The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 88
Capítulo 88 - Caída


Notas iniciais do capítulo

VOLTEEEEEEEEEEEEEEY!
Saudades, saudades imensas.
Mil perdões, eu tava realmente com dificuldade pra conciliar tudo.
Mas agora nas férias...
FÉRIAS
SINTO CHEIRO DE LIBERDADE E DE...
Cinzas, porque o reino dos demônios vem aí HAHAHAHA
Espero que gostem do capítulo!
Música pra ouvir lendo (sugestão de leitora linda):
https://www.youtube.com/watch?v=mWRsgZuwf_8



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Eu estava oficialmente proibida de sair de casa.

Como a babaquice estava virando um hábito para Daniel, ele ligou para o meu pai.

Não fazia a mínima ideia de como eles tinham o número um do outro.

A questão é que papai voltou pra casa em dois dias e ele não era o Sr. Reed.

Era o Rei dos Demônios em pessoa, ou melhor, demônio.

Eu estava sentada no sofá e tentava evitar seus olhos vermelhos a todo custo.

Ele estava puto, eu sabia.

Já fazia um dia desde a sua volta e nós simplesmente não nos falamos até que ele subiu até o meu quarto e exigiu que eu contasse o ocorrido.

— Acha que estou errado em exigir uma resposta de você? - ele grunhiu.

O encarei.

Eu andava sendo uma inútil sentimentalista, mas não idiota a ponto de desviar o olhar quando meu pai falava comigo.

Ainda éramos pai e filha.

— Não está errado - confessei - sei que não fiz certo em não te contar nada sobre, me desculpe só achei que era algo banal no momento.

— Talvez você seja apenas desinformada - ele riu, sarcástico e se agachou à minha frente.

— Desculpe? - franzi o cenho e um pouco ofendida.

“Okay, me desculpe por ter vivido como humana minha vida quase toda e agora eu estar desinformada sobre vampiros, dragões, lobisomens e todas as criaturas existentes. Ah, sem falar nos elfos e demônios, que por sinal sou ambos”, foi o que senti vontade de dizer revirando os olhos.

— Vladimir é um demônio muito antigo, Selene - ele me olhou sério - aquele que originou os vampiros.

Tentei entender o que ele dizia e me perguntei se o tal Vladimir era um híbrido afinal.

— Para os humanos ele é o primeiro morto vivo de todos - explicou papai - mas a verdade é que o sangue dele pode criar ghouls.

Meu cérebro tentava calcular sua idade enquanto meu pai me encarava, já começando a ficar preocupado.

— Em todo caso, quero lhe contar uma possibilidade - ele se levantou e arrumou a roupa impecável - na verdade eu evitaria isso, mas é importante que saiba.

Usava uma camisa branca de botões e calça social, o que era estranho pra mim.

— Se Vladimir tem estado de olho em você, acredito que seja ele o mestre de Liam - ele disse e me olhou de canto.

Levei alguns segundos para processar a informação.

— Está me dizendo que Liam foi transformado por ele? - perguntei pra garantir.

Papai assentiu.

A sensação de acordar de uma noite de pesadelos e ir direto dar um mergulho no mar gelado não chegaria perto do choque que me invadiu.

— Pule a parte da culpa - papai gesticulou com desdém - já antecipo que você não é a culpada pela transformação de Liam, além disso ele nunca reclamou do que é.

— Ele não precisa reclamar, eu sei o quanto ele odeia - rebati.

— Selene, o problema agora é outro - ele passou a mão no rosto, contendo a impaciência.

— Okay - respirei fundo - certo. E agora?

— Antes precisa dizer o que mais de estranho tem acontecido - o rei dos demônios se sentou no sofá de frente ao meu.

Contorci a boca e me perguntei qual era o seu conceito de “estranho”.

Papai arqueou as sobrancelhas.

— Conte tudo - incentivou.

— Eu não sei se isso é estranho pra você, mas é pra mim - me envergonhei ao dizer - tenho me sentido… emotiva e muito conectada às coisas.

Ele franziu o cenho.

— Deve ser coisa de elfo - ri, sem graça.

— Parece coisa de elfo - ele resmungou com desgosto.

— Durante a aula eu costumo desenhar coisas aleatórias, coisas que vêm na minha cabeça no momento - passei para a próxima esquisitisse - sempre foram banalidades, mas agora eu entro em transe e desenho criaturas que nunca vi.

— Onde está seu caderno? - perguntou ele calmamente.

Franzi o cenho.

— Na mochila, ficou no carro com Daniel - pisquei, confusa - precisa ver os desenhos?

Papai não respondeu.

Seus dedos deslizaram rapidamente sobre a tela do celular e logo levou o mesmo ao ouvido.

— Precisamos conversar, então aproveite e traga a mochila de Selene junto - ele disse.

Alguns segundos de silêncio e de inexpressivo meu pai se mostrou frustrado.

Suspirou.

— Sim, eu entendo que é difícil, mas é importante, precisa aparecer - insistiu.

