A expressão homicida de Liam era algo que eu jamais esperava ver. Meio que não combinava nada com ele, e o fato de que presas saiam de seus lábios não era nada reconfortante.

– Que tal você sair de perto do vampiro, Selene - Daniel disse em tom provocativo atras de mim.

Liam revirou os olhos. Aquilo era sinal de que seu lado vampiro não era tão agradável quanto o humano.

– Você não pode obrigar Selene a fazer o que você quer - Liam disse com raiva.

Daniel franziu o cenho.

– Eu posso sim - ele respondeu se levantando da cama para chegar perto de mim.

Instintivamente, dei um passo para tras.

– Que merda é essa? Não pode não - soltei o encarando com raiva pura.

Ele abriu a boca para soltar alguma provocação, mas o deixei sozinho e fui em direção à Liam.

– Você está bem? - perguntei ignorando Daniel atras de mim.

Liam sorriu ironicamente e suas presas saltaram para fora. Sua pele estava pálida e seus olhos perderam o brilho vivo de quando era humano e sorria. Mas ele ainda tinha inocência no olhar, apesar de tudo.

– Nunca estive melhor - ele respondeu.

Sorri e assenti.

– E então, como é ser vampiro? - perguntei não só porque estava curiosa, mas para amenizar o clima também.

– Me diga você como é ser uma elfa - ele respondeu com a sobrancelha arqueada.

Fuzilei Daniel com o olhar e ele estava com aquela típica expressão de tédio. Como pude me apaixonar por alguém tão babaca e que do nada ficara tão possessivo?

– Digamos que eu não gosto de compartilhar - Daniel respondeu à minha expressão de raiva - e eu pensei que se contasse para Liam o que você é, ele correria.

Revirei os olhos e fechei as mãos em punho, louca para socar aquele sorrisinho lindo de morrer. E se eu tivesse corrido quando descobri que aquele panaca era um dragão?

– É uma droga ser elfa - respondi Liam.

– É uma droga ser vampiro - ele respondeu também e sorriu ainda mais.

Nós rimos e eu o puxei para o andar debaixo. Daniel nos seguiu com um olhar matador.

– Hey, vampiro - Seth disse surpreso quando nos viu descer - não monopolize a Selene, ok?

– Creio que um mordomo não é capaz de fazer tal coisa - Liam murmurou e se jogou no sofá, longe de todos, inclusive de mim.

Me levantei para ficar perto dele, mas Daniel me forçou a sentar no outro sofá. Do outro lado da sala.

– Fique longe dele - ele disse pausadamente.

Franzi o cenho.

“Sinto muito se lhe dei a impressão de que sou uma boa pessoa, Selene”, ele disse com sinceridade no olhar, mas sua voz estava na minha mente.

Não respondi.

“Eu não sou. Seth é melhor do que eu em muitos aspectos e provavelmente ele seria a melhor opção pra você. Dragões são egoístas e possessivos com seus tesouros e punem aqueles que tentam roubá-los. Existem muitas histórias que falam disso. Você é meu tesouro, Selene. Eu estava realmente me segurando para não te forçar a nada, mas agora que sei que me ama, não vou te dividir com ninguém. Ninguém, entendeu?”, ele continuou e apertou meu ombro quando fiz menção de me mexer.

“Babaca”, respondi soltando toda a minha raiva na mente dele. Deixei que ele soubesse o quanto eu odiava amar aquele dragão babaca.

O ar à minha volta ficou quente e quando encontrei o olhar de Daniel, ele estava sorrindo. Me afastei dele antes que eu me derretesse por dentro.

– Estou interrompendo alguma coisa? - Seth perguntou, sarcástico.

– Nada importante - respondi ignorando o olhar chateado de Daniel.

Liam arqueou a sobrancelha.

– Está com sede? Quer meu sangue? - perguntei brincando.

– Não brinque com isso, Selene - ele respondeu zangado e tenso, desviando o olhar de mim - eu estou com tanta sede que te comeria toda se eu não gostasse de você.

– Ah, que bonitinho - a voz gélida de Daniel congelou minha espinha - o vampiro ainda tem sentimentos humanos.

E dito isso, ele saiu da casa batendo a porta com uma força exagerada. As janelas tremeram e Seth soltou um riso baixinho.

– Acho que o que interrompi foi importante sim - ele murmurou irônico.

Revirei os olhos.

– Vai atras dele - Yukina pediu - ele costuma fazer… coisas erradas quando está magoado.

– Ele não está magoado - dei de ombros - é frescura.

– Ah não - Seth me corrigiu balançando as sobrancelhas sugestivamente - aquilo não é frescura, nem um pouco.

– Vai atras do seu dragão manhoso - Liam resmungou a contragosto - eu vou ter que sair pra caçar algo, de qualquer forma…

Suspirei pesada e dramaticamente e me levantei do sofá.

“Tome cuidado com o que fala, Selene”, era Yukina em minha mente.

“Ok”, respondi.

“Estou falando sério. Você desperta o melhor e o pior lado de Daniel. É algo que ninguém conseguiu em séculos, então se você não tem planos de ficar ao lado dele, deixe isso claro”, ela disse, séria.

Assenti e encontrei o olhar dela na sala. Ela estava no modo “vivi mais do que você, logo sei de tudo”. Revirei os olhos e saí da sala batendo os pés com força.

– Eu declaro guerra contra esse dragão - ouvi Liam murmurar e Yukina rir, antes de fechar a porta.

– Parece divertido - Seth disse tentando soar brincalhão, mas fora sério - vou entrar na batalha também. Devo dizer que nunca perdi uma guerra, e já participei de muitas.

Estremeci, desliguei meus ouvidos daquele cômodo e continuei caminhando enquanto procurava Daniel.

“Pense, Selene”, eu disse à mim mesma.

“Aonde um dragão raivoso iria quando estivesse magoado?”, pensei enquanto chutava galhos quebrados.

Uma ideia de onde ele poderia estar passou pela minha cabeça. Comecei a correr, transformada. A noite já estava escura, mas a pouca iluminação vinda da lua era o suficiente para eu enxergar o caminho. Minha pele brilhava, para ajudar. E o pensamento de que eu ficava ainda mais forte e veloz quando era noite passou pela minha cabeça, mas eu tinha outra coisa para pensar no momento.

“Onde mais ele estaria?”, pensei com raiva por não ter me dado conta antes.

Ele estaria onde me viu pela primeira vez. Não na escola.

Na floresta.

Me lembrei de todas as vezes em que eu me sentia observada quando passava por lá. Dos movimentos entre as árvores que eu pensava ter imaginado e de quando Yukina disse que eles já me conheciam antes de eu conhecê-los. Tudo fazia sentido. Eu só esperava que fosse um fato.