Isso definitivamente não é bom – Jace murmurou.

Sadie se mexeu, e começou a bater as unhas na mesa – Não é para lá que “A” mandou ir, como vamos entrar lá se tem uma barreira invisível?

– Não faço a mínima ideia, mas é para lá que devemos ir – Percy falou, ele mexia os pés de uma maneira que deixava transparecer seu nervosismo.

– Eu vou lá para cima – Samantha falou – Não sei se aguento ouvir mais notícias de mortes e destruição.

Era fácil entender o porquê de Samantha querer sair, era só de morte e destruição que eles haviam ouvido, nada mais. E claro, ainda havia Cronos que estava ressurgindo em algum lugar por aí.

– Eu vou com você – Eu digo. Jace me lança um olhar malicioso e depois acena como se dissesse “Vai nessa!”.

Subi as escadas até o quarto em que estávamos hospedados ao lado de Samantha, ela permanecia calada e parecia perdida em pensamentos. Ela entrou no quarto e foi direto para sua cama no lado das meninas e se sentou. Quando chegaram ao hotel, Hermione havia insistido para separar as camas e fazer os lados dos meninos e das meninas. Me aproximei e me sentei ao lado de Samantha, conseguia sentir o cheiro adocicado do perfume dela.

– Louco não é? Aposto que há duas semanas você não pensava que ia ter num quarto de hotel com cara tão incrível como eu – Falo. Ela me lança um sorriso zombeteiro.

– Quem foi que inflou seu ego? O Jace? – Ela pergunta.

– Eu não preciso de ninguém para inflar meu ego – Respondo com minha melhor expressão orgulhosa.

Por um minuto nós só nos olhamos. Samantha tinha aqueles olhos azuis vivos e que me deixava calmo, uma sensação de excitação correu sobre meu corpo, me aproximei dela e passei minhas mãos sobre seus cabelos, nossas testa se tocaram e eu conseguia sentir a respiração quente dela sobre a minha e então nossos lábios se encontraram.

Primeiro foi um beijo calmo, depois foi ficando mais forte e selvagem, ela se lançou em meu colo e coloquei uma mão em sua cintura e a outra por debaixo da camisa dela em suas costas nuas, sua pele era macia. Ela colocou uma de suas mãos por debaixo da minha camisa e começou a tirar.

De repente, ela se afastou de mim e saiu do meu colo, ela arfava e parecia não conseguir respirar. Tentei respirar direito, não percebi que também estava sem ar. Eu a olhei, ela tinha um expressão confusa no rosto, ela olhou parra mim, seus olhos azuis estavam tempestuosos.

– Finnick, nós não podemos – Ela falou.

– Por quê? – Pergunto confuso.

– Finnick você tem a Annie e tem um filho, eu não posso destruir uma família.

De repente, uma raiva surgiu em mim, eu tinha vontade de gritar e dizer para ela que pouco me importava se eu tinha uma família, tudo que importava era ela. Então percebi que essa raiva não era racional, aquele não era eu, ela tinha razão, abaixei minha cabeça, eu não tinha coragem de olhar para ela.

– Eu vou lá para fora – Ela falou – Eu preciso de ar puro.

Então Samantha saiu, me levantei e fui até uma janela, eu também precisava de ar puro, pensar sobre tudo. Eu não podia gostar dela, eu tinha Annie, mas cada vez que pensava mais sobre Annie, mais pensava sobre Samantha, ela me atrai de um jeito que ninguém nunca me atraiu.

Olhei para lá fora, a rua estava vazia e ventava muito. Um papel se materializou bem na minha frente, voou para o quarto e caiu no chão. Fui até lá e juntei o papel, rapidamente percebi que não era um papel e sim uma foto. Meu coração bateu mais rápido e meu estômago revirou, não era qualquer foto, era uma foto minha e da Samantha se beijando momentos antes.

Mas era impossível, o quarto ficava num andar bem alto e a foto parecia ter sido tirada não muito longe da janela, quem quer que tenha tirado a foto, teria que estar flutuando não muito longe da janela.

De repente, uma segunda foto entrou no quarto pela janela, apanhei-a no ar, era a mesma foto. Depois chegou uma terceira, a mesma foto, depois uma quarta, uma quinta e não demorou muito uma onda de fotos entrou na janela me derrubando contra uma das camas. Quando me levantei percebi que o quarto todo estava repleto de fotos, me abaixei e peguei uma, ainda era a mesma foto de mim e Samantha se beijando, mas dessa vez havia algo escrito na parte de trás.

