The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 87
Capítulo 87 - Guardada


Notas iniciais do capítulo

Oieee!
Se encontrarem errinhos, já sabem: conta pra mim!
Espero que gostem, beijoxxx



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Michele passou pelo meu lado e me cumprimentou com um aceno de cabeça.

— Estarei na última carteira - ela avisou, mascando chiclete - não se preocupe, vou estar atenta.

Não pude responder, já que Michele caminhou até o fundo da sala e após se sentar, ficou bem atenta às próprias unhas.

Revirei os olhos e encarei a cadeira vazia ao meu lado.

Me preocupar com o quê afinal?

Estava tudo pacífico até demais, fora a tensão no ar a minha volta, criada pelo receio de encontrar Daniel e não saber como agir.

Eu tinha me acostumado com sua aversão a mim finalmente, mas com o que Yukina disse... não sabia no que acreditar.

Apoiei meus cotovelos na mesa e descansei a cabeça nas mãos.

Não estava afim de desenhar, até porque quando o fazia, qualquer rabisco dava origem a alguma criatura desagradável de se olhar.

Precisava falar com alguém sobre isso.

A lembrança dos olhos vermelhos me encarando de madrugada me veio à tona.

Também precisava falar com alguém sobre isso.

Passei a mão no rosto exasperada e automaticamente obedeci ao comando da professora para abrir o caderno.

Uma sombra ao meu lado me tirou dos meus pensamentos.

Logo o corpo pesado de Daniel se jogava na cadeira.

Recebi um olhar de ódio que me surpreendeu.

Pude sentir facas cutucando minha pele enquanto Daniel me encarava e evitei contato visual.

Yukina estava redondamente enganada se achava que o dragão estava se humanizando ou gostando de mim.

Não tinha feito nada que para merecer seu ódio, além disso, o lugar era meu.

Ele que se mudasse.

Comecei a copiar a matéria já sendo passada na lousa, mas continuava sentindo seu olhar.

Ignorei. Seja lá qual fosse o motivo daquilo tudo, eu não me permitia pensar sobre, caso contrário a curiosidade falaria mais alto, Daniel usaria sua magia para paralisar o tempo e nós brigaríamos.

O dragão dourado não mudava afinal.

Ele não era o Daniel humano que eu conhecia e tanto queria de volta.

A aula já estava quase acabando quando perdi a paciência.

Me levantei arrastando a cadeira, ouvindo o som estridente emitido e assustando alguns alunos.

Saí da sala, um tanto irritada.

Qual era o problema dele afinal?

Caminhei sem destino algum e como sempre, parei no estacionamento.

Ventava e provavelmente, nevaria em algum dia da semana.

Sentei no capô da Laranja Berrante e abracei meus joelhos, fechando os olhos para sentir a brisa.

Notei pela primeira vez que dava valor a detalhes como galhos de árvores na minha janela, a preferência por caminhar na floresta pra ir à escola, o amor por neve e tempos chuvosos e me perguntei se isso tina alguma relação com o fato de eu ser uma elfa.

Por estar atenta ao ar pude notar o cheiro diferente que surgiu e abrir os olhos a tempo de ver uma mão sendo estendida em minha direção.

Tentava alcançar a minha.

Usando meus pés impulsionei meu corpo e pulei tão alto que me surpreendi.

Eu não estava só assustada com uma aproximação repentina, eu estava totalmente na defensiva, com os instintos à flor da pele.

Caí em pé, com o corpo tenso.

Aquela sensação, a pressão no ar…

Era a mesma de quando eu estava sendo observada.

Semicerrei os olhos e encarei o homem a minha frente.

Ele tinha pele pálida e olhos vermelhos, fundos, como se não dormisse a muito tempo.

Era bonito, mas sua beleza era do tipo que todo ser vivo sabe, bem no fundo, que é algo pra se admirar de longe (muito longe).

Ele exalava perigo.

Seu sorriso causou um calafrio pelo meu corpo e me controlei para não dar um passo atrás.

— Perdão pela falta de polidez - ele disse, me surpreendendo.

Não achei que ele fosse dizer algo, muito menos “perdão”.

O encarei de lado, desconfiada.

Ele se referia a quê afinal?

Me stalkear ou me assustar?

— Meu nome é Vladimir - seu sorriso se alargou - há muito tempo quero te conhecer, Selene.

