Corações Convergentes escrita por Anníssima, Willie Mellark


Capítulo 4
Capítulo 3 - Tris


Notas iniciais do capítulo

Acho que nem todas as palavras que colocássemos aqui seria suficiente para agradecer à América Odair, Lulii, Cary Mellark e Bia Prior pelas recomendações que vcs fizeram à Corações Convergentes! Nossos corações se encheram de alegria e carinho por vcs! Obrigada, de verdade.

Todos que favoritaram e comentaram... Amamos vcs! É um prazer tê-los como leitores!!! ;D

Obs: Trechos em itálico são sonhos ou lembranças.

Beijos e leiam as notas finais!



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A primeira coisa que Tris tomou ciência enquanto lutava com suas pálpebras pesadas que insistiam em prolongar seu sono foi a dor excruciante que percorria em fisgadas e ardências em cada pedacinho do seu corpo. Ainda assim, ela conseguia distinguir dois pontos em que a dor era realmente lancinante. Sua cabeça estava confusa, por conta de uma série de pensamentos nublados que pareciam se sobrepor uns sobre os outros, mas não se tratava de um sonho, ou melhor, de um pesadelo, e disso ela bem sabia.

A dor que sentia era real.

Entretanto, conforme seu corpo foi os poucos despertando, acima da dor, ela conseguiu distinguir um calor, seguido de um leve aperto em sua mão. E naquele local com o qual sua mão se conectava, um arrepio que mais parecia uma pequena descarga elétrica estranhamente agradável percorreu sua espinha, dando-lhe o incentivo que seu corpo necessitava para abrir acordar.

Seus olhos arderam com a claridade e ela piscou um par de vezes, até que eles começassem a se acostumar. Havia uma pessoa que sorria postada sobre ela. Ele, a pessoa, era jovem e muito bonito, mas alguma coisa nele ou em sua excessiva proximidade a deixaram incomodada.

Olhou rapidamente para os lados e, ao perceber que estava sozinha com ele em um quarto amplo, bem iluminado e pintado de azul claro, ficou inquieta. Fez um inventário em seu corpo, percebendo que estava repleta de bandagens e com uma cânula presa à mão direita, ligando-a a um soro. Havia ainda ventosas conectadas em seu peito, que ela acreditava terem a função de controlar seus batimentos cardíacos.

Tris olhou para a própria mão esquerda que estava segura na mão do estranho a sua frente e percebeu que a sensação que a ajudou a acordar partira dele. Daquele rosto estranho à sua mente, mas familiar ao seu corpo. Sabia disso só pelo fato de estar tranquila perto dele, mesmo estando naquela situação.

Ele demostrava ansiedade em seus olhos que se fossem um tom de azul acima do que ele possuía poderiam ser facilmente confundidos como sendo pretos. O corpo dele também estava tenso e isto vinha confirmado pela mão áspera em contato com a pele macia dela. Antes ela notara calor em sua palma que agora estava pegajosa pela umidade do suor que dela brotava.

_ Onde estou? - Ela perguntou, reprimindo a quantidade maciça de questionamentos que gostaria de fazer. Porque não era justificável que ela tivesse acordado em um local que não conhecia acompanhada de um estranho completamente machucada se ainda ontem havia ido dormir atormentada com as coisas que Tori, a mulher da tatuagem de falcão, havia lhe dito acerca de seu teste de aptidão.

O rapaz fez menção de abraça-la, mas desistiu na metade do caminho e endireitou a postura. Ela tentava identificar os sentimentos escondidos por trás de suas íris que ardiam com intensidade encarando-a, mas parecia que quanto mais próxima ela estava da porta daquela lembrança ela se perdia no caminho.

_ Tris, você está na antiga sede da Erudição. David atirou em você e o Caleb te trouxe para cá. Agora você está bem. - Ele lhe dizia tudo pausadamente como se estivesse explicando lições para crianças de Nível Inferior, mas não foi isso que a aborreceu.

