The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 62
Capítulo 62 - Esquecida


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pela demora!
Eu estava viajando, mas... VOLTAY HOJE JÁ COM CAP P VCS!



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Não demorou muito para que Liam aparecesse jogando uma pedrinha na janela, visivelmente preocupado com meu estado emocional.

– Não é nada que você possa ajudar - respondi, ríspida diante das suas perguntas sem fim sobre o que acontecera.

Liam deu de ombros, mas não foi embora.

Continuou ali. Provavelmente esperando que eu o convidasse para entrar.

– Desculpe - suspirei - mas eu quero ficar sozinha agora, e se tem uma compania que eu quero é Yuki.

Liam franziu o cenho.

– Yuki? - ele repetiu - você a chamando assim é coisa nova.

– Muita coisa vem acontecendo - dei de ombros como se não importasse.

– Certo - ele colocou as mãos nos bolsos da calça, sem jeito - então eu vou indo.

– Vá - concordei e fechei a janela.

Sabia que estava sendo mais rude do que o normal.

Mas aquilo estava sendo uma verdadeira droga.

Comecei a pesar as coisas boas com as coisas ruins que me ocorreram até aquele momento e o lado ruim prevaleceu.

Bufei.

Saí do quarto e desci as escadas de dois em dois degraus.

– Pai - chamei, aguardando uma resposta.

Um barulho veio da cozinha e me dirigí até lá.

Meu pai usava fones de ouvido e lavava louças usando seu habitual avental. Era até estranho ele não parecer um maricas daquele jeito.

– Pai - chamei de novo.

Ele se virou para mim e sorriu em pedido de desculpas. Enxugou as mãos num guardanapo e pendurou o avental em um gancho.

– Sim, querida? - ele perguntou, franzindo o cenho e surpreso por eu estar procurando-o.

– Se quisesse encontrar alguém perdido e importante pra você - comecei.

Mordi o lábio inferior.

Sabia o quão suspeita aquela pergunta seria, mas tinha que perguntar a ele.

Provavelmente, meu pai saberia o que fazer.

Apesar de eu não fazer ideia de a qual raça ele pertencia, era notório até mesmo para mim que ele era poderoso e até antigo. Tinha que ser, pra minha mãe ter se interessado por ele um dia e tal.

– O que você faria? - finalizei a pergunta.

Ele encarou meus olhos como se procurasse a verdade neles e pareceu pensar por alguns minutos antes de responder.

– Eu a procuraria até no inferno - ele sorriu como se fosse óbvio.

Estremeci.

– Não, papai - tentei reformular a pergunta, mas ele me cortou.

– Há diversas formas de se encontrar alguém perdido - ele disse - mas as formas de se encontrar alguém que fugiu são limitadas e completamente diferentes.

Franzi o cenho.

Daniel não tinha fugido.

Tinha?

– Se essa pessoa é mesmo importante pra você, não deve estar muito longe - ele continuou - deve estar sempre por perto, aguardando pelo dia em que será procurada. No fundo, é isso o que as pessoas que fogem querem: que sejam procuradas.

Pensei sobre a resposta que meu pai me dera.

Mas Daniel, provavelmente não fugiria por isso.

Ele sabia o quanto isso me machucaria - e estava machucando.

“Não acha que ele se perdeu, acha, Sardene?”, minha voz interior perguntou de forma zombeteira.

Quase revirei os olhos para mim mesma.

Daniel não estava PERDIDO.

Ele tinha fugido de mim porque apesar de eu não tê-lo traído intencionalmente, fiz praticamente isso sem perceber. E apesar da minha inocência no ato, aquilo o feriu profundamente.

Ele tinha suas incertezas e inseguranças. Principalmente porque tinha um coração humano e lutava contra a frieza natural de sua raça.

Era mais uma espécie de instinto de retaliação.

Eu o machuquei e agora, ele estava me machucando.

– Por que a pergunta, querida? - a voz do meu pai me tirou dos devaneios.

Sorri e fiz sinal negativo com a cabeça.

– Por nada - respondi - obrigada, papai.

Fiquei na pontinha dos pés e lhe dei um beijo de agradecimento na bochecha.

Ele sorriu maravilhado com a minha atitude imprevisível e eu voltei para o quarto imediatamente.

Já bolava um plano em minha mente.

Esperaria a noite chegar, e quando Yukina insistisse em ficar comigo, eu diria que precisva passar um tempo com meu pai.

Eu o compensaria depois por usá-lo como desculpa.

Pensei no quão boa garota eu estava me tornando e sorri.

Peguei uma mochila e procurei uma lanterna com pilhas nas gavetas do meu guarda-roupa. Quando encontrei, a enfiei dentro da mochila e procurei uma calça jeans confortável, uma regata preta e uma jaqueta qualquer. Enfiei ambos dentro da pequena mala que fiz e escondi debaixo da cama.

O plano era procurar Daniel na Cidade Floresta, se preciso eu até atravessaria o portal que separa os dois mundos.

Mas eu sabia o quão grande ela era, uma vez que explorada completamente. Estava preparada psicologicamente e juntando paciência até mesmo para pedir ajuda à Pedrita, apesar de eu saber, no fundo, que ela cobraria esses favores depois e que não seriam tão fáceis assim.

Ela era esperta e traiçoeira.

Estava no sangue, já que um de seus pais era um demônio.

Estremeci.

“Deve ser ruim”, pensei “saber que uma parte de si tem natureza maligna e não poder fazer nada pra mudar isso”.

Estremeci e chutei a mochila para mais debaixo da cama.

