¿Que nos está pasando? escrita por Duda


Capítulo 24
Estou falando de nós - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Hooola.

Bom, gente, essa é a primeira parte do fim. Eu ia alongar a história, mas acho que não tem necessidade, então, esse capítulo é o último, só que ele terá duas partes, bele!?

Espero que gostem.

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/496806/chapter/24

Novembro/2014

German entrou desesperadamente no Hospital Santa Rosário e correu até a recepção.

– É o senhor Castillo? – Um médico que passava pelo local chamou-o. German olhou-o e franziu o cenho.

– Sim?

– Eu preciso que preencha esta ficha – Entregou uma folha a German – com os dados da paciente.

– Angeles – German disse baixo – é o nome dela – Ele respirou fundo – Como ela está?

– Preencha a ficha e depois eu explico o que aconteceu. Eu já volto, senhor Castillo.

German engoliu em seco e assentiu. Ele apoiou a folha no balcão da recepção e começou a preencher com a mão trêmula. Após terminar de preencher, ele retirou o celular do bolso e discou o número de Matias.

Alô.

– Matias – German disse com a voz embargada.

German? Onde você está? Por que sumiu?

– Depois eu explico tudo – A voz dele saiu falhada – Eu... Estou no hospital de Chascomús.

O que aconteceu?

– Angeles sofreu um acidente – Ele disse com a voz embargada – Eu... Eu não sei o que fazer, Matias.

É grave?

– Eu não sei. Eu ainda não conversei com o médico.

Me ligue depois que conversar com ele. De qualquer forma, eu vou avisar todo mundo e vou para aí o mais rápido possível.

– Tudo bem.

Mantenha a calma, German.

– Vou tentar.

– Senhor Castillo? – O médico chamou-o. German olhou para o médico, despediu-se de Matias e desligou o celular.

– Como ela está? – O médico suspirou.

– Ela sofreu uma hemorragia e a situação é grave – German franziu o cenho.

– O que quer dizer?

– Ela precisa de uma transfusão de sangue urgente.

– E-Eu não entendo muito, mas... É só encontrar um doador compatível, não é?

– Sim. O problema é encontrar um doador compatível com o sangue dela.

– Por quê?

– O sangue dela é O negativo. Ele é um doador universal, mas só recebe sangue do mesmo tipo.

– E?

– O estoque, no banco de sangue, é baixíssimo e há uma fila de espera.

German olhou para o chão e seus olhos lacrimejaram.

– Se ela não fizer essa transfusão, o que acontece?

– A falta de oxigenação para os órgãos pode causar diversos problemas e levá-la a óbito – German fechou os olhos e passou a mão no cabelo. O médico suspirou – Nós vamos tentar passá-la na frente, mas também seria bom se você conseguisse reunir o máximo de pessoas possíveis para doar sangue – German olhou-o – Se ela tiver irmãos, pode ser que eles sejam compatíveis – Ele assentiu e abaixou a cabeça – Com a ajuda das redes sociais, você pode conseguir um doador rápido – German olhou-o.

– Obrigado – Murmurou – Eu posso vê-la?

– Talvez não seja o melhor momento. Ela passou por uma cirurgia, está dormindo.

– Por favor – German suplicou.

O médico bufou e assentiu.

– Tudo bem, mas na UTI você vai ter que usar um avental e uma máscara. A imunidade dela está baixa – German assentiu.

Ambos caminharam até a entrada da UTI. German colocou o avental, a máscara e lavou as mãos com álcool em gel. Entrou no quarto apreensivamente e parou ao lado da cama de Angeles. Os olhos dele se encheram de água e ele inspirou o ar como se cada partícula dele machucasse seus pulmões. Sentia-se angustiado e, sobretudo, culpado por Angeles estar daquela forma.

German ergueu a mão direita e acariciou, suavemente, o cabelo de Angeles. Ele curvou o tronco lentamente, abaixou um pouco a própria máscara, encostou os lábios na testa de Angeles e fechou os olhos com força, deixando algumas lágrimas escorrerem por seu rosto. Após um tempo, ele afastou um pouco o rosto do dela e olhou-a atentamente.

– Eu daria tudo para trocar de lugar com você, meu amor – Sussurrou – Aguenta firme, Angeles – Algumas lágrimas escorreram – Por favor.

