Potterlock - A Câmara Secreta escrita por Hamiko-san


Capítulo 2
Gilderoy Lockhart




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A primeira reação de John quando viu a casa de Henry foi:

— Uau!

Não era apenas uma mansão. Era um condado inteiro. Quilômetros e quilômetros de terra verde, uma estufa do tamanho da casa de John e uma mansão que poderia abrigar um quarteirão. Provavelmente os banheiros eram do tamanho de kitnets.

— Você chegaram! – Henry comemorou assim que viu ele e Sally atravessarem o portão.

— Henry... Que... Mundo é esse? – John estava bestificado.

— Condado de Baskersville. Pertencia à família da minha mãe. Knight é o sobrenome do meu pai. A propriedade é minha, mas meus tios estão tomando conta dela até eu completar a maioridade. – Esta última frase não foi dita com gosto pelo herdeiro.

— Seus tios são tão ruins assim? – Sally perguntou, pois John ainda estava maravilhado demais com o tamanho do lugar.

— Eles são bem severos. Mas não liguem pra eles, vamos entrar.

Se o exterior parecia digno de um filme medieval da Disney, o interior parecia inspirado em vários desenhos fantásticos. Talvez John estivesse mais boquiaberto que Sally porque era a primeira vez que entrava numa casa de bruxos. As estátuas da sala de estar mudavam as poses de forma exibicionista, e olhavam para os visitantes como se quisessem arrancar elogios deles, as velas de relevo espiral flutuavam a dois palmos do teto, e todos os membros da árvore genealógica da família Baskerville, esculpida numa grande tapeçaria, os encaravam. Uns cordiais, outros indiferentes e outros rabugentos.

— Henry – Um homem sisudo e de cabelos grisalhos apareceu no corredor – Os quartos do senhor Watson e da senhorita Donovan já estão prontos. Acomode logo suas visitas e vamos almoçar.

O tal homem vestia uma longa túnica vinho aveludada e um chapéu coco preto. Refinado demais para ser apenas um empregado.

— Tá, tio. - Respondeu o garoto.

— É um prazer conhecer os amigos do meu sobrinho. – A frase foi dita mecanicamente – Mas Donovan e Watson, peço que isso não seja um hábito. Não é só porque a mansão é grande que gostamos de receber visitas.

— T-tio! – Henry ficou vermelho.

— Não se atrasem para a refeição.

O tio de Henry se afastou dos garotos atônitos que deixou para trás.

— Sujeito simpático. – John ironizou.

— Desculpem. Meu tio está assim desde que eu contei pra ele sobre o caso da pedra filosofal.

O jovem Watson levou um susto:

— Epa! “Caso da Pedra Filosofal”? Você leu minhas anotações?

— Bom, sim. Você deixou o caderno aberto em cima da sua cama e eu... Dei uma espiada. Até contei a história pro dono do Pasquim. Ele é amigo da minha tia e ficou muito interessado.

Sally riu debochada:

— O Pasquim? Só pode ser piada. A revista é ridícula e fala de coisas que não existem. Bom, se bem que é um ótimo lugar para a aberração aparecer.

— A revista só é diferente! — Henry retrucou — John, tem que publicar essa história!

No mesmo momento, uma criaturinha dobrou o corredor para ir ao encontro deles. Um elfo parecido com Dobby, mas com grandes olhos lilases e com um porte mais maduro.

— Amo, os quartos de seus amigos já estão preparados. Eu devia ter avisado antes do seu tio.

— Não se preocupe, Timpy. E obrigado.

— Você tem elfo doméstico? - John acabou pensando alto.

— Temos uns sete. Timpy é nosso mordomo.

— Caramba, Henry! – Sally estava cada vez mais impressionada – Vocês são ricos mesmo! Esses elfos são muito caros!

John olhou mais atentamente para a criatura. Seu estado era muito diferente do de Dobby. A fronha amarrada no pescoço era bem branquinha e não havia nenhuma marca de tortura ou maus tratos.

— Ah, e seu mascote fugiu, senhor. - Timpy abriu a palma da mão e dela brotou um rato marrom.

— Invasor!

— Deu esse nome pro seu mascote? - Sally franziu o cenho.