Antes que eu me desse conta ou pudesse responder, ele estava tão perto que podeia sentir sua respiração.

Se ele tivesse.

Era óbvio que eu tinha um vampiro diante de mim e se pudesse chutar, pelo pouco que sabia, um bem antigo.

Não conseguia erguer o olhar.

Sabia que se ele quisesse me matar naquele momento, já o teria feito, tamanha era obviedade do seu poder. Meu corpo se recusava a encarar seus olhos.

Mesmo assim, me esforcei.

Seu sorriso chegou aos olhos vermelhos, satisfeito e ele pegou minha mão.

Fiquei estática.

O vampiro pela primeira vez sorriu com os lábios entreabertos e pude ver suas presas.

Ergueu minha mão até os mesmos e depositou um beijo nela.

Senti uma dormência em meu corpo e já não conseguir deixar de encará-lo.

— Selene! - Uma voz conhecida me tirou do torpor.

Pisquei e estiquei o pescoço para olhar por cima dos ombros altos do vampiro assustador.

Não conseguia mover minha mão, mas se pudesse, com certeza a teria limpado.

Daniel estava paralisado, pálido.

Seus olhos dourados estavam tão vulneráveis que me surpreendi.

Será que Vladimir tinha o mesmo efeito nele?

Mas notei que Daniel na verdade demonstrava preocupação para comigo.

E que seus olhos transbordavam puro medo.

Passou pela minha cabeça que ele se parecia muito mais com o Daniel humano e isso me confundiu.

Balancei a cabeça pra não me iludir, não era nem hora pra isso.

Vladimir soltou minha mão e deu um passo para o lado.

— Foi um prazer te ver - disse e mantendo o sorriso se inclinou numa reverência.

Seu sorriso foi tão malicioso que senti todo meu café da manhã revirar em meu estômago.

E ele foi embora, tão rapidamente quanto chegou.

Levei a mão ao peito e notei que tremia tanto quanto meu coração estava acelerado.

Minhas pernas bambearam e Daniel correu em minha direção.

Ainda tinha medo e preocupação estampados no olhar, o que me deixava ainda mais confusa e assustada.

— Você está bem? - Perguntou, com a voz trêmula.

Tentei dizer que sim, mas minha garganta falhou, então apenas assenti.

E fui surpreendida mais uma vez quando as mãos de Daniel envolveram meu rosto para uma checagem completa do meu estado físico.

Assim que pôde ver que eu não sofria de arranhão algum, pensei que o dragão suspiraria de alívio ou algo assim, mas sua expressão piorou.

Seu cenho se franziu e uma veia saltou em sua têmpora.

Daniel me abraçou com tanta força e tão de repente que arfei surpresa e devido ao impacto.

E no aperto de seu corpo quente pude sentir que seu coração batia muito mais rápido que o meu.

— Você é tão estúpida quanto garotas de filme de terror – ele disse, com sua voz rouca ao normal – sabe que o estacionamento é perigoso e ainda assim sempre corre pra lá.

Demorei pra entender o que ele queria dizer com aquilo.

Mas não pude segurar a risada curta.

Um pigarreio interrompeu o abraço desajeitado de Daniel.

Me desvencilhei dele e olhei para trás.

Michele estava ajoelhada e de cabeça abaixada.

— Minhas sinceras desculpas, Selene – ela disse, soando sincera.

— Errr... – pisquei, sem saber o que isso tinha a ver com a situação.

Michele se levantou e revirou os olhos.

— Me distraí por um momento e isso poderia ter causado a sua morte! – ela disse como se fosse óbvio.

— Oh – assenti – é verdade.

Ela se retraiu.

— Mas se tivesse agido sem pensar estaria morta, de nada me serviria – continuei.

A loira ficou calada.

Me perguntei se o pacto entre meu pai e ela era forte àquele ponto.

Ainda me surpreendia ver quão dedicada em cumprir sua obrigação ela estava.

A aprendiz de demônio se virou e foi embora.

Eu sabia que ela não estava nada satisfeita consigo mesma, ainda que eu tenha lhe deixado claro que, diante de Vladimir, nem mesmo eu tive chances.

Michele odiava se sentir inútil tanto quanto eu.

— Vou levar você pra casa – Daniel disse, me assustando.

Ele segurou meu cotovelo e me guiou para dentro da Laranja Berrante.

