The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 21
Capítulo 21 - Sendo treinada DE VERDADE!




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– Hoje vamos ao shopping - Yukina anunciou brilhando.
Totalmente diferente do dia anterior, quando me arrastou de volta pra casa com uma carranca do tipo "sou centenas de anos mais velha, logo mando em você".
– Shopping... - repeti divagando.
Não ia ao shopping fazia muito tempo. Tanto por não dar tanta atenção às peças que compunham meu closet/guarda-roupa quanto por preferir comprá-las online. Era fácil, rápido e sem levantar a bunda do lugar. Revirei os olhos.
– Não - Daniel grunhiu fechando meu armário com força.
Yukina e eu o encaramos com uma interrogação estampada no rosto.
– Hoje começaremos seu treinamento - Seth interrompeu - pra valer.
– Pra valer? - repeti irritada - e o que eu estava fazendo até agora então?
– Qualquer um consegue fazer aquilo - Seth retrucou zombeteiro.
Daniel assentiu.
– Você só tem duas semanas pra ficar boa o suficiente - ele completou virando as costas e entrando na sala de aula.
"O que diabos deu nele?", pensei.
– "Boa o suficiente" - o imitei murmurando e agarrando a beirada do livro.
– Não se preocupe, você já é "boa" - Seth disse com um olhar malicioso.
Revirei os olhos e acompanhei Yukina para a sala de aula.
Que estava um caos. Arqueei uma sobrancelha e Seth apontou um cartaz enorme pregado no quadro de notícias da sala.
"Se prepare para o Baile de Inverno:
Se você é uma garota, mostre que comanda e convide seu par!
Traje: fantasia social.
Ao fim do baile, serão anunciados o Rei e a Rainha de gelo.
Boa sorte a todos!".
Estava na cara que fora escrito à mão por Coraline. E os desenhos também. Uma charge ridícula de um casal dançando apaixonados. Como se a frase que acompanhasse o cartaz fosse repleta de sarcasmo (o que podia ser o caso). Suspirei e joguei minhas coisas na carteira com Yukina pousando delicadamente na cadeira ao meu lado. Sorridente demais! Algo nada bom estaria por vir.
– Quem você vai chamar? - ela perguntou numa voz macabra.
As entrelinhas da pergunta eram evidentes. Como "Considerando que estou te obrigando a participar, com quem gostaria de passar a noite do baile - obrigatoriamente - junto? Escolha bem, Selene, porque você vai literalmente aturar a noite toda..."
Arregalei os olhos e vasculhei a sala à procura de alguém desprovido de vida social, burro e disponível para me acompanhar. Todos os adjetivos eram necessários para a missão.
Mas todos estavam tão empolgados. Os rostos corados devido às altas expectativas de ser chamado pela garota que há muito tempo paqueravam/secavam. Revirei os olhos. Ugh.
– Ninguém - me arrisquei a dizer, sentando pesadamente na cadeira.
Ela cruzou os braços. E "ai meu Deus". Foi a única coisa que consegui pensar antes de ela fazer algo inesperado.
– Liam - ela chamou cantarolando.
"Quem é Liam?", pensei. Um garoto das primeiras carteiras olhou para tras. Yukina fez sinal com o indicador para ele se aproximar. Seu sorriso era amigável para ele e ameaçador demais para mim.
– Diga, Yuki - ele sorriu de volta já perto de nossas carteiras.
Estanquei. Caramba! Não podia ser outra pessoa? Popular demais, popular demais, popular demais...
– O que você acha da Selene? - ela perguntou.
Ele ficou tenso. Remexeu os pés de forma desconfortável e depois corou.
Liam tinha um cabelo castanho comum, mas bem cuidado. Nada de gel, o que era muito bom e incomum. Se vestia de forma casual, tinha um sorriso agradável e seus olhos eram nublados, como se pensasse em outras coisas. Mas depois da pergunta inconveniente de Yukina, seus pensamentos estavam SIM presentes no momento.
– Como assim o que eu acho? - ele perguntou baixinho.
– Você gosta dela? - ela revirou os olhos reformulando a pergunta.
Ele engoliu em seco e assentiu.
– Sim, ela deve ser uma garota legal e tudo mais - ele conseguiu dizer às pressas.
Me apoiei no encosto da cadeira.
– Apesar de ser bem reclusa - ele continua - ela é sua amiga, então é boa garota.
