¿Que nos está pasando? escrita por Duda


Capítulo 14
Eu te amo, Angeles


Notas iniciais do capítulo

Inhaí, girls.
Desculpem a demora.
Mais um cap. pra vocês.
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/496806/chapter/14

A última semana de Agosto chegara. As coisas no escritório estavam corridas, haviam muitos relatórios de casos passados pendentes e alguns casos a serem revisados. Já as coisas entre German e Angeles estavam estagnadas. A última vez que se viram foi no noivado de Pablo e Jackeline e, depois disto, preferiram manter a distância. German não suportava o fato de Angeles estar nos braços de outro homem, ainda mais sendo um inimigo seu, mas também não a procurava para tentar mudar isto. Angeles longe era melhor para ele.

German saiu de sua sala lendo atentamente um relatório e caminhou até a sala de Matias. Entrou na sala sem permissão e fechou a porta.

– Matias, aqui está o... – Olhou ao redor, parou de falar e franziu o cenho.

Matias estava encostado em sua mesa, com os braços cruzados e um semblante sério. Pablo e Jackeline estavam sentados no sofá consolando Angeles, que estava entre eles. Ela estivera com os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto apoiado nas mãos, até German entrar e todos olharem-no, inclusive ela. Ao reparar no rosto de Angeles, German ficou extremamente sério. Ela possuía algumas escoriações e um olho roxo. A respiração dele descompassou e o punho cerrou.

– German, calma – Matias murmurou. Ele permaneceu olhando fixamente para Angeles. Os olhos dela estavam encharcados, mas ela estava calma.

– Eu quero saber o que aconteceu! – German disse seriamente. Angeles desviou o olhar e suspirou pesadamente.

– Não é um problema seu, German – Angeles disse baixo – Você já se envolveu demais – German engoliu em seco e desviou o olhar.

– Eu fiquei distante durante todo o caso – Os dois se encararam – Até agora – Murmurou, de certa forma, assustadoramente – Isto não vai ficar assim – Matias ficou apreensivo e aproximou-se de German, o qual respirava fundo – Eu vou acabar com a raça desse cara – Falou seriamente e caminhou apressadamente até porta. Matias conseguiu segurar os dois braços de German por trás e, enquanto este tentava se desvencilhar, Pablo levantou-se e parou na frente de German, sendo seguido por Angeles – Me solta, Matias – German vociferou.

– Eu não posso deixar você cometer alguma loucura – Matias disse calmamente – Ela já está bem – German encarava Angeles – Não tem necessidade de você ir atrás dele. Só vai piorar as coisas.

Ele suspirou pesadamente, relaxou um pouco e puxou os braços para se desvencilhar de Matias. Colocou a mão direita no quadril e a outra passou pelo cabelo, deu alguns passos até parar atrás da mesa de Matias. Apoiou as mãos na mesa e reclinou um pouco o corpo.

– Por que ele te bateu? – Ele perguntou calmamente e olhou para Angeles.

– Porque eu não quis contar o esconderijo do Conti – German balançou a cabeça e desviou o olhar.

Ele deu um fraco soco na mesa e murmurou:

– Eu pensei que ele não teria coragem – A forma como ele disse e o olhar que ele possuía denotava uma certa culpa, como se ele tivesse deixado aquilo acontecer.

– Você não tem culpa, German – Angeles murmurou e ele fitou-a – Você me avisou muitas vezes – German suspirou profundamente e olhou fixamente para a mesa.

– Foi a primeira vez? – Ele perguntou baixo e olhou-a de novo. Angeles permaneceu quieta. German cerrou os punhos e deu um soco na mesa de Matias. Endireitou o corpo e começou a dar pequenos passos para lá e para cá.

– Por que você não contou, Angie? – Matias perguntou.

– Eu queria ver até onde ele chegaria – German parou, fitou-a seriamente e passou a mão pelo cabelo.

– Hoje nós só descobrimos porque eu fui até sua casa? – Jackeline perguntou. Angeles olhou para a amiga e assentiu.

– É tudo uma brincadeira pra você, não é? – German perguntou seriamente e contornou a mesa de Matias, aproximando-se lentamente de Angeles – Você está se divertindo com isto? – Ele parou perto dela – É engraçado arriscar a própria vida? – Angeles abaixou a cabeça. German olhou para os braços dela. Pegou a mão direita de Angeles e observou seu pulso roxo. Ele pressionou os dentes e soltou a mão dela. Ele respirou fundo e murmurou: – Por que eu tenho a impressão de que tudo isto é para me desafiar? – Angeles olhou-o – Parece que você fica tentando ver até onde eu iria por você.