German endireitou o corpo, enxugou o rosto e partiu. Não aguentava mais ficar naquele hospital. Pegou o carro e partiu para a cabana. Ao chegar lá, deixou seu corpo cair no sofá da sala. O choro foi inevitável. Ele levou as mãos ao rosto e chorou até não poder mais. Chegou um momento em que não havia mais lágrima qualquer para escorrer por seu rosto, então ele ficou olhando fixamente para o nada. Ficou assim por horas. Sobressaltou quando, subitamente, a porta da cabana foi aberta. Olhou em sua direção e deu de cara com um Diego furioso vindo em sua direção. Diego agarrou-o pelo colarinho da camisa e puxou-o com tanta força que German foi jogado no chão. Ele nem sequer reagiu.

– Foi sua culpa, não foi? – Diego falou alteradamente e subiu em cima de German – Seu verme – Esmurrou a maçã esquerda do rosto de German e depois a direita.

– Foi minha culpa – German balbuciou e Diego desferiu-lhe mais alguns murros – Eu mereço, Diego – Disse com a voz falhada e voltou a chorar. Diego parou e entreabriu a boca – Eu sou um verme. Eu a fiz sofrer de todas as formas – Diego franziu o cenho – Eu fiz a mulher que eu amo sofrer – Diego levantou-se e respirou fundo.

Estendeu a mão para German, ao que ele segurou a mão de Diego e levantou-se. Sentou no sofá, apoiou os cotovelos nos joelhos e o rosto nas mãos. Diego suspirou profundamente e sentou-se ao lado dele.

– Você foi burro, German – Diego disse baixo – Não percebeu que, ao machucá-la, atingiria a si mesmo.

– Não é que eu não tenha percebido, – German disse baixo e tirou as mãos do rosto. Ficou olhando fixamente para o chão – é que eu não aceitava. Eu não aceitava que a amo e negava a dor que eu sentia cada vez que a fazia sofrer – Ele balançou a cabeça e mordeu os lábios – Eu demorei para aceitar tudo o que Angeles me fazia sentir – Fechou os olhos – Eu me apaixonei por ela naquele baile de máscaras. Foi a única que despertou meu interesse e eu nem sabia quem era. Eu só podia ver aqueles olhos e sentir aquela boca.

– De verdade, naquele momento, você não sabia quem era ela? – German abriu os olhos e encarou Diego.

– Naquela época, se eu soubesse quem era ela, eu não a teria beijado, Diego – German murmurou seriamente e Diego assentiu.

– Você a ama tanto quanto parece amar? – German respirou fundo e olhou para o chão.

– É possível alguém amar outra pessoa mais do que a si mesmo? – Murmurou.

– Talvez – German olhou-o.

– Eu a amo. Muito.

– Se ela estivesse bem e livre para você, você estaria disposto a ficar ao lado dela para sempre? – Diego perguntou seriamente – Estaria disposto a amá-la da forma como ela merece e cuidá-la?

– Por que está me perguntando isto?

– Apenas responda, German.

German respirou fundo e abaixou a cabeça.

– Eu estaria disposto a fazer o possível para reparar os meus erros e vê-la bem – Olhou para Diego – Mas eu não sei se consigo.

– Por quê? – German desviou o olhar.

– Eu tenho um jeito estranho de amar as pessoas. Posso amá-las o quanto for, mas eu sempre vou fazer algo que vai magoá-las – Ele encolheu os ombros e encarou Diego – Eu sou assim.

– Todo mundo, às vezes, magoa alguém, é normal. Quando isto acontece, você pode escolher entre reconhecer o erro e pedir perdão ou, simplesmente, não se importar com o fato de que magoou alguém.

German ficou pensativo e olhou fixamente para o chão. Diego respirou fundo e também olhou para o chão.

– Como ela está?

German olhou-o e explicou toda a situação. Diego abaixou a cabeça e começou a chorar.

– Eu vou encontrar alguém, Diego – German sussurrou – Ela vai ficar bem.

**

Uma semana depois

– Enrique, – German chamou-o para um canto da sala de espera do hospital – você ainda tem contato com a Maria? – Perguntou seriamente. Enrique franziu o cenho.

