Corações Convergentes escrita por Anníssima, Willie Mellark


Capítulo 10
Capítulo 9 - Evelyn


Notas iniciais do capítulo

E aí, galera!

Esperamos que estejam todos muito bem. Era para postarmos final de semana, mas só conseguimos um pouco de tempo para escrever hoje de madrugada!!!

Muito obrigada à querida leitora nova que recomendou a fic!!! Lara by Green vc é diva demais. Vc foi uma querida com as palavras. O capítulo é dedicado à você!!!

Agradecemos à todos que comentaram e favoritaram a fic... Vcs são queridos demais!!! Não respondemos todos os coments do último capítulo, mas iremos respondê-los a começar por hoje. Lemos todos e adoramos!!!

Bem, o capítulo foi parcialmente escrito ao som de Sweet Dreams interpretada por Marilyn Manson... Hehe

Beijos e boa leitura!!! ^^

Obs: Não deu tempo para revisar direito o capítulo. Queríamos postar logo!!!



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Não é possível que ela ainda esteja viva.

Não é possível que ela não morra nunca.

Evelyn repensava o dia em que decidira se render em nome da paz. Tudo o que fez para, enfim, se ver livre de Tris de nada havia adiantado porque ela ainda respirava. Seu coração ainda pulsava, trazendo em cada maldito batimento a possibilidade de lhe frustrar a esperança de receber a plena absolvição de Tobias.

A insegurança movia-se dentro de seu interior feito uma serpente inquieta e pronta para atacar o que ou quem fosse necessário para manter a aparência que construíra perante o filho nos últimos dias. Ele era a coisa que mais a importava no atual momento e isso não decorria unicamente do fato de ser seu filho e amá-lo, mas principalmente porque ele era a chave para que ela viesse a obter a confiança das pessoas que despontariam em significância num futuro próximo.

Evelyn caminhava pela sala que outrora a era a sua sala de comando enquanto se preparava para partir de Chicago. Com as mãos cruzadas atrás do tronco ruminava o diálogo que há pouco havia tido com Tobias. Não lhe passara despercebido que o filho demonstrava um brilho intenso de alegria no olhar. Suas olheiras estavam mais suaves e nada nele era compatível com o semblante distante e inexpressivo que ostentara nos dias anteriores, nas oportunidades em que vinha visita-la.

Por mais que lhe incomodasse estava ciente de que se o filho sorria mais, nada poderia ser responsável por esta evolução a não ser ela... Movida por tal certeza, espreitou como um abutre por informações junto a Tobias, fingindo genuíno interesse pelo estado de saúde de Tris. Como supunha, embora o diagnóstico ainda não fosse o dos mais promissores, Tris tinha recordado de coisas aparentemente sem importância. No entanto, se cada quadro surgido em sua mente embaralhada fosse, mesmo que lentamente, se encaixando, em breve ela se veria em apuros.

Tobias não a perdoaria e ela não suportaria ser mais uma vez preterida por uma garota que mal havia crescido; que sequer havia nascido quando ela já era obrigada a suportar toda sorte de agressões por parte do marido. Não era justo que depois de passar anos presa em grilhões de um matrimônio mal sucedido, ela não conseguiria a sua chance de viver em harmonia com o filho que era seu maior orgulho.

Além do físico, Tobias em nada se parecia com Marcus. Ao contrário do pai, ele era forte sem precisar recorrer à força bruta contra pessoas mais fracas. Aprendera desde menino, e da pior forma possível, que somente poderia contar consigo. Foi exatamente o sofrimento que lhe fora impingido, o fogo responsável por forjá-lo como o grande homem que se tornou. Era respeitado e admirado apesar da pouca idade. Tobias seria um líder se ele se deixasse encaminhar pelas mãos habilidosas da mãe.

A não ser que ela atrapalhasse...

A forma que Tobias se referia à recuperação quase miraculosa da namorada – palavra odiosa com a qual ele voltou a se referir à garota -, não deixava dúvidas sobre quem era a dona da sua lealdade. Não que ela precisasse de maiores elucidações quanto a isso. Tal fato tornara-se bastante claro quando ele a traiu para fugir com Tris para além dos portões, livrando-a assim de uma sentença de morte.

E, por pensar nisso, um verdadeiro arrependimento lhe acendeu o âmago. De todas as decisões que tomara, arrependia-se profundamente de não ter dado cabo da vida de Tris o quanto antes; mesmo sem um julgamento. Quem poderia suspeitar de uma morte ocorrida durante a noite? Ela havia sido alvejada por um tiro e pouco tempo depois fora torturada com soros e mais soros. Sua frágil saúde poderia ter sido acometida por uma infecção ou coisa do tipo...

Sim. Devia ter pensando nisso antes. Afinal, depois de tanta dor que ela suportou pelas mortes de pessoas próximas seria um ato de misericórdia mata-la, dando-lhe a chance de um descanso apropriado junto aos pais. Mas o mal estava feito. De nada adiantava pensar no que poderia ter sido melhorado em seus planos.

Quem diria que aquela loirinha que vivia agarrada às pernas de Natalie se transformaria em um obstáculo em seu caminho. Inacreditável que mesmo com uma estrutura física que parecia não aguentar um vento mais forte, Tris sobrevivera aos tiros disparados por David e às chamas do velho edifício. Coisas assim só reforçavam nas pessoas a mentalidade de que ela era especial. A mais divergente, a mais audaciosa, como proclamado por crianças de nível inferior e até mesmo adultos. Em sua opinião, Tris sempre contou com a conjugação de dois elementos: o apoio das pessoas certas e uma boa dose de genética a correr em seu sangue.

Ser divergente não era mérito e sim a sorte de ter sido agraciada com o poder de resistir a todos os soros produzidos pela Erudição. Assim, se lhe tirassem os bons amigos e a capacidade de não ser controlada, nada sobraria. Seria uma jovem tão desinteressante como seu exterior revelava. Evelyn se ressentia do fato de que somente ela conseguia ver Tris como ela realmente era.

Parou em frente a uma janela com postigos firmemente fechados, apenas para analisar o próprio reflexo na vidraça. Seu semblante envelhecido - muito mais do que o de Marcus - contava a história de seus anos sombrios na Abnegação e das privações sofridas junto dos sem-facção.

Tobias sempre foi seu refúgio quando ira de Marcus estava inflamada. Quando partiu foi o pensamento de rever o filho, um dia, que a ajudou a suportar a difícil vida como uma sem-facção. Buscou por notícia de seu pequeno através dos anos e se regozijou por ele ter abandonado a facção e o pai para fazer seu próprio caminho na Audácia. Era a comprovação de que ela precisava. Ninguém melhor do Tobias para ser seu braço direito.

Entretanto, a vida é feita de escolhas e sacrifícios. Ela mesma teve de fazer escolhas diabólicas, abandonando o único filho para sair do sistema. Tobias, motivado pela mágoa, optou por escolhas cujo curso era contrário ao da mãe.

Não pensou que Marcus faria com Tobias o mesmo que com ela fizera. A atenção especial que a criança despertava no pai a fez crer que ele o protegeria e, se não pudesse demonstrar afeto, ao menos o trataria com alguma dignidade; o que não aconteceu.

Quando o encontrou pela primeira vez, Evelyn tinha esperanças de que o amor de seu filho retornaria e que sua presença seria para ele como o sol depois de um longo dia chuvoso. Mas o que ela notou foi apenas um céu nublado de solidão e rancor refletido em seus olhos.

Ele a odiava.

As colunas erguidas por seu excesso de confiança ruíram, fazendo-a questionar suas escolhas até lembrar-se de queo sacrifício foi necessário.