– Não tem nada a ver com você. Eu só estou tentando ter algum sucesso neste caso.

– Ótima estratégia – German ironizou e balançou a cabeça – Você vai continuar com isto?

– O momento para desistir já passou faz tempo. Não há como voltar atrás, German.

– Você pode entregar as provas a eles.

– Eu não sei onde elas estão.

– Sabe, sim – Angeles bufou e abaixou a cabeça – Você pode entregá-las e se livrar desse caso.

– Eu não farei isto – Ela o encarou – Eu vou até o fim – Ele bufou e desviou o olhar.

– Você é quem sabe, garota – Murmurou friamente – Eu não dou a mínima – Ele olhou-a seriamente e engoliu em seco. Em seguida, caminhou até a porta da sala e saiu.

German entrou em sua sala, fechou a porta com força, chutou o encosto do sofá e aproximou-se de sua mesa. Reclinou um pouco o tronco, apoiou as mãos na mesa, abaixou a cabeça e fechou os olhos com força. Não estava conseguindo controlar sua fúria, o seu medo, a sua angústia.

Matias entrou na sala. Aproximou-se do amigo e colocou a mão direita em seu ombro.

– Calma, German – Murmurou.

German engoliu em seco, virou-se furioso e esbravejou:

– Eu odeio, odeio muito, o fato de não conseguir controlar a minha impulsividade quando o assunto é ela – Ele bufou – Parece que ela tem o dom de me deixar nervoso – Caminhou até a janela de sua sala e tentou acalmar-se – Por que ela é tão... teimosa, Matias? – Murmurou.

– Ela é determinada, German. É diferente. Você também era assim.

– Eu entendo que ela seja determinada – Ele virou-se e colocou as mãos nos bolsos – Mas agora ela está sendo teimosa – Ele suspirou – Ela não pode mais vacilar, Matias. No primeiro aviso de que o Conti morreu, nós temos que tirá-la daqui – Matias franziu o cenho.

– E se o Conti não morrer? E se você estiver exagerando? – German balançou a cabeça e olhou para o chão.

– Quer saber? Você tem razão – Encarou o amigo – Eu estou exagerando. Ela está na sua sala com um monte de hematoma e, realmente, não tem com o quê se preocupar.

– German... – Matias suspirou e encolheu os ombros – Eu acredito em você. Para onde vai levá-la? – German respirou fundo e olhou para o chão.

– Não sei. Não consigo pensar em nenhum lugar, mas precisa ser longe e escondido – German olhou seriamente para o amigo – E eu juro que eu não vou deixar nenhum desses vermes encostarem nela de novo.

**

Setembro/2012

German tocou a campainha duas vezes até ser atendido por Enrique, tio de Angeles. A notícia de que Rafael Conti fora encontrado morto o levou até a casa da família dela, já que ele havia ido em seu apartamento e não obtivera nenhuma resposta dela.

– Senhor Castillo – Enrique afirmou com certa surpresa e ofereceu a mão para um cumprimento – É um prazer revê-lo! – German cumprimentou-o.

– Boa noite – Ele disse seriamente – Angeles está aqui?

– Sim – Enrique abriu um espaço para que German entrasse na casa – Entre. Eu vou chamá-la – German entrou e olhou para o topo da escada que ficava de frente para a porta. Angeles estava parada e olhava-o atentamente.

– Eu sei porque está aqui e nada do que me disser vai fazer alguma diferença agora.

German lançou um breve olhar à Enrique, olhou-a novamente e caminhou até a base da escada. Seus olhos mostravam uma espécie de medo.

– Eu preciso falar com você – Angeles revirou os olhos.

– Tudo bem – Ela suspirou e desceu as escadas – Vamos conversar no escritório – Virou à sua esquerda e entrou na primeira porta que viu. German seguiu-a. Angeles encostou na mesa e cruzou os braços – Olha, German, o Pablo e a Jackie já tentaram me convencer a ir para essa tal fazenda em Rosário. O Matias também. Até a dona Margô me ligou falando sobre isto – Ela encolheu os ombros – Eu não quero ir.

– Não está com medo? – German perguntou seriamente.

– Há uma semana, quando eu soube a notícia, eu fiquei com medo, mas agora... German, se eles não vieram atrás de mim até agora, eles não virão mais.