– Para que, German?

– Todas as pessoas que conhecemos já doaram e ninguém é compatível.

– Mas se nem Agustin, que é irmão dela, é compatível, quem dirá Maria?

– Não custa tentar – Enrique respirou profundamente – Por favor, Enrique, eu estou desesperado.

– Eu tenho um número dela, mas é antigo, German.

– Me passa – Enrique franziu o cenho.

– Você vai falar com ela? – German engoliu em seco e assentiu – Não acho que seja boa ideia, German.

– Conhecendo a Maria, ela vai querer algo em troca e, sinceramente, eu não me importo com dar o que for para que Angeles esteja bem.

– As coisas não são assim, German.

– São sim. Passa o número para mim, Enrique. Por favor.

Enrique bufou, retirou o celular do bolso, procurou o número nos contatos e passou-o para German.

– Obrigado.

– Não me agradeça, German. Eu nem sei se ela ainda usa esse número. E você não sabe se ela é compatível.

– Eu vou descobrir.

– Não faça nenhuma besteira.

– Não se preocupe.

German saiu do hospital apressadamente. Entrou no carro e ficou olhando para o número na tela de seu celular. Estava com receio do que o contato com aquela mulher poderia causá-lo. Por fim, decidiu apertar o botão da chamada e posicionar o telefone no seu ouvido. O número chamou, chamou, chamou e ninguém atendeu. Ele bufou e tentou mais uma, duas e, na terceira, alguém atendeu. Uma voz masculina, ao que German pensou ter ligado errado.

– Por favor, a Maria.

Quem gostaria?

German pensou um pouco.

– German.

Só um minuto – Poucos depois, a voz dela apareceu – Alô – German sentiu ódio e demorou um pouco para responder. Ela soltou uma risada abafada do outro lado da linha – Eu não acredito que é você mesmo. Está com saudade de mim? – German cerrou os punhos e engoliu em seco.

– E-Eu preciso de um favor.

Sabia que um dia você ia precisar de mim.

– Você está em Buenos Aires?

Sim.

– Podemos nos ver hoje às... – German olhou para o relógio. Eram 15h30 – Às 18h? Na Ponte da Mulher?

Está com tanta saudade assim de mim?

– É urgente.

Eu não me importo. Eu dito as regras. Vamos sair às 20h. Você vai me levar para jantar naquele restaurante que costumávamos ir – German engoliu em seco.

– Não é um jantar romântico – Ele disse seriamente.

Então, até mais...

– Espera – German suspirou – Tudo bem. Mas antes eu preciso saber de uma coisa.

Diga logo.

– Você sabe o seu tipo sanguíneo? – Ele pôde escutar um “uhum” – E? Qual é?

Eu te respondo hoje à noite.

– Maria, por favor – German suplicou.

O negativo – German fechou os olhos e soltou um suspiro aliviado – Está aí?

– Sim. Sim. Nos vemos hoje à noite.

Ok. Vou te passar meu endereço por mensagem. Só uma pergunta... Você ainda é frouxo como era antes ou agora dá pra gastar umas horinhas?

German olhou fixamente para o volante e suspirou.

– Eu preciso desligar.

Até logo, querido.

**

A mulher morena, de traços quase tão angelicais quanto os de Angeles, entrou no carro e German apenas ignorou.

– O tempo fez muito bem a você, German.

Ele engoliu em seco e deu partida no carro. Só conseguia sentir ódio. Tinha vontade de fazer aquela mulher pagar por tudo o que causou a ele e à sua família, mas, naquele momento, ele precisava dela. Chegaram ao restaurante vinte minutos depois. Ambos saíram do carro no mesmo instante. Entraram no local e German escolheu a pior mesa de lá. Sentaram-se, um de frente para o outro.

– E então, a que viemos?

German respirou fundo e olhou-a profundamente.

– Eu preciso que você faça uma doação de sangue.

Maria franziu o cenho.

– Por quê?

– Porque a vida de uma pessoa depende disto.

– Quem?

German desviou o olhar.

– Angeles Saramego.

Maria arqueou as sobrancelhas e escancarou a boca. Em seguida, sorriu ironicamente.

– Desde quando você a conhece?

German olhou-a.

