The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 43
Capítulo 43 - Formada


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas de novo pela demora pra postar e conforto seus corações dizendo: TFC não vai parar!



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– Droga, droga - murmurei enquanto aos tropeços, me levantava da cama.

Finalmente, era o dia da formatura. Colação de grau. Seja lá como as pessoas gostem de chamar. O ponto era que Yukina me acordara cedo com uma ligação escandalosa, alegando que eu ainda não tinha um vestido adequado.

E tudo bem que eu não tinha um vestido NOVO, mas eu não poderia usar algum dos que já estavam em meu closet??

A resposta disso para ela era um “não” ao nível máximo de indignação.

– Esteja pronta em cinco minutos, já estou a caminho - ela disse mau humorada e desligou o telefone.

Bufei e me arrastei em direção ao banheiro para fazer minha higiene na velocidade máxima possível em plenas sete horas da manhã.

Em exatos cinco minutos, eu estava calçando um tênis confortável e no mesmo instante, Yukina entrou pela porta do quarto num sorriso de orelha à orelha, acompanhada do meu pai.

– Vamos, vamos, vamos!!!! - ela gritava animada.

Onde estava o mau humor anterior? Franzi o cenho.

– Certo - resmunguei e a segui em direção ao porsche preto.

– Desmanche essa carranca - ela cantarolou - nós estamos nos formando!

– Graças aos céus, eu sou uma elfa com diploma de ensino médio, obrigada céus! - levantei as mãos pro alto e revirei os olhos, fazendo Yukina rir.

Balancei a cabeça me recusando a sorrir de volta, mas logo caí na risada também.

Em poucos minutos, estacionamos num lugar desconhecido e com poucas pessoas.

– Que lugar é esse? - perguntei desconfiada.

– Você já vai ver - ela respondeu animada.

Me encostei com força no banco do carro. Ah não. Yukina estava animada e isso só podia significar encrenca.

Ela bateu no vidro do lado passageiro e pude deduzir que ela dizia “vem logo!” enquanto ria.

Desci e a segui hesitante. Ela saltitava em direção à uma pequena loja com placa de madeira velha escrito “A Tecelã” e o muro coberto de heras. Era um edifício tão velho e ao mesmo tempo tão… Forte. Essa era a palavra pra descrever algo que devia estar de pé há centenas de anos e que ainda continuaria por mais centenas.

Afastei o pensamento da minha cabeça.

“Nem tudo que você vê agora tem magia, Selene”, disse eu a mim mesma e bufei.

Yukina entrou na loja e um sino ecoou pelas paredes em tom amadeirado do cômodo. Era cheio de prateleiras ornamentadas com cabides envoltos em capas preta. Algumas teias de aranha finíssimas envolviam alguns objetos pequenos, mas pareciam ser feitas de cristal.

Franzi o cenho e disse a mim mesma que eram apenas teias nojentas.

De trás de uma cortina de contas lilazes, uma garota surgiu. Parecia ser um pouco mais nova que Yukina e eu, mas tinha um olhar profundo e ameaçador de um castanho avermelhado, e seu pescoço tinha veias saltadas na mesma cor. Também tinha feições orientais.

– O que quer aqui? - ela perguntou à Yukina soando assustada ao encontrá-la ali parada e sorrindo saltitante.

Certo. Ao menos não era só eu que ficava com medo dessa alegria purpurinante de Yukina. Era alarmante.

– Você me deve um favor - Yukina respondeu suavemente e passou a mão no balcão da loja, tirando algumas teias de lá - vários, na verdade…

A garota arregalou os olhos por meio segundo, mas retomou a postura e assentiu.

– E você veio cobrá-los - ela deduziu.

– Não, Arianna - Yukina respondeu - eu vim cobrar apenas um.

Encarei a japonesa baixinha que estava com um olhar de gato sorrateiro e arqueei a sobrancelha. Que relação a garota que devia criar aranhas tinha com meu vestido de formatura?

Arianna pareceu se surpreender tanto quanto eu com a resposta de Yukina.

– O que precisa que eu faça? - ela perguntou colocando os cabelos finos e pretos atras da orelha.

– Simples, um vestido pra ela - Yukina sorriu e apontou para mim.

Arianna me encarou desconfiada e se aproximou, provavelmente vendo minhas medidas.

– Por que eu faria um vestido pra uma elfa? - ela perguntou com desprezo.

Torci o nariz com a palavra “elfa” e dei um passo para tras.

– Eles dizimaram nossa família, Yuki - Arianna apontou para mim com dor no olhar - dizimaram sem hesitar!

Encarei as duas, confusa. “Nossa família” parecia algo próximo demais. Yukina nunca havia me dito que possuia família além de Daniel. E eu nunca perguntei.

Os olhos de Yukina se tornaram dilatados e verde-esmeralda. Ela abriu a boca pra dizer algo e pude ver seus dentes afiados crescerem.

– Não me desafie - ela grunhiu - eu sei muito bem, mais do que você, o que eles fizeram com nossa família.

Arianna baixou o olhar em sinal de rendição e me fitou com seus olhos castanho-avermelhados, dessa vez, mais calma.

– Você possui o poder de destruir o mundo ou salvar ele, pirralha - ela disse a contragosto depois de me olhar nos olhos e saiu marchando emburrada em direção aos cabides.