Passou a mão no rosto e segurou mais um suspiro.

— Pode pedir à Yukina pra trazer? - perguntou.

Mais alguns segundos de silêncio que atiçaram minha curiosidade e papai desligou.

— Esteja devidamente arrumada hoje a noite - os olhos dele brilharam vermelhos e perigosos - vamos à uma reunião de gente grande.

Queria perguntar se a reunião tinha algo a ver comigo, mas seria tolice.

Claro que tinha.

Só não compreendia e me perguntava confusa sobre quem apareceria em prol de uma híbrida quase deserdada dos elfos e princesa de um reino caído e oculto nas sombras.

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Minhas perguntas anteriores foram respondidas naquela mesma noite.

Yukina e Iria apareceram em casa e me fizeram caber num vestido negro e tão apertado que provavelmente eu jamais conseguiria me sentar ou caminhar sem parecer uma pata.

— Pare de reclamar - Iria rosnou - isso é só o começo das formalidades.

— E quem vai estar lá pra que seja necessário tudo isso? - gemi enquanto Yukina prendia grampos no meu cabelo.

— Pessoas antigas, Sel - Yuki respondeu - seu pai está tentando conseguir apoio dos figurões já fazem muitos séculos.

— Apoio pra quê? - franzi o cenho.

— Um tratado de paz pra que os clãs demoníacos retornem - Iria respondeu - negociação de limites, fronteiras, valores… Todas essas coisas políticas.

— O que aconteceu hoje ameaça as chances que seu pai tem de conseguir o reino dele de volta - Yuki continuou - então ele precisa garantir alguns aliados.

— Que agora servirão pra você também - Iria balançou as sobrancelhas.

Pisquei sem entender nada e a lobisomem bufou, desistindo.

— Quando você nasceu, foi inclusa nas negociações - Yukina disse pacientemente - seu pai quer garantir sua segurança e hereditariedade.

— Mas eu não quero herdar nada - soltei uma risada.

— Infelizmente você é a única herdeira legítima do seu pai - Iria puxou meu rosto e analisou o delineado.

— Legítima? Ele tem mais filhos? - perguntei um tanto enciumada.

— Obviamente deve ter - a lobisomem revirou os olhos - seu pai é uma criatura que caminha entre os humanos há séculos, milênios. Ele já foi conhecido como o mal encarnado, sem falar na quantidade de amantes que já deve ter acumulado, então sim pequena Skywalker, você deve ter algum punhado de irmãos.

Me calei e pensei sobre o assunto.

Papai nunca tinha os mencionado, e com razão já que a intenção era que eu vivesse humanamente.

Ou não era?

Já que ele me incluíra nas negociações e me considerava herdeira legítima, será que queria mesmo que eu tivesse uma vida humana?

Cada vez mais eu conhecia partes do meu pai que, embora soubesse que poderiam existir, sempre me surpreendia por serem reais.

Ele jamais voltaria a ser apenas o homem cujas mãos estavam sempre sujas de sabão em pó e detergente pra mim.

Mas também jamais deixaria de ser meu pai.

— Não se perturbe com esse assunto - Yuki tocou meu ombro com os olhos felinos brilhantes - você tem uma vida inteira pra conhecê-los e fazer perguntas ao seu pai.

— Talvez a minha vida inteira não dure tanto quanto você acha que vá - brinquei.

Mas ela e eu sabíamos que havia verdade na brincadeira.

Iria puxou meu braço e me colocou de pé, o que ao seu modo brusco pude ver como um ato de encorajamento.

— Agora me ajude a escolher um vestido - a lobisomem bateu palmas e sorriu.

Separou três cabides e os colocou na frente do corpo.

Franzi o cenho.

— Vocês vão? - perguntei.

Iria revirou os olhos.

— Sabia que me subestimava, mas não tanto - torceu o nariz ofendida.

— Não subestimo você - respondi na defensiva.

— Então o que te faz pensar que eu não possa ser uma puro-sangue? - ela sorriu, cheia de si.

Eu tinha lido brevemente sobre puros-sangues num dos livros que Yukina me fazia ler frequentemente.

Representavam a classe nobre dos lobisomens e podiam se transformar a qualquer momento, além de serem muito mais difíceis de matar.

Muito mesmo.

— Não estou surpresa - menti - nem um pouco.

Yuki caiu na risada e apontou para um dos vestidos.

Acompanhei seu dedo e a vi indicar o verde.

O corpete era cheio de pedras brilhantes e a saia justa com certeza valorizaria o corpo cheio de curvas de Iria.

Me senti pequena naquele tubo negro e fosco.

Iria deu de ombros e jogou os outros vestidos na cama, começando a se trocar imediatamente na nossa frente.

Desviei o olhar afim de evitar invejas desnecessárias, afinal eu não era de todo reta, mas Iria sem dúvidas era a imagem que deveria estar no dicionário quando a palavra “curvilínea” aparecesse.

Para a minha surpresa, Yukina também estava se trocando.

