Cap. 05 My music like You

Já havia duas semanas que nos evitávamos, e estava sendo mais fácil, e mais difícil do que eu esperava que fosse. Nós não nos encarávamos, evitávamos ficar no mesmo corredor, e as vezes até na mesma sala de aula, e era fácil evita-la. Eu sabia onde estaria e quando, sabia onde deveria ir e para onde não olhar se não quisesse vê-la.

Mas não é como se eu não quisesse vê-la. Eu seguia cada passo, tentava ficar a par de tudo o que ela fazia, sem demonstrar. Eu realmente ficara bravo por ela ter denunciado Gabe, não que eu gostado dele, nem de longe. Mas sim por que não queria minha mãe magoada e ela – para minha surpresa – se mostrava o contrário disso. Estava alegre, pintara as paredes da casa com cores vivas, voltara a pintar e escrever, e ainda trabalhava na empresa dos Chase.

Ela estava feliz, e eu deveria agradecer a Annabeth por isso, mas eu não conseguia. Já tentara me aproximar dela pelo menos dez vezes, ou ela sempre estava com as amigas, ou eu em virava no último momento e ia embora. Sempre imaginava que ela iria me encarar com aqueles olhos cinza e me ignorar, desprezar. Ia me dizer o quanto idiota eu era. E o pior é que ela estaria certa.

Agora eu estava sentado na sala de música da escola, tinha sido o primeiro a chegar e observava cada pessoa que entrava algumas em grupo, outras sozinhas, ocupando as cadeiras dispostas na sala. Um pequeno palco de madeira ficava no centro com um piano ao lado para quem fosse cantar, e eu batucava o lápis no ritmo de uma das músicas que eu deveria apresentar hoje.

Não podia não estar nervoso.

A professora de música, senhorita McCall entrou na sala, os saltos pretos altos batucando no chão. Ela usava uma saia preta que ficava bem acima dos joelhos e uma blusa social com um blazer aberto por cima. Um blazer com o dobro do tamanho dela. Os cabelos estavam presos em um coque o uma mecha caia de lado. Ela tinha a pele da cor de chocolate e olhos amendoados, não usava maquiagem, mas isso não queria dizer que não deixava tanto os garotos – e algumas garotas – e os professores admirados.

Em um dia normal eu a teria achado muito gata, mas hoje eu simplesmente senti meu coração dar um pulo de tão nervoso. Eu tinha escolhido as músicas para ela.

Pensando nela.

Deveria ter mudado, mas era tarde demais agora.

Então ela entrou na sala. Eram dias frios, então ela havia deixado as roupas mais extravagantes de lado e usava um blusão do time da escola, calças jeans claras e uma sapatilha com um pequeno salto. Apertava os livros forte contra o corpo, um anel prateado estava no dedo indicador da mão direita, e tinha um colar que desaparecia na roupa, eram todas as joias que usava. Os cabelos estavam soltos em cachos bem definidos que brilhavam, as bochechas estavam com blush laranja e os olhos contornados com lápis preto, a boca com um tom rosado e os cílios loiros se encostando às bochechas enquanto fechava os olhos e respirava fundo. É verdade, eu acabara de me lembrar, ela era a próxima a cantar depois de mim.

A professora caminhou até a porta e a fechou, enquanto Annabeth achava o seu lugar. Ela chamou meu nome e eu e meus outros dois colegas que íamos cantar levantamos. Sabe, não estávamos muito satisfeitos com a situação, nenhum dos três queria cantar, mas era a nota de todo o bimestre praticamente.

A professora se aprumou no canto da sala com a prancheta na mão e nos olhava como se fossemos churrasco e ela estivesse pronta pra nos espetar e colocar contra o fogo. Engoli em seco e peguei o microfone em cima do piano.

– Oi gente.

– Desenrole Jackson – a professora ralhou.

O que tinha de bonita também tinha de impaciente.

– Ok. Vamos cantar primeiro, anh, - eu olhei para o nada, com o medo crescente de não lembrar de nada na hora – Just the Way You Are, do Bruno Mars.

Ouvi alguns murmúrios pela sala, impressionados nas garotas, reprovadores dos garotos. Dei de ombros quando olhei para Jason que estava lá no fundão da sala rindo de mim.

“Oh, her eyes, her eyes
Make the stars look like they're not shining
Her hair, her hair
Falls perfectly without her trying
She's so beautiful
And I tell her everyday”

Minha voz saira meio baixa, e eu tentava esconder o rosto.

– Nós queremos ouvir Jackson – a professora anunciara.

Vaca. Pensei, mas elevei o tom e o volume. Os garotos atrás de mim, um com uma guitarra o outro com um baixo, faziam seu trabalho perfeitamente.

“ Yeah, I know, I know
When I compliment her she won't believe me
And it's so, it's so
Sad to think that she don't see what I see
But every time she asks me, do I look okay
I say

When I see your face
There is not a thing that I would change
Cause you're amazing
Just the way you are”

Eu continuei e não parecia tão ruim assim, estava em sincronia com os instrumentos. Eu ergui o rosto e percebi que Annabeth me encarava. Sustentei aquele olhar.

“And when you smile”

Eu dei uma risada rouca no meio da música e sorri, ainda olhando para ela, os próximos versos eram a mais pura verdade:

“The whole world stops and stares for awhile
Cause, girl, you're amazing
Just the way you are, hey”

“Her lips, her lips
I could kiss them all day if she let me
Her laugh, her laugh
She hates but I think it's so sexy
She's so beautiful
And I tell her everyday”

Eu poderia beijá-la todo o dia e não em cansaria, a risada dela era como uma canção de ninar para mim e eu sentia muita falta, me lembrei de quando ela sorri e ria de algo que eu falava, e me deixava com aquele sorriso bobo na cara. Tão linda, um fato inegável.

A música continuava, e agora a sala toda cantava baixinho, alguns garotos batucando com a caneta nas cadeiras ou batendo os pés no ritmo.

“Oh, you know, you know
You know I'd never ask you to change
If perfect's what you're searching for
Then just stay the same
So don't even bother asking if you look okay,
You know I'll say

When I see your face
There is not a thing that I would change
Cause you're amazing
Just the way you are

And when you smile
The whole world stops and stares for awhile
Cause, girl, you're amazing
Just the way you are

The way you are
The way you are
Girl, you're amazing
Just the way you are

When I see your face
There's not a thing I would change
Cause you're amazing
Just the way you are”

Eu voltei a olhar para ela, meu olhar tinha se distraído para várias pessoas, e para a professora que me olhava surpresa, eu diminui o tom e cantei a última estrofe:

“And when you smile,
The whole world stops and stares for a while
'Cause, girl, you're amazing
Just the way you are, Yeah”

A sala toda caiu em aplausos, e ela também se deixou entrar na onda, enquanto esboçava um meio sorriso. Eu olhei para os garotos e eles simplesmente assentiram, enquanto diminuíram a batida para algo mais lento, a segunda música, Breakeven do The Script.

“I'm still alive but I'm barely breathing
Just praying to a God that I don't believe in
'Cause I got time while she got freedom
'Cause when a heart breaks no it don't break even”

“Her best days will be some of my worst”

Minha garganta ficou seca na próxima parte, pois era a frase que eu mais odiara em toda a música. Talvez por que eu morresse de medo que realmente acontecesse.

“She finally met a man that's gonna put her first”

“While I'm wide awake she's no trouble sleeping
'Cause when a heart breaks no it don't break even, even, no”

Eu me preparei para o resto da música e cantei tudo no ritmo, mas eu mesmo estava fora de ritmo com meus pensamentos, imagens do pouco tempo que passamos juntos bagunçavam minha cabeça.

“What am I supposed to do when the best part of me was always you?
What am I supposed to say when I'm all choked up and you're okay?
I'm falling to pieces
I'm falling to pieces

They say bad things happen for a reason
But no wise words gonna stop the bleeding
'Cause she moved on while I'm still grieving
'Cause when a heart breaks no it don't break even, even, no, oooh

What am I gonna do when the best part of me was always you?
What am I supposed to say when I'm all choked up and you're okay?
I'm falling to pieces
I'm falling to pieces
I'm falling to pieces (One's still in love while the other one's leaving)
I'm falling to pieces ('Cause when a heart breaks no it don't break even)

You got his heart and my heart and none of the pain
You took your suitcase, I took the blame
Now I'm trying to make sense of what little remains
'Cause you left me with no love, and no love to my name

I'm still alive but I'm barely breathing
Just praying to a God that I don't believe in
'Cause I got time while she got freedom
'Cause when a heart breaks no it don't break,
No, it don't break, no, it don't break even, no

What am I gonna do when the best part of me was always you
What am I supposed to say when I'm all choked up and your ok”

Eu a olhei, que me encarava confusa e cantei a última parte. A mesma frase se repetia quatro vezes.

“I'm falling to pieces”
Eu devolvi o microfone em cima do piano e voltei para a minha cadeira, depois de fazer uma breve reverência. A sala aplaudiu e depois se calou.

Annabeth subira ao palco com mais três amigas, e elas tiraram as blusas de moletom e os casacos, mostrando as blusas de alcinhas brancas, de seda. Ela pegou o microfone e uma das garotas pegou o baixo enquanto as restantes começaram um coro baixo atrás.

– Nós vamos cantar Warzone, do The Wanted.

Uma série de vivas explodiram das garotas, e os meninos se remexeram incomodados nas cadeiras. Então ela começou, e a música passou bem rápido, eu não prestei muita atenção na letra até o seu finalzinho, quando ela me olhou com aqueles olhos cinzentos que me faziam enlouquecer. Aquele olhar, eu nunca iria esquecer.

“What are we fighting for?”

Aquilo fora como um soco no meu estômago.

“I'm running from a warzone

uuuuhhhh, uuuuh, uuuuhhh

I know I just gotta let it go
I shoulda known
I gotta learn to say goodbye now
I throw my armour down”

Ela balançara a cabeça negativamente me olhara com pesar, antes de dizer as últimas frases:

“And leave the battleground
For the final time now
I know I'm running from a warzone”

O sinal tocou, não antes da sala explodir em vivas. A voz de Annabeth era como veludo, qualquer um sentia-se feliz de se ouvir.

Eu tentei chegar até ela, pra dizer parabéns ou qualquer coisa assim, mas uma torrente de gente se aglomerou perto de mim e dela, nos dando tapinhas nas costas e nos afastando.

Quando consegui me desvencilhar, ela já tinha ido, me deixado pensando no que aquilo significava.