Aquilo me pareceu uma premonição. Franzi o cenho e bufei. Yukina deu de ombros e sorriu em pedido de desculpas pela situação. Semicerrei os olhos e ela simplesmente riu.

– Que tipo de vestido? - Arianna perguntou com a voz seca.

– É nossa formatura, incrível, não é? - Yukina disse casualmente.

Uma faísca de ciúme se acendeu em Arianna, que me encarou cética.

– Você se formou na escola dos humanos? - ela perguntou incrédula - sem mim?

Yukina deu de ombros.

– Você não sabe ser discreta, sabe? - ela respondeu, sarcástica e apontou para as veias saltadas de Arianna.

Envergonhada, a garota fechou o casaco bege e voltou ao trabalho.

“Ela é uma feiticeira que se inspira em Aracne”, Yukina disse na minha mente.

Eu sabia quem era Aracne. Na mitologia grega, era uma mulher sensacional na arte de tecer, coisa que era uma das especialidades da deusa Atena. A deusa, ficou com raiva por não ser a única e desafiou a mulher: quem fizesse a tapeçaria mais bela, venceria. Aracne venceu, mas Atena a amaldiçoou, dando à moça a aparência de uma aranha gigantesca, sendo assim, as filhas de Aracne se assemelhavam à ela e eram chamadas de “aranhas” pelos humanos.

“Na verdade, ela se inspirava em diversas deusas gregas, mas sempre surge a necessidade de servir à alguém diferente e… Bom, quando isso acontece existem riscos. Arianna precisou recorrer ao poder de uma criatura diferente, algo que não era divino, mas ficou presa à ela. Amaldiçoada”, Yukina completou casualmente. Quase cantarolando a palavra “amaldiçoada”.

Era como se ela não se importasse. Como se quisesse Arianna longe dela para sempre, ou estivesse escondendo algo por trás de um tratamento ruim.

“Por que é tão cruel com ela?”, perguntei sem me conter.

Yukina me encarou. Parecia congelada pelas minhas palavras.

“Eu não sou”, ela respondeu, mas parecia estar tentando convencer a si mesma.

“É porque ela é bruxa e você, uma feiticeira?”, perguntei insistindo.

A japonesa desviou o olhar em menção ao termo “feiticeira”. Eu sabia.

“Yukina, desde quando?”, perguntei magoada.

Ela me olhou surpresa.

“Você sabia?”, ela sussurrou no meu pensamento.

Minha mente estava a mil. Conectava alguns fatos à outros e um nome emergiu dentre muitos nomes de deuses.

– Bastet - sussurrei em voz alta, sem perceber - você está servindo à Bastet.

Arianna deixou algo de vidro cair e me encarou horrorizada.

Yukina abriu e fechou a boca diversas vezes, mas quando viu que não conseguiria dizer nada, apenas segurou minha mão.

– Nós juramos - Arianna disse acusadoramente.

Yukina ficou em silêncio,

– Nós juramos que iríamos adorar somente aos Olimpianos! - ela gritou, fazendo as veias vermelhas saltarem mais ainda.

– Não é como se você estivesse em situação melhor, serva de Aracne - Yukina sibilou e pude ver os cabelos dela se arrepiarem como os pelos de um gato selvagem.

– Eu tive meus motivos! Ver nossos pais morrerem afogados no próprio sangue não é motivo o suficiente pra você?! - Arianna se desesperou.

– E você fala como se eu não tivesse motivos! - Yukina avançou no pescoço de Arianna, descontrolada.

Me assustei com a reação de Yukina e estava dividida entre permitir que as duas se acertassem ou acalmá-las.

Como se eu soubesse acalmar duas bruxas enraivecidas.

– Não entende meus motivos porque nunca encontrou alguém pra proteger depois da morte da mamãe - Yukina esbravejou e arranhou o rosto de Arianna, fazendo com que um sangue negro escorresse - durante séculos eu só tive Daniel e ele me protegia! Sabe qual é a sensação de ter que sentar e sorrir porque a sensação de ser inútil te domina?! Como feiticeira tudo o que eu podia fazer era ajudar de longe, por trás dos panos. Não sou covarde, Arianna!

Arianna se soltou do aperto de Yukina e manteve distância.

– Do que está falando? - ela perguntou indignada - deveria se sentir honrada por nosso irmão te proteger! Será que ele sabe que quebrou o juramento? Ou até dele você escondeu isso?

Yukina ergueu a cabeça e parecia orgulhosa de si mesma. Como se nunca tivesse se arrependido do que se tornara.

– Nós tomamos essa decisão juntos - ela respondeu - como uma família.

– Eu também sou sua família! - Arianna se doía de raiva.

– Deixou de ser no momento em que me largou pra ser queimada viva e roubou meu único amor! - Yukina bradou e me arrastou para fora da loja e depois me jogar no banco do passageiro feito uma boneca.

– Faça o vestido, Arianna! - ela gritou antes de entrar no carro, dar partida e derrapar os pneus que refletiam o quão furiosa e frustrada estava.

Nota: buscar saber mais sobre a família de Daniel e Yukina. Talvez seja importante eu saber algumas coisas, tipo eles terem uma irmã louca amaldiçoada a ficar com aranhas.

Até porque eu odeio aranhas.


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Notas finais do capítulo

TFC anda muito "brisa louca"? :(
Me desculpem pelos possíveis erros de digitação.
Obrigada pra quem continua lendo!



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