— Ele invadiu a nossa cozinha quando eu tinha uns seis anos, então eu decidi ficar com ele. Meu tio não gostou muito disso e começou a chamá-lo assim. Como eu não consegui pensar em nenhum outro nome, ficou sendo esse mesmo.

Henry se virou para o elfo:

— Leve John e Sally, Timpy. Eu vou deixar o Invasor no quarto.

— Sim, senhor.

A temporada na casa de Henry foi como viajar para um parque temático. Trilhas nas vassouras, banho num lago tão redondo e cristalino que parecia um prato de prata, várias plantas exóticas na estufa e - o lugar que John mais gostava - Um depósito de vassouras das mais variadas marcas que os três podiam usar para praticar quadribol.

Foi tão empolgante que John quase não sentiu o fim das férias chegar e acabou demorando duas horas a mais para arrumar seu malão, o que desagradou os tios de Henry.

Finalmente chegaram à estação King Cross e atravessaram a plataforma 9 1/2. Havia um alvoroço maior do que o normal, causado em grande parte pelas garotas, sem que John conhecesse o motivo. Despachou o malão juntamente com os dos amigos e entrou no expresso torcendo para que, ocasionalmente, se deparasse com a cabine de Sherlock e convencesse os amigos a viajarem ali.

Sabia que estava pedindo demais.

— Vamos achar um lugar pra sentar. – Sally olhou pela porta de vidro de uma das cabines e, no mesmo instante, recuou com o rosto corado e a mão no peito. – Ah!

— O que foi? - Os meninos logo se aproximaram após perguntarem em uníssono.

Henry olhou para a multidão dentro da cabine até perceber que ela era composta basicamente por garotas tietando Gilderoy Lockhart.

— O que esse cara faz aqui?!

— Não leu o Profeta Diário? Ele vai ser nosso professor de Defesa Contra as Artes das Trevas! – Sally tentava esconder a empolgação.

— Isso explica a lista de livros escolares. - John comentou.

Pelo visto estava prestes a ter aula com alguém mais narcisista que Sherlock.

 

~O~

 

Em outra cabine, Sherlock Holmes encontrava-se bem acomodado, lendo o Profeta Diário. Nenhuma notícia tão impactante lá, apenas um artigo egocêntrico de Cornelius Fudger, Ministro da Magia, falando sobre a reforma no presídio de Azkaban, e outro mais egocêntrico ainda de Gilderoy Lockhart, falando sobre a vaga de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas que iria ocupar em Hogwarts.

Teve a vaga impressão de que alguém o encarava e rapidamente olhou para a porta.

Lá estava Molly Hooper, apreensiva, ao lado de um jovial Lestrade. Ambos da casa Lufa Lufa.

Sherlock quase revirou os olhos. Quase. Foi por bem pouco.

— Oi. Está sozinho? — Ela perguntou ao abrir a porta.

— É o que parece, não?

— Não se preocupe, Molly. Ele é assim mesmo. — Lestrade a acalmou entrando na cabine — Vamos fazer companhia pra você, seu chato.

— Eu estou bem assim.

— Mas vamos ficar mesmo assim. 

Até dividir a cabine com Mycroft seria menos incômodo que isso.

Uma mistura de falatórios femininos encheu cada vez mais o vagão.

— Céus... Essa movimentação ta enchendo o saco. – Lestrade resmungou.

— É por causa de Gilderoy Lockhart. Ele está no trem. - A menina explicou, corando um pouco. –  Eu li no Profeta Diário que ele será nosso novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

— Ah, não, isso não. Minha mãe tem todos os livros dele. "Ele sabe o que faz, Greg", "Greg, faça do jeito que Lockhart mandou fazer", "Greg, se fosse o Lockhart seria assim"...

— E-ele deve ser muito bom pra fazer todas aquelas coisas.

— Você leu os livros?

— Bom, algumas folhas daquele sobre o de vampiros. Eram ótimas histórias. – Ela se voltou para Sherlock – Falando de histórias, você viu que John Watson escreveu sobre você no Pasquim?

Molly conseguiu o que queria. Atrair a atenção de Sherlock. Os olhos do corvino quase saltaram do rosto enquanto o Profeta Diário ficava praticamente amassado em cima do seu colo.

— O que disse?

— Eu tenho a revista aqui. Você quer ver? – Ela abriu a pasta e ofereceu.