– Sabe por que eles não vieram? – Angeles franziu o cenho e não disse nada.

German respirou fundo, caminhou até ela, pegou uma de suas mãos e puxou-a suavemente até a janela do escritório. Ele abriu a cortina e apontou para um carro parado do outro lado da rua.

– Está vendo aquele carro?

– Sim – Angeles respondeu baixo – Qual é o problema?

– Ele tem te seguido por dias – German murmurou sem olhá-la

– Para quê? – Ele engoliu em seco.

– Para te proteger – Angeles olhou-o e arqueou uma sobrancelha.

– Como sabe disto? – Perguntou seriamente. German pressionou os dentes e olhou-a.

– São homens de confiança – Angeles bufou e desviou o olhar.

– Você os contratou! – Ela afirmou e balançou a cabeça negativamente. Encarou-o e disse em alto e bom som: – Você é um idiota, German. Eu não preciso que você coloque seus “homens de confiança” para me vigiar. Eu já te pedi mil vezes para parar de fingir que se importa. Me deixa cuidar disto sozinha – Angeles respirou profundamente, sentou-se na cadeira de seu pai e debruçou-se na mesa.

German observava-a atentamente. Ele não estava entendendo aquela reação explosiva dela. Não tinha porquê. Ela estava, de certa forma, segura e ficou brava por isto. Ele realmente não conseguia entender.

– Acabou a birra? – Ele perguntou baixo. Ela endireitou o corpo na cadeira e o encarou. Ele suspirou pesadamente e agachou-se ao lado dela – Eu sou tudo o que você pensa sobre mim, um homem frio, amargo, rancoroso, insensível, vazio, mas... – Ele desviou o olhar e balançou a cabeça.

– Mas o que, German? – German encarou-a e negou com a cabeça.

– Nada – Murmurou. Olhou para baixo, suspirou e fitou-a – Talvez eu tenha sido invasivo demais colocando aqueles homens para vigiá-la, mas, desta vez, minha atitude não foi para provocá-la ou fazê-la mal – German respirou fundo – Eles virão atrás de você, Angeles.

– Mas eu estou segura, não estou?

– Por uma questão de tempo. Você tem em mãos algo que é capaz de destruí-los, eles não medirão esforços para conseguir o que querem. Quando você menos esperar, eles virão. E os dois seguranças que a protegem não farão diferença alguma para eles – Ele fez uma pausa, mas continuou fitando-a profundamente – Eles não poderão fazer nada se você já estiver longe daqui – German disse baixo – Deixe eu tirá-la daqui? – Os olhos dele suplicavam – Confia em mim? Só desta vez – As últimas palavras saíram do fundo do coração de German.

Angeles girou um pouco a cadeira e ficou de frente para ele. Inclinou o corpo e apoiou os cotovelos nos joelhos. Os rostos de ambos ficaram bem próximos.

– O que vai acontecer depois, German? – Angeles murmurou – Eles vão continuar soltos, enquanto eu fujo?

– As coisas já estão encaminhadas.

– Como assim?

– Confia em mim! – Ele sussurrou.

– German... – Ela tentou argumentar, mas German colocou o dedo indicador sobre os lábios dela e calou-a.

– Por favor.

– Eu confio em você – Ela murmurou e sorriu sem mostrar os dentes – Quando nós vamos? – German suspirou aliviado.

– Amanhã? – Angeles assentiu.

German respirou fundo e levantou-se. Angeles também o fez e os dois ficaram a poucos centímetros de distância. Olhavam-se fixamente, respiravam descompassadamente e sentiam um leve tremor nas pernas.

– É melhor eu ir – German murmurou sem vontade alguma de ir embora.

– É.

German engoliu em seco e fechou os olhos com força.

– Eu... – Olhou-a – Eu, realmente, preciso ir – Disse com seu tom de voz normal. Ele deu alguns passos para trás e caminhou até a porta do escritório – Até amanhã – Falou seriamente e partiu.

**

Me deixa em paz – Angeles pediu calmamente, embora seus olhos estivessem encharcados e vermelhos.

Não – German respondeu suavemente.

Por quê?

Porque eu não posso – German sussurrou e tentou aproximar-se dela, ao que ela recuou. Os olhos dele também estavam um pouco molhados – Eu não quero.

Eu não quero mais sofrer por sua causa – Ela fungou e abaixou a cabeça.

