The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 61
Capítulo 61 - Desamparada


Notas iniciais do capítulo

Selene tá humana demais, né?!



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Senti algo cutucar a entrada do meu nariz e funguei. Me virei de lado numa tentativa de voltar ao sono ainda de olhos fechados, mas de novo, algo cutucou meu nariz.

Abri os olhos.

– Sugiro que não acorde - Pedrita cantarolou.

Me sentei imediatamente, zangada com o sumiço da guardiã que não me dera nenhuma pista de como trazer Daniel de volta.

– Calma, coração - ela riu - eu cumpro os tratos que faço.

Lhe lancei um olhar torto e ela se aquietou.

– Como entrou aqui? - perguntei carrancuda.

– Onde estamos não é exatamente “aqui” - ela rebate - estamos no seu sonho.

Franzi o cenho.

Parecia real demais pra ser um sonho.

Os raios de sol entravam pela janela escancarada do meu quarto e pinicavam minha pele de forma irritante, como se dissesse que era hora de levantar.

A cortina esvoaçava e quase tocava meu rosto, e a coberta estava macia como sempre, assim como a cama convidativa.

– Aham - revirei os olhos.

– Mas não estamos aqui pra falar disso - ela estalou os dedos.

Cruzei as pernas e aguardei ansiosamente para ouvir o que ela diria com atenção.

– Há duas formas de trazê-lo de volta - ela mostra dois dedos na minha frente - a fácil e a difícil.

– E por ironia do destino, essa forma fácil teria consequências - adivinhei.

Nada vem fácil sem um preço. Disso eu sabia.

Pedrita assentiu, parecendo satisfeita com minha percepção.

– Então comece pela difícil - suspirei.

– Precisa falar com ele e lembrá-lo de quem ele é de verdade - ela deu de ombros - você não deve iludí-lo, lembre-se de que Daniel NÃO é humano. Talvez ele não volte à forma que você está habituada a ver, mas vai se lembrar de que não é um sem-coração.

– E por que isso seria difícil? - perguntei, zombeteira.

Mas eu sabia que seria.

Quero dizer, seria difícil não só encontrá-lo, mas olhar em seus olhos pra dizer algo.

Acho que eu não conseguiria proferir uma palavra sequer mesmo depois de muito ensaiar na frente espelho.

Pedrita riu, adivinhando meus pensamentos.

– Em todo caso, vamos para a mais fácil - ela bateu palmas e uma esfera azul surgiu em suas mãos.

Resmunguei qualquer coisa, mas fitei a esfera com atenção.

Seu núcleo era leitoso e mesmo sem tocá-la, eu podia sentir uma energia vibrar ali.

Pedrita a estendeu em minha direção.

– Isso vai ser a solução do seu problema - ela depositou o objeto no meu colo e o largou ali como se queimasse suas mãos.

– Por que tenho um mal pressentimento? - perguntei franzindo o cenho.

– Porque isso, querida, com muita sorte vai trazer Daniel de volta à sua forma humana - ela respondeu - mas não vai trazer sua humanidade. Ele vai continuar o ser sem sentimentos e insano que é agora, mas em um corpo humano.

– E como isso resolveria meu problema? - perguntei exasperada.

Pedrita sorriu.

– O poderoso dragão dourado poderia morrer e reviver mil vezes, mas ainda teria um coração mole lá no fundo - ela riu - cabe a você fazer com que ele se apaixone novamente.

A encarei, boquiaberta e senti meu rosto corar.

Nunca fora minha intenção que Daniel e eu fôssemos um casal.

Mas naquele momento eu queria que isso fosse um fato novamente, mais que tudo.

Me senti egoísta, porém deixei a consciência de lado.

Engoli em seco e guardei a esfera na gaveta do criado-mudo.

– Então… - eu disse timidamente - o que faço com a bolinha?

– Bolinha? - Pedrita riu - bom, ela vai te proteger dos ataques mágicos do dragão, mas não dos físicos. Tem que ter cuidado, Selene. Magia não é a especialidade dos dragões, muito menos a de Daniel, então há pouco do que essa esfera te proteger.

Assenti.

– Quando estiver perto o suficiente dele, estenda em sua direção e pronuncie as palavras que surgirem em sua mente - ela fez um gesto solene.

– E se nada aparecer na minha mente? - perguntei, sentindo meus olhos se fecharem.

– Então sua força de vontade para trazê-lo de volta é fraca demais - Pedrita zombou.

E eu acordei.

Xinguei Pedrita mentalmente por não me avisar da estúpida dor de cabeça que eu sentiria depois de ter meu sonho invadido e controlado por ela.

Toquei o chão frio com meus pés e fechei a janela bruscamente.

Não havia sol nenhum entrando por ela.

Uma neve fraca insistia em se amontoar ao pé da janela e bufei com o pensamento que teria que limpar.

Encarei o criado-mudo com ceticismo.

E se… Não estivesse lá?

Corri até o pequeno móvel e abri a gaveta com ansiedade.

Estava lá.

Azul, brilhante e de centro leitoso.

A peguei com cuidado e não senti nada. Estava fria como um objeto qualquer.

Franzi o cenho e a guardei de novo.

Murmurei algumas palavras em galês. Era um feitiço simples de trancamento que havia visto enquanto folheava o grimório de Yukina e duvidava que meu pai não conseguisse abrir se quisesse, considerando que o feitiço só tornava tudo mais suspeito, mas não custava tentar.

Eu precisava dar tudo de mim, afinal, tinha que fazer um dragão, no mínimo, gostar de uma elfa.

“Egoísta”, meu subconsciente sussurrou.

Pensei em Yukina, Seth e Iria.

Não seria suficiente tê-lo de volta?

Não.

Pra eles, não faria diferença.

Daniel transformado, Daniel humanóide.

Pra eles, continuava sendo Daniel, só que no caso, ele estava inconsciente em sua forma verdadeira.

Mas eu, acostumada com minha vida preguiçosa e humana, precisava de Daniel ao meu lado com aquele sorriso torto.

Me senti pior ainda.

Se eu amava Daniel, não poderia eu amá-lo naquela forma também?

Eu só estava com medo.

"Cagona", uma vozinha na minha cabeça cantarolou.

Desfiz o feitiço na gaveta e me encolhi num canto do quarto.

Fiz algo que podia contar nos dedos quantas vezes fizera na vida: chorei.


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