Potterlock - A Câmara Secreta escrita por Hamiko-san


Capítulo 1
No Beco Diagonal




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O Beco Diagonal estava bem mais cheio do que da última vez que John o tinha visitado. Está certo que fora há um ano, mas a movimentação chegava a ser absurda. Era o centro comercial de todos os bruxos londrinos e cuja passagem se dava depois do bar Caldeirão Furado. Um mundo que fascinava John, agora com doze anos de idade.

Muita coisa havia acontecido ano passado. John Watson havia recebido uma carta para ingressar na escola de magia e bruxaria chamada Hogwarts. Alimentava esse desejo desde que sua irmã mais velha, Harriet ou Harry Watson, ingressou naquele mundo. Por sorte seus pais não foram relutantes em deixá-lo seguir para o mundo da magia. Ao menos não tanto quanto foram quando havia sido Harry que mrecebeu a carta.

Foi em Hogwarts que John entrou na Grifinória e fez amizade com seus colegas Sally e Henry, ambos pertencentes à sua casa. E também foi lá que conheceu o garoto com a mente mais incrível de todas: Sherlock Holmes, da casa Corvinal.

Sherlock e ele se tornaram amigos no decorrer do ano letivo e até conseguiram proteger a pedra filosofal das garras de um bruxo das trevas. Durante as férias chegaram a mandar corujas um para o outro, mas nada se comparava a vê-lo pessoalmente.

E John estava ansioso para rever Sherlock.

"Sai da frente, moleque!"

Alguém gritou depois de esbarrar nele.

Lojas, gente, gente e gente. Tadeu, o bichano que Harry carregava nos braços, miou aborrecido ao ser esmagado por um trio de bruxos que passavam pelos irmãos Watson. John agradeceu não trazer sua coruja, Sentinela, consigo.

— Que saco! Pra que tanta gente hoje? — Harry Watson reclamava — Eu vou passar lá no empório primeiro. Tadeu tá passando mal desde que comeu o bolo de carne da mamãe.

— Tá, eu vou logo pra livraria. — John abriu o pergaminho com a lista de materiais e começou a checar.

LIVROS OBRIGATÓRIOS PARA ALUNOS DO 2º ANO

Livro Padrão de Feitiços de Miranda Goshawk

Como Dominar um Espírito Agourento de Gilderoy Lockhart

Como se Divertir com Vampiros de Gilderoy Lockhart

Excursões com Vampiros de Gilderoy Lockhart

Férias com Bruxas Malvadas de Gilderoy Lockhart

Guia de Pragas Domésticas de Gilderoy Lockhart

O Meu Eu Mágico de Gilderoy Lockhart

Passeios com Lobisomens de Gilderoy Lockhart

Um Ano com o Yeti de Gilderoy Lockhart

Viagens com Trasgos de Gilderoy Lockhart

Harry deu uma espiada na lista do irmão e torceu o nariz:

— Também mandaram você comprar todos os livros desse cara? Qual é? A escola está sendo patrocinada por ele?

— O novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas deve ser fã dele.

— E deve pensar que todos os alunos são ricos também. Esses livros não devem ser baratos. Bom, eu já vou. Vai lá comprar os livros, vai. — Ela se espremeu pela multidão até desaparecer da vista de John.

Se andar pelo Beco Diagonal era um sufoco, entrar na livraria se tornou um desafio maior ainda. O lugar estava simplesmente lotado. E pra piorar, John ainda teve a infeliz ideia de chegar até uma das estantes para procurar os tais livros de Gilderoy Lockhart e ser esmagado pelos traseiros de várias bruxas.

Agora além de não achar os livros não tinha ideia de como chegar à porta.

"John Watson?" Uma vez masculina o chamou.

O garoto deu um pulo ao olhar para o lado e dar de cara com Greg Lestrade, um aluno da Lufa Lufa que conhecera no ano passado.

— Greg! Oi!

Greg estava quase espremido no canto da livraria junto com Sally. Ela com seus cabelos crespos amarrados num rabo de cavalo e os braços cheios de livros de Defesa Contra as Artes das Trevas.

— Hei, John! — Sally cumprimentou.

— Oi! Faz um tempão, heim!

— Não seja exagerado. Cadê seus pais?

— No Gringotes trocando moedas. Por que essa multidão?

— É Gilderoy Lockhart — Sally corou um pouco ao falar esse nome — Ele vai distribuir autógrafos hoje. — Apontou para um poster quase sumido diante de tantos bruxos que queriam chegar perto de um palco improvisado.

O bruxo da foto era um cara bonitão de cabelos loiros e ondulados, olhos azuis e um sorriso cheio de dentes brancos.

— Não vou conseguir comprar nenhum livro com essa confusão. — Lestrade sentia a multidão se condensar cada vez mais. — Aliás, ninguém vai. Por isso eu disse pra Sally pra voltarmos depois que esse cara distribuir os autógrafos, mas ela não quer.

— E-eu só acho que não custa nada esperarmos. — A garota corava cada vez mais.