Eu sei – Ele se aproximou e colocou as mãos no rosto dela, fazendo-a olhá-lo – Eu não vou mais te fazer sofrer. Eu só quero cuidar de você. Eu só quero que você seja minha – Ela negou com a cabeça e fechou os olhos. German encostou seus lábios nos dela suavemente e iniciou um beijo carinhoso. Em seguida, parou de beijá-la e encostou a testa na dela – Eu te amo, Angeles – Ele sussurrou e ela passou a chorar mais – Fica comigo, meu amor?

Angeles afastou-se e olhou-o seriamente.

German despertou neste momento. Percebeu uma respiração fora de ritmo e os batimentos cardíacos extremamente acelerados. Sentou-se na cama, pensou no sonho que acabara de ter e colocou as mãos na cabeça. “Não deixe que ela faça isto com você, German”, pensou inconscientemente. Era como se seu subconsciente estivesse mandando uma mensagem ao seu coração.

Ele olhou para o relógio. Eram 6h. Levantou-se, tomou um banho de água fria, arrumou-se e enrolou até dar o horário para ir buscá-la. Ele estava evitando ao máximo pensar em Angeles, mas não tinha como, eles se veriam em poucas horas. Ele até cogitou a ideia de que outra pessoa a levasse para a fazenda, mas, por algum motivo, ele não levou a ideia adiante.

German chegou à casa da mãe de Angeles 10h em ponto. Bateu à porta e foi atendido pela própria Angeles. Ela abriu um sorriso de orelha a orelha que o fez esquecer do resto do mundo. Ele engoliu em seco e desviou o olhar.

– Vamos? – Angeles assentiu.

– Eu vou pegar minhas coisas. Entre.

German entrou. Angeles fechou a porta e subiu as escadas. Angeles voltou alguns minutos depois com uma mochila nas costas e uma mala grande na mão. German pegou a mala e caminhou até a porta.

– Espera, eu vou me despedir do meu tio.

– Eu te espero no carro – Ele disse secamente e saiu da casa.

Poucos minutos depois, Angeles entrou no carro. German estava com o cotovelo apoiado na porta e a mão segurando o queixo. Seu semblante não era dos melhores. Ele ignorou a presença dele, ligou o carro e partiu.

Angeles observava-o atentamente e, poucos minutos depois de terem partido, não aguentou e cortou o silêncio.

– German, o que foi?

– Nada – German respondeu secamente.

– Por que está estranho? – Angeles encolheu os ombros – Ontem você estava tão diferente.

– Ontem eu precisava te convencer a ir comigo para a fazenda – Angeles franziu o cenho.

– Está de brincadeira comigo, não é?

– Não – Ele olhou-a – Você sabe como eu sou. Conviva com isto – Olhou para frente.

Angeles balançou a cabeça e olhou para fora do carro. Encostou a cabeça no vidro e tentou se concentrar em outras coisas que não fossem a sua raiva. Ela não aguentou o silêncio e disse:

– Posso ligar o rádio?

– Faça o que quiser.

– Eu quero sair desse carro.

– Menos isto – Angeles bufou e ligou o rádio.

Como se as coisas não pudessem ficar piores, a música que estava tocando era a mesma do baile. Angeles respirou profundamente, encostou a cabeça no banco e fechou os olhos. De repente, ficou um silêncio. Ela abriu os olhos e encarou German.

– Por que desligou?

– Porque eu quis.

– Não... Foi porque você não aguenta escutar esta música e lembrar do baile. Aquele maldito baile onde nós nos beijamos pela primeira vez e...

– ...onde todo o inferno começou – German completou rispidamente – Chega de falar sobre isto. A viagem é longa, eu quero dirigir em paz.

– É claro, senhor Castillo. Eu ficarei calada. Mas só uma pergunta: todas as vezes em que foi bom comigo, foi porque queria alguma coisa em troca? Na noite em que dormimos juntos... Você estava sendo carinhoso e atensioso, justamente para me ganhar? – German olhou-a seriamente e ficou quieto – Responde – Ele engoliu em seco.

– Sim.

Angeles assentiu e seus olhos se encheram de água. German olhou para frente e suspirou pesadamente. Ela encostou a cabeça no vidro e murmurou:

– Eu já deveria esperar este tipo de coisa de você.

**

German abriu a porta do carro para que Angeles saísse. Ela o fez e olhou ao redor. Era um campo aberto, no meio do nada. De um lado, era um espaço para cavalos, onde havia um único cavalo preto, bem bonito, dando voltas.

– É um Mustang? – German olhou em direção e suspirou.