Ainda chocado, Sherlock aceitou a oferta. O Pasquim era a revista mais desacreditada do mundo bruxo. Seus artigos eram recheados de criaturas imaginárias e teorias da conspiração. Não havia nada ali que pudesse ser levado a sério. Nada!

Mas o caso da pedra filosofal estava lá. Quatro páginas de letras bem miudinhas, divididas em duas colunas, escrita por um garoto de doze anos chamado John Watson.

 

~O~

 

Sherlock, Molly e Lestrade mal podiam imaginar que, mais tarde, no Salão Principal, depois que todos os calouros foram distribuídos nas suas respectivas casas pelo Chapéu Seletor, estariam diante do discurso vivo da mãe de Greg materializado diante de todos.

— Eu sei, eu sei. Todos estão surpresos que uma celebridade feito eu seja seu novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, não? — Gilderoy Lockhard acenava da mesa dos professores para seus fãs — Eu sei, poucos tem essa honra. Mas eu darei o meu melhor.

Muitos aplaudiram. Alguns por educação, outros por admiração. A maioria dos entusiastas era constituída de alunas e Sally era uma delas.

— Ele é incrível, não é mesmo?

— Eu acho que ele fala demais. – Henry fez uma careta.

— Ele pode. É difícil ser humilde depois de fazer todas aquelas coisas.

— Sherlock só tem doze anos e desvendou o mistério da pedra filosofal, mas não fica se gabando por aí.

Sally fez uma careta incrédula e olhou de Henry para John.

— Você encheu a cabeça dele! – Ela exclamou com reprovação.

Até então, John só estava concentrado na comida.

— Hm? — Ele engoliu o bolo alimentar que mastigava.

— Vocês vão ver como Holmes é um bruxo das trevas em potencial e aí não vão dizer que eu não avisei.

John acabou olhando para a mesa da Corvinal e reparou que - diferente do ano passado - Sherlock estava sendo requisitado por alguns colegas da casa. Provavelmente eram alunos que ainda queriam saber os detalhes das aventuras do ano passado. E a cara dele era a de quem tinha que suportar a companhia.

Quando o banquete terminou, todos foram para os seus respectivos dormitórios.

 

~O~

 

O dia seguinte se iniciou com os corredores lotados de estudantes. Os alunos começavam a rotina escolar sob um sol frio, coberto por nuvens pesadas, e a primeira aula dos segundanistas seria a de herbologia, com a professora Sprout. Nos jardins do castelo, John acelerou o passo para alcançar Sherlock e caminhar junto com ele.

— Hei! E ai? Ansioso pra aula de herbologia?

A resposta de Sherlock foi um arquear de sobrancelhas mostrando clara dúvida.

— ...Eu só estava puxando assunto. - Murmurou o loiro meio envergonhado.

— Ah. Sim, estudar é meu recurso pra não morrer de tédio.

— Eu li bastante sobre herbologia nas férias.

— Eu não sabia que você gostava de herbologia. Foi por causa do Visgo do Diabo?

— Também. – John coçou a cabeça sem jeito – Mas as plantas têm propriedades medicinais. Isso é interessante.

— Medicinais?

— É uma palavra trouxa. Quer dizer que pode curar os outros.

Na entrada da estufa eles puderam ouvir bem o professor Lockhart dizendo para a professora Sprout que ele poderia dar dicas sobre como regar os visgos adequadamente, o que causava um enrijecimento da mandíbula dela.

Quando todos entraram na estufa, a Professora Sprout cortou Lockhart sem nenhuma cerimônia e fechou a porta, indo em seguida para trás de uma mesa de cavalete no centro. Haviam vários pares de abafadores de ouvidos de cores diferentes arrumados sobre a mesa. Sherlock e John se posicionaram entre Greg e uma aluna da Corvinal loira, de olhos claros e sorriso fácil.

— Hei. - A menina sorriu para eles - Ola, Holmes e... John Watson, certo?

As bochechas de John coraram por ela lhe conhecer.

— Como sabe meu nome?

— O caso da pedra filosofal. - Explicou ela - Ainda bem que meus pais são trouxas e não sabem das notícias do mundo bruxo. Se eu contar que o professor Quirrel fazia pacto com um bruxo das trevas eles ficariam malucos.