Ignorei o amassado no capô, de quando pulei para trás.

Sabia que a visita daquele vampiro geraria uma repercussão e tanto com meu pai, Yukina, Seth e Iria.

Talvez até mesmo com minha mãe, isso se ela ao menos se importasse com a possibilidade de perder uma sucessora.

Não sabia o que esperar de Solara.

Daniel conseguiu vencer uma batalha silenciosa quanto a dirigir.

Ele manobrava o carro para desviar dos carros mal estacionados e estava completamente tenso.

Encarei-o abertamente.

Eu tinha o direito, afinal ele fizera o mesmo durante a aula.

— Por que está sendo gentil? – perguntei de uma vez, semicerrando os olhos.

Não era do feitio do dragão dourado se preocupar tanto.

Mas o olhar surpreso de Daniel agitou as borboletas em meu estômago.

Por que eu estava reclamando mesmo?

Logo ele franziu o cenho e pareceu pensar.

Agarrou o volante com força e estacionou no meio-fio.

Daniel empalideceu e levou a mão ao rosto, parecendo estar em uma batalha interna.

Senti um peso em meu coração e pensei no que poderia fazer.

Ele estava claramente mal, mas em momentos como esse perguntar o que se passa não ajuda em absolutamente nada. É só uma forma de dizer a si mesmo que fez algo e dar de ombros depois.

Daniel suspirou e fechou os olhos, voltando ao normal.

Depois me encarou com um olhar tão dolorido e melancólico que fiquei sem reação.

Ele abriu a boca pra dizer algo, mas desistiu.

Fechou a cara e deu partida no carro novamente.

O caminho foi silencioso.

Eu queria poder ler sua mente naquele momento pra saber o que diabos ele estava pensando e por que insistia em me deixar confusa.

Bufei e cruzei os braços.

Daniel estacionou em frente a minha casa, mas não destrancou as portas.

— Tem algo pra me contar? - perguntou entredentes, sugestivamente.

Me senti como uma criancinha que roubou a sobremesa e, se confessasse, receberia uma punição amenizada.

— Vladimir tem me observado durante a noite - murmurei encarando o vidro retrovisor.

Alguns segundos de silêncio se seguiram.

Até que Daniel explodiu.

— Mas que porra Selene! - ele gritou, me fazendo pular de susto e socando o volante.

O encarei de olhos arregalados.

Ele segurou a ponte do nariz entre o indicador e o dedão enquanto a outra mão se esforçava muito para não destruir o interior do meu carro.

Daniel respirou fundo e evitou me olhar diretamente.

Opa.

Essa doeu mais que deveria.

— Seth e eu vamos ficar de guarda hoje - ele disse - revezaremos.

Franzi o cenho.

— Se ele me quisesse morta eu já estaria - expressei meu ponto de vista - além disso, não acho que vão ter vantagem contra ele.

— Se ele não te quer morta, significa que algo está pra vir e quer te usar - ele se virou bruscamente e pegou meu braço - e tem razão, Seth e eu não seríamos páreos, por isso terei de fazer algo bem desagradável por você.

— E o que seria? - perguntei com a voz soando fina demais e tentando puxar meu braço de volta.

Daniel estava me assustando.

Seus olhos dourados estavam dilatados, seu rosto estava cheio de escamas e o ar estava tão quente que pensei que a qualquer momento ele se transformaria ali.

Quando pensei que teria minha resposta, ele me soltou e voltou ao normal.

Minhas costas bateram no banco e perdi o ar por alguns segundos.

— Entre na casa e não saia dela - ele mandou, dando partida - estou confiscando seu carro.

— O quê? - me indignei e agarrei a manga de sua blusa.

Por um momento meus olhos e os dele se encontraram e esqueci o quanto estava irritada.

Mas ele esticou o braço sobre mim, abriu a porta e me empurrou pra fora, fechando-a logo em seguida e trancando.

Fui para a calçada batendo os pés com força no chão.

— Não estou te pedindo pra fazer nada por mim, está bem?! - gritei, ignorando meus cabelos que voavam com o vento e chutando o pneu - está fazendo isso porque quer! Não haja como se importasse!

Daniel me encarou, com raiva.

— Por que é que eu sempre te salvo mesmo? - sibilou com desprezo na voz.

E saiu, me deixando perplexa.


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