– Por que está sorrindo? – Ele murmurou – Isto não é uma brincadeira – Maria soltou uma gargalhada.

– É a sua cara se relacionar com uma mosca morta igual a ela.

– Lava sua boca para falar dela – German disse seriamente. Maria balançou a cabeça e German abaixou a cabeça – Angeles sofreu um acidente e perdeu muito sangue. O tipo de sangue dela está com o estoque baixo no banco de sangue e até agora não conseguimos encontrar ninguém que fosse compatível – German olhou-a – Por isto estamos aqui.

Maria suspirou e apoiou os cotovelos na mesa.

– Então, você quer que eu doe sangue para ela?

– Sim.

– Hm – Maria assentiu e olhou ao redor por um instante – Por que eu faria isto?

– Porque, em algum lugar dentro de você, existe um pouco de compaixão.

Maria soltou uma risada sarcástica.

– Você continua brega, German. Eu pensei que conseguiria torná-lo mais macho depois de decepcioná-lo, mas acho que não deu certo. Você não mudou.

– Eu mudei, Maria – Ele murmurou seriamente – Eu fui fraco e permiti que você me tornasse uma pessoa fria e insensível e só alguém doente como você poderia se orgulhar disto.

– Você é fraco, German!

German pressionou os dentes e ficou olhando-a seriamente. Em seguida, engoliu em seco e desviou o olhar.

– Não estamos aqui para falar de mim – German olhou-a – Angeles é o motivo de eu estar aqui. Eu preciso saber se você pode fazer isto por ela? Por favor, Maria.

Maria juntou as sobrancelhas.

– Você se apaixonou por ela?

German assentiu lentamente e abaixou o cabeça.

– Angeles veio curar as feridas que você causou – German olhou-a – E ela é tão maravilhosa que, quando eu pensei que não precisava de ninguém, ela veio e me mostrou que eu precisava dela, da ajuda dela – Ele engoliu em seco – Você tem a chance de se redimir por todo o mal que fez... Por favor, Maria.

Maria balançou a cabeça e desviou o olhar.

– Você sabe que eu não vou fazer isto a troco de nada, né? – Olhou-o.

– Eu sei e estou disposto a dar o que for.

Maria sorriu.

– Eu quero tudo o que você tem – German respirou fundo – Seu carro, o lugar onde você mora, todo o seu dinheiro – Maria bufou e brincou com o guardanapo da mesa – Eu acabei torrando todo o dinheiro que eu tirei de você – Olhou-o – Agora eu preciso de mais – Ela abriu um sorriso cínico.

– Está louca? Eu não vou te dar tudo! – German aumentou o tom de voz.

– É isso ou a sua Angeles morre. Lembre-se que precisa de mim.

German respirou fundo e desviou o olhar.

– Tudo bem – Ele murmurou e olhou-a. Maria ficou séria.

– Está falando sério?

– Sim.

– Então... – Ela piscou – Trato feito.

Maria estendeu a mão, como se quisesse firmar um contrato e German olhou seriamente para as mãos dela, como se tivesse repulsa só de pensar num simples toque. Ao ver que ele não encostaria naquela mão, Maria encolheu os ombros e abaixou o braço.

– Agora vamos comer. Eu estou morta de fome.

**

– Onde o German está? – Matias perguntou a Pablo.

– Eu não sei, Mati – Pablo suspirou e Matias repousou as mãos no quadril.

– Como ele consegue sumir em uma hora dessas? – Matias resmungou.

– Ele não sumiu por acaso.

Pablo murmurou e apontou para a porta da sala de espera com o olhar. Matias seguiu seu olhar e entreabriu a boca, pasmado, ao ver um German abatido e, ao seu lado, Maria.

– Onde está o doutor Ibarra? – German murmurou.

Matias aproximou-se dele.

– O que ela está fazendo aqui?

– Eu vim salvar a vida de Angeles – Maria respondeu com um tom de brincadeira na voz e sorriu.

Matias olhou-a rapidamente e voltou a encarar German, o qual apenas balançou a cabeça e abaixou-a.

– Senhor Castillo? – German olhou para o médico que acabara de entrar na sala – Conseguiu alguém? – Ele assentiu.

– Ela vai doar – Apontou para Maria.

