The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 30
Capítulo 30 - Correspondida


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo!



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Tudo o que eu conseguia pensar era “como diabos voltar da escola correndo pode ser um treinamento?”.

Eu ainda estava negativamente sentida com Daniel. Mas queria ser treinada, ainda mais quando eu tinha um vampiro doido pra ser meu amiguinho correndo atras de mim e distribuindo presentes indesejados.

E ainda tinha Liam. Seth não me deixava vê-lo ou ter qualquer notícia dele.

– Você não está pronta - era o que ele dizia todas as vezes que eu abria a boca para perguntar.

Comprimi os lábios, frustrada e voltei a correr pela floresta. Se era pra correr, ir da escola até minha casa seria pouco, então decidi que antes de escurecer eu correria pela floresta como uma maluca, sim. Yukina estava comigo para o caso de algo acontecer. Ou o que deveria ser Yukina, já que ao meu lado se encontrava um gato preto impaciente com um olhar brilhante.

Franzi o cenho enquanto corria e tentava enfiar em minha cabeça que sim, aquela era Yukina.

“Correr como gato me traz boas lembranças”, disse ela em minha mente me assustando.

Arregalei os olhos e assenti, correndo mais rápido e sentindo meu rabo de cavalo balançar.

Eu devia estar parecendo uma droga de uma louca, de calça moletom cinza furada, regata branca e fones de ouvido, correndo pela floresta e cabelos desgrenhados.

Me considerariam mais louca ainda se eu dissesse que me sentia observada. E não era pelo gato que tentava me acompanhar ao meu lado. Dei de ombros e me transformei pela metade, correndo mais rápido e rindo quando Yukina tentava me ultrapassar.

Ela se transformou em humana de novo quando viu que como gato não conseguiria e nós apostamos.

– Vão me deixar ver Liam se eu vencer - eu disse exultante.

– Fechado - ela piscou, já certa de que venceria - você vai sair com outro garoto.

Assenti. Mas eu sabia que ela jogaria sujo pelo prêmio que estava em jogo. E minhas suspeitas foram confirmadas quando ela se transformou em meio-gato, mantendo-se sobre duas pernas, mas com orelhas pontiagudas, unhas afiadas e olhos dilatados.

– Trapaceira - rosnei e permiti que minha transformação seguisse em frente.

Corríamos tão rápido que só de imaginar a quantos quilômetros por hora estávamos, meu estômago dava um pulo de excitação. As árvores eram apenas borrões verdes e só o que se ouvia era o vento zunindo no meu ouvido enquanto bagunçava meu cabelo e a risada de duas adolescentes.

– Até a casa do Daniel - ela disse alto para que eu ouvisse, já que tinha me ultrapassado.

Fiz uma sombra sair do chão e me impulsionar a correr mais rápido, o que ajudou muito. Já estava lado a lado com Yukina quando chegamos.

– Empatado - ela anunciou com o orgulho ferido.

– E meu prêmio? - murmurei já sabendo a resposta.

– Nenhuma de nós ganha prêmio - ela respondeu e mostrou a língua, abrindo a porta de vidro da casa.

Dei meia volta para que pudesse voltar pra minha casa, mas uma mão quente que não estava ali antes tocou meu antebraço, hesitante.

– Fique - ele pediu.

Eu não precisava olhar para trás para saber quem era, nem para responder. Mas mesmo assim, olhei. Eu queria ver Daniel apesar da minha birra não-tão-sem-motivo-assim.

Arqueei uma sobrancelha para que ele entendesse. O que eu iria fazer ali? Encará-lo e me lembrar o tempo todo do quão chateada eu estava?

– Vamos treinar - ele disse puxando meu braço de leve - tanto faz o que a gente vai fazer, Selene, só fique aqui, pelo amor de Deus.

E como sempre, eu não pude negar nada à Daniel. Muito menos quando ele estava todo irritado porque eu queria ir embora.

Me livrei do seu toque antes que eu sofresse de insuficiência cardíaca e abri a porta.

– Selene! - Seth gritou assim que pisei meus pés na entrada da porta.

Arregalei os olhos quando o vi descendo a escada feito um furacão.

– Senti seu cheiro lá de cima - ele piscou e sorriu de lado.

– De suor e mato? - perguntei sarcástica e sorri de volta.

Rápido demais para que eu pudesse raciocinar, Seth se aproximou de mim e cheirou meu cabelo. “Perto demais!”, era só o que eu conseguia pensar enquanto me esforçava para não me afastar e demonstrar o quão desconfortável eu fiquei.

– Já disse que você é uma péssima atriz, Selene - ele riu na minha orelha enquanto eu o empurrava já perdendo a paciênia.

Daniel o tirou de perto de mim e deu um rosnado. Seth levantou as mãos num gesto de rendição e se jogou no sofá, mas continuava acompanhando cada movimento meu com um olhar malicioso. Olhar da qual eu já estava tão acostumada que se visse Seth sem ele algum dia, me preocuparia.

Sorri para Yukina, que desceu a escada de dois em dois degraus, vestida de forma diferente da que estava enquanto corríamos. Claro que ela trocaria de roupa e me deixaria fedendo sozinha, grande amiga!