_ Por que me chamou de Tris e por que esse tal de David queria me machucar? - Ela perguntou. Toda a calma que sentira até aquele momento estava dissipando e ela não queria mais prolongar aquilo. - Você disse que Caleb me trouxe, então, por que ele não está aqui comigo?

Tris sentia-se ressentida. Onde estavam seus pais e o irmão que a deixaram sozinha daquela maneira? Ela jamais faria algo parecido se a situação fosse diferente. Isto é, se eles houvessem sido baleados por uma razão inexplicável.

_ Você... - Respirou fundo antes de prosseguir. - Tris, você não se lembra de mim? De como veio parar aqui? - A dor evidente nas palavras dele fez o coração de Tris doer mais até do que as contusões e feridas em sua pele. O olhar do belo rapaz a sua frente não era mais esperançoso, e sim magoado por algo que ela não compreendia. Tris se sentia pior por fazer o estranho sofrer. Sabia que o conhecia, mas simplesmente não se recordava de onde, ou seu nome e, muito menos porque seria ele a estar ali naquele momento e não sua própria família.

Com esforço, concentrou-se em suas últimas recordações, buscando aquele rosto em todas as partes de sua mente, mas ela nem ao menos se lembrava do dia anterior. Borrões eram substituídos por imagens e uma tontura tomou lugar ao lado da aguda dor que persistia em sua cabeça.

Seus pais apareciam em sua mente, mas diferentes. Ela os reconhecia, porém suas lembranças não eram límpidas.

_ Onde está minha família? – O desespero começou a tomar conta de si. Ela tinha lacunas em sua mente e quanto mais se forçava para lembrar mais sentia sua cabeça latejar. - A minha cabeça dói. Por favor... - Ela sequer chegou a terminar a frase, pois a porta foi aberta revelando Caleb acompanhado de um homem moreno, alto e com óculos pendendo sobre a ponte do nariz.

_ Beatrice, você acordou? Está sentindo dor? - Caleb perguntou com a voz alegre demais para quem questiona sobre a irmã deitada em leito e coberta de ferimentos. - Há quanto tempo ela está acordada? - Tris percebeu que a rosto do irmão se fechou ao dirigir a pergunta para o rapaz que ficara com ela antes.

_ Ela acabou de acordar. - O estranho disse à Caleb e virou-se para o outro homem que recém chegara. - Será que eu posso conversar com você, agora? - Ele perguntou-lhe e, ao receber um aceno de cabeça em assentimento como resposta, se aproximou de Tris, colocou uma mão em sua bochecha, fazendo-a sentir um calor e alívio na pressão em seu peito, somente com os leves ir e vir que o polegar dele traçava em sua face. - Preciso sair, mas eu volto mais tarde. - Disse e saiu.

_ Caleb, quem é ele? Ele me chamou de Tris... - Ela perguntou e pela feição de desconcerto do irmão, soube que sua saúde e lembranças devem ter sido comprometidas.

_ Beatrice, o nome dele é Tobias. - Caleb disse. - E aquele que entrou comigo é o Dr. James que está cuidando de você. Sabia que levou uma pancada bem forte na cabeça? - Ele sorriu, mas seu sorriso não chegou aos seus olhos. Algo dentro de seu peito a incomodava, mas seus esforços mentais não a levavam a lugar nenhum. - Conversei com ele antes de vir te ver. Na verdade, estava dando um tempo até o Tobias sair porque... Bem, não vem ao caso, agora. - Ele desviou o olhar por um segundo e voltou a encará-la. - O médico acredita que precisará fazer mais alguns exames em você.