Uma bruxa deu uma cotovelada no rosto de John, e o traseiro de outra o empurrou dois passos pra trás, deixando-o zonzo.

— Wow... Ok, não da pra continuar aqui. Encontro vocês depois. - Mas o garoto só conseguiu passar por três bruxos, pois acabou se esbarrando em mais alguém. - Ai! Que porcaria de multidão!

"John?"

Aquela voz familiar soou como um gongo, expulsando todas as outras de sua mente.

— Sherlock!

John acabou sorrindo. Não percebeu que sorrira, nem quis esboçar uma reação tão boba, mas aquilo foi inevitável. Sherlock havia crescido um pouco mais do que ele, mas o rosto pálido e o olhar sempre fixo não haviam mudado em nada. Tinha aquela mirada penetrante que amarrava o foco de John e fazia com que tudo parecesse desinteressante, até mesmo o fato de estar num lugar lotado, suscetível à cotoveladas e golpes de traseiros.

— Hei... — Sibilou o loiro simplesmente.

— Eu vi topo da sua cabeça, mas achei que nunca ia alcançá-lo nessa multidão.

Sally cortou o diálogo:

— Hei, aberração, seus pais estão lhe procurando!

O garoto Holmes revirou os olhos:

— Greg, leve logo a Sally pra perto do palco. Está na cara que ela está tendo sonhos melosos e deprimentes com Gilderoy Lockhart. Olhe o modo como ela fica na ponta dos pés.

— Vá se ferrar! — Ela resmungou.

— Agora nem consigo ver minha mãe. — Lestrade ignorou a discussão enquanto se colocava na ponta dos pés para tentar encontrar rostos conhecidos.

— Estão passando as férias juntos? — Perguntou John.

— É comum passarmos. — Respondeu Sally olhando furiosa para o Holmes — Mas eu já disse pra mamãe que vou passar o resto delas na casa do Henry. Você trouxe suas coisas, John?

— Ah, trouxe sim.

— Sra. Holmes! — Lestrade acenou para uma pessoa que brotava na multidão.

A senhora Holmes atravessava o aglomerado sufocante de pessoas, e fazia bastante esforço pra isso. Era uma mulher de meia idade, baixinha, com uma pele rosada, olhos puxados e cabelos lisos e grisalhos. John conseguia ver nela os mesmos olhos de rapina que os filhos tinham.

— Quanta bagunça, crianças! Foi um péssimo dia para virmos às compras! — Dizia ela ajeitando as vestes — Sherlock, viu seu irmão?

— Deve ter sido sequestrado por um grupo de lobisomens, se eu tiver sorte.

— Pare de falar do seu irmão desse jeito. - Em seguida olhou para John - E esse rapaz?

John pareceu despertar quando percebeu que a mulher se referia a ele.

— Ah, eu...

— Esse é John Watson, mamãe. Da escola.

A sra. Holmes abriu mais os olhos e então instantaneamente sorriu:

— Oh! Então é ele?

— Foi o que eu disse.

— Falou de mim pra sua mãe? - John inquiriu surpreso.

— Claro que falou, querido! - A mulher respondeu no lugar do filho - Na verdade ele não parou de falar em você durante as férias inteiras!

Sherlock ficou instantaneamente escarlate:

— Mãe...

Um homem se aproximou da mulher. Provavelmente o sr. Holmes. Era meio calvo, de semblante carismático, um pouco aluado. Tinha maçãs do rosto bem sobressalentes e uma gravata borboleta vermelha com bolotas que chamava bastante atenção.

— É melhor sairmos um pouco, querida. Ou vamos acabar perdendo os meninos. Cadê Mycroft?

— Olhe, querido, esse é o famoso John Watson!

O senhor Holmes deu um pulo para trás impressionado:

— Watson? Achávamos que era um amigo imaginário!

Sally abafou a risada de deboche e John já estava se sentindo constrangido com aquela recepção exagerada. Claro, não mais que Sherlock, que carregava uma expressão estranhíssima de quem estava louco para usar a capa da invisibilidade naquela hora.

— Desculpe o mal jeito, John. É claro que é um prazer conhecê-lo. - Cumprimentou o senhor Holmes. - Onde estão seus pais?

— N... No Gringotes... - John parou de falar ao vê-los adentrando o local, estranhando a multidão — Ah. Ali.

Foi de súbito que os olhos do senhor Holmes brilharam:

— Pelas calças de Merlin! Eles são trouxas! - E um largo sorriso se fez.

O senhor Holmes saltou para perto dos Watsons, que quase correram de espanto ao se verem abordados por um bruxo que apertou a mão deles freneticamente e os bombardeou com perguntas estranhas.

— Ah, não... Lá vai seu pai de novo. - Lamentou a senhora Holmes, em seguida se virou pra John - Desculpe por isso, querido. Ele sempre fica muito impressionado com trouxas.

— N-Não tem problema. - John ainda estava boquiaberto com a cena.

— Não saia de vista, Sherlock. Vou atrás do seu irmão.

Quando a mulher adentrou mais no aglomerado, John se virou confuso para Sherlock:

— Seus pais...

— Eu sei. Muito espalhafatosos. - As maçãs do jovem Holmes estavam bem vermelhas.

— Eu ia dizer sociáveis.

— Infelizmente.

De repente um estalo se ouviu e o ambiente se encheu de gritos eufóricos quando uma ilustre figura de cabelos loiros, ar egocêntrico e vestes muito refinadas, aparatou no meio do lugar. John só não foi arrastado pela multidão porque Sherlock o segurou pelo braço.

Sally e Greg desapareceram na onda de pessoas.

— Mas o que...? - John estava confuso.

— Gilderoy Lockhart. — Sherlock apontou para o bruxo bonitão no palco improvisado — É melhor a gente ir. Não vamos conseguir comprar nada.

— Verdade.

Ao tentar sair, as pernas de John acabaram se enroscando em alguma coisa, fazendo-o perder o equilíbrio e tombar no chão.

— Ai! - Um guincho soou perto das pernas de John.

Era uma criatura pequena, cabeçuda, com grandes orelhas de elfo e grandes olhos vermelhos. Usava uma fronha imunda amarrada com uma corda na cintura e tinha o corpo cheio de marcas. Quando a criatura viu o bruxo loiro mirando-a, rapidamente se levantou.

— D... Desculpe, senhor! Dobby estava distraído! Dobby não fez por mal!

— Não. A culpa foi minha. - John levantou-se, tirando a poeira das calças - Você está bem? Machucou-se?

Os grandes olhos vermelhos do elfo pareceram ficar maiores que o normal e se encheram d'água. De repente, a criatura abriu o maior berreiro.

— BUAAAAAA!

— Heim? O que... O que eu fiz?

— UM BRUXO PERGUNTOU SE DOBBY ESTÁ BEEEEM!

— Hei! Hei! Você tá legal?

— DOBBY NÃO SABIA QUE BRUXOS PODEM SER TÃO... TÃO... - Dobby se agarrou a uma estante e começou a bater a cabeça nela - DOBBY MAU! DOBBY MAU!

Por sorte, o choro do elfo não era maior que a gritaria na livraria por causa do tal Gilderoy Lockhart.

— Sherlock, ajude-me! Esse bicho pirou! - John tentava desgrudar o elfo da estante.

(DOBBY MAU!)

— Ele não pirou, John. Só está se castigando por achar um bruxo melhor do que o amo dele.

(DOBBY MAU! DOBBY MAU!)

— E por que ele faria isso?

(DOBBY MAU! DOBBY MAU!)

John finalmente conseguiu tirar a criatura de sua penitência e a carregou quando se colocou de pé.

— Pare com isso, ok? Vai acabar quebrando a cabeça!

— O bruxo está preocupado com o estado da cabeça de Dobby! Isso é péssimo para Dobby! Dobby tem que se castigar!

"Se quer um elfo, basta comprar, Watson. Não precisa pegar o dos outros."

A voz carregada de sarcasmo despertou um sentimento de repulsa em John. Pertencia a uma figura que ele não gostava desde a primeira vez que se viram: Jim Moriaty, da Sonserina.

Dobby pulou para o chão e correu até os pés de Jim, que não parava de olhar para o jovem Watson.

— Quer dizer que você é filho de trouxas? - Jim agora mirava com repulsa o senhor e a senhora Watson (agora mais uma vez com a atenção voltada para o monólogo sem fim do senhor Holmes) — Já era de se esperar.

Em seguida Moriaty olhou para Sherlock, e a sensação que John teve foi a mesma que tivera quando os dois se encararam pela primeira vez. O sonserino tinha um interesse visível no jovem Holmes e encarava-o como quem aprecia um objeto valioso.

— Já você... É quase impossível imaginar que corre algum sangue trouxa na sua veia. — Jim confessava — Não que isso fizesse diferença pra mim.

— Nunca fez diferença pra ninguém, Moriaty.

— Não acho que todos concordem com você. De qualquer forma, mal espero para as aulas começarem e podermos jogar pra valer.

John fechou os punhos olhando furiosamente para Jim. Em parte porque não estava gostando daquela troca de olhares entre os dois, e também não esqueceu que Moriaty convenceu Sherlock a entrar numa aposta imbecil que quase derrubou Clara, a apanhadora do time da Grifinória, da vassoura.

Moriaty virou de costas e chutou Dobby com força antes de se afastarem. Isso irritou John mais ainda.

— Aquele elfo...

— Elfo doméstico. — Sherlock explicava — Um escravo. As famílias bruxas ricas costumam ter alguns. Dobby deve ser o elfo particular de Moriaty.

John olhou para as costas de Dobby, que ia embora com o amo.

E Dobby olhou para o menino por cima do ombro.


Continua


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Notas finais do capítulo

Continuação de Potterlock e a Pedra Filosofal (sim, eu resolvi fazer no final das contas). Espero que gostem! :)