The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 18
Capítulo 18 - Treinada


Notas iniciais do capítulo

Escrevi correndo!



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Já se passaram dois dias desde a visita surpresa (nada agradável) de Solara, e desde então, Seth tem mantido distância de mim. Não que eu estivesse achando ruim. Mas era estranho e um presságio não muito bom quando suas zombarias e comentários sarcásticos ou pervertidos cessavam.
– Se concentre - Daniel deu um peteleco na minha testa.
– Estou tentando - torci seu dedo sem conseguir lhe arrancar sequer um gemido de dor.
Yukina e Daniel ficaram a par da situação assim que entramos em sala de aula. Os dois tinham ouvido a conversa toda. Como fizeram isso, eu realmente não gostaria de saber. Eles sabiam que eu tinha sangue real e que minha mãe era uma elfa durante o tempo todo, mas respeitaram meu pedido de não tocar no assunto. Só espero que não tenham respeitado isso só porque aparentemente sou uma "princesa".
– Você está a dois dias tentando levantar um clipe de papel, Selene - Daniel resmungou - e não fez progresso algum.
– Me desculpe se minhas habilidades de telecinese não foram desenvolvidas em dois dias. É tanto tempo que me sinto envergonhada! - revirei os olhos.
Ele me olhou de lado tentando compreender se eu estava sendo sincera ou se aquilo fora um comentário sarcástico. Não sei a que conclusão chegou, porque logo Yukina se sentou ao meu lado e massageou minha testa.
– Não ligue pra ele - ela disse pegando minhas mãos - ele só está preocupado com você.
Daniel resmungou algo inaldível e foi pra cozinha arrastando os pés. Meu estômago roncava, mas Seth estava de guarda na geladeira. Eu não poderia comer enquanto não fizesse o clipe se mexer. Aparentemente, eu era uma péssima aluna. Ou eles eram péssimos professores? Balancei a perna, ansiosa. Me frustrava eu não atingir às espectativas deles.
"Vamos tentar isso juntas", ela disse em minha mente.
Assenti.
"Feche os olhos e imagine que esse clipe é ainda mais leve do que na realidade", ela disse.
Obedeci, mas em minha mente o clipe virou uma pena.
"Não, Selene", ela resmungou desanimando.
Daniel voltou com um hot dog. A cozinha deles tinha de tudo, pelo jeito.
– A mente dela é fértil demais - Yukina disse - um clipe de repente vira uma pena, num piscar de olhos.
– Talvez ela precise de um exercício onde "imaginação fértil" seja algo bom - disse Seth sorrindo maliciosamente de lado, encostado na porta da cozinha.
Barrando a cozinha. Meu estômago roncou e ele alargou o sorriso.
– Vocês são sadistas - resmunguei.
– Se esforce - repetiu Daniel.
– Eu estou me esforçando, cacete! - gritei e voltei minha atenção ao clipe.
Ele estava levitando. Mas não só um. A caixinha inteira, assim como outros pequenos objetos de aço à minha volta. Olhei para Daniel, que se titulava o professor principal. Aquilo contava como lição de casa feita, certo?
– Selene, a lição era levitar UM clipe - ele disse severo, com o maxilar trincado - não a casa toda. De que adianta você conseguir levitar se não tem controle sobre isso?
E ele saiu da sala. Senti um peso em cima de mim e desapontada, recoloquei os clipes sobre a mesa de centro com as mãos.
– Idiota - resmunguei socando os clipes que não queriam parar de levitar.
– Dessa vez ele foi muito duro com ela - ouvi Yukina sussurrar baixinho com Seth.
– Ela tem pouco tempo - ele respondeu - e é muito influenciada pela raiva.
– Eu estou ouvindo, babacas - gritei olhando na direção de onde ouvia o som.
Mas nem Yukina nem Seth estavam no mesmo cômodo que eu. Depois de alguns minutos de silêncio, ouvi passos de duas pessoas se aproximarem. Desciam as escadas.
– Selene - Yukina chamou.
A olhei. Seth estava junto com ela. Alguns malditos clipes não paravam de levitar e envergonhada, eu tentava pegá-los e esconder embaixo do tapete, mas eles pareciam afim de me trollar e fugiam.
– Você ouviu o que dizíamos? - perguntou ela.
– Claro que sim, estavam praticamente gritando - rosnei.
Eles se entreolharam.
– Nós estávamos no terceiro andar - Seth comentou.
Revirei os olhos e me levantei. Os clipes ficaram mais agitados com esse meu ato.
– Estou cansada, muito mesmo - eu disse irritada - parem de brincar comigo.
– Mas não estamos brincando - a voz de Yukina estava trêmula - nós realmente estávamos no terceiro andar.
Ela torcia a barra do suéter, nervosa. Eu não era capaz de duvidar de Yukina, mas estava farta de tanta esquisitice. Não tinha como eu ouvir sussurros vindos do terceiro andar, enquanto eu brigava com clipes furiosos no primeiro andar.
– Vejo vocês amanhã - rosnei e bati a porta da sala.
A aberração laranja estava estacionada em frente à casa de Daniel, mas me dei conta de que as chaves sumiram do meu bolso.
– Não pode ir embora do jeito que está agora - disse Daniel jogando as chaves pro ar e as pegando de novo.
– Que jeito? - perguntei irritada.
Ele apontou para alguma coisa atras de mim e eu olhei. Todos os pequenos objetos metálicos da casa me seguiam. E eram muitos, considerando que Daniel gostava muito de apetrechos como aqueles. Soltei um grito involuntário e meus olhos teriam saído das órbitas se isso fosse possível. Claro que era possível! Não duvidaria de mais nada.
– Como eu paro isso? - gritei desesperada.
Estava ficando com medo.
– Selene - ele disse ficando tenso e preocupado de repente - não se mexa.
– O quê? Por que? - perguntei ficando ainda mais assustada.
– Não pode ter medo - ele disse - sinto medo vindo de você.
– Medo? Como não ficar com medo disso? - perguntei exasperada.
– Você está com medo de si mesma, Selene, seu poder vem de energias negativas - ele respondeu - pare já!
Me virei para ver os clipes. "Medonho", pensei com senso de humor, mas realmente com medo. Mal completei o pensamento quando todos eles se desmancharam, virando pequenas setas e flechas, juntamente com os outros objetos (incluindo facas de manteiga, vindas de sabe-se lá onde). Afiados e virados para mim, começaram a me seguir em velocidade alta.
Não devo dizer que tudo o que fiz foi exatamente o contrário do que deveria: gritar e correr em direção à floresta.
A floresta estava por todos os lados naquela cidade, mas se soubesse por onde andar, você poderia evitá-la. Como sempre gostei de estar nela, meu instinto natural foi correr EM DIREÇÃO a ela. Eu já sabia que não era uma floresta normal, Seth havia me alertado de um jeito estranho, mas o hábito falou mais alto.
Estava mais escura e úmida do que o habitual, afinal chovera no dia anterior.
Quando olhei para trás afim de saber a que distancia se encontravam os malditos objetos, arquejei. Estavam a um metro de mim. Instintivamente, estendi as mãos para me proteger e algo escuro saiu do chão como um escudo maciço, bloqueando os objetos que caíram inertes no chão.
Era uma sombra.
Abaixei a mão e ela acompanhou o movimento. Ergui novamente e ela obedeceu. "Eu a estou controlando!", foi o que pensei antes de tudo ficar preto. Mas dessa vez não era uma sombra: eu desmaiei.


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