– Selene - Daniel me chamou e me virei para dar atenção à presença dele, da qual estive ciente cada segundo - quero falar com você.

Franzi o cenho enquanto diversas cenas de assuntos desagradáveis se passavam por minha mente. Em uma delas, Daniel me dava um sermão e um treinamento pesado como castigo.

– Selene, você me ouviu? Pare de imaginar coisas! - ele pegou meu rosto entre suas mãos, desesperado por atenção.

– Aham - consegui dizer depois de ficar paralisada com aquele contato repentino.

Ele se afastou e Seth pigarreou exageradamente.

– Vão pro quarto - ele disse enquanto se distraia tentando enfiar um DVD no aparelho.

Assenti, sem entender o sentido de “quarto” que Seth quis dizer. Daniel franziu o cenho para mim e compreendi finalmente.

– Otário - murmurei para Seth sentindo minhas bochechas esquentarem.

– Oh, Selene cora e fica bonitinha quando está envergonhada - Seth fingiu surpresa, mas seus olhos demonstravam divertimento.

Bufei e puxei Daniel pelo braço, o arrastando até o andar de cima.

– Podemos conversar através daquele negócio louco da mente? - perguntei gesticulando com as mãos.

“Sim”, ele respondeu em minha mente.

“E sobre o quê você queria falar?”, perguntei sendo direta.

Porque eu estava num quarto apertado cheio de frufrus, provavelmente de Yukina. E não era só a explosão de rosa e azul bebê que me sufocava, era a própria presença de Daniel.

“Me desculpe”, ele disse finalmente.

“Sobre o quê?”, perguntei listando só para mim os possíveis motivos para aquele pedido de desculpa.

“Por todos esses motivos que você listou”, ele respondeu sorrindo de lado.

Ah meu Deus. Eu tinha colocado Michele no meio.

“Você foi com Liam”, ele acusou semicerrando os olhos e com o sorriso sumindo subitamente.

“E daí?”, perguntei cruzando os braços e semicerrando os olhos também.

“E daí que eu fiquei puto. E estou mais puto ainda agora que ele não é humano e você insiste em gostar dele. Foi por isso que convidei Michele”, ele respondeu frustrado e passando a mão no cabelo, como sempre fazia quando estava daquele jeito.

Mas ele quase não tinha cabelo naquele momento, o que me fez querer rir.

“Estava tentando me fazer ciúmes?”, perguntei cética.

“Não tentei, consegui”, ele respondeu dando um sorriso convencido da qual não gostei.

“Vá à merda”, eu disse me levantando da cama que estava sentada e indo em direção à porta.

“Se me perdoar, eu deixo você vê-lo”, ele disse me fazendo congelar.

Aquilo só atiçou minha raiva. Me virei para ele novamente e ele pareceu ter gostado da minha expressão de fúria, porque cruzou os braços musculosos e se encostou na parede, me observando enquanto sorria.

– Você é um imbecil se pensa que vai conseguir perdão assim - sibilei em voz alta.

“Você me ama”, ele disse alargando o sorriso.

Então eu senti. Ele estava vasculhando minha mente como se estivesse na pontinha dos pés, e vendo cada sentimento constrangedor que eu tinha sobre ele. E notei que ele estivera fazendo aquilo desde o começo da nossa conversa.

– Sai da minha mente! - gritei e puxei os cabelos da minha nuca com força, como se aquilo fosse tirá-lo de lá.

Senti a mente dele se agitar dentro da minha, como se fizesse fusquinha dizendo que não, não sairia dali enquanto eu não admitisse o que sentia por ele.

Corri para a porta e tentei abrir, mas ao mesmo tempo em que eu toquei a maçaneta, a chave se virou na fechadura e ela foi trancada.

– Daniel, me deixa sair! - gritei exasperada.

Ele estava encarando o chão como se estivesse concentrado em algo. No caso, de vasculhar minha mente.

– Me deixa entrar de novo, Selene - ele disse em tom autoritário.

– Do que você está falando? - perguntei como se ele fosse louco.

– Você me expulsou - ele disse soando magoado.

– Não sei como, mas agradeço à minha mente pequena por isso - levantei as mãos irritada.

Odiava a forma como eu gesticulava quando estava irritada.

Assoprei a franja e tentei destrancar a porta, mas quando fiz a menção de tocar a chave, ela saiu da fechadura e foi parar na mão de Daniel. Engoli em seco e encarei sua expressão nada agradável, de poucos amigos.

– Por que você tem que ser tão babaca? Me deixa em paz com meus sentimentos! - gritei e estapeei Daniel.

Que não parecia se importar, tampouco demonstrar dor.

– Não - ele respondeu simplesmente e voltou a me encarar com aqueles olhos avelãs.

– Por que não? - perguntei confusa e piscando feito retardada.

Quando foi que comecei a ficar patética daquela forma?

– Porque quero ouvir de você que meus sentimentos são correspondidos.

Abri a boca e congelei no lugar.

Mas antes que eu pudesse voltar a estapear Daniel e chamá-lo de babaca, para que parasse de brincar comigo, a porta foi arrombada (fácil, fácil) e um Liam nada bem humorado estava lá.


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Notas finais do capítulo

Correr pela floresta feito maluca descabelada é normal, "ta serto sertiño".