– É.

– É lindo! – German olhou-a.

– É, mas não chegue perto dele – Ele disse rispidamente e Angeles bufou.

Em seguida, enquanto caminhava até a entrada da casa, ela olhou para o outro lado, onde havia uma piscina. Ela sorriu ao ver quem saiu da piscina para vê-la.

– Angie – Violetta sorriu e desceu as escadas do deck – Pensei que não vinha – A garota abraçou Angeles, mesmo estando molhada. Angeles sorriu e fê-la olhá-la.

– Mas eu vim. Vou fazer companhia para você durante um tempo – Violetta sorriu. Afastou-se dela e foi abraçar German.

– Você também vai ficar, não é, tio German?

– Só durante esta semana, Violetta – Violetta afastou-se e olhou-o séria. German suspirou e abaixou-se – Eu ainda preciso resolver umas coisas importantes – Violetta bufou e encarou Angeles.

– Eu sabia que ele não ia ficar – Disse cabisbaixa e subiu as escadas da piscina novamente. Ele levantou e desviou o olhar.

– Não custa você ficar mais tempo, German – Angeles murmurou e encarou-o.

– Isto não é da sua conta – Ele retrucou e caminhou até a porta da casa.

German parou em frente a porta, colocou a mão na maçaneta e diversas lembranças vieram à sua mente. Ele fechou os olhos com força. “Está sendo fraco, German”, pensou. Angeles parou ao lado dele e colocou a mão sobre a dele.

– Você não está bem, German – Angeles murmurou. Ele encarou-a e engoliu em seco.

– Estou sim – Disse secamente.

Ele abriu a porta e sentiu uma energia estranha tomar conta de si. Aquele lugar tinha um significado enorme em sua vida. Fora onde passara algumas férias e onde sua mãe passara os últimos dias de sua vida. Ele reparou em cada parte daquela casa.

A porta de entrada já dava para a sala de estar, a qual possuía uma lareira em um dos cantos e duas poltronas de frente para a lareira, em outra parte da sala, havia um sofá em L disposto em frente a uma televisão. Ah, é claro, havia um aparador com algumas fotos em cima. Angeles deu um passo em direção ao aparador.

– Nem pense – Ela o encarou.

– Eu vou ficar aqui por dias, em algum momento verei estas fotos.

– Eu vou pedir para tirarem – Ele murmurou.

Angeles suspirou profundamente e olhou em direção a porta da cozinha, em frente a eles. Uma senhora gorducha, de cabelos pretos e olhos azuis aparecera. Ela estava com as mãos na boca e seus olhos levemente arregalados. German respirou fundo, enquanto a mulher se aproximava.

– German – Ela colocou as mãos no rosto dele – Meu garotinho – Ela o abraçou e o apertou.

– Olga – Ele chamou-a e ela afastou-se dele – Eu não sou mais aquele garotinho. Eu deixei de ser aquele German há muito tempo.

– Eu sei, mas...

– Não se iluda – Olga bufou. Ela olhou para Angeles e sorriu sem mostrar os dentes.

– E você? Quem é? – Angeles entreabriu a boca e olhou para German. Olga escancarou a boca e apontou para Angeles – Não me diga que você é namo...

– Não, Olga – German interrompeu rispidamente e suspirou – Nos deixe em paz. Continue o que estava fazendo – Olga revirou os olhos e saiu.

German ignorou o olhar de Angeles. Ele olhou para uma grande abertura, no canto direito da sala, a qual dava para a sala de jantar. Ele caminhou lentamente até lá e, da mesma forma que a sala de estar continuava igual, a sala de jantar também. Havia uma mesa de oito cadeiras e uma lareira também.

– Onde eu vou ficar? – Angeles interrompeu os pensamentos dele.

German olhou-a e suspirou. Pegou o pulso dela e entrou no corredor que se iniciava no canto direito da sala de estar. Abriu a primeira porta. O quarto já estava ocupado. Ele puxou-a tranquilamente e abriu a segunda porta. Neste momento, ele parou e passou a apertar suavemente o pulso de Angeles. Olhou ao redor de todo o quarto e sentiu uma dor enorme no peito.

– German – Angeles sussurrou e colocou a outra mão no rosto dele – Fala comigo – Ele a olhou – Você não precisa guardar tudo para si – German fechou os olhos diante das carícias dela – Eu estou aqui – Ele olhou-a.

– Mesmo com tudo o que eu faço você passar? – Angeles sorriu sem mostrar os dentes.