Quando o viu pela segunda vez sentiu suas esperanças renovarem. Tobias a olhara da mesma forma, porém o que a incomodava não era a indiferença dele, mas sim sua mão entrelaçada à de Tris. Sentiu que a garota havia tomado seu lugar junto ao coração do filho porque enquanto ele lançava olhares apaixonados para Tris, Evelyn somente recebia hostilidade em ações e palavras.

Com uma grata ajuda do destino, Tobias a procurou quando praticamente tudo estava perdido. Ela já havia pensado nos prós e contras do conflito armado e o filho adentrar sua porta foi a saída de que precisava. Participar de um acordo de paz era o melhor para o momento.

Depois, quando conseguiu acesso à amostra de sangue de Tris, tratando de descarta-la em seguida, parecia que tudo estava voltando ao seu devido lugar.

Não fosse ela ter sobrevivido.

Evelyn precisaria se ausentar por um tempo como prometera. Não iria, contudo, antes de visitar uma pessoa.

✱✱✱✱✱

No corredor, Evelyn se preparou para vê-la. Queria ter certeza de que a mesma não poderia entrega-la ou arruinar seus planos. Logo que entrou se deparou com os olhos vivos e inquisitivos dela e por um pequeno instante sentiu a antiga Tris encara-la.

– Olá Beatrice. – Evelyn disse com voz terna.

– Oi – Tris responde minimamente.

– Meu nome é Evelyn Jhonson, mas talvez você se recorde do meu antigo nome: Evelyn Eaton. – Ela rapidamente acrescentou. – Mãe de Tobias.

Evelyn pôde notar a confusão nos olhos de Tris. A garota piscou algumas vezes como se buscasse informações, e depois a olhou com um aparente desprezo. Seu rosto era impossível de ler e Evelyn decidiu perguntar:

– Você se recorda de mim, Beatrice?

– Não. – Tris respondeu como se estivesse cansada. – Quer dizer, vagamente... Eu sei que você era casada com Marcus e Caleb me contou que você não tinha morrido como todos acreditavam, de modo que seu nome me é familiar, mas você não. Sinto como se te conhecesse, mas não devo...

– Não deve o quê? – Evelyn aproximou-se.

– Não devo me esforçar. – Tris concluiu encarando-a desconfiada. – Acabei de saber que hoje terei alta médica, então, não quero correr riscos.

Evelyn sorriu sarcasticamente para Tris. Ela afogou-se intimamente em contentamento. Talvez mantê-la viva e sem memórias pudesse ser melhor do que ela pensara.

– Ah, mas você não pensava assim antes Beatrice. – Evelyn recostou-se na cadeira e controlou o timbre de sua voz para o mais agradável possível. – Desculpe... Você ainda prefere que eu a chame de Tris?

– Como assim? – Tris parecia confusa para o divertimento de Evelyn. – Eu não pensava de que forma exatamente?

– Correr riscos, lutar, fazer sacrifícios – Evelyn se deliciava com a situação. – Veja seu irmão, por exemplo. Caleb a traiu por algo que ele acreditava. Ele preferiu confiar em sua facção de escolha do que em você e em seus pais. Chegou a revelar segredos sobre seu estado. – Ela chegou mais perto de Tris como que para contar-lhe um segredo. – Sobre sua divergência. – Disse e voltou a se acomodar novamente na cadeira. – Caleb a traiu e mesmo assim você arriscou sua vida por ele. É o que eu disse. Riscos. Você não via problema em se arriscar.

– Caleb não fez isso! – Tris tentou soar firme em confiança, mas sua voz tremeu.

Oh. Querida, você não sabia? – Evelyn lançou um olhar alarmado em direção a Tris com o intuito de fazê-la crer que se assustara ao revelar fatos de que ela desconhecia.

Tris balançou a cabeça negativamente sem encontrar palavras. Sua tristeza era nítida em seus olhos que agora estavam marejados, dando à Evelyn pela primeira vez, a visão de uma rachadura na armadura inabalável da garota.