Revirei os olhos. Mas é claro que eu era uma "boa garota". O que eles pensavam de mim durante o tempo todo?
– Ótimo - Yukina sorriu satisfeita - porque você vai pro baile de inverno com ela.
– O quê??? - Liam e eu gritamos em coro.
Ela simplesmente deu de ombros e o professor pigarreou. Liam voltou pra sua carteira arrastando os pés e olhando de relance para tras. "Que bugado", pensei me divertindo.
Olhei para frente e me assustei. Daniel estava me encarando com um olhar suplicante.
– Ignore - Yukina disse mordendo a tampa da caneta.
Engoli em seco. Como ignorar o olhar DELE? Me deixava cheia de vontade de fazer o que quer que ele pedisse. Olhei para baixo, para os meus rabiscos. Me lembrei de tê-los feito no dia em que Yukina não parava de tagarelar e tentar se tornar minha amiga, sorri. No primeiro dia em que vi Daniel e que ele conseguiu falar comigo. Mordi o lábio inferior. Droga! Tudo o que eu pensava envolvia Daniel. Ele estava sempre enfiado no meio.
Abri o caderno com raiva e ignorei seus olhares pelo resto da aula. "ninguém mandou ele ter tanta influência sobre mim", pensei chateada.

O sinal bateu e pulei de susto. Ainda estava tão irritada... Joguei minhas coisas em minha mochila, socando o que teimava em cair pra fora. Bati com força o armário e pela primeira vez, ele obedeceu com violência.
– Uau, que TPM avassaladora - Michele riu e passou direto pelo corredor.
Bufei e fiz menção de ir pra casa, mas uma grande mão segurou meu braço, pinicando mesmo sobre o tecido. O dono dela deu um sorriso de lado.
– Nem pensar - Seth sussurrou no meu ouvido.
Revirei os olhos e fomos para a casa de Daniel.

Meu celular tocou e soube que era meu pai.
– Quando vai voltar a morar em casa? - ele perguntou tentando soar brincalhão, mas estava na cara que queria uma satisfação.
– Papai, estou fazendo um trabalho importante - menti - logo vai ficar pronto e voltarei a morar aí.
Ele riu e tive que acompanhar. Por mais que eu fosse Selene, a inexpressiva, não tinha como acompanhar meu pai quando ele ria com sinceridade. Era tão contagiante...
– Certo, falo com você mais tarde então, gatinha - ele disse e desligou.
Toneladas pareciam ter caído sobre minhas costas. Mentir para meu pai era algo que eu nunca tinha feito e obviamente, pela ausência de mentiras entre nós, ele acreditaria. Acreditaria, certo?
Não pude terminar meu raciocínio, porque Seth avançou em minha direção com o punho fechado. Desviei o mais rápido que pude e me segurei na cerca viva da casa, o que não foi lá um ótimo apoio.
– Lição número 1: esteja sempre atenta - Daniel disse olhando em meus olhos.
Estava com raiva de mim? Parecia estar. Mas eu também estava com raiva dele. "Foda-se", pensei.
Seth agarrou meus pulsos e me pressionou contra uma árvore de casca grossa e cheia de musgo.
– Aprenda a número 1, Selene - ele sussurrou rindo.
Rangi os dentes e me soltei por um milagre e sorte do momento. Fui para longe dele, mas a distância não durou muito tempo: logo ele estava colado a mim.
Yukina pulava sorridente como se aquilo fosse normal. Aquilo nas mãos dela eram pompons?
– S-E-L-E-N-E - ela soletrou - VAI SELENEEEE!
Revirei os olhos e quase ri da cena, mas Seth já estava perto de novo. Pulei quando ele tentou agarrar minhas pernas e aterrisei em suas costas. Não pareceu ser nenhum problema para ele, que levantou rindo.
– Boa! - ele elogiou.
Fingiu ir pela direita e pensei que ele iria pela esquerda. Mas ele foi por cima, me derrubando no chão. Ele quase parecia voar.
– Mas falta melhorar muito ainda - ele completou rindo ainda mais.
Me afastei novamente e tentei recuperar a respiração. Não aguentaria correr mais, só que ele estava perto de novo. Me irritei e toquei o chão.
Minha própria sombra obedeceu meu comando inconsciente de raiva e se levantou, formando um escudo. Seth se chocou contra ela e ouvi alguns xingamentos sendo proferidos por ele. Sorri.
