As lágrimas ainda rolavam pelas minhas rosadas bochechas de maneira compulsiva, eu mantinha minha cabeça enterrada no peito de Adam, aspirando seu cheiro doce, como que para me acalmar, ele afagava levemente meus cabelos e murmurava palavras de conforto. Eu estava tão atordoada que não havia notado que ainda nos encontrávamos nos jardins do palácio, a noite era bastante fria, porém Adam mantinha seus braços em minha volta de maneira protetora me aquecendo.

Ele voltou a me aninhar em seu peitoral bastante definido e eu voltei minha atenção para a noite estrelada que nos rodeava, as luzes do castelo podiam ser vistas por nós, porém eram praticamente ocultas pela densa floresta que nos rodeava.

–Adam... – ele voltou sua atenção para mim por um minuto, saindo do transe no qual se encontrava. – Meus sonhos... Por que você é um lobo?

Ele fitou o céu por uns minutos, como se tentasse encontrar as palavras certas para explicar o motivo.

–Bela... Tem coisas sobre mim que você não sabe... Não pode saber...

–Não confia em mim?

–Sim eu confio... – ele tomou meu rosto entre suas mãos. – Eu confio em você mais do que em qualquer pessoa, Madame Marta, Benoite até mesmo Burnier, mas eu não posso, simplesmente não posso.

–Por que se esconde de mim?

–Bela... – ele virou-me em sua direção. – Não me obrigue a falar...

Eu o encarei por um minuto, ele fechou os olhos e começou:

–Bela... Eu venho de uma longa linhagem de príncipes e princesas, meus avôs foram grandes reis assim como os meus pais, eles eram grandes governantes, amavam o povo, tratavam a todos de maneira igual... Com respeito e logo eu nasci e tudo ficou perfeito, meus pais começaram a me educar para ser um governante assim como eles, mas quando eu tinha 6 anos, enquanto eu brincava por esses jardins... – ele parou por um segundo e estendeu sua mão para mim, eu a peguei e ele me ajudou a levantar. – Eu deixei minha bola cair em uma roseira, eu tentei pega-la, mas acabei perdendo o equilíbrio e feri gravemente meu rosto, meus pais fizeram de tudo, buscaram ajuda de todos, porém as cicatrizes não sumiam nada funcionava, até que minha mãe descobriu uma velha feiticeira que vivia nas montanhas, afastada de tudo e todos poderia me curar, meu pai enviou seus exércitos em busca da velha senhora e quando a acharam ela propôs um acordo...

–Que tipo de acordo Adam? – ele parou por um minuto, como se tentasse conter as lágrimas que teimavam em cair, eu nunca o vi daquela maneira, frágil, vulnerável, com medo. – Ela pediu ouro, seu trono, o que Adam?

–Ela pediu... Pediu que eu fosse bom, assim como meus pais, que eu cuidasse daqueles de quem em breve eu seria encarregado de cuidar, que eu colocasse o povo acima de tudo, mas que acima de tudo que eu mostrasse me importar com alguém além de mim... Meus pais logo aceitaram o acordo... Confiavam no que eu poderia vir a ser... Acreditavam que eu podia ser bom... Ela cumpriu com sua palavra, as marcas sumiram e eu voltei a ser o mesmo, e por muito tempo eu acatei a minha parte do acordo, após a morte de meus pais, eu me tornei alguém difícil, egoísta, Burnier chegou a tentar substituir o papel de meu pai, mas ele não conseguiu... Ninguém conseguiu e eu me entreguei a uma vida bastante boemia, bebida, mulheres... Eu perdi meu verdadeiro objetivo, passei a colocar as minhas vontades acima do povo, gastar dinheiro em festas suntuosas, logo ela tomou conhecimento de minha verdadeira situação e fez isto... – Ele apontou para seu próprio rosto – Essas marcas surgiram e eu podia mostrar agora a minha verdadeira natureza para todos, um monstro, um lobo, isso acontece às vezes, quando eu estou colocando alguém acima de mim, tentando mudar minha situação.

–aquela noite na floresta... – ele assentiu – Em meus sonhos.

–Elas vão sumir, se eu mostrar compaixão, amor, mas ninguém compreende, eu passei a ser visto como um monstro por conta delas, Bela quem seria capaz de amar um monstro?

Ele não conteve mais suas lágrimas, sentou-se no chão próximo ao velho chafariz de pedra e se permitiu chorar, ser fraco. Eu me aproximei dele e sentei-me sob o chafariz ao seu lado, toquei levemente seu ombro e ele levantou levemente seu rosto, seus olhos cor de âmbar agora tinham se tornado avermelhados devido as lágrimas, ele estava lindo, como sempre, aquelas marcas nem ao menos eram perceptíveis por mim. Ele apoiou sua cabeça em meu colo e eu afaguei seus cabelos cor de chocolate, ele apenas chorava algo que eu nunca pensei que testemunharia.

–Quem poderia ser capaz de amar um monstro Bela? – ele pronunciou as palavras, porém estas estavam embargadas pelo choro – Quem?

–Eu Adam... Eu seria capaz de amar você... – eu levantei seu rosto com uma das mãos e afaguei seu rosto com a outra – Eu sou capaz de amar você, um rapaz lindo por fora e por dentro e não um monstro.

Depois eu o beijei, seu beijo era calmo, doce, seus lábios tinham gosto bastante doce, no inicio minha atitude o surpreendeu, mas logo ele estava com suas mãos em meu rosto, aprofundando nosso beijo. A chuva começou a cair levemente e logo minhas roupas e cabelos estavam completamente molhados. Interrompemos o beijo, pois o ar se fez necessário, Adam levantou e pegou minha mão.

–Você me ama Bela? – ele se colocou em minha frente.

Eu sorri e toquei seu rosto.

–Sim... Adam eu o amo.

Ele me pegou no colo e me rodou na chuva, nossas risadas ecoavam por entre as árvores, o rio parecia correr de acordo com a nossa felicidade, o céu parecia estar mais brilhante, tudo estava lindo, perfeito, por que agora eu tinha certeza, eu não estava mais sozinha, eu tinha Adam, ele seria minha família, meu protetor.

Logo Adam e eu corríamos por entre os jardins fugindo dos frios pingos de chuva, entramos no castelo e nossos passos logo podiam ser ouvidos por ele. Ele parou em frente ao meu quarto e me beijou novamente:

–Sei que não contara nada disso a ninguém. – eu apenas balancei positivamente a cabeça – E eu acho que eu não revelei tudo a você.

–Não, e o que falta? – perguntei confusa.

–Eu também a amo minha Bela.

Sorri para ele e me despedi, entrando logo em seguida em meu quarto desfazendo-me de minhas roupas molhadas, a substituindo por roupas secas, depois me deitei em minha cama e fechei meus olhos, pronta para os pesadelos que eu sabia que viriam, porém naquela noite eles não me ocorreram tive sonhos doces, com Adam, seu beijo, ele era meu protetor, minha fera e eu sabia que enquanto estivéssemos juntos ele não permitiria que nada nem ninguém me prejudicasse e eu estava disposta a ajudá-lo a superar a maldição.