Contente por atingiu o ponto fraco de Tris – a família -, Evelyn deu continuidade ao seu pequeno e inocente diálogo.

Querida, mas você não deve julgá-lo. ­– Disse enquanto sentava-se na beirada da cama. Ela pôs a mão em cima da de Tris que instantaneamente afastou-a. Evelyn a encarou com os olhos arregalados por sua reação.

Ela estaria mentindo?

– Desculpe, não sei o que houve. – Tris murmurou com as mãos entrelaçadas em seu colo.

– Tudo bem. – Evelyn torcia com os dedos um emaranhado de seus cabelos crespos. – Como havia lhe dito, não o culpe por não ter lhe dito isso antes e muito menos por tê-la traído. Ninguém é perfeito! Vejamos você.

Tris a encarou por alguns segundos. Evelyn tinha certeza de que a garota não sabia de muitos detalhes e isso era bom para seu propósito porque ela sempre seria lembrada como a única que teve coragem de dizer-lhe a verdade. Se algo da antiga Tris ainda remanescia nela, por certo que não gostaria da mentira e omissão das outras pessoas.

– O que isso significa? – Tris a indagou.

– Você fez suas próprias escolhas ao trair sua facção. Isto é, se considerarmos que você matou um companheiro de facção, vítima da simulação, estando acordada. – O terror nos olhos de Tris apenas a incentivava a prosseguir. – Pelo que o soube, o garoto era seu melhor amigo. Will. Você se lembra do Will?

Tris balançou fortemente a cabeça, Evelyn podia senti-la estremecer quando ouviu o nome de seu amigo. Ela esperou alguma reação em Tris, algo que pudesse mostrar que ela se lembrava. Mas a única coisa que pôde notar foi uma lágrima que escorreu pela bochecha da jovem.

– Não chore. Todos sabem que você precisou fazer aquilo. Era você ou ele. E você pensou certo. Você escolheu a sua vida.

Não. – Tris sussurrou desviou seu olhar de Evelyn para esconder lágrimas que escorriam por seus olhos. – Meus pais... Não... Eu matei mesmo uma pessoa? Um amigo?

– Como costumo dizer, – Evelyn disse, – na vida precisamos fazer escolhas, e sacrifícios. Eles podem ser terríveis, mas são necessários para nos elevar. O seu, lhe deu a vida. Pena que Will não teve essa pequena escolha... – Neste ponto ela precisou morder a parte interna da bochecha com força a fim de suprimir uma gargalhada. - Mas foi o certo a se fazer! – Emendou rapidamente para demonstrar empatia com Tris.

Com estas últimas palavras, o choro da garota foi escandaloso. Evelyn olhou bem para Tris e ainda não conseguia entender o que Tobias via em um ser humano tão insípido.

Levantou-se repentinamente porque já estava entediada com toda aquela cena de garotinha sofredora e arrependida por ter matado um idiota que mesmo controlado não foi capaz de atirar em primeiro lugar.

– Bom saber que você está bem e que receberá alta ainda hoje. Meu filho ficará feliz. Eu tenho uma viagem para fazer e só passei para saber como estava. – Evelyn sorriu. – Não sei quando voltarei, mas espero que me perdoe pelo que ocorreu aqui. Eu não sabia que não haviam lhe contado tudo... De qualquer maneira, eu acho importante que nos contem a verdade.

– Sim, eu também. Preferia ter sabido disso antes...

Evelyn acenou levemente para Tris e se dirigiu até a porta. Com a mão na maçaneta ela se virou para a garota.

– Antes que eu me esqueça. Seja corajosa Tris! – E assim ela saiu sorrindo por repetir a última frase que dirigiu a Tris antes de manda-la para a morte.

E mais uma vez, o excesso de confiança não deixou que ela refletisse que a mesma frase de três palavras poderia fechar e abrir comportas de lembranças enclausuradas.


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Notas finais do capítulo

E aí?
Comentem! ;)
E só para reforçar: não somos más!!! ^^