“O que a Annie faria se visse uma dessas fotos, hein? Mas não se preocupe, vou guardar seu segredinho ...ou não – A”.

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POV Sadie

Depois que Finnick e Samantha subiram para o quarto fiquei ouvindo o rádio, mas sinceramente, não estava prestando atenção em nada. Não conseguia tirar a mente dos sonhos que eu estava tendo. Por que tudo tem que acontecer a mim?

Nos sonhos eu estava ao lado de Walt, seu corpo estava frio e morto e ela chorava, depois o sonho mudava eu estava em frente a uma cela, dentro se encontrava Anúbis, ele estava acorrentado e seu rosto estava contorcido em uma careta de dor, uma voz sussurrava “Ah, se ela pudesse ver o que você fez e quem você matou Anúbis” e depois eu acordava. Era sempre o mesmo sonho, desde a morte de Walt.

Sem esquecer também das mensagens noturnas e diárias de “A”. Toda noite antes de dormir “A” envia uma mensagem para o meu celular (Consegui ele em Brasília, “peguei emprestado”) e a mensagem sempre diz a mesma coisa. “Tic Tac! Tic Tac! O tempo está passando e ele está morrendo – A”. Eu não faço a mínima ideia do que pode significar, mas algo sobre isso me da medo. Eu ainda não havia contado para nenhum dos outros.

Samantha desceu as escadas tempestuosamente, parecia haver lágrimas em seus olhos.

– Nossa! O que será que aconteceu com ela? – Pergunto.

– Não sei, mas ela parece querer ficar sozinha – Hermione disse.

– Será que o Finnick e a Samantha brigaram, desconfio que esteja rolando alguma coisa entre os dois – Jace diz.

– Não é da nossa conta! – Hermione lança um olhar reprovador a Jace.

Não muito tempo depois, Finnick desce.

– Hermione, você pode vir aqui, por favor? – Hermione levanta uma das sobrancelhas para Finnick. Ele parecia assustado e desesperado com alguma coisa, seus olhos estavam alarmados.

Por fim, Hermione assentiu e seguiu Finnick escadas acima, olhei para Percy que estava mais calado que o normal.

– O que será que aconteceu? – Pergunto para ele.

– Não faço mínima ideia, ainda não sou um oráculo – Ele fala com um sarcasmo não muito convincente.

Percy estava mais estranho (e lerdo) que o normal, desconfio que talvez ele esteja recebendo sua próprias mensagens noturnas de “A”. Jace também parecia estranho, ás vezes, ele era o Jace de sempre depois ele parecia mais aéreo, como se ele não estivesse realmente aqui.

Samantha volta (de onde quer que ela tenha ido) correndo, ela tinha uma expressão desesperada no rosto e respirava com dificuldade como se tivesse corrido a distância de Chicago até Manaus.

– Vocês precisam vir comigo – Ela falava pesadamente – Tem alguém lá fora.

– O quê? Quem? – Pergunto.

– Eu não sei, quer dizer, acho que sei – Ela parou alguns segundos – Ele estava lá deitado – Eu me preparei para fazer uma pergunta, mas ela meu interrompeu – Sem perguntas Sadie, apenas me sigam.

Ela caminhou até a saída, eu, Jace e Percy a seguimos.

Do lado de fora, havia um pequeno número de pessoas em volta de algo no meio da rua, algumas estavam abaixadas no meio da rua. Nos juntamos na rua e vi um garoto caído, ele era loiro e tinha uma cicatriz no rosto que ia da testa até um pouco perto da sua boca passando pelos olhos, ele segurava em seus olhos. Percy que estava ao seu lado empalideceu, Samantha olhou para Percy.

– É ele, não é? – Ela engoliu em seco – Ele não se parece nada com o cara do filme, mas eu o reconheci por causa da cicatriz – Samantha voltou a olhar para o corpo – Por que ele está aqui?

– Eu não sei, mas com certeza é ele – Percy respondeu.

– Quem é ele? – Jace perguntou.

– Luke Castellan – Percy e Samantha responderam ao mesmo tempo.