– Demorou demais pra pensar nisso - Daniel reprovou.
Torci o nariz. As reprovações dele doíam mais do que eu gostaria.
Seth já havia se recuperado e um brilho roxo tremulava em seus olhos.
– Ah não... - gemi sabendo que agora ele levaria a sério.
Corri o mais rápido que pude e tentei erguer minha sombra para bloqueá-lo. Mas ele a derrubava todas as vezes. Tinha que tentar algo diferente. Tinham de ser várias e tinham de ser mais sólidas. "Como se solidifica uma sombra?", tentei pensar, quase revirando os olhos pra mim mesma.
Por desespero, toquei a sombra do que estava à minha volta no chão. Árvores, pedras, gramados, nuvens e até mesmo da casa. Todos se levantaram e bloquearam Seth, que se empolgou ainda mais com aquilo.
Soltei um grito indesejado e minha mente estava a mil. Queria machucar Seth, nem que fosse um pouquinho! Ele merecia.
Agarrei minha sombra e a solidifiquei ainda mais. Não sabia como proceder, nem acreditava ser possível, mas o fiz mesmo assim. Como respirar. Não se sabe ensinar alguém a respirar, mas sabe fazer.
Pensei numa arma afiada e mortal. "Mortal"... Morte. A sombra se transformou numa foice um pouco maior que eu e dessa vez, ao invés de fugir de Seth eu estava indo em direção à ele.
Senti meu rosto esquentar, meu sangue ferver. Minha mandíbula parecia mais forte, como se eu pudesse MORDER alguém como forma eficiente de atacar (e não inútil/desesperada). Eu estava tão leve... Queria voar. Meus olhos capturavam a beleza de tudo do ambiente. O suor de Seth escorrendo, a luz do sol me lembrando Solara, o verde que estava presente em todos os lugares da cidade, mas que ali na casa de Daniel parecia diferente... Meus ouvidos captavam cada som, cada respiração de Seth. Seus passos, sua empolgação e quase sua circulação sanguínea. Senti que nasci para ficar daquele jeito.
Os olhos dele brilharam ainda mais. Estava excitado. E eu estava ainda mais irritada com aquele sorrisinho gabado e aquela beleza avassaladora que ele sabia muito bem que tinha.
– Parem - Yukina ordenou com seu lado imperativo ativado.
Congelei no ar, assim como Seth. Era como se as palavras imperativas dela estivessem repletas de... magia.
Houve um silêncio de cinco minutos até Yukina sorrir e bater palmas dando gritinhos. "Bipolar" foi a palavra que passou pela minha cabeça. Ela entrou dentro da casa feito um furacão e com a ajuda de Daniel (por que ele a ajudava com todas as loucuras?) voltou com um espelho enorme.
– Você está TÃO gata! Ai eu daria tudo pra ser assim! - ela gritou histericamente, colocando o espelho diante de mim.
Permiti que meu corpo se movesse. Na verdade, ordenei que ele fizesse isso. Custou grande esforço, como se as palavras dela ainda tivessem grande efeito.
Fitei A Coisa no espelho. A Coisa parecia eu, mas estava com o rosto radiante e as orelhas pareciam... pontudas. Como as de uma elfa. Os olhos de cores diferentes agora eram duas poças escuras, suas cores quase indiferentes. A Coisa era tão linda que eu dificilmente acreditaria que existisse algo do tipo no mundo. Uma Selene mil vezes melhor.
– É você - Daniel grunhiu sem olhar na minha cara.
Toquei as orelhas pontudas e soltei uma risada nervosa. Queria ser só Selene, e não a Elfa Selene e com esse pensamento, minha aparência voltou ao normal.
– Controlou a transformação mais rápido do que pensei - Seth disse soando surpreso e me ofendendo - mas pra sua informação, sua aparência real é aquela.
Não pude ter reação à ultima frase dele, nem me defender com sarcasmo algum. Respirar agora era difícil e o mundo dava voltas e pulava ao meu redor.
Como sempre, a única coisa que me lembro antes de mergulhar na escuridão foi de alguém com braços fortes e quentes me segurar antes de meu corpo tombar no chão.
Enquanto eu estava no escuro desconhecido, me dei conta de duas coisas:
1. Eu andava desmaiando (e consequentemente, dependendo de Daniel) demais da conta;
2. Eu mudara um bocado até então.


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