_ Caleb, onde estão nossos pais? Olha para mim! Como eles podem não estar aqui? - Ela alteia a voz para o irmão. - E a minha cabeça, por que dói tanto? E eu não consigo me lembrar. E tem ele, esse que você disse, o Tobias. Eu o conheço, mas eu simplesmente não consigo lembrar. E ele ficou triste, só que eu não sei o que eu posso fazer. Acordei machucada e na sede da Erudição! Nossos pais permitiram que eu viesse para cá? Porque ainda ontem eles estavam reclamando do artigo que eles publicaram sobre o Marcus... - Tris começou a falar descontroladamente e os monitores cardíacos dispararam, informando que o stress em seu corpo chegara a um nível alarmante.

Vozes e rostos embaçados invadiram sua mente e algo em seu peito sentia falta do desconhecido, que acabara de sair. As dores dificultavam sua respiração. Angústia crua e fria: Era isso que sentia.

Algumas pessoas entraram rapidamente no quarto e quando Tris conseguiu entender o que acontecia, o médico segurava uma seringa vazia na mão. Ela sentiu o corpo amolecer enquanto olhava fixamente para a gota única do líquido na ponta da agulha que instantes antes tocaram a cânula em sua veia.

✼✼✼✼✼

Acordar pela segunda vez foi mais fácil. A dor ainda estava ali, mas a consciência vinha como ondas tranquilas. Caleb que estava sentado na cadeira ao lado analisou o rosto dela e aproximou sua cadeira da cama.

_ Beatrice, você precisa ficar calma. Há muitas coisas que tenho que contar, mas não conseguiremos fazer progresso se você se descontrolar outra vez. - Ele segurou sua mão. - Acha que agora está pronta? Não vou dizer nada se você não estiver ainda.

Ela tinha medo, mas precisava saber.

_ Onde estão nossos pais? - Ela o questionou pela segunda vez naquele dia.

_ Beatrice, qual é a última coisa que você lembra?

Depois de fazer algum esforço, ela se lembrou de seu teste de aptidão, da noite da véspera da Cerimônia da Escolha. Havia mais coisa, disto ela estava certa. Entretanto, névoa encobria o que acontecera após aquela noite.

_ Você me disse que tínhamos que pensar em nossa família, mas também em nós mesmos. - Caleb torceu os lábios em sinal de desgosto, da forma como fazia quando ela deixava de ajudar as pessoas a carregarem suas sacolas ou quando deixava de ceder seu lugar no ônibus. Ele estava contrariado com o que ela dissera. - O que foi? - Tris perguntou em dúvida.

_ Nada. - Ele disse, mas ela sabia que ele estava ocultando algo. - Beatrice, seu teste de aptidão e acho que você deve se lembrar, foi inconclusivo. Na verdade, ele concluiu que você tinha aptidão para três facções. Você é divergente.

_ Como você... - Tris começou a dizer, mas decidiu que era melhor deixar o irmão continuar explicando, embora temesse que ele soubesse sobre tal fato. A mulher da Audácia disse que ela não poderia contar seus resultados a ninguém. – Continue.

_ Você escolheu a Audácia e eu escolhi a Erudição. - Tris fez menção de interromper, mas Caleb fez sinal para ela ficar em silêncio. - Os artigos que a Erudição estava publicando sobre a Abnegação eram falsos, você sabe. Mas eles continuaram publicando mais e mais para desacreditar o governo. A Erudição e os líderes da Audácia se juntaram em uma guerra contra a Abnegação. - Caleb parou e seus olhos brilhavam.

Tris já havia entendido e seu coração golpeava em agonia.

_ Caleb... Papai e mamãe não estão aqui... Por quê? - Ela quis saber.

_ Eles nos salvaram Beatrice. Deram a vida por nós. - Caleb respondeu com lágrimas nos olhos que só não escorriam em fluxos mais intensos do que as da irmã. Ela tinha a face lava de um choro sentido.