– Eu acredito no que você tem aqui – Ela colocou a palma da outra mão aberta sobre o peito de German.

Ele fechou os olhos e encostou a testa na dela.

– German – Matias chamou-o assim que entrou na casa. German abriu os olhos e afastou-se de Angeles. Fechou a porta do quarto e caminhou até a sala.

– O quê?

– Cadê a Angie? – Angeles apareceu atrás de German – Vocês estão bem?

– Sim, Matias – German respondeu duramente – Arrume um quarto para ela. Eu vou dar uma volta.

**

Era fim de tarde já. Angeles saiu da casa e olhou ao redor. O cavalo preto ainda dava voltas em um grande espaço circular envolto por uma cerca branca. Ela caminhou calmamente até ele, parou e encostou na cerca. O cavalo percebeu a presença dela e parou de dar voltas. Ele foi aproximando-se, embora seus olhos expressassem um certo receio. Angeles esticou o braço e, um pouco desconfiado, ele encurtou a distância, permitindo que ela passasse a mão em seu focinho. Angeles abriu um sorriso.

– Será que eu posso montar em você, garoto? – Ela sussurrou.

Angeles pulou a cerca lentamente, para não assustá-lo, e aproximou-se com cuidado. Ela colocou o pé no apoio da sela. Mas o cavalo afastou-se um pouco.

– Está tudo bem, garoto – Ela disse baixo e afagou-lhe.

Ela tentou mais uma vez. Colocou o pé no apoio e subiu com destreza. Deu um tapinha carinhoso no pescoço dele e sorriu. Ela deu um leve chute para que ele começasse a caminhar. O cavalo o fez e, conforme ela ia afrouxando a corda que o guiava, ele aumentava a velocidade. Ele ficou dando voltas e voltas, até que Angeles perdeu o controle sobre ele. Ele estava atônito e assustado e ela não conseguia pará-lo. Por fim, ele relinchou e ergueu o tronco. Angeles foi jogada no chão e só não se machucou porque conseguiu virar o corpo e apoiá-lo nos braços. Ela permaneceu no chão, completamente em pânico. O cavalo ergueu o tronco novamente e, no momento em que ele voltasse ao chão, suas patas dianteiras iriam de encontro com o corpo de Angeles. Ela apenas escondeu o rosto e grudou no chão, como se isto fosse protegê-la. Ela escutou um grito e descobriu o rosto. German estava parado em frente a ela, com os braços abertos. De alguma forma, German detinha um respeito enorme sobre aquele cavalo, pois este virou o corpo para desviar de German no momento em que o viu. O cavalo afastou-se dos dois e German respirou fundo. Ele virou-se e ajudou Angeles a se levantar.

– Você é mesmo uma inconsequente, garota! – Ele disse rispidamente – Eu não disse para não chegar perto dele?

– Sim, mas...

– “Mas” nada – Ele disse em alto e bom som e Angeles sobressaltou-se – Espero que tenha aprendido a lição.

– Eu aprendi – Ela disse seriamente.

– Que bom – German retrucou secamente – Agora sai daqui – Angeles franziu o cenho.

– Por que está me tratando assim?

– Não interessa – Respondeu rispidamente – Me deixa em paz.

Angeles balançou a cabeça e saiu apressadamente. German colocou as mãos no quadril e ficou olhando vagamente para o chão. Sentiu uma fungada na nuca e assustou-se. Olhou para trás e suspirou pesadamente. Parecia que o cavalo estava pedindo a atenção de German. Ou pedindo desculpas para ele.

– Oi, Thor – German murmurou e passou a mão pelo focinho do cavalo. Ele respirou fundo e murmurou: – Você não precisava tentar atacá-la, garoto – German o acariciava – Eu sei o que você está sentindo. Eu também tenho medo do que ela provoca em mim – Ele bufou – Mas ela jamais te machucaria. Ela jamais machucaria alguém – German respirou fundo e sussurrou: – Eu acho que a única pessoa que ela pode machucar sou eu – Ele fechou os olhos e balançou a cabeça, reprovando a si mesmo – Está vendo? – Ele abriu os olhos – É disto que eu tenho medo – German deu uns tapas suaves no pescoço do cavalo e disse baixo: – Não se preocupe, Thor, quando ela for embora, nós ficaremos bem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam?
A "continuação" desse capítulo será melhor.

(mano, eu ia mudar alguma coisa nesse capítulo, mas esqueci o que era, rs)