O médico assentiu.

– Eu vou explicar o procedimento, senhorita. Pode vir comigo?

Maria acompanhou-o. German respirou profundamente e caminhou até o sofá mais próximo. Sentou-se, apoiou os cotovelos nos joelhos e o rosto nas mãos. Matias e Pablo sentaram-se ao seu lado.

– Você foi... Pedir a ela, German? – Pablo perguntou – Quer dizer, justo a ela? – German olhou-o.

– O que você queria que eu fizesse? – Perguntou rispidamente e olhou para o chão – Eu não sabia mais o que fazer ou a quem recorrer.

– Você não precisava se submeter a isto – Pablo murmurou – Nós divulgamos a situação na internet, em algum momento ia aparecer alguém – German soltou um riso anasalado.

– Quando? Em um ou dois meses? – Olhou para o amigo – Seria tarde, Pablo.

– Mas...

– Já foi. Eu já implorei para ela e eu não me arrependo – German disse decididamente. Ele bufou e olhou para o chão – Eu preciso ficar na casa de um de vocês até minha vida voltar ao normal.

Matias e Pablo franziram o cenho.

– Como assim? – Matias indagou e German olhou-o.

– Acha que Maria faria um favor sem querer algo em troca? – Ele respondeu seriamente e levantou-se, deixando os dois amigos boquiabertos.

– Onde vai?

– Eu vou dar uma volta.

**

Um mês depois

– Oi, meu anjo – Diego disse após sentar-se na cama de Angeles.

Ela havia saído da UTI e fora para o quarto normal. Estava se recuperando do acidente. Ainda estava fraca, mas aos poucos as coisas iam caminhando bem.

– Oi – Angeles sorriu ternamente.

– Você está com mais cor do que na semana passada. Parece que está se recuperando bem.

– Eu me sinto bem – Ela murmurou.

– Que bom, porque... – Diego suspirou – Nós precisamos ter uma conversa.

– Sobre?

– Sobre o German – Angeles bufou.

– O German é passado, Diego.

– Não. Ele é muito mais presente do que você imagina – Diego encolheu os ombros – Ele é passado, presente e futuro – Angeles franziu o cenho.

– Do que está falando?

– De amor, Angie – Diego murmurou e Angeles desviou o olhar – Desse amor que vocês sentem um pelo outro – O rapaz ficou quieto e abaixou a cabeça. Disse baixo e calmamente: – Você soube o que ele fez por você? – Os dois se encararam e Angeles negou com a cabeça – Uma vez você me contou que German sofreu uma grande decepção causada por uma mulher, não é? – Angeles assentiu – E essa mulher, por acaso, é a sua meio-irmã – Ela deduziu o que já estava óbvio.

– Foi ela quem doou o sangue que me salvou?

– Sim. German procurou-a e pediu para que ela fizesse isto. Ele deu tudo o que ele tinha para que ela aceitasse fazer isto – Angeles franziu o cenho – Sinceramente, me surpreende que alguém como essa Maria seja irmã de alguém como você.

– Espera... Como assim, tudo?

– Tudo, Angie. Ele deu tudo. Carro, casa, dinheiro guardado – Angeles fechou os olhos.

– Eu não acredito – Murmurou.

– Pode acreditar. E sabe o que é o melhor? – Angeles olhou-o – Da última vez que o vi, logo depois de sabermos que havia corrido tudo bem com a transfusão, ele não parecia o tipo de cara que perdeu tudo. Parecia estar bem.

– Às vezes, o German pode aparentar muitas coisas que não dizem nada sobre o que está acontecendo dentro dele.

– Pode ser. Mas se ele não está bem, tenho certeza que não é por ter perdido tudo.

– Então, por quê?

– Eu acredito que é por não poder ficar com você ou por culpa pelo acidente.

– Ele não teve culpa.

– Mas ele se sente culpado e só você pode mostrar que ninguém teve culpa – Angeles desviou o olhar – Converse com ele, Angie. Vocês precisam resolver a vida de vocês de uma vez por todas – Ela encarou Diego.

– Não há nada para ser resolvido. Eu estou casada com você e é com você que eu quero ficar.

Diego respirou profundamente e abaixou a cabeça.

