Tisha POV

A última vez que me senti tão feliz e realizada foi no ano em que fui aceita na faculdade e vim morar em Nova York. Ricky e eu agora éramos realmente um casal, eu sentia que agora era de verdade. Ele já não olhava para Anne como antes, e ela estava bem ocupada com os preparativos do casamento, tudo sairia perfeito nas mãos dela.

– O que está fazendo?

Sentei no sofá ao lado de Ricky, que digitava alguma coisa em se notebook.

– Traduzindo um documento para o... – Olhou-me com um pedido de desculpa. Eu ainda não me sentia a vontade quando alguém mencionava o nome do pai biológico da minha filha.

Há alguns dias atrás ele me procurou para saber da criança, mas eu não ousei contar a ninguém sobre o que aconteceu. Ele agia com a mesma agressividade do dia em que fui até sua casa falar sobre a gravidez. Quando contei a ele que seria uma menina, ele apenas disse:

– Sorte a sua, ser uma menina, Jones. Pois se fosse um garoto, assim que ele saísse de você pegaria a guarda e você nunca mais o veria novamente. Além do mais, um homem como eu precisa de um herdeiro, e mulheres não sabem lidar muito bem com dinheiro.

Senti um frio percorrer meu corpo.

– Posso ficar aqui? – Ele me olhou com carinho.

– Vem cá – Deitei em seu ombro enquanto ele me abraçava com o braço livre, beijando minha testa em seguida.

– Eu estava pensando... Você nunca me contou sobre a sua história.

– Minha história? – Assenti e ele fechou o notebook, se virando para mim – Eu nasci na Florida, minha mãe era texana e meu pai brasileiro. Quando eu tinha três anos meus pais se divorciaram. Minha mãe me levou para o Texas e moramos lá até eu completar meus 10 anos. Ela teve câncer e veio a falecer, meu pai pegou minha guarda e moramos no Brasil até eu atingir os meus 18 anos; E aqui estou eu desde então.

– Nunca mais falou com seu pai?

– Entra em contato quando quer – Deu de ombros – É como se ele fosse um nômade – Riu sem humor – Não sinto tanto a falta dele, pois nunca foi um pai presente. Mas eu te garanto que a nossa garotinha terá.

Ricky dizia em um tom sério, porém com a face mais carismática do mundo. As vezes ele parecia mais animado que eu com essa história de gravidez, mesmo quando se irritava com os assuntos do escritório, fingia ser a pessoa mais feliz do mundo por conta da minha última consulta médica.

– Patrícia, você não pode fazer esforço – Disse o doutor Joshua.

– Está ouvindo, não é? – Ricky me chamou a atenção – Nada de ficar batendo perna com a Anne toda hora.

– E eu terei que ficar em casa? Sozinha? Sem fazer nada?

– Tem algum hobbie? – Perguntou Joshua – Escrever, ler, tricotar...

– Não – Disse indignada. Quem em pleno século XXI ainda tricota?

– Chame suas amigas para lhe fazer companhia enquanto estou no trabalho – Sugeriu Ricky.

E desde então minha vida ficou resumida em ligar para a minha mãe e assistir a filmes e séries no Netflix. No começo foi até bom passar mais tempo em casa, mas depois fiquei com medo de entrar na depressão. Mas, como eu disse, Anne está muito ocupada com os preparativos do casamento, então ela fazia visitas diariamente para eu ajuda-la a escolher cada detalhezinho. E é claro que eu estava adorando tudo aquilo.

– Lírio-tormbeta ou Lírio branco? – Ela perguntou.

– E não é tudo lírio? – Ela revirou os olhos.

– Tisha, existe uma grande diferença entre os dois. Qual você acha melhor? – Estendeu as duas amostras IDENTICAS de flores.

– Tormbeta.

– Eu queria o Lírio Branco – Disse desapontada.

– Então vai o Lírio Branco.

– Mas você disse Tormbeta.

– Mas o casamento é seu, você que escolhe. Só estou dando minha opinião, afinal É TUDO A MESMA COISA!

Não entendo até hoje porque lírios são tão importantes para ela. Talvez nem ela mesma saiba, já que a sua memória está voltando aos poucos. Esses dias ela descobriu que tinha um apartamento em Los Angeles perfeito. Ela estava pensando em reformar e aluga-lo, já que Maurício se recusou a morar em Los Angeles. Lembro que ela gostava muito daquela cidade, sempre que tirava férias passava uns dias por lá, mas não me lembrava de que ela gostava tanto da cidade que capaz de comprar um apartamento lá.

– Você é tão boa nisso – Disse enquanto ela terminava de escolher as toalhas de mesa para decorar o salão.

– Nisso o que? – Perguntou enquanto separava os tecidos.

– Organizar as coisas.

– Só as coisas mesmo, por que minha vida está mais bagunçada do que nunca – De repente ela se virou para mim como se tivesse dito algum segredo de estado – Quero dizer, estava. Mas ainda está, afinal, casamento primeiro, minha vida depois.

– É talvez... – Estreitei os olhos – Quando eu me casar quero que me ajude em tudo! No lugar, na cerimonia, nos convites e principalmente a decorar o salão de festas.

– Vocês vão se casar assim que o bebê nascer?

– Não exatamente, quando ele estiver com quatro meses vamos começar a nos organizar. Afinal, só o Ricky trabalha aqui.

Eu não me sentia nada bem sabendo que Ricky estava carregando tudo nas costas, tudo bem que nós somos praticamente casados, mas, eu me sinto tão mal em ser uma desocupada. Ainda mais com essa história de “repouso” que o doutor Joshua inventou. Daqui a algumas semanas seria o grande dia da peça Grease, e eu mal podia esperar para assisti-la. Ricky parecia bastante animado, ouviu falar que alguns jornalistas compareceriam a apresentação e que provavelmente sairia em algum jornal da cidade.

– Você será o melhor pai do mundo – Disse por fim.

– E você será uma mãe e uma esposa incrível.

...

Anne POV

– Convoquei vocês aqui por que quero fazer um anúncio – Chamei a atenção de todos.

Maurício e eu chamamos alguns amigos próximos e fizemos outra reunião, mas dessa vez na casa dele, pois se tudo acabasse virando festa não seria eu quem iria limpar tudo sozinha.

– Pode falar – Disse Dilan, ao lado de Chloe.

– É uma tradição da minha família escolhermos três mulheres e três homens para abençoar e guiar um casamento – Disse Maurício – Então eu queria convidar, Dilan, Joshua e Ricardo para serem meus padrinhos de casamento.

– E eu quero convidar, Chloe, Tisha e... Ué Mau, você não disse que convidaria uma amiga sua pra ser nossa madrinha? Onde ela está?

Nesse momento a campainha tocou.

– Deve ser ela – Disse animado indo atender.

– Desculpem o atraso – Aquela voz era familiar.

– Secretina? – Perguntei incrédula.

– Bom te ver também, Anne – Sorriu um pouco constrangida.

– Joana está convidada para ser a nossa madrinha de casamento – Maurício sorriu.

– Será uma honra – Sorriu animadamente.

– Será mesmo – Cruzei os braços irritada. Eu não acredito que ele está convidando a ex-namoradinha para fazer parte da nossa nova vida juntos.