Ela estivera dormindo e, neste sono, havia perdido as lembranças dos últimos momentos que teve com seus pais. A compreensão de que este David, de quem Tobias lhe falara, não havia feito mal somente a seu corpo, se abateu sobre ela. A dor física passaria porque, destas feridas, ela se curaria. Mas e a última vez que ela viu o rosto bondoso de sua mãe e o olhar determinado de seu pai? As duas pessoas que ela mais amava no mundo lhes foram tiradas e, se não bastasse, ela nem se lembrava como isso aconteceu.

A notícia doía tão profundamente que ela desejou ter partido com eles ou no lugar deles. E, somente após vários minutos, quando seu rosto já estava completamente inchado pelo tanto que chorara é que ela pediu para que o irmão contasse tudo o que acontecera.

Caleb se remexeu desconfortavelmente na cadeira antes de iniciar o resumo da tragédia.

✼✼✼✼✼

Durante quatro horas, interrompidas apenas pela administração de medicamentos e o lanche, - que Tris chegou a recusar, mas diante da chantagem de Caleb de que nada diria enquanto ela não se alimentasse, acabou se rendendo à comida - ela o ouviu narrar como a sociedade não se dividia mais em facções e enquanto prestava atenção ao irmão tentava se lembrar, mas se perdia sempre em malditos borrões, que era como ela nomeava os espaços vagos em sua memória.

Só podia imaginar como seriam as coisas dali em diante e mantinha a curiosidade de sair e explorar as novidades.

Mas nem toda a curiosidade de ver a nova Chicago, ou o fato de por um milagre ter sobrevivido a faziam se sentir melhor. Ela entendia que as coisas que fizera e pelo que passara foram necessárias, mas se ela escolheu a Audácia é porque nunca se sentiu altruísta o suficiente e, sendo egoísta, como sabia que era, não podia negar que queria os pais juntos de si. Achava cruel tê-los perdido da forma que perdeu.

Já cansada de tantas informações, pediu para que Caleb a deixasse sozinha por algumas horas. Fazia pouco tempo que ela tomara mais medicamentos que logo a fariam dormir e, de nada adiantaria ele ficar ali.

Caleb lhe dissera que a neve caía pesada lá fora e que ia se acumulando em bancos sobre as calçadas, congelando toda a natureza exposta. Tris sentia que o frio congelava mais. Congelava as esperanças que remanesciam de encontrar os pais, desde que soubera que haviam morrido e enterrados em uma vala comum que foi aberta no setor da Abnegação.

Nunca mais teria o pai passando a mão em seus cabelos nos minutos que antecediam seu sono, ou estaria sob seus olhos tão honestos e firmes. Ele deve ter se ressentido de minha escolha pela Audácia, ela pensou. E, apesar disso, ele a acompanhou àquele complexo para desligar a simulação. Deu a vida por ela, foi o que Caleb falou. Até o último momento, e mesmo após ter acabado de perder a mulher que amara, ele pensou nos companheiros da Abnegação a serem salvos e também, ela estava certa disso, nos membros da Audácia que estavam sob controle da Erudição. Mais que isso, tudo o que fez foi para que os filhos pudessem ter um futuro. Para que vivessem e fossem felizes como ele fora ao lado da esposa.

De sua mãe ela se lembrava de outra coisa. Durante a primeira noite que passara ali, antes de acordar e ver Tobias, ela sonhara com Natalie. Era intrigante que as imagens do sonho eram mais reais do que àquelas distorcidas de rostos e cenas que surgiam em alguns momentos como pequenos flashes.

Concentrou-se e o sonho lhe veio à mente.

_ Olá, Beatrice. - Natalie vestida com roupas da Abnegação estava diante dela com um sorriso transbordante de amor dirigido à filha.

_ Acabou? - Tris perguntou-lhe quase como um sussurro triste.

Natalie aumentou o sorriso em seu rosto e fez um gesto de negação.

_ Ainda não. Eles precisarão de você e não chegou a hora de desistir. - Ela se aproximou de Tris e afagou seu rosto, da testa ao maxilar. - Você foi tão corajosa. Estamos muito orgulhosos, mas precisa voltar e se preparar.

