Foram anos de uma convivência forçada.

Eu e Haymitch só ficávamos juntos porque éramos obrigados, alias, ele ainda era mentor e eu ainda era a acompanhante dos tributos.

Parecíamos duas crianças imaturos, não nos olhávamos diretamente, fugíamos um do outro e nossa situação parecia que nunca iria mudar. Continuaríamos nos evitando. Mas nessa noite... tudo mudou.

Jogos Vorazes. Edição 65. Ás 4:10 da manhã. No trem, a caminho da Capital. Todos estavam dormindo... ou pelo menos era o que eu pensava.

Eu estava deitada em minha cama quando ouvi as milhares de batidas insistentes na porta. Abri os olhos e encarei o relógio, quem seria o doido que estava acordado a essa hora? Me levanto e abro a porta, bocejando. Logo fico surpresa.

Os olhos cinzas cansado e sonolentos, cercados por olheiras escuras, me encaram. O rosto abatido pelo cansaço está sem nenhuma expressão. Aquilo seria uma miragem ou algum sonho meu?

– Haymitch? - falo, surpresa - o que você está fazen...

Antes que eu complete a frase, ele avança e me beija. Não tinha ideia do que estava acontecendo, fiquei totalmente perdida. Bem, eu sabia como reagir, mas não queria interromper aquilo. Meu Deus, por que eu não queria interromper?

No começo, o beijo era faminto e selvagem, como se fosse o ultimo momento das nossas vidas. Depois de pouco tempo, foi ficando mais lento, mais doce. Sua boca macia e quente contra a minha, as mãos dele na minha cintura, nossas respirações sincronizadas... era a melhor sensação que eu poderia ter.

– Você é minha Effie - Haymitch sussurra em meu ouvido - Apenas minha.

Foi ai que voltei para mim, me dei conta do que estava acontecendo. Tinha que dar um fim naquilo. O empurrei com todas as forças que tinha, quando ele tentou se reaproximar, dei um tapa em seu rosto e limpei minha boca. Imaginei que Haymitch ficaria com raiva, mas ao invés disso ele riu. Aquele sorriso de quem conseguiu o que queria.

– O que você acha que está fazendo? - pergunto, quase gritando.

– Te beijando oras - Haymitch responde, esfregando o lugar onde tinha batido - eu não resisti.

– Saia já do meu quarto - falo, abrindo a porta.

– Te vejo amanhã Effie

– Você está louco, só pode.

Fiquei ao lado da porta, a segurando para que ninguém pudesse fechar. Haymitch para na minha frente, já do lado de fora, penso que ele vai dizer algo, mas na verdade ele me beijou novamente. Dessa vez, o beijo foi mais rápido que a primeiro, só que mais intenso.

– Haymitch Abernathy– grito - vá agora para seu quarto.

– Ei, fale mais baixo, todos estão dormindo - diz, rindo.

Fecho a porta na sua cara. Deito na cama e fecho os olhos com força, meu coração e minha respiração aceleram. A cena de Haymitch invadindo meu quarto e me beijando se repete varias vezes na minha mente, de todos os ângulos possíveis.

– Sonhe comigo, Effie Trinket - ouço Haymitch gritar do corredor.

Coloco a mão sobre os meus lábios e não consigo segurar um sorriso. Ele sabia muito bem como me provocar. Sinto algo esquisito no estômago. Balanço a cabeça e começo a rir.

Quem diria que logo eu, Effie Trinket, estaria apaixonada pelo alcoólico arrogante do Distrito 12.