— Ah! Você é filha de trouxas? Eu também sou!

Sherlock revirou os olhos.

A garota riu:

— Sou Sarah Sawyear.

— Muito bem, alunos. – A professora falou assim que todos entraram – Hoje vamos reenvasar mandrágoras. Agora, quem é que sabe me dizer as propriedades da mandrágora?

John tomou um susto quando Sherlock levantou a mão:

— A mandrágora é um tônico reconstituinte muito forte que é usado para trazer as pessoas enfeitiçadas de volta ao seu estado natural.

— Excelente! Dez pontos para a Corvinal!

— Exibido. — Resmungou o loiro.

— Amigos, amigos, copa das casas à parte. — Rebateu Sherlock sem qualquer emoção na voz.

— E desde quando você liga pra essa competição?!

— As vezes um pouco de competição é saudável.

— Mentira! Você está se exibindo!

— ...por isso a mandrágora é parte essencial da maioria dos antídotos. — A professora falava — Mas, é também perigosa. Quem sabe me dizer o porquê?

Dessa vez Sherlock não levantou a mão. Um silêncio imperou na estufa, até que uma tímida Molly ergueu o braço:

— O... O grito da mandrágora é fatal para quem o ouve.

— Muito bem! Dez pontos para a Lufa Lufa! Agora as mandrágoras que temos aqui ainda são muito novinhas. – Ela apontou para uma fileira de tabuleiros fundos ao falar, e todos se aproximaram para ver melhor. Umas cem moitinhas verde arroxeadas cresciam em fileiras nos tabuleiros. – Agora apanhem um par de abafadores de ouvidos.

Os alunos correram para a mesa para tentar apanhar um par que não fosse peludo ou cor-de-rosa.

— Quando eu mandar vocês colocarem os abafadores, certifiquem-se de que suas orelhas ficaram completamente cobertas — disse ela. — Quando for seguro remover os abafadores eu erguerei o polegar para vocês.

Sherlock e John colocaram os abafadores e sequer ouviram o som ambiente. A Professora Sprout colocou o seu par peludo e cor-de-rosa nas orelhas, agarrou uma moitinha de mandrágora com firmeza e puxou-a com força. De lá saiu algo parecido um bebê extremamente feio com folhas crescendo da sua cabeça, berrando a plenos pulmões. Sprout mergulhou a mandrágora em outro vaso e a cobriu com fertilizante até ficarem apenas as folhas visíveis. Depois, limpou as mãos e fez sinal para os alunos retirarem os abafadores dos ouvidos.

— As nossas mandrágoras são apenas mudinhas, por isso seus gritos ainda não dão para matar — Disse ela calmamente — Mas, elas deixarão vocês inconscientes por várias horas, então certifiquem-se de que seus abafadores estão no lugar antes de começarem a trabalhar. Chamarei sua atenção quando estiver na hora da saída. Quatro para cada tabuleiro.

John cutucou Sherlock para fazerem dupla com Molly e Lestrade.

A garota não parava de olhar para o corvino.

— Sabe... Foi legal o que você fez. — Disse Molly para Sherlock quando os quatro se juntaram.

— Hn?

— Você sabia a resposta, mas me deu a vez.

— Oh. Isso. Você gosta dessa matéria e é boa nela. Merece ser reconhecida.

John ergueu as sobrancelhas, surpreso por ouvir o amigo elogiando uma garota (que pareceu derretida com o comentário).

Depois disso não houve mais o que conversar. Tinham tornado a colocar os abafadores e precisavam se concentrar nas mandrágoras.

Desenvasá-las era mais difícil do que parecia. As mandrágoras não gostavam de sair da terra, mas tampouco pareciam querer voltar para ela. Contorciam-se, chutavam, sacudiam os pequenos punhos afiados... E Sherlock finalmente conseguiu achar algo mais irritante que Mycroft e Moriaty conversando com ele para impedi-lo de vencer uma partida de xadrez bruxo, cena imaginária que o corvino, até então, tinha adotado como o cúmulo do insuportável.

 

~O~

 

Novamente nos corredores do castelo, Sherlock e John caminhavam sem qualquer pressa. Primeiro porque estavam bastante adiantados para a próxima aula, e depois porque as pastas estavam cheias de livros pesados. O grifinório já raciocinava acerca do quão destruído seu ombro ficaria após o fim do período letivo, tudo graças ao professor de Defesa Contra as Artes das Trevas e toda a sua coleção de exemplares.

— Como será a aula do professor Lockhart? — John puxou conversa mais uma vez.

— Nem quero imaginar.

— Não gosta dele?

— Já leu os livros dele?

— Ahn... 

— Não leu.

— Bem, ele parece fazer coisas incríveis, não?

— Sim. Mas passa boa parte do livro falando de si mesmo. Do cabelo ao sorriso. Se eu fosse resumir Férias com Bruxas Malvadas, iria parecer que eu estava fazendo uma declaração de amor pro professor.

John riu pra si:

— Eu nem imagino você fazendo isso.

Sherlock o acompanhou na risada:

— Claro que não imagina. Romances impedem as pessoas de raciocinarem e eu preciso raciocinar.

Dobraram um corredor e subiram mais um lance de escadas.

— Então... — John falava, ajeitando mais a alça da pasta no ombro — Você não pensa em ter alguém? Alguém pra namorar?

— Que vantagem isso me daria? 

— Hn. Você diz isso, mas sua investida na Molly foi bem eficaz.

Sherlock até pensou em discorrer sobre aquilo não ser uma investida, mas sim uma demonstração de cordialidade para uma pessoa que até então o trata bem, somado ao fato de que responder duas perguntas seguidas chamaria muita atenção desnecessária, o que ele detesta.

Mas explicar aquilo seria muito entediante.

Os dois entraram na sala de aula e sentaram num dos últimos lugares, pois boa parte das cadeiras da frente foram ocupadas por garotas, entre elas, Sally. Lockhart ainda não estava na sala.

— Clara disse pra minha irmã que um de nossos artilheiros saiu do time pra se dedicar mais aos NEOM's. – John continuou a conversa.

— E daí?

— Ora, daí que eu não sou mais do primeiro ano. Vou poder me candidatar pra ocupar a vaga do time.

De repente a dupla foi abordada por uma linda quartanista da Grifinória, que praticamente brotou na frente deles. Tinha cabelos escuros presos numa trança caída pelo ombro e traços faciais que pareciam pertencer a uma modelo de cosméticos. John a conhecia como uma das garotas mais bonitas da sua casa.

— Janine Thonson? - O loiro chamou o nome dela sem pensar.

— Oi. Eu só vim pedir um favor, pode ser?

— Claro!

— Meu irmãozinho leu o artigo sobre a pedra filosofal no Pasquim. Agora tá louco pra ter um autógrafo de Sherlock Holmes.

O corvino franziu o cenho espantado. Até então agia como se o assunto não fosse com ele. 

"Então você está distribuindo fotos autografadas, Holmes?"

A voz de Moriaty, gélida e irônica, soou perto deles. Ele estava atrás de Janine, que, ao ouvi-lo, deixou de sorrir.

— Uh! Essa oportunidade eu não quero perder! - Provocava o sonserino - Posso escolher onde vou querer meu autógrafo?

— Eu não estou assinando nada. – Sherlock rebateu muito sério.

— Opa! O que está acontecendo aqui? — Gilderoy Lockhart acabava de entrar na sala, suas vestes turquesa rodopiando belamente para trás. — Por que esse aglomerado?

— Holmes e Watson estão distribuindo autógrafos. — Kitty ria lá de seu lugar.

— Autógrafos?

Antes que John pudesse explicar tudo, Lockhart havia parado na frente deles e pousado uma mão no ombro de Sherlock para depois falar num tom dramático demais:

— Oh, Holmes, Holmes… Eu sei que é uma grande responsabilidade minha e preciso cuidar disso. Você conseguiu um pouco de fama em uma revista recreativa, então entendo que é natural querer mais, mas distribuir autógrafos por ai?

— Ah, não, pera, professor... 

— É bom se acalmar, está bem? Tem muito tempo para isso quando for mais velho. É, sei o que está pensando! "Tudo bem para ele, já é um bruxo internacionalmente conhecido!" Mas quando eu tinha doze anos, era um João-ninguém como você. Diria até que era mais João-ninguém. Eu sei, eu sei, desvendar mistérios não é tão bom quanto ganhar o Prêmio do Sorriso mais Atraente do Semanário dos Bruxos cinco vezes seguidas, como eu, mas é um começo.