De repente, como a uma mão invisível, algo puxava a lateral de seu corpo. Ela não queria ir ainda. E usava toda a força que possuía em si para ficar com mãe.

_ Vá, querida. Será difícil, mas Caleb e seus amigos estarão contigo. Um dia nós duas voltaremos a nos unir. Até lá, tome cuidado e confie e seus instintos. Você salvou muitas pessoas acreditando neles.

Tris obedeceu e se deixou levar.

A recordação do sonho bom trouxe-lhe um pouco alívio e os remédios que começaram a fazer efeito a transportaram para um sono tranquilo.

✼✼✼✼✼

Uma semana depois.

Durante toda a semana que passara, Tris foi visitada por algumas pessoas. Alguns antigos membros da Abnegação da qual ela se lembrava. Outros que pertenciam à Audácia e, uma especial, que se intitulava como sua melhor amiga, Christina. Havia também um bonito e gentil rapaz chamado Matthew. Ela gostava muito deles e estava contente de ter acordado para aquela vida. Eram boas pessoas e acreditava nelas quando lhes diziam que eram seus amigos.

Duas vezes por dia, pelas manhãs e noites, Tobias sempre aparecia para vê-la, geralmente ele vinha com o ar esperançoso, como se esperasse que ela recuperasse a memória nos momentos em que se mantinha afastado. Porém, ao constatar que nada mudara, a esperança em seus olhos era substituída por tristeza. A cada dia em que não havia alteração em seu quadro, Tobias lhe parecia mais taciturno e arredio e ela não o questionava sobre nada porque em todas as oportunidades estava acompanhada e não pôde trocar mais do que cordialidades como ‘bom dia’, ‘boa noite’, e um ‘está melhor?’. No fundo, ela preferia desta forma, pois não sabia o que lhe dizer. Era seu namorado, ou pelo menos tinha sido. Com seu estado, não sabia mais se eram alguma coisa um do outro.

O tédio daquele lugar não contribuía para a sua recuperação, mas não havia muito a que se fazer quanto a isso. Os ferimentos começavam a cicatrizar, mas ainda levaria muito tempo até que ela estivesse em condições para receber alta. Tinha esperanças de que em poucos dias a permitam ao menos caminhar um pouco.

Três pessoas adentraram seu quarto conversando. As mesmas três pessoas que com frequência a visitavam: Caleb, Christina e Matthew.

_ Vieram me atualizar mais um pouco sobre os últimos meses? Porque eu já nem imagino o que mais pode ter acontecido. - As palavras não escondiam a nota de amargura em sua voz.

Christina se aproximou e seu rosto estampava pena, um sentimento que Tris não queria ver. Não podia culpa-la, entretanto. Ela havia causado isso com o que dissera.

_ Tris...

_ Não, desculpe-me por isso. É só que, na minha cabeça, dormi ontem em casa e toda minha família estava lá. Acordei órfã, com dois tiros no corpo, novos amigos e um suposto namorado. É... Muita coisa para assimilar.

_ Entendo. - Christina sussurrou e percorreu com os olhos o rosto da amiga. - Tris, você ainda tem isso? Você se lembra disso?

Tris olhou em direção ao ombro e percebeu uma pequena cicatriz azulada. Fechou os olhos com força diante de uma imagem que se projetava na cortina finita de suas lembranças.

Vidros estilhaçados, tiros, agulhas, e mais borrões. Batidas na porta, uma voz conhecida.

_ Tris, você está aí dentro? – Uma pessoa lhe perguntava.

_ Sim – Ela respondeu.

A pessoa entrou onde Tris se encontrava, mas sua face ainda estava confusa e embaçada, ela olhou para o ombro e viu sangue misturado com tinta azul, escorrendo por suas costas.

_ Que nojento. - A voz falou diante daquilo.

E todas as manchas escureceram de vez sua visão, fazendo sua cabeça doer fortemente. Ela havia sido transportada para um sonho ou para uma lembrança.