Meu celular vibrou e eu o atendi.

– Treinamento! - Yukina cantarolou e afastei o telefone dos ouvidos - apareça aqui em quinze minutos.

Gemi.

– Não tenho a noite livre hoje - resmunguei, tentando soar mau humorada.

– E por que? - ela perguntou, desconfiada.

– Vou passar algum tempo com meu pai - dei de ombros, mesmo sabendo que ela não veria.

Pensei em dizer que talvez ela devesse passar algum tempo com a família também. Com Ariana.

Mas deixei a ideia de lado.

– Tudo bem então - ela tentou esconder o aborrecimento - mas do treinamento você não escapa.

O celular ficou mudo.

Revirei os olhos e entrei no closet, a fim de escolher alguma roupa confortável para ser espancada.

Me encarei no espelho.

Não andava fazendo muito aquilo ultimamente. Me ver.

Virei de perfil e avaliei as mudanças que aconteceram no meu corpo depois da minha primeira transformação.

Eu ficara bonitinha, até diria atraente se não fossem os olhos diferentes que insistiam em permanecer os mesmos.

Peguei a franja e escondi o olho negro com ela.

Estava grande demais.

Suspirei exasperada e saí do closet a procura de uma tesoura.

Quando a encontrei, voltei e a abri, com o cabelo entre as lâminas.

Hesitei.

Se eu cortasse, ficaria parecidíssima fisicamente com a Selene humana do Ensino Médio.

E eu não era mais ela.

– Que se dane - murmurei e fechei a tesoura, ouvindo o suave som do cabelo sendo cortado e caindo no chão.

Me senti leve . Como se tivesse uma coisa a menos a ser feita.

Saí do closet já vestida e desci as escadas, avisando meu pai que sairia e voltaria tarde.

A laranja berrante já era praticamente minha.

Meu pai quase nunca saía e seu passatempo parecia ser cuidar do lar.

Já eu passava mais tempo fora do que dentro de casa, o que era uma surpresa e tanto, considerando que minha velha rotina “da escola pra cama”.

Apertei o botão do alarme um tanto quanto ansiosa e ao dirigir pelas ruas, apertava o volante.

Havia uma trilha pela floresta onde se podia atravessar de carro.

Antigamente, era muito usada por estudantes que resolviam se aventurar e acampar, embrenhados no mato e nas árvores. Mas esses atos de coragem eram passageiros. Logo o boato antigo de que a floresta era mau assombrada ganhava vida de novo.

Desliguei o motor do carro e desci, me sobressaltando com o som dos meus próprios pés sobre a grama.

Me certifiquei de ter trancado a laranja berrante. Já havia criado certa afeição por ela.

Respirei fundo e adentrei a floresta pela parte mais abandonada.

Pensei que talvez eu devesse seguir meus instintos.

“Isso é idiotice, Sardene”, meu subconsciente despertou.

“Porque você é uma elfa, e não um dragão”.

Então eu tinha que pensar como um dragão.

“Como diabos faria isso?”, me irritei comigo mesma.

Se eu fosse um ser gigante com asas e uma cauda, pra onde correria? Foi essa a pergunta que fiz a mim mesma.

A resposta foi um vácuo total. Agradeci sarcasticamente à minha mente de detetive e bufei.

Andei por minutos que me pareceram anos. Logo, se transformaram em horas que passavam vagarosas e preguiçosamente, enquanto eu cedia à irritação e frustração por não encontrar Daniel logo.

Estava prestes a desistir, quando ouvi um som familiar. Senti os pelos da minha nuca se arrepiarem e não foi apenas por susto, foi por pura excitação e ansiedade.

Com certeza era o som de um dragão.

Urro, rugido, uivo ou seja lá o que dragões fazem, aquele som estrondoroso viera de Daniel, disso eu tinha certeza.

Me transformei e corri em disparada antes que perdesse os rastros sonoros que conseguia sentir na minha forma de elfa.

Parei abruptamente quando à minha frente vi uma parte da floresta completamente devastada. Alternava entre árvores queimadas e outras arrancadas à força do lugar. As raízes pareciam dedos de mãos que tentavam desesperadamente se segurar num local, mas eram puxadas por uma força maior, sendo assim, os dedos ficavam e o resto era desmembrado.

Não tive tempo de analisar mais a cena.

Um vento quente fez meus cabelos voarem e senti que deveria virar pra trás.

E quando o fiz, ele estava ali.

Seus olhos dourados e gigantes me encaravam com curiosidade. Como quem dizia “o que uma porcariazinha dessa faz aqui?”.

Eu podia dizer que, definitivamente, Daniel não se lembrava de mim. Não me reconhecia.

Engoli em seco o amargo que ameaçava escapar da minha boca e tentei não sentir raiva de Pedrita.

“Ela te avisou”, meu subconsciente cutucava.

“Ela disse que teria que reconquistá-lo, não achou que ela falava só de romance, não é?”.

Tentei pensar em algo pra dizer. Sabia que aquele não era O Daniel que eu conhecia, pois estava desprovido de qualquer sentimento humano. Mas ele não era retardado.

Era uma criatura viva, sanguinária e antiga, mas consciente.

Abri a boca para dizer qualquer coisa, mas não pude.

Porque Daniel abriu a boca e ao semicerrar os olhos, vi uma bola de fogo se formar em sua cavernosa garganta.

Não tive tempo de sequer arregalar os olhos. Nem de pensar, e graças aos céus pelos meus instintos e reflexos rápidos.

Porque desatei a correr antes que me desse conta.


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