Sherlock afundou o rosto nas mãos como se estivesse passando por uma sessão de tortura. Lockhart piscou para Janine pedindo gentilmente que ela saísse da sala e foi para trás da mesa. Foi nesse meio tempo que Molly chegou esbaforida e pediu desculpas pelo atraso.

Quando a classe inteira se sentou, Lockhart pigarreou alto e fez-se silêncio. Ele esticou o braço, apanhou o exemplar de Viagens com Trasgos de Sally e ergueu-o para mostrar a própria foto na capa, piscando o olho.

— Aqui estou eu, Gilderoy Lockhart, Ordem de Merlin, Terceira Classe, Membro Honorário da Liga de Defesa contra as Forças do Mal e vencedor do Prêmio Sorriso mais Atraente da revista Semanário dos Bruxos cinco vezes seguidas, mas não falo disso. Não me livrei do espírito agourento de Bandon sorrindo para ele. - Piscou para os alunos.

John fez uma careta enquanto muitas garotas suspiravam encantadas.

— Vejo que todos compraram a coleção completa dos meus livros, muito bem. – Continuou o professor – Pensei em começarmos hoje com um pequeno teste. Nada para se preocuparem, só quero verificar se vocês leram os livros com atenção, e o quanto assimilaram. – Pegou os pergaminhos e começou a distribuí-los. – Vocês têm trinta minutos... Começar, agora!

John não tinha muitas esperanças, pois, como Sherlock bem lembrou, ele não tinha lido nenhum dos livros. Ia somente chutar as respostas que parecessem mais fáceis.

1) Qual é a cor favorita de Gilderoy Lockhart?

2) Qual é a ambição secreta de Lockhart?

3) Qual é a maior realização de Gilderoy Lockhart?

4) Qual é o tipo de roupa que Gilderoy Lockhart mais gosta de vestir?

5) Quando Gilderoy Lockhart deu seu primeiro autógrafo?

— Mas... O que?! - John olhava o teste incrédulo. O cenho franzido, a boca semi aberta, piscando várias vezes e pensando se o professor não havia se enganado. As perguntas se seguiram por três páginas, até a última.

53) Quando é o aniversário de Gilderoy Lockhart e qual seria o presente ideal para ele?

Sua vontade foi escrever "O que isso tem a ver com a disciplina, seu idiota?!", mas presumiu que muitos tinham escrito isso.

Passado o tempo, o professor recolheu os testes.

— Tsc, tsc, quase ninguém se lembrou que a minha cor favorita é lilás. Digo isto no Um Ano Com O Ieti. E alguns de vocês precisam ler Passeios com Lobisomens com mais atenção, afirmo claramente no capítulo doze que o presente de aniversário ideal para mim seria a harmonia entre os povos mágicos e não-mágicos, embora eu não recuse um garrafão do Velho Uísque de Fogo Ogden.

John ainda estava estupefato.

— Tsc. Tsc. Senhor Holmes, que pena... Deixou tudo em branco. Logo você, que fiquei sabendo que é o número um de sua casa. Pelo visto eu esperei demais de você.

Sherlock não esboçou nenhuma reação.

A aula se passou com o professor dando um breve relato sobre cada um de seus livros e o quanto os alunos iriam aprender com eles, mesmo que dificilmente alcançariam seu brilho e sofisticação. Quando o fim do horário chegou, John não conseguia pensar em quão deplorável seria seu desempenho contra um ataque das trevas tendo aula com um bruxo daqueles.

— Fala sério! Isso lá é professor? — O loiro andava pelo corredor com cara de "isso é realmente sério?".

— Eu já esperava que ele fosse narcisista, mas consegui me surpreender.

— Achei que você tinha lido os livros. Como não sabia as respostas?

— Eu me ocupei de esquecer essas informações. Meu cérebro é um espaço limitado, John. Não pode ser preenchido com coisas inúteis.

Dessa vez John não pôde deixar de dar razão ao amigo. Teriam que se acostumar.

 

Continua


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Notas finais do capítulo

Prontinho! Segundo capítulo! Agradeço imensamente aos comentários, favoritados e etc! ^^ Estou me divertindo escrevendo essa história.

Abraços!