_ Beatrice, você está bem? - Caleb perguntou preocupado.

_ Sim. - Ela respondeu, mas olhou para Christina. – Lembro que tirei várias dessas agulhas.

Christina riu e encarou Caleb feliz. Tris fechou os olhos novamente com a esperança de ter de volta todo o resto de suas lembranças, o que foi em vão. Nada mais surgia.

_ Você tirou o que? - Matthew perguntou interessado.

_ Agulhas. E, delas saiam um líquido azul viscoso. Tinha essa pessoa que não vi o rosto... Ele me disse que era nojento. – Ela disse com um sorriso enorme.

Caleb sorriu e Christina sentou-se no pequeno espaço disponível na cama, iniciando uma narrativa sobre como uma garota divergente havia enfrentado Eric, tendo como arma, uma simples faca que depois foi utilizada para retirar agulhas incrustadas nos braços de várias pessoas em uma invasão à sede da Franqueza.

Tris ouviu tudo com os olhos fechados, buscando em sua mente mais detalhes e só encontrava o vazio.

Assim que Chris terminou de falar, Matthew a encarava com humor. Ele se levantou para verificar a cicatriz azul.

_ Não sei porque... Mas eu não esperava menos, vindo de você! - Ele concluiu, fazendo todos rirem. Tris sorria de verdade para Matthew porque esse simples comentário a havia feito esquecer ao menos naquele instante, os seus fardos.

Matthew ainda estava ao lado de Tris e com os dedos em sua cicatriz quando o Tobias adentrou o quarto, baixando um clima de tensão no ambiente. Ele não disse uma palavra. Apenas manteve os olhos fixos na namorada e no rapaz que tocava o ombro dela com uma expressão de desgosto. Ou será que seriam ciúmes? Tris pensou, congelando o sorriso. Ela o fitou diretamente nos olhos. Toda vez que o via sentia-se aliviada. Parte dela queria poder levantar e abraça-lo.

_ Ela se lembrou de quando o Eric invadiu a Franqueza. - Christina disse para Tobias que ficou quieto esperando que ela dissesse mais coisas. Como não disse, ele se aproximou da cama de Tris.

_ Você se lembrou de mais alguma coisa? - Perguntou ansioso.

_ Não devemos força-la muito. - Caleb disse. - O Dr. James já falou que...

_ Caleb, por favor. - Matthew olhou feio para ele e se virou para Tris. - Você acha consegue mais alguma coisa hoje, Tris?

Com os olhos fechados ela se recordou de um sonho no qual se sentia livre como um pássaro. O vento tocava seu rosto e seu coração batia forte a cada piscar de cílios, com o prazer da liberdade. Esse era um de seus melhores sonhos e ele só era possível porque um alguém a convidava para voar.

_ Tenho sonhado com algo impossível. - Ela começou a dizer ainda com os olhos fechados. - Mas esse sonho também me parece uma lembrança. Um garoto... – Tris se esforçou mais e conseguiu enxergar detalhes - Não consigo ver seu rosto, mas confio nele. Ele tem cobra ou algo do tipo desenhado na orelha.

Abriu os olhos e todos a encaravam. Tobias abaixou a cabeça, envergonhado, enquanto Christina piscava rapidamente seus olhos.

_ Quem ele é? - Ela parou e reformulou a pergunta. - Onde ele está?

Quatro pares de olhos a miravam com tristeza.


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Notas finais do capítulo

E, aí?! Alguém sacou quem é o garoto da tatuagem? As primeiras lembranças dela foram com ele, que estará aqui, no próximo capítulo!
Bolo da Audácia para quem descobrir! Haha.

Olha, fiquem tranquilos que muita água vai correr por debaixo dessa ponte e lembrem-se da sinopse! O amor pode superar tudo! ;D

Passamos a madrugada fazendo este, por favor, comentem os capítulos!