Tive o vislumbre de uma tatuagem em suas costas, seguindo a coluna vertebral, mas contive minha curiosidade.

Se a japonesa baixinha que falava de tudo não tinha falado sobre, provavelmente era algo relacionado ao seu passado.

E ela realmente não gostava dele.

As duas se arrumavam numa velocidade que eu jamais conseguiria acompanhar.

Cabelo, maquiagem e acessórios eram arrumados e adicionados num piscar de olhos e elas não paravam para respirar.

— Como estou? - Yuki perguntou enquanto checava o batom.

Analisei pra lhe dar uma resposta sincera.

Sendo uma leitora de auras curiosas ela se chatearia caso eu mentisse.

Yuki escolhera um vestido com o corpete branco, mas cuja saia volumosa se dissolvia em tons de cinza e a barra chegava ao negro.

Seus olhos estavam felinos, mas pareciam perfeitamente normais pra mim.

Aquela era Yukina de verdade afinal, serva de Bastet.

— Maravilhosa - respondi sem pensar.

Ela deu pulinhos de felicidade e apertou meu braço, animada.

Provavelmente uma espécie de abraço quando nenhuma de nós podia se desalinhar.

Iria alisava o vestido e murmurava qualquer coisa, parecendo insatisfeita.

— Se eu tivesse seu corpo não reclamaria pra nada nessa vida - revirei os olhos.

Ela me encarou, surpresa.

— Bom… - cruzou os braços desconfiada - obrigada, eu acho.

A porta foi aberta e papai invadiu, vasculhando o quarto com os olhos claros.

Era difícil denotar se ele estava ali como Sr. Reed ou como Delaryon.

Provavelmente ambos, dali pra frente.

— Aqui está você - ele sorriu, admirado - linda, incomparavelmente linda.

Papai me puxou para um abraço, sem se importar com a arrumação toda.

Eu não me importava também afinal.

Notei que ele segurava uma caixa de madeira protegida por um cadeado de ouro.

Nos desvencilhamos e franzi o cenho.

— Eu devia ter lhe dado isso há muito tempo atrás - Delaryon suspirou.

— O que é? - perguntei, curiosa.

Ele tirou uma chave grande (e aparentemente antiga) do bolso e abriu a caixa.

Dentro havia a coroa mais estranha e ao mesmo tempo bonita que eu já vira.

Era feita de cristais transparentes e no centro havia uma pedra branca, mas quando papai a tocou, ficou oscilando entre o vermelho e o negro.

— Pensei que isso tinha se perdido junto com os Tesouros durante a Queda - Iria sussurrou, espantada.

— Eu era tolo na época, mas jamais desprevenido - papai torceu o nariz - é hora de ela pertencer à verdadeira dona.

Ele colocou a coroa sobre minha cabeça e meu corpo inteiro se arrepiou.

— Antigamente eu apenas te entregaria durante sua coroação - papai suspirou, nostálgico - você faria um juramento ao seu povo e seria declarada herdeira do trono.

Franzi o cenho, preocupada.

Eu não me lembrava de ter feito nada daquilo.

— Mas os tempos mudaram, fique com ela e quando estiver pronta teremos uma coroação oficial - papai sorriu, um tanto pesaroso.

Me encarei no espelho.

A pedra central estava azul no centro e suas bordas estavam negras como o meu vestido.

Não ficava estranho como pensei que ficaria, pelo contrário: parecia feita sob medida para mim.

— Obrigada papai - o encarei, realmente agradecida pela escolha que ele me dava, ainda que indiretamente ao me entregar a coroa - obrigada mesmo.

Ele assentiu, deu um passo para trás e gesticulou para que andássemos logo.

Yuki me parou no meio do corredor.

— Essa reunião não é sobre seres humanos, Selene - ela me advertiu - não os mencione em momento algum.

Assenti, ainda que a contragosto.

— E use sua forma verdadeira - ela continuou - seria um insulto a eles se você aparecesse como humana.

Suspirei e me perguntei como diabos conseguiria ficar na minha forma original.

Me sentia a vontade com ela, mas não conseguia segurá-la por muito tempo.

Fechei os olhos e me concentrei.

Senti meu maxilar se deslocar e minhas orelhas queimarem.

Abri os olhos e pude enxergar no escuro perfeitamente.

Yukina assentiu em aprovação.

— Agora, o toque final - disse com um sorriso travesso e colocou algo nos meus lóbulos pontudos.

— O que é isso? - perguntei.

— Algo pra deixar tudo mais emocionante - respondeu.

Ela piscou e correu para alcançar Iria e papai.

Levei as mãos às orelhas e senti o metal que as envolvia como uma armadura, mas sentia uma forma familiar.

Meus brincos tinham sumido.

No lugar, Yuki deixara ear cuffs em forma de dragão, e eu gostei.

Muito.

Sorri com o pensamento bobo de que pelo menos um dragão de mentirinha eu teria pra mim.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?
Coroa:
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Ear cuff:
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