– Eu não posso mais, Angie – Murmurou.

– Vai me deixar na mão? – Diego olhou-a e acariciou o rosto dela.

– Não é isto. Angie, você pode até estar bem comigo, mas se sente tão completa como quando está com German? – Diego negou a própria pergunta – Nós dois sabemos que não – Ele suspirou e desviou o olhar – Nos piores momentos é que a gente descobre como as pessoas realmente são.

– O que quer dizer?

– Eu quero dizer que eu vi do que German é capaz de fazer por você e vi que ele é capaz de amá-la muito mais do que eu. Tem algo que liga vocês, é algo que, mesmo que estejam longe um do outro, sempre estará dentro de vocês, conectando um ao outro. Seria um desperdício não viver um amor assim – Angeles fechou os olhos e os dois ficaram quietos – Eu tomei uma decisão, Angie – Ela abriu os olhos, que estavam mareados.

– Qual? – Sussurrou.

– Eu quero me separar – Ela fechou os olhos novamente.

– Diego... – Resmungou.

– E você tem que me prometer que vai correr atrás da sua felicidade – Angeles olhou-o – Promete? – Ela o abraçou.

– Sim.

**

Janeiro/2015

– Entre – German disse, sem tirar os olhos da folha que lia atentamente.

Angeles entrou silenciosamente e não disse uma palavra sequer. Ela fechou a porta e aproximou-se da mesa. German não ergueu a cabeça. Ela apoiou as mãos na mesa, curvou um pouco o tronco e, próxima ao rosto dele, sussurrou:

– Por que não olha para mim?

German levantou a cabeça e encarou-a seriamente. Engoliu em seco e levantou-se. Deu a volta em sua mesa e aproximou-se de Angeles. Acariciou o rosto dela com a mão direita e encostou os lábios na testa dela. Fechou os olhos por um momento e apreciou a sensação de estar em paz. Em seguida, levou a mão esquerda a cintura de Angeles e aconchegou-a em seu corpo.

– Como você está? – Ele sussurrou.

– Estou bem – Ela respondeu da mesma forma – E você? – Ele apertou-a um pouco mais e respirou aliviado.

– Agora, bem.

Angeles engoliu em seco e empurrou-o suavemente. German continuou próximo a ela e com a mão direita em seu rosto e a esquerda em sua cintura.

– Eu não consigo acreditar que você fique bem só por me ver bem, German – Ela murmurou sinceramente.

– Você foi a única coisa que eu pensei nos últimos dois meses, Angeles.

– Então... Por que não foi me visitar no hospital?

– Pensei que não queria me ver nunca mais depois da nossa briga na cabana – German desviou o olhar rapidamente – A briga que caus... – Angeles colocou o indicador sobre os lábios dele.

– Shhh. Não diga isto. Não há culpados pelo que aconteceu, German – Ele abaixou a cabeça.

– Tem certeza? – Ela levou as mãos ao rosto dele e fê-lo olhá-la.

– Sim – Angeles olhava profundamente para os olhos hipnotizantes de German – Está vendo? Você não está bem. E não estava bem antes do acidente. Não é possível que tenha esquecido completamente o motivo pelo qual não estava bem.

German respirou fundo, afastou-se um pouco de Angeles, virou-se e deu alguns passos.

– Quer mesmo falar sobre isto? – Murmurou e olhou-a – Por que apenas não esquecemos este assunto?

– Meu Deus, German, por que você tem mania de ignorar o que te atormenta? – Indagou duramente. German fechou os olhos pesarosamente.

– Não vamos discutir – Pediu calmamente e olhou-a – Por favor – Angeles suspirou e aproximou-se dele.

– Eu não quero discutir com você – Murmurou – Mas eu quero saber o que está acontecendo aqui – Apontou para a cabeça dele – e aqui – Apontou para o coração e deixou sua mão por ali mesmo, aberta sobre o peitoral de German. Ela deu um passo a frente e ficou a poucos centímetros dele. Sussurrou: – Só assim eu posso te ajudar. Eu preciso sentir que você confia em mim e você precisa sentir que eu estou, inteiramente, ao seu lado. Só assim algo pode dar certo – German franziu o cenho.

– Do que está falando?

– Estou falando de nós.

(cont.)


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí?