¿Que nos está pasando? escrita por Duda
Notas iniciais do capítulo
Hooola.
Bom, gente, essa é a primeira parte do fim. Eu ia alongar a história, mas acho que não tem necessidade, então, esse capítulo é o último, só que ele terá duas partes, bele!?
Espero que gostem.
Boa leitura.
Novembro/2014
German entrou desesperadamente no Hospital Santa Rosário e correu até a recepção.
– É o senhor Castillo? – Um médico que passava pelo local chamou-o. German olhou-o e franziu o cenho.
– Sim?
– Eu preciso que preencha esta ficha – Entregou uma folha a German – com os dados da paciente.
– Angeles – German disse baixo – é o nome dela – Ele respirou fundo – Como ela está?
– Preencha a ficha e depois eu explico o que aconteceu. Eu já volto, senhor Castillo.
German engoliu em seco e assentiu. Ele apoiou a folha no balcão da recepção e começou a preencher com a mão trêmula. Após terminar de preencher, ele retirou o celular do bolso e discou o número de Matias.
– Alô.
– Matias – German disse com a voz embargada.
– German? Onde você está? Por que sumiu?
– Depois eu explico tudo – A voz dele saiu falhada – Eu... Estou no hospital de Chascomús.
– O que aconteceu?
– Angeles sofreu um acidente – Ele disse com a voz embargada – Eu... Eu não sei o que fazer, Matias.
– É grave?
– Eu não sei. Eu ainda não conversei com o médico.
– Me ligue depois que conversar com ele. De qualquer forma, eu vou avisar todo mundo e vou para aí o mais rápido possível.
– Tudo bem.
– Mantenha a calma, German.
– Vou tentar.
– Senhor Castillo? – O médico chamou-o. German olhou para o médico, despediu-se de Matias e desligou o celular.
– Como ela está? – O médico suspirou.
– Ela sofreu uma hemorragia e a situação é grave – German franziu o cenho.
– O que quer dizer?
– Ela precisa de uma transfusão de sangue urgente.
– E-Eu não entendo muito, mas... É só encontrar um doador compatível, não é?
– Sim. O problema é encontrar um doador compatível com o sangue dela.
– Por quê?
– O sangue dela é O negativo. Ele é um doador universal, mas só recebe sangue do mesmo tipo.
– E?
– O estoque, no banco de sangue, é baixíssimo e há uma fila de espera.
German olhou para o chão e seus olhos lacrimejaram.
– Se ela não fizer essa transfusão, o que acontece?
– A falta de oxigenação para os órgãos pode causar diversos problemas e levá-la a óbito – German fechou os olhos e passou a mão no cabelo. O médico suspirou – Nós vamos tentar passá-la na frente, mas também seria bom se você conseguisse reunir o máximo de pessoas possíveis para doar sangue – German olhou-o – Se ela tiver irmãos, pode ser que eles sejam compatíveis – Ele assentiu e abaixou a cabeça – Com a ajuda das redes sociais, você pode conseguir um doador rápido – German olhou-o.
– Obrigado – Murmurou – Eu posso vê-la?
– Talvez não seja o melhor momento. Ela passou por uma cirurgia, está dormindo.
– Por favor – German suplicou.
O médico bufou e assentiu.
– Tudo bem, mas na UTI você vai ter que usar um avental e uma máscara. A imunidade dela está baixa – German assentiu.
Ambos caminharam até a entrada da UTI. German colocou o avental, a máscara e lavou as mãos com álcool em gel. Entrou no quarto apreensivamente e parou ao lado da cama de Angeles. Os olhos dele se encheram de água e ele inspirou o ar como se cada partícula dele machucasse seus pulmões. Sentia-se angustiado e, sobretudo, culpado por Angeles estar daquela forma.
German ergueu a mão direita e acariciou, suavemente, o cabelo de Angeles. Ele curvou o tronco lentamente, abaixou um pouco a própria máscara, encostou os lábios na testa de Angeles e fechou os olhos com força, deixando algumas lágrimas escorrerem por seu rosto. Após um tempo, ele afastou um pouco o rosto do dela e olhou-a atentamente.
– Eu daria tudo para trocar de lugar com você, meu amor – Sussurrou – Aguenta firme, Angeles – Algumas lágrimas escorreram – Por favor.
German endireitou o corpo, enxugou o rosto e partiu. Não aguentava mais ficar naquele hospital. Pegou o carro e partiu para a cabana. Ao chegar lá, deixou seu corpo cair no sofá da sala. O choro foi inevitável. Ele levou as mãos ao rosto e chorou até não poder mais. Chegou um momento em que não havia mais lágrima qualquer para escorrer por seu rosto, então ele ficou olhando fixamente para o nada. Ficou assim por horas. Sobressaltou quando, subitamente, a porta da cabana foi aberta. Olhou em sua direção e deu de cara com um Diego furioso vindo em sua direção. Diego agarrou-o pelo colarinho da camisa e puxou-o com tanta força que German foi jogado no chão. Ele nem sequer reagiu.
– Foi sua culpa, não foi? – Diego falou alteradamente e subiu em cima de German – Seu verme – Esmurrou a maçã esquerda do rosto de German e depois a direita.
– Foi minha culpa – German balbuciou e Diego desferiu-lhe mais alguns murros – Eu mereço, Diego – Disse com a voz falhada e voltou a chorar. Diego parou e entreabriu a boca – Eu sou um verme. Eu a fiz sofrer de todas as formas – Diego franziu o cenho – Eu fiz a mulher que eu amo sofrer – Diego levantou-se e respirou fundo.
Estendeu a mão para German, ao que ele segurou a mão de Diego e levantou-se. Sentou no sofá, apoiou os cotovelos nos joelhos e o rosto nas mãos. Diego suspirou profundamente e sentou-se ao lado dele.
– Você foi burro, German – Diego disse baixo – Não percebeu que, ao machucá-la, atingiria a si mesmo.
– Não é que eu não tenha percebido, – German disse baixo e tirou as mãos do rosto. Ficou olhando fixamente para o chão – é que eu não aceitava. Eu não aceitava que a amo e negava a dor que eu sentia cada vez que a fazia sofrer – Ele balançou a cabeça e mordeu os lábios – Eu demorei para aceitar tudo o que Angeles me fazia sentir – Fechou os olhos – Eu me apaixonei por ela naquele baile de máscaras. Foi a única que despertou meu interesse e eu nem sabia quem era. Eu só podia ver aqueles olhos e sentir aquela boca.
– De verdade, naquele momento, você não sabia quem era ela? – German abriu os olhos e encarou Diego.
– Naquela época, se eu soubesse quem era ela, eu não a teria beijado, Diego – German murmurou seriamente e Diego assentiu.
– Você a ama tanto quanto parece amar? – German respirou fundo e olhou para o chão.
– É possível alguém amar outra pessoa mais do que a si mesmo? – Murmurou.
– Talvez – German olhou-o.
– Eu a amo. Muito.
– Se ela estivesse bem e livre para você, você estaria disposto a ficar ao lado dela para sempre? – Diego perguntou seriamente – Estaria disposto a amá-la da forma como ela merece e cuidá-la?
– Por que está me perguntando isto?
– Apenas responda, German.
German respirou fundo e abaixou a cabeça.
– Eu estaria disposto a fazer o possível para reparar os meus erros e vê-la bem – Olhou para Diego – Mas eu não sei se consigo.
– Por quê? – German desviou o olhar.
– Eu tenho um jeito estranho de amar as pessoas. Posso amá-las o quanto for, mas eu sempre vou fazer algo que vai magoá-las – Ele encolheu os ombros e encarou Diego – Eu sou assim.
– Todo mundo, às vezes, magoa alguém, é normal. Quando isto acontece, você pode escolher entre reconhecer o erro e pedir perdão ou, simplesmente, não se importar com o fato de que magoou alguém.
German ficou pensativo e olhou fixamente para o chão. Diego respirou fundo e também olhou para o chão.
– Como ela está?
German olhou-o e explicou toda a situação. Diego abaixou a cabeça e começou a chorar.
– Eu vou encontrar alguém, Diego – German sussurrou – Ela vai ficar bem.
**
Uma semana depois
– Enrique, – German chamou-o para um canto da sala de espera do hospital – você ainda tem contato com a Maria? – Perguntou seriamente. Enrique franziu o cenho.
– Para que, German?
– Todas as pessoas que conhecemos já doaram e ninguém é compatível.
– Mas se nem Agustin, que é irmão dela, é compatível, quem dirá Maria?
– Não custa tentar – Enrique respirou profundamente – Por favor, Enrique, eu estou desesperado.
– Eu tenho um número dela, mas é antigo, German.
– Me passa – Enrique franziu o cenho.
– Você vai falar com ela? – German engoliu em seco e assentiu – Não acho que seja boa ideia, German.
– Conhecendo a Maria, ela vai querer algo em troca e, sinceramente, eu não me importo com dar o que for para que Angeles esteja bem.
– As coisas não são assim, German.
– São sim. Passa o número para mim, Enrique. Por favor.
Enrique bufou, retirou o celular do bolso, procurou o número nos contatos e passou-o para German.
– Obrigado.
– Não me agradeça, German. Eu nem sei se ela ainda usa esse número. E você não sabe se ela é compatível.
– Eu vou descobrir.
– Não faça nenhuma besteira.
– Não se preocupe.
German saiu do hospital apressadamente. Entrou no carro e ficou olhando para o número na tela de seu celular. Estava com receio do que o contato com aquela mulher poderia causá-lo. Por fim, decidiu apertar o botão da chamada e posicionar o telefone no seu ouvido. O número chamou, chamou, chamou e ninguém atendeu. Ele bufou e tentou mais uma, duas e, na terceira, alguém atendeu. Uma voz masculina, ao que German pensou ter ligado errado.
– Por favor, a Maria.
– Quem gostaria?
German pensou um pouco.
– German.
– Só um minuto – Poucos depois, a voz dela apareceu – Alô – German sentiu ódio e demorou um pouco para responder. Ela soltou uma risada abafada do outro lado da linha – Eu não acredito que é você mesmo. Está com saudade de mim? – German cerrou os punhos e engoliu em seco.
– E-Eu preciso de um favor.
– Sabia que um dia você ia precisar de mim.
– Você está em Buenos Aires?
– Sim.
– Podemos nos ver hoje às... – German olhou para o relógio. Eram 15h30 – Às 18h? Na Ponte da Mulher?
– Está com tanta saudade assim de mim?
– É urgente.
– Eu não me importo. Eu dito as regras. Vamos sair às 20h. Você vai me levar para jantar naquele restaurante que costumávamos ir – German engoliu em seco.
– Não é um jantar romântico – Ele disse seriamente.
– Então, até mais...
– Espera – German suspirou – Tudo bem. Mas antes eu preciso saber de uma coisa.
– Diga logo.
– Você sabe o seu tipo sanguíneo? – Ele pôde escutar um “uhum” – E? Qual é?
– Eu te respondo hoje à noite.
– Maria, por favor – German suplicou.
– O negativo – German fechou os olhos e soltou um suspiro aliviado – Está aí?
– Sim. Sim. Nos vemos hoje à noite.
– Ok. Vou te passar meu endereço por mensagem. Só uma pergunta... Você ainda é frouxo como era antes ou agora dá pra gastar umas horinhas?
German olhou fixamente para o volante e suspirou.
– Eu preciso desligar.
– Até logo, querido.
**
A mulher morena, de traços quase tão angelicais quanto os de Angeles, entrou no carro e German apenas ignorou.
– O tempo fez muito bem a você, German.
Ele engoliu em seco e deu partida no carro. Só conseguia sentir ódio. Tinha vontade de fazer aquela mulher pagar por tudo o que causou a ele e à sua família, mas, naquele momento, ele precisava dela. Chegaram ao restaurante vinte minutos depois. Ambos saíram do carro no mesmo instante. Entraram no local e German escolheu a pior mesa de lá. Sentaram-se, um de frente para o outro.
– E então, a que viemos?
German respirou fundo e olhou-a profundamente.
– Eu preciso que você faça uma doação de sangue.
Maria franziu o cenho.
– Por quê?
– Porque a vida de uma pessoa depende disto.
– Quem?
German desviou o olhar.
– Angeles Saramego.
Maria arqueou as sobrancelhas e escancarou a boca. Em seguida, sorriu ironicamente.
– Desde quando você a conhece?
German olhou-a.
– Por que está sorrindo? – Ele murmurou – Isto não é uma brincadeira – Maria soltou uma gargalhada.
– É a sua cara se relacionar com uma mosca morta igual a ela.
– Lava sua boca para falar dela – German disse seriamente. Maria balançou a cabeça e German abaixou a cabeça – Angeles sofreu um acidente e perdeu muito sangue. O tipo de sangue dela está com o estoque baixo no banco de sangue e até agora não conseguimos encontrar ninguém que fosse compatível – German olhou-a – Por isto estamos aqui.
Maria suspirou e apoiou os cotovelos na mesa.
– Então, você quer que eu doe sangue para ela?
– Sim.
– Hm – Maria assentiu e olhou ao redor por um instante – Por que eu faria isto?
– Porque, em algum lugar dentro de você, existe um pouco de compaixão.
Maria soltou uma risada sarcástica.
– Você continua brega, German. Eu pensei que conseguiria torná-lo mais macho depois de decepcioná-lo, mas acho que não deu certo. Você não mudou.
– Eu mudei, Maria – Ele murmurou seriamente – Eu fui fraco e permiti que você me tornasse uma pessoa fria e insensível e só alguém doente como você poderia se orgulhar disto.
– Você é fraco, German!
German pressionou os dentes e ficou olhando-a seriamente. Em seguida, engoliu em seco e desviou o olhar.
– Não estamos aqui para falar de mim – German olhou-a – Angeles é o motivo de eu estar aqui. Eu preciso saber se você pode fazer isto por ela? Por favor, Maria.
Maria juntou as sobrancelhas.
– Você se apaixonou por ela?
German assentiu lentamente e abaixou o cabeça.
– Angeles veio curar as feridas que você causou – German olhou-a – E ela é tão maravilhosa que, quando eu pensei que não precisava de ninguém, ela veio e me mostrou que eu precisava dela, da ajuda dela – Ele engoliu em seco – Você tem a chance de se redimir por todo o mal que fez... Por favor, Maria.
Maria balançou a cabeça e desviou o olhar.
– Você sabe que eu não vou fazer isto a troco de nada, né? – Olhou-o.
– Eu sei e estou disposto a dar o que for.
Maria sorriu.
– Eu quero tudo o que você tem – German respirou fundo – Seu carro, o lugar onde você mora, todo o seu dinheiro – Maria bufou e brincou com o guardanapo da mesa – Eu acabei torrando todo o dinheiro que eu tirei de você – Olhou-o – Agora eu preciso de mais – Ela abriu um sorriso cínico.
– Está louca? Eu não vou te dar tudo! – German aumentou o tom de voz.
– É isso ou a sua Angeles morre. Lembre-se que precisa de mim.
German respirou fundo e desviou o olhar.
– Tudo bem – Ele murmurou e olhou-a. Maria ficou séria.
– Está falando sério?
– Sim.
– Então... – Ela piscou – Trato feito.
Maria estendeu a mão, como se quisesse firmar um contrato e German olhou seriamente para as mãos dela, como se tivesse repulsa só de pensar num simples toque. Ao ver que ele não encostaria naquela mão, Maria encolheu os ombros e abaixou o braço.
– Agora vamos comer. Eu estou morta de fome.
**
– Onde o German está? – Matias perguntou a Pablo.
– Eu não sei, Mati – Pablo suspirou e Matias repousou as mãos no quadril.
– Como ele consegue sumir em uma hora dessas? – Matias resmungou.
– Ele não sumiu por acaso.
Pablo murmurou e apontou para a porta da sala de espera com o olhar. Matias seguiu seu olhar e entreabriu a boca, pasmado, ao ver um German abatido e, ao seu lado, Maria.
– Onde está o doutor Ibarra? – German murmurou.
Matias aproximou-se dele.
– O que ela está fazendo aqui?
– Eu vim salvar a vida de Angeles – Maria respondeu com um tom de brincadeira na voz e sorriu.
Matias olhou-a rapidamente e voltou a encarar German, o qual apenas balançou a cabeça e abaixou-a.
– Senhor Castillo? – German olhou para o médico que acabara de entrar na sala – Conseguiu alguém? – Ele assentiu.
– Ela vai doar – Apontou para Maria.
O médico assentiu.
– Eu vou explicar o procedimento, senhorita. Pode vir comigo?
Maria acompanhou-o. German respirou profundamente e caminhou até o sofá mais próximo. Sentou-se, apoiou os cotovelos nos joelhos e o rosto nas mãos. Matias e Pablo sentaram-se ao seu lado.
– Você foi... Pedir a ela, German? – Pablo perguntou – Quer dizer, justo a ela? – German olhou-o.
– O que você queria que eu fizesse? – Perguntou rispidamente e olhou para o chão – Eu não sabia mais o que fazer ou a quem recorrer.
– Você não precisava se submeter a isto – Pablo murmurou – Nós divulgamos a situação na internet, em algum momento ia aparecer alguém – German soltou um riso anasalado.
– Quando? Em um ou dois meses? – Olhou para o amigo – Seria tarde, Pablo.
– Mas...
– Já foi. Eu já implorei para ela e eu não me arrependo – German disse decididamente. Ele bufou e olhou para o chão – Eu preciso ficar na casa de um de vocês até minha vida voltar ao normal.
Matias e Pablo franziram o cenho.
– Como assim? – Matias indagou e German olhou-o.
– Acha que Maria faria um favor sem querer algo em troca? – Ele respondeu seriamente e levantou-se, deixando os dois amigos boquiabertos.
– Onde vai?
– Eu vou dar uma volta.
**
Um mês depois
– Oi, meu anjo – Diego disse após sentar-se na cama de Angeles.
Ela havia saído da UTI e fora para o quarto normal. Estava se recuperando do acidente. Ainda estava fraca, mas aos poucos as coisas iam caminhando bem.
– Oi – Angeles sorriu ternamente.
– Você está com mais cor do que na semana passada. Parece que está se recuperando bem.
– Eu me sinto bem – Ela murmurou.
– Que bom, porque... – Diego suspirou – Nós precisamos ter uma conversa.
– Sobre?
– Sobre o German – Angeles bufou.
– O German é passado, Diego.
– Não. Ele é muito mais presente do que você imagina – Diego encolheu os ombros – Ele é passado, presente e futuro – Angeles franziu o cenho.
– Do que está falando?
– De amor, Angie – Diego murmurou e Angeles desviou o olhar – Desse amor que vocês sentem um pelo outro – O rapaz ficou quieto e abaixou a cabeça. Disse baixo e calmamente: – Você soube o que ele fez por você? – Os dois se encararam e Angeles negou com a cabeça – Uma vez você me contou que German sofreu uma grande decepção causada por uma mulher, não é? – Angeles assentiu – E essa mulher, por acaso, é a sua meio-irmã – Ela deduziu o que já estava óbvio.
– Foi ela quem doou o sangue que me salvou?
– Sim. German procurou-a e pediu para que ela fizesse isto. Ele deu tudo o que ele tinha para que ela aceitasse fazer isto – Angeles franziu o cenho – Sinceramente, me surpreende que alguém como essa Maria seja irmã de alguém como você.
– Espera... Como assim, tudo?
– Tudo, Angie. Ele deu tudo. Carro, casa, dinheiro guardado – Angeles fechou os olhos.
– Eu não acredito – Murmurou.
– Pode acreditar. E sabe o que é o melhor? – Angeles olhou-o – Da última vez que o vi, logo depois de sabermos que havia corrido tudo bem com a transfusão, ele não parecia o tipo de cara que perdeu tudo. Parecia estar bem.
– Às vezes, o German pode aparentar muitas coisas que não dizem nada sobre o que está acontecendo dentro dele.
– Pode ser. Mas se ele não está bem, tenho certeza que não é por ter perdido tudo.
– Então, por quê?
– Eu acredito que é por não poder ficar com você ou por culpa pelo acidente.
– Ele não teve culpa.
– Mas ele se sente culpado e só você pode mostrar que ninguém teve culpa – Angeles desviou o olhar – Converse com ele, Angie. Vocês precisam resolver a vida de vocês de uma vez por todas – Ela encarou Diego.
– Não há nada para ser resolvido. Eu estou casada com você e é com você que eu quero ficar.
Diego respirou profundamente e abaixou a cabeça.
– Eu não posso mais, Angie – Murmurou.
– Vai me deixar na mão? – Diego olhou-a e acariciou o rosto dela.
– Não é isto. Angie, você pode até estar bem comigo, mas se sente tão completa como quando está com German? – Diego negou a própria pergunta – Nós dois sabemos que não – Ele suspirou e desviou o olhar – Nos piores momentos é que a gente descobre como as pessoas realmente são.
– O que quer dizer?
– Eu quero dizer que eu vi do que German é capaz de fazer por você e vi que ele é capaz de amá-la muito mais do que eu. Tem algo que liga vocês, é algo que, mesmo que estejam longe um do outro, sempre estará dentro de vocês, conectando um ao outro. Seria um desperdício não viver um amor assim – Angeles fechou os olhos e os dois ficaram quietos – Eu tomei uma decisão, Angie – Ela abriu os olhos, que estavam mareados.
– Qual? – Sussurrou.
– Eu quero me separar – Ela fechou os olhos novamente.
– Diego... – Resmungou.
– E você tem que me prometer que vai correr atrás da sua felicidade – Angeles olhou-o – Promete? – Ela o abraçou.
– Sim.
**
Janeiro/2015
– Entre – German disse, sem tirar os olhos da folha que lia atentamente.
Angeles entrou silenciosamente e não disse uma palavra sequer. Ela fechou a porta e aproximou-se da mesa. German não ergueu a cabeça. Ela apoiou as mãos na mesa, curvou um pouco o tronco e, próxima ao rosto dele, sussurrou:
– Por que não olha para mim?
German levantou a cabeça e encarou-a seriamente. Engoliu em seco e levantou-se. Deu a volta em sua mesa e aproximou-se de Angeles. Acariciou o rosto dela com a mão direita e encostou os lábios na testa dela. Fechou os olhos por um momento e apreciou a sensação de estar em paz. Em seguida, levou a mão esquerda a cintura de Angeles e aconchegou-a em seu corpo.
– Como você está? – Ele sussurrou.
– Estou bem – Ela respondeu da mesma forma – E você? – Ele apertou-a um pouco mais e respirou aliviado.
– Agora, bem.
Angeles engoliu em seco e empurrou-o suavemente. German continuou próximo a ela e com a mão direita em seu rosto e a esquerda em sua cintura.
– Eu não consigo acreditar que você fique bem só por me ver bem, German – Ela murmurou sinceramente.
– Você foi a única coisa que eu pensei nos últimos dois meses, Angeles.
– Então... Por que não foi me visitar no hospital?
– Pensei que não queria me ver nunca mais depois da nossa briga na cabana – German desviou o olhar rapidamente – A briga que caus... – Angeles colocou o indicador sobre os lábios dele.
– Shhh. Não diga isto. Não há culpados pelo que aconteceu, German – Ele abaixou a cabeça.
– Tem certeza? – Ela levou as mãos ao rosto dele e fê-lo olhá-la.
– Sim – Angeles olhava profundamente para os olhos hipnotizantes de German – Está vendo? Você não está bem. E não estava bem antes do acidente. Não é possível que tenha esquecido completamente o motivo pelo qual não estava bem.
German respirou fundo, afastou-se um pouco de Angeles, virou-se e deu alguns passos.
– Quer mesmo falar sobre isto? – Murmurou e olhou-a – Por que apenas não esquecemos este assunto?
– Meu Deus, German, por que você tem mania de ignorar o que te atormenta? – Indagou duramente. German fechou os olhos pesarosamente.
– Não vamos discutir – Pediu calmamente e olhou-a – Por favor – Angeles suspirou e aproximou-se dele.
– Eu não quero discutir com você – Murmurou – Mas eu quero saber o que está acontecendo aqui – Apontou para a cabeça dele – e aqui – Apontou para o coração e deixou sua mão por ali mesmo, aberta sobre o peitoral de German. Ela deu um passo a frente e ficou a poucos centímetros dele. Sussurrou: – Só assim eu posso te ajudar. Eu preciso sentir que você confia em mim e você precisa sentir que eu estou, inteiramente, ao seu lado. Só assim algo pode dar certo – German franziu o cenho.
– Do que está falando?
– Estou falando de